۞ADM Berserker
Na manhã do dia 16 de fevereiro de 1855, os moradores
de Londres leram no jornal The Times a seguinte notícia:
“Uma grande comoção foi causada nas cidades de Topsham, Lympstone,
Exmouth, Teignmouth e Dawlish, ao sul de Devon, por causa da descoberta de um
vasto número de pegadas estranhas e misteriosas. Os supersticiosos chegam ao
ponto de crer que são as pegadas de Satã em pessoa; e o grande temor causado
nas pessoas de todas as classes pode ser julgado pelo fato do assunto ter
chegado aos púlpitos locais.
Parece que na noite de quinta-feira houve uma forte nevasca na região
de Exeter e no sul de Devon. Na manhã seguinte os habitantes dessa região foram
surpreendidos pela descoberta de rastros de um animal estranho e misterioso,
imbuído da capacidade de onipresença, já que as pegadas foram encontradas em
muitos lugares inacessíveis – no telhado de casas, no alto de muros muito
estreitos, em jardins e praças cercados por paredes e muros altos ou cercas
fechadas assim como em campo aberto. Era raro um jardim em Lympstone onde as
pegadas não estivessem presentes.
A julgar pelas trilhas, elas teriam sido causadas mais provavelmente
por um animal bípede e não quadrúpede e o espaçamento entre os passos era de
aproximadamente 20 centímetros. As impressões das pegadas se assemelhavam muito
às das ferraduras de um jumento e mediam de 6 a 10 centímetros de uma ponta a
outra. Aqui e ali elas tomavam a aparência de cascos fendidos, mas na sua
maioria a forma de ferradura era constante e, pela neve acumulada no centro,
apenas mostrando os contornos exteriores, as pegadas eram côncavas.
A criatura parece ter se aproximado das portas de inúmeras casas e
então ter se afastado, mas ninguém foi capaz de descobrir os pontos de partida
ou chegada do visitante misterioso. No último domingo o reverendo Mr. Musgrave
citou o ocorrido em um de seus sermões e sugeriu a possibilidade das pegadas
terem sido causadas por um canguru; mas isso dificilmente seria o caso, já que
foram encontradas de ambos os lados do estuário de Exeter.
Até o momento o acontecido permanece um mistério e muitas pessoas
supersticiosas que habitam as cidades já citadas estão realmente com medo de
sair de suas casas depois que escurece".
Essa matéria foi o ponto de partida para uma enorme confusão
que varreu a região ao sul da Grã-Bretanha. O medo se espalhou rapidamente
à medida que rumores sobre a estranha figura de aparência demoníaca se
multiplicavam entre a população. A notícia era assustadora: Satã estava andando de casa em
casa e pelas estradas que ligavam os povoados entre Devon e Exeter.
É claro, o rumor fez com que as pessoas ficassem alarmadas.
Há relatos de famílias se trancando dentro de casa para rezar e pedir proteção,
de crianças sendo proibidas de sair e de homens portando armas de fogo para
autodefesa contra a presença demoníaca. No povoado de Topsham, pequenas
medalhas supostamente abençoadas começaram a ser vendidas, uma vez que se
acreditava serem elas capazes de fazer com que o demônio recuasse. Símbolos de
proteção antigos, as Sheelas, foram fixados na soleira das portas a fim de
afastar os maus espíritos. Em Teignmouth diziam que o leite recém-tirado das
vacas azedava poucos minutos após a ordenha, que pássaros despencavam mortos
dos céus e que um bezerro de duas cabeças nasceu, chorou como uma mulher e morreu
no espaço de poucos minutos.
Em vários povoados o medo era tamanho que se chegou a
cogitar que o fim do mundo estava prestes a chegar e que a presença demoníaca
era o prelúdio de coisas muito piores que estavam por vir. Um dos maiores
temores é que a criatura pudesse raptar crianças inocentes.
Mais inquietantes ainda foram os relatos que começaram a se
multiplicar, dando conta do avistamento de uma furtiva figura demoníaca, com
chifres, rabo e patas de bode. Em Dawlish, um grupo de moradores disse ter
avistado a criatura demoníaca "que
corria rapidamente, às vezes de quatro, às vezes como um homem" em uma
estrada próxima ao cemitério local. O ser demoníaco teria passado por um grupo
de cidadãos respeitáveis, saltando e gargalhando e só não os atacou porque
começaram estes a rezar e pedir proteção divina.
