25 de junho de 2021

Bathala

۞ ADM Sleipnir

Arte de 3stan

Bathala (também Batala, Bathalang Maykapal, Abba, Lumikha) é o deus supremo, criador e conservador do universo, de acordo com a antiga mitologia do povo tagalo filipino. Sua origem é desconhecida, mas seu nome sugere influências hindus. De acordo com o historiador William Henry Scott, Bathala  foi derivado do sânscrito bhattara  que significa "nobre senhor".  Sua contraparte na mitologia do povo visaya é Kaptan.

Geralmente representado como um homem barbudo e de cabelos brancos, Bathala era originalmente visto como uma divindade sem gênero. Seus mitos variam conforme a região de onde se originam, e também em alguns casos possuem uma grande influência do cristianismo e de outras crenças. Até mesmo suas relações familiares são confusas e costumam variar conforme o mito. Tentarei aqui trazer tudo o que pude encontrar a respeito do deus, e elucidar suas relações com outros deuses.

Arte de glenoxzartwork

Mito de Criação I

Segundo um dos muitos mitos de criação, Bathala era um dos únicos seres vivos a existir no universo. Os outros eram a serpente Ulilangkalulua e a cabeça alada e errante Galangkalulua. Cada um desses seres acreditava ser o único ser vivo no universo. Bathala vivia na Terra num período onde ela era composta de rochas duras. Não haviam mares nem oceanos. Também não haviam plantas e nem animais. Como seu único habitante, Bathala muitas vezes desejava ter alguns companheiros, mas se perguntava como poderia fornecer comida, bebida e abrigo a eles, uma vez que não havia nada na Terra além de pedras. 

O que era verdade para Bathala também era verdade para Ulilangkalulua, que dominava acima das nuvens. Em seu reino, Ulilangkalulua não via nada além de nuvens brancas, e sua condição solitária o levou a visitar outros lugares. Ele costumava descer à Terra e se divertir escalando altas montanhas e entrando em cavernas profundas. Certo dia, quando estava no topo de uma colina muito alta, Ulilangkalulua viu alguém sentado em uma grande pedra logo abaixo dele. Ele ficou muito surpreso, e demorou um certo tempo até se aproximar. Ao finalmente ter coragem, Ulilangkalulua perguntou: "Senhor, diga-me quem é você?"

“Eu sou Bathala, o governante do universo” - respondeu o deus. Ulilangkalulua ficou furioso ao ouvir essas palavras. Ele se aproximou de Bathala e disse: “Já que você se declara o governante de todas as coisas, eu o desafio para um combate!”Um grande e longo confronto entre os dois ocorreu, e ao final, Ulilangkalulua acabou sendo derrotado e morto. Bathala levou seu corpo para um local próximo de sua morada e o queimou.

Bathala x  Ulilangkalulua, arte de Val Tarroza

Alguns anos depois desse evento, Galangkalulua, o deus errante, encontrou por acaso a morada de Bathala. Bathala o recebeu e o tratou com gentileza, e assim, os dois viveram juntos na terra por muitos anos como verdadeiros amigos. Infelizmente, um dia Galangkalulua acabou ficando muito doente. Bathala passou dias e noites acordado cuidando do amigo, mas ele não melhorava. Quando Galangkalulua estava prestes a morrer, ele chamou Bathala e disse: “Você tem sido muito gentil comigo e não tenho nada com que retribuir sua gentileza. Mas se você fizer o que eu digo, há uma maneira de te beneficiar. Certa vez, você me disse que planejou criar criaturas com a mesma aparência que você para ter súditos e companheiros, e que não teve sucesso porque não sabia como poderia fornecer a eles todas as coisas necessárias para que vivessem. Agora, quando eu morrer, enterre meu corpo no túmulo de Ulilangkalulua. Deste túmulo surgirão as coisas que irão satisfazê-lo. ”

Bathala fez o que Galangkalulua disse a ele, e a promessa de Galangkalulua foi cumprida. Do seu túmulo, cresceu uma planta cujo fruto continha água e carne. Bathala estava muito ansioso para examinar as diferentes partes da árvore porque nunca tinha visto tal coisa antes. Ele pegou um dos frutos e o descascou. Ele descobriu que sua casca interna era dura e que o próprio fruto lembrava a cabeça de seu amigo Galangkalulua. Tinha dois olhos, nariz achatado e boca redonda. Bathala então olhou para a própria árvore e descobriu que suas folhas eram na verdade as asas de Galangkalulua e seu tronco, o corpo de seu inimigo, Ulilangkalulua.

Bathala agora podia executar seu antigo plano. Ele criou o primeiro homem e a primeira mulher, e construiu uma casa para eles, cujo telhado e paredes eram feitos de folhas de coco e os postes eram troncos de coqueiro. Assim, esse casal viveu feliz sob o coqueiro por muitos anos, até que o mundo inteiro ficou repleto com seus filhos. 

