1 de julho de 2020

Matsya

۞ ADM Sleipnir

Matsya (em sânscrito मत्‍स्‍य, "peixe") é na mitologia hindu o primeiro avatar do deus Vishnu. Ele apareceu como um peixe durante a era conhecida como Satya Yuga (na qual, segundo os hindus, a mentira e o mal não eram conhecidos, e que durou 4.800 anos) para salvar os seres vivos de uma grande inundação. 

Iconografia

Na iconografia hindu, Matsya é tipicamente descrito como um peixe comum, ou como um ser com a parte inferior do corpo de um peixe, e a parte superior sendo a de um homem. Essas formas parcialmente antropomórficas têm uma semelhança muito próxima com as representações tradicionais de Vishnu. O tronco superior possui quatro mãos, duas das quais carregam o Shankha (concha) e o Chakra (disco), enquanto as outras duas são mantidas nas poses de Varada Abhaya, sinais de caridade e destemor, respectivamente. Matsya também pode carregar uma variedade de outras armas e símbolos típicos de Vishnu. Matsya é frequentemente representado com dois ou três olhos, ou em um perfil lateral com apenas um olho visível, como é típico de um peixe. Às vezes, sua boca é mantida aberta, para ilustrar sua ferocidade. 


Mitologia

O mito central de Matsya gira em torno de Manu Satyavrata, o homem que acabaria se tornando o progenitor da espécie humana. Manu era o rei do antigo reino Dravida, e dizem que ele passou dez mil anos de sua vida praticando austeridades espirituais. 

Um dia, enquanto ele oferecia uma oferta de água a um rio, um pequeno peixe pulou em suas mãos. Manu estava prestes a devolver o peixe à água, quando o mesmo pediu para que ele o protegesse contra os peixes maiores no rio que constantemente o perseguiam. Manu colocou em um pote de barro, no entanto, o peixe logo ficou maior que o pote e, assim, Manu o devolveu ao rio. 


O peixe continuou a crescer e logo ficou maior que o rio local. Manu então colocou o peixe no Ganges, o maior rio da Índia, porém o peixe também ultrapassou o tamanho deste rio, e então Manu resolveu colocá-lo no oceano. Nesse ponto, Manu chegou à conclusão de que o peixe tinha algum tipo de propriedade divina, e sua suspeita foi confirmada quando o peixe revelou ser Matsya, um avatar de Vishnu. Matsya disse a Manu que o mundo seria destruído após um dilúvio, e o aconselhou a construir uma grande embarcação, sobre a qual ele colocaria os elementos mais importantes do mundo, incluindo os sete Rishis (sábios aos quais são atribuídos a autoria dos Vedas, os textos fundamentais do hinduísmo), sementes de vários tipos de plantas e um par de cada tipo de animal. 

Matsya prometeu que viria para resgatar a embarcação, e Manu o agradeceu pela honra concedida a ele. Assim, ele começou a se preparar para sobreviver ao grande dilúvio. Durante 7 dias, ele construiu uma enorme embarcação, recolheu um par de cada espécie de animal da terra, além das sementes de todo o tipo de planta existentes e como instruído, também trouxe os sete Rishis e seus familiares. Tão logo colocou tudo e todos seguros dentro da embarcação, o dilúvio teve início.

Em meio a força das águas e a tempestade, Manu conduziu a embarcação, porém ele não sabia para onde deveria ir. Ondas enormes atingiam o navio, ameaçando virá-lo a qualquer momento. Foi quando Matsya, cumprindo sua promessa, apareceu para estabilizar a embarcação e conduzi-la ao caminho correto. Usando a serpente Vasuki como corda, ele a amarrou ao chifre de um enorme peixe e o usou para puxar a embarcação. Matsya os guiou durante sete dias e sete noites, conduzindo-os até os picos do Himalaia. 


Quando chegaram lá, a chuva finalmente parou e o volume de água começou a ceder. Assim que a terra voltou a ser vista, Manu liberou os animais da embarcação, e deu início ao repovoamento do mundo, tornando-se o primeiro governante da humanidade nesta nova era (Krita Yuga).

Diz-se também que Matsya entregou a Manu os Vedas, cujos princípicos deveriam governar a raça humana pelo restante dos quatro yugas. Conforme descrito no Bhagavata Purana, Matsya primeiro roubou os Vedas do demônio/asura Hayagriva, que os havia roubado do próprio Brahma, o deus criador da trindade hindu.

Alguns textos anteriores afirmam que Matsya é na verdade uma encarnação de Brahma e não de Vishnu.

Paralelo com o Dilúvio Bíblico

O mito de Manu e Matsya é notável por sua semelhança com a história bíblica da Arca de Noé. Ambas descrevem a construção de uma grande embarcação na qual todas as espécies de vida sobre a terra são salvas de uma grande inundação. De fato, civilizações totalmente diferentes têm o conceito de inundação cósmica em sua mitologia. Pesquisadores especulam que realmente possa ter ocorrido uma grande inundação num passado distante, que forneceu a base para todas essas histórias sobre um dilúvio cósmico que submergiu o mundo inteiro.

3 comentários:



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