Três homens do vilarejo perseguiram a criatura e armados com
espingardas chegaram a atirar contra ela. Os homens contaram ter sentido um
profundo cheiro de enxofre e que pouco depois de retornarem, ouviram um
profundo balido fantasmagórico vindo das charnecas mal iluminadas que margeavam
o vilarejo. "Como se a coisa
quisesse provar que estava viva", comentou uma testemunha
desconsolada.
A essa altura, a estória havia ganhado o país e as pessoas
se perguntavam se o Demônio apareceria em seus quintais. Para alguns aquilo significava que alguém na casa estava
condenado a morrer e ir para o inferno, para outros era a certeza de que o
demônio tinha algum tipo de pacto com alguém que residia na propriedade
visitada. Essa desconfiança fez com que um pastor do povoado de Exmouth
perdesse o emprego e fosse expulso depois que várias marcas foram encontradas
no pátio da igreja.
Para conter a histeria, o Reverendo H. T. Ellacombe, um
respeitado religioso de Clyste St. George começou a investigar o
fenômeno em busca de pistas que pudessem comprovar o que para ele, não passava
de uma bem elaborada fraude. O vigário visitou Devon na semana seguinte e fez paradas nos
povoados afligidos. Ele consultou os párocos locais que relatavam estórias
muito similares, entrevistou testemunhas que haviam visto os rastros, mediu as
pegadas ainda frescas, a distância entre elas e chegou a encomendar a feitura
de rastros em gesso. Os resultados das investigações de Ellacombe preenchem um
relatório de mais de 500 páginas que foi submetido à Diocese de Devon - e que
foi citado anos depois pelo investigador do paranormal Charles
Fort como uma das primeiras investigações sobrenaturais criteriosas, que
corresponde ao capítulo XXVIII de seu "Livro
dos Danados".
Os principais fatos reunidos pelo religioso foram
posteriormente publicados pela revista Illustrated London News, no dia 3 de
abril de 1855. Não há como supor que o acontecimento tenha sido planejado
ou orquestrado por moradores que testemunharam a descoberta dos supostos
rastros satânicos uma vez que um número realmente grande de pessoas se
mostravam positivamente surpresas com o fenômeno. O Pastor concluiu após alguns
cálculos que havia algo entre 60 e 110 quilômetros de rastros. As pegadas segundo a medição de Ellacombe mediam cada uma
cerca de 10 centímetros de comprimento, por 7 centímetros de largura e estavam
regularmente separadas por intervalos de 20 a 22 centímetros e pareciam rastros
de um tipo de pata fendida de animal.
Ellacombe ressaltou
alguns pontos que na sua concepção mereciam destaque:
1º - Se as pegadas foram deixadas por um animal terrestre
qualquer (incluindo aqui os pássaros), o elemento mais difícil de explicar é a
sua colocação fantástica - O misterioso visitante passou de modo geral apenas
uma vez em cada local e o fez em quase todas as casas de numerosas partes das
diferentes cidades, assim como em fazendas isoladas. Essa pista regular
percorre em certos casos áreas de difícil acesso como os telhados das casas ou
por sobre os palheiros, ou pelo alto de muros muito altos (um com cerca de 4
metros e meio de altura), sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e sem
modificar as distâncias entre as pegadas. Os jardins cercados de sebes altas ou
de muros e com portas fechadas foram visitados, assim como aqueles que não
tinham obstáculos nem eram fechados. Muitos donos dessas propriedades juraram
que haviam trancado portas que conduziam aos seus pátios internos e que
encontraram os mesmos devidamente trancados e sem sinal de terem sido
arrombados ou abertos. O Pastor Ellacombe afirmou ter seguido um mesmo rastro
através de um campo até um palheiro. A superfície deste palheiro estava
intocada sem apresentar qualquer marca, mas, do lado oposto, numa direção
correspondente exatamente à pista traçada até aquele ponto, as pegadas
recomeçavam.
2º - O mesmo fato foi observado de um lado e de outro de um
muro. Dois outros habitantes seguiram uma linha de pegadas durante três horas e
meia, passando sob um bosque de groselheiras e de árvores frutíferas em
renques; perdendo em seguida o rastro e reencontrando-o sobre o teto de casas
nas quais sua busca havia começado.
3º - Mais impressionante ainda, o pastor afirmou que as
pegadas pareciam atravessar um estuário de quase 3 quilômetros de largura,
desaparecendo em uma margem e ressurgindo na margem oposta de forma
absolutamente visível, indicando que seja o que for que tenha deixado às marcas
entrou em um lado do estuário e ressurgiu do outro sem interromper sua marcha.
Não há dados que corroborem a informação de que o estuário estaria congelado na
ocasião o que possibilitaria a travessia. De qualquer forma, as marcas deixadas
nas margens pareciam indicar que a criatura entrava nas águas gélidas até que
ela apagasse suas trilhas.
4º - O pastor afirmava que: "De nada serve atribuir a mais de um animal estes rastros, porque
isto não explica como, qualquer que seja o animal e, qualquer que seja seu
número, seja ele capaz de escalar muros, andar sobre telhados e obstáculos sem
reconhecer impedimentos físicos; e, também, ter capacidade de passar por
pequenas vielas de 30 cm de largura. É igualmente digno de nota que os rastros
não pareciam voltar para trás e nem circular aleatoriamente. Um animal, seja
qual for, deveria apresentar hesitação, vacilando em alguns pontos mesmo que
fosse conduzido. Ademais, ninguém entrevistado nos vilarejos declarou ter visto
alguém conduzindo um animal com cascos por esse caminho. À noite em que os
rastros surgiram foi quase congelante, marcada por neve contínua”.
5º - Muitas pessoas que se interessaram pelo caso propuseram
como solução para o mistério residia em algum fenômeno natural da atmosfera
incidindo sobre as marcas – que seriam rastros não tão fantásticos que, devido
ao clima, teriam mudado e ficado com aquela aparência. Mas como seria possível
que a atmosfera afetasse uma marca e não outras? Na manhã em que os rastros
foram observados, a neve apresentava pegadas frescas de cães e gatos, coelhos,
pássaros e homens, nitidamente definidas. Por que então um rastro ainda mais
nitidamente definido – tão nitidamente que a fenda do meio de cada casco podia
ser discernida – somente ele, teria sido afetado pela atmosfera e todas as
outras marcas deixadas não o foram? Ademais, a circunstância mais singular levantada a esse
respeito era a de, onde quer que apareça essa marca, a neve não estava
completamente revolta, como se o que quer que tenha deixado a pegada a tivesse
produzido com incrível delicadeza.
Diante dessas conclusões, incluídas em seu minucioso
inquérito, o Reverendo Ellscombe foi convocado para prestar um depoimento
diante da Diocese de Devon. Ele afirmou ter realizado a investigação de forma
imparcial e quando pedido para explicar o que havia acontecido naquela fria
noite de fevereiro simplesmente não foi capaz de oferecer uma explicação
racional. A Igreja Anglicana tampouco ofereceu uma explicação para o ocorrido.
Sua posição foi a de refutar qualquer manifestação sobrenatural e tentar
tranquilizar a população dentro do possível.
Então, o que andou
pelas estradas de Devon naquela noite?
Teria sido uma brincadeira de gosto duvidoso? Uma fraude da
qual participaram os moradores de vários povoados? E se isso é verdade, com
qual propósito? Uma brincadeira dessa natureza faria sentido ou justificaria o
trabalho de tê-la organizado? Além disso, tal coisa demandaria um enorme
planejamento e comprometimento de um grande número de envolvidos.
Então algo sobrenatural teria deixado os rastros? Hoje, é
impossível saber ao certo o que aconteceu. Passados 158 anos, é pouco provável
que um dia venhamos a descobrir. Mas os documentos e a investigação da época
comprovam o inusitado teor bizarro desse acontecimento.
Demais! este site é brilhante!
ResponderExcluirIncrível, porém duvidoso, li ali que foram vendidos artefatos para afastar o demônio, também a venda de um livro que fala sobre o assusto, seria uma fraude ? pelo que sabemos o ser humano é capaz de qualquer coisa por dinheiro, será que as testemunhas tinham uma ligação com a igreja ? mesmo que se realmente o diabo tenha andado pela cidade, oq ele queria ? sendo que não há relatos de vítimas dele, apenas pegadas. só oque nos resta é a dúvida
ResponderExcluir¿é mesmo? é verdade ou ñ esse site tbem devia falar se é verdade ou mentira ou não sabem se é real ou não '-'
ResponderExcluirMe desculpe agora eu percebi q pode ser real ou não,não tem como saber porque é mito urbano tem provas das pegadas q pode ser de um animal ou ñ ,isso parece q é real! me desculpe ai se minha postagem foi ruim u.u
ExcluirCaramba, li isso a 1h da manhã, fiquei arrepiado com as descrições e senti um desconforto no escuro do meu quarto kskskss Amo esse site!!! Espero que permaneça por um bom tempo de pé. <3 <3
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