20 de agosto de 2025

Tedjuáre

۞ ADM Sleipnir

Tedjuáre (Te-djuáreTedyuareTêttxuá, Tečware, Hitewá) é uma figura mítica presente nas tradições orais de diversos povos indígenas do Brasil, especialmente entre os grupos do tronco Jê e Tupi, como os Kayapó, Xikrin, Krahô, Ramkokamekra-Canela, Apinayé, Apaniekra e também entre descendentes dos TupinambáConhecido por transformar o próprio osso da perna em uma arma letal, Tedjuáre encarna o papel de um transgressor que se torna uma ameaça sobrenatural à sua própria comunidade.

Seu mito foi registrado por diversos etnógrafos ao longo do século XX, como Curt Nimuendaju, Johannes Wilbert, Karin SimoneauAlfred Métraux, Horace Banner Pompeu Sobrinho.

Lenda

Segundo uma das versões da lenda, registrada por Alfred Métraux, Tedjuáre foi ferido por uma arraia enquanto pescava com seus companheiros. O ferimento infeccionou e sua perna gangrenou a tal ponto que os vermes deixaram o osso da canela exposto. Incapazes de carregá-lo de volta à aldeia, os companheiros o deixaram à beira da estrada, com a promessa de que sua família viria buscá-lo. Foi nesse momento de abandono que sua transformação começou.

Sozinho, Tedjuáre esfregou areia sobre o osso nu de sua perna até deixá-lo afiado como a ponta de uma flecha. Ele então escondeu a arma improvisada sob a areia, aguardando silenciosamente. Quando seu filho chegou ao amanhecer para ajudá-lo a voltar para casa, ele o recebeu com um pedido aparentemente inofensivo: que virasse de costas para carregá-lo. Mas, no instante em que o rapaz se virou, Tedjuáre o matou com um golpe certeiro de sua tíbia afiada. Esse assassinato marca o início de sua jornada como um ser monstruoso.

No caminho de volta à aldeia, Tedjuáre matou outras pessoas com sua perna transformada em arma. Quando tentou matar uma mulher, ela subiu em uma bacabeira para escapar. Lá do alto, conseguiu feri-lo na garganta com uma folha da palmeira, obrigando-o a recuar temporariamente. Mas Tedjuáre, agora tomado por uma fúria homicida, seguiu até a aldeia e ali continuou seu massacre, matando todos que pôde alcançar.

Os sobreviventes, aterrorizados, fugiram para a mata e lá elaboraram um plano. Usaram o tronco de uma árvore para esculpir um boneco com braços e o cobriram com penas, criando uma figura que imitava a forma humana. Quando Tedjuáre avistou o boneco, pensou tratar-se de mais uma vítima e tentou perfurá-lo com sua perna pontuda. No entanto, o osso ficou preso na madeira, e foi nesse instante que os indígenas saíram de seus esconderijos e finalmente conseguiram abatê-lo, encerrando assim seu reinado de terror.

Outra versão da lenda, narrada por Horace Banner, traz alguns elementos diferentes. Nessa versão, a primeira vítima de Tedjuáre não foi o filho, mas sim sua esposa. Após promover uma onda de matança, acabou caindo em uma emboscada e sendo morto. Tempos depois, mulheres colhiam bacaba quando ouviram um grito: “Lá vai Tedjuáre!” Ele já não tinha corpo — apenas a cabeça e os ombros subiam pela bacabeira. Uma das mulheres reagiu instintivamente: com a casca do cacho de bacaba que segurava, perfurou-lhe o pescoço, fazendo-o cair ao chão. Os índios então o acabaram de matar.

Após sua destruição, Tedjuáre se tornou símbolo do que os Kayapó chamam de rop-í, a lança feita com a tíbia de onça — uma arma tradicional inspirada na perna pontiaguda do mito. 

fontes:


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2 comentários:

  1. Interessante. . .hey, senão for pedir demais, poderia postar sobre:

    Zagreus,
    Sabazios,
    Atagartis,
    La Calavera de La Catrina,
    Átis,
    E Asherah?

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    1. Obrigado pelas sugestões. Estarei trabalhando para que possam aparecer por aqui em breve.

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