۞ ADM Sleipnir

Tedjuáre (Te-djuáre, Tedyuare, Têttxuá, Tečware, Hitewá) é uma figura mítica presente nas tradições orais de diversos povos indígenas do Brasil, especialmente entre os grupos do tronco Jê e Tupi, como os Kayapó, Xikrin, Krahô, Ramkokamekra-Canela, Apinayé, Apaniekra e também entre descendentes dos Tupinambá. Conhecido por transformar o próprio osso da perna em uma arma letal, Tedjuáre encarna o papel de um transgressor que se torna uma ameaça sobrenatural à sua própria comunidade.
Seu mito foi registrado por diversos etnógrafos ao longo do século XX, como Curt Nimuendaju, Johannes Wilbert, Karin Simoneau, Alfred Métraux, Horace Banner e Pompeu Sobrinho.
Lenda
Segundo uma das versões da lenda, registrada por Alfred Métraux, Tedjuáre foi ferido por uma arraia enquanto pescava com seus companheiros. O ferimento infeccionou e sua perna gangrenou a tal ponto que os vermes deixaram o osso da canela exposto. Incapazes de carregá-lo de volta à aldeia, os companheiros o deixaram à beira da estrada, com a promessa de que sua família viria buscá-lo. Foi nesse momento de abandono que sua transformação começou.
Sozinho, Tedjuáre esfregou areia sobre o osso nu de sua perna até deixá-lo afiado como a ponta de uma flecha. Ele então escondeu a arma improvisada sob a areia, aguardando silenciosamente. Quando seu filho chegou ao amanhecer para ajudá-lo a voltar para casa, ele o recebeu com um pedido aparentemente inofensivo: que virasse de costas para carregá-lo. Mas, no instante em que o rapaz se virou, Tedjuáre o matou com um golpe certeiro de sua tíbia afiada. Esse assassinato marca o início de sua jornada como um ser monstruoso.
No caminho de volta à aldeