
Segundo a tradição oral do povo indígena Umutina, do estado de Mato Grosso, conta-se que, em tempos remotos, as doenças não existiam. Os humanos viviam por muitos anos, envelhecendo sem sofrer de males físicos. Os idosos mantinham a mesma vitalidade que os jovens, e a morte era desconhecida — nem velhos nem crianças morriam. Com o crescimento descontrolado da população, três homens começaram a se preocupar com a quantidade de recursos consumidos pelos mais velhos. Decidiram, então, encontrar uma forma de eliminar os idosos, acreditando que isso resolveria o problema.
Os três homens buscaram então a ajuda de Hári, a Lua, que habitava o céu. Perguntaram se ele possuía algum veneno ou feitiço capaz de matar os velhos, mas Hári respondeu que não. Sugeriu, porém, que procurassem Mini, o Sol, que talvez pudesse ajudá-los. Ao chegarem à morada do Sol, os homens explicaram seu plano. Mini advertiu-os sobre as consequências de tal ação, mas, diante de sua insistência, acabou cedendo. Entregou-lhes três flechas, carregadas com três tipos de males: uma continha uma doença que causava dor no fígado e vômitos mortais; outra provocava dores intensas na cabeça, no peito e nas pernas, levando à morte; e uma terceira, destinada a matar animais. Esta última, em particular, era extremamente perigosa, e o Sol os instruiu a se protegerem atrás de uma árvore antes de atirá-la, pois, quando lançada, ela mataria a caça mas retornaria ao ponto de partida. Se o caçador não estivesse protegido atrás de uma árvore, seria morto por sua própria flecha.
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| Mini, o Sol, entrega as flechas aos homens. Ilustração de J. Lanzellotti |
Tempos depois, um outro homem, que não havia participado da viagem ao céu, pediu emprestada a flecha solar de caça, pois suas próprias armas não eram eficazes na caça. Apesar dos avisos sobre os riscos, ele a usou sem se esconder atrás de uma árvore. A flecha atingiu um veado, mas, ao retornar, matou também o caçador. Quando o dono da flecha foi procurá-lo, encontrou-o morto ao lado da caça abatida. Seguindo os costumes da tribo, o corpo foi levado e enterrado no chão do rancho.

fonte:
- BALDUS, H. Estórias e Lendas dos Índios. Pág. 217-218. Disponível em: <https://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/biblio%3Abaldus-1960-estorias/Baldus_1960_EstoriasELendasDosIndios.pdf>.

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