Mito de Criação II

Uma variação do mito de criação anterior substitui Ulilangkalulua e Galangkalulua respectivamente pelos deuses primordiais Aman Sinaya e Amihan. Aqui, Bathala é tido como o deus governante do céu, enquanto Aman Sinaya é  a deusa governante do mar. Todos os dias um tentava destruir o outro, com Bathala lançando raios contra Aman Sinaya, enquanto ela contra atacava usando suas ondas e tufões. 

Um dia, Aman Sinaya enviou tempestades para o céu, causando um grande tumulto. Para detê-la, Bathala teve de atirar pedras das montanhas em sua direção. Essas pedras se transformaram em milhares de ilhas na superfície do mar, criando assim o arquipélago filipino.

Tentando por um fim no conflito, o deus Amihan assumiu a forma de um pássaro e voou para frente e para trás entre os dois deuses várias vezes. Isso fez com que o céu e o mar ficassem mais próximos um do outro do que antes. Então, quando os dois domínios finalmente se encontraram, os deuses decidiram parar a batalha e se tornarem amigos. Para comemorar, Bathala plantou uma semente no fundo do oceano. Esta, mais tarde, se transformou em uma enorme cana de bambu que se projetava na beira do mar. 

Amihan ouviu vozes de dentro dessa cana, e após bicá-la duas vezes, ela se quebra ao meio. De dentro dela, surgiram os primeiros seres humanos, o primeiro homem, Malakas ("forte") a primeira mulher Maganda ("linda"). Com a união dos dois, o mundo foi povoado.

Arte de Nestor Redondo

Mito de Criação III

Um terceiro mito de criação do mundo conta que Bathala era um ser tão gigantesco que o sol brilhava fortemente ao lado dele enquanto ele viva curvado por causa do céu ser muito baixo. Um dia, Bathala perfurou o olho do sol com uma faca (chamada bolo), fazendo com que ele gerasse menos calor, o suficiente para criar e sustentar a vida na Terra. Com sua força, Bathala então empurrou o céu um pouco além da terra, no nível onde está agora. Dessa forma, a terra poderia agora receber a vida.

Filhos

Com uma mulher humana, Bathala é dito ter tido 3 filhos, cujos nomes variam conforme a fonte. Geralmente são Mayari (a deusa da lua), Tala (deusa das estrelas) e Hanan, (a deusa da manhã). Algumas fontes incluem Apolaki (deus do sol e da guerra) no lugar de Hanan. Acredita-se que Bathala era originalmente o deus tanto do sol e da lua, e que depois passou esse posto para seus filhos.

Kaluwalhatian 

Kaluwalhatian (ou Kawalhatian) é o nome dado à morada de Bathala e de outros deuses, conhecidos como anitos ou diwatas. Localizada nos céus, é de lá que Bathala observa a humanidade. Ele fica satisfeito quando seu povo segue suas regras, dando-lhes tudo de que precisam a ponto deixá-los mal acostumados. Às vezes, porém, Bathala pode se enfurecer e assim enviar relâmpagos e trovões contra aqueles que o irritarem.

Anitos, os servos de Bathala

Anito é um termo usado para se referir a espíritos, ancestrais falecidos, ninfas e natureza e até mesmo deuses. Os antigos filipinos mantinham estátuas para representar esses espíritos, para as quais pediam orientação e proteção mágica. Acreditava-se que árvores, rochas, corpos d'água e animais eram todos animados por um anito. De acordo com o autor Miguel de Loarca em sua obra Relacion de las Yslas Filipinas (1582)os anitos são os assistentes, os ministros de Bathala, que os envia à terra para ajudar os homens. Por isso, não era costumeiro aos homens intercederem diretamente à Bathala, mas sim aos anitos.

Bathala no mito de Bakunawa

Bathala figura em um mito envolvendo Bakunawa, uma das muitas criaturas devoradoras da lua presentes na mitologia e folclore filipinos. Nesse mito, Bathala havia criado sete luas para iluminar o céu durante a noite, e Bakunawa, tendo visto aquelas belas luzes no céu, dia após dia emergia das águas para devorar uma por uma. Quando estava prestes a engolir a última, Bathala pediu para que ele não o fizesse. Bakunawa concordou, mas de vez em quando ele desobecede o pedido de Bathala e tenta engolir a ultima lua.

O advento do cristianismo

Após a chegada dos missionários espanhóis às Filipinas, no século XVI, Bathala passou a ser identificado como o deus cristão, por isso sua sinonímia com Diyos (Deus) ou Dibino (Divino), de acordo com Jose Villa Panganiban, escritor do Diksyunaryo-Tesauro Pilipino-Ingles (dicionário de sinônimos filipino-inglês), em algumas línguas visaianas, Bathala também significa Deus. Por um tempo, Bathala foi incorporado ao ensino cristão pelos frades a fim de ajudar na conversão da população ao cristianismo.

Arte de artistmyx


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