O Nue (japonês 鵺 ou ぬえ) é um dos mais antigos yokais do folclore japonês, sendo o seu primeiro registro feito no Kojiki ( o livro mais antigo sobre a história do Japão antigo, datado de 712 d.C). Ele é descrito como um ser com uma cabeça de macaco, o corpo de um tanuki, as patas de um tigre e uma cobra no lugar da cauda. Em outra descrição onde lhe atribuíram asas. Talvez porque em algumas lendas dizem que seus gritos são comparados aos guinchos de uma ave, ou até mesmo pelo fato de que as lendas narradas sobre essa criatura, são em sua maioria descritas que a besta surge sempre dos os céus, voando entre nuvens nebulosas para atacar suas vítimas.
Em outros relatos, dizem que seus gemidos parecem os de sapos da montanha. No entanto, suas lendas mais comuns, descrevem seus gritos como os urros de um tigre. Sua lenda é associada ao medo de dormir; como possui uma natureza má, ele gosta de atormentar as pessoas antes destas dormirem e caírem no sono. Dizem também que Nue é capaz de causar pesadelos e doenças inexplicáveis em seres humanos, que quase sempre os levam ao óbito.
O Nue é uma criatura que ganhou lendas variadas dependendo da região onde sua história era contada. Sua mais recente menção foi no mangá/anime Amatsuki, onde o personagem principal, Tokidoki, é atacado por um Nue logo após cruzar a ponte que o levava ao período do Bakumatsu.
A lenda mais popular envolvendo um Nue é datada do século XII. Ela conta que por muitas noites, o Imperador Konoe não conseguia dormir devido a terríveis barulhos que pareciam vir do telhado de seu palácio Imperial. Eram sons que pareciam arranhões de garras seguidos de grunhidos, que pareciam vir de uma criatura demoníaca. O Imperador começou a ter terríveis pesadelos, a ponto de ficar doente. Preocupados com sua saúde, seus serviçais tomaram coragem e resolveram ficar de guarda, à espera de conseguirem afugentar a temível criatura.
Chegado à noite, avistaram ao longe, uma nuvem negra indo em direção ao palácio. Quando a nuvem pairou sobre a ala leste, chamada “Violeta da estrela da noite”, onde ficavam os aposentos do Imperador, seus serviçais assustaram-se com o que viram: uma criatura apavorante, com garras afiadas e com um profundo olhar maligno. Aterrorizados, os serviçais fugiram apavorados.
Temerosos por seu Imperador piorar a cada dia que passava, os serviçais resolveram chamar o intrépido guerreiro samurai e poeta Minamoto-no-Yorimasa que viveu entre os anos 1106 à 1180. O valente guerreiro vestiu sua armadura, armou-se com sua espada sem esquecer do seu arco e flechas. Acompanhado de dois guerreiros, Yorimasa escondeu-se entre os arbustos e esperou a noite chegar.
Arte de Powerzuul |
Depois de uma silenciosa espera, fortes ventos chegaram trazendo uma nuvem negra e densa. Acompanhada de trovões por todos os lados, a nuvem pairou sobre o telhado onde estava o Imperador. Yorimasu conseguiu avistar dos arbustos, dois olhos reluzentes no fundo das nuvens, e não hesitou em sacar seu arco e atirar uma flecha certeira entre os olhos da besta. Um urro agonizante foi ouvido por todos, seguido de um baque surdo da criatura caindo no chão. Imediatamente, os dois guerreiros que acompanhavam Yorimasu, correram em direção a criatura e a golpearam com suas espadas, até que os grunhidos cessassem.
Assim que conseguiram enxergar melhor a criatura, viram que tinha uma aparência aterradora. Seu rosto era de macaco, seu corpo tão grande como o de um cavalo, coberto de pelos em seu dorso, membros e garras que lembravam um grande tigre, suas asas eram de pássaro e tinha a calda de uma serpente. Todos ficaram estarrecidos ao lembrar que havia uma lenda sobre “Nue” uma criatura oriunda do Extremo Oriente (China). Yorimasu, enojado com a visão aquela criatura repulsiva, pegou o corpo da besta em seus braços e o jogou no mar do Japão.
Existe uma seqüela da lenda de Nue e o Imperador Konoe:
Dizem que o corpo de Nue foi visto flutuando na enseada e os moradores temendo uma maldição, enterraram a besta em um monte acima da praia. Dizem que esse monte onde Nue está enterrado, pode ser visto até hoje. O local virou ponto turístico, onde dizem que a “Besta Fera Nue” assombra o lugar até os dias atuais.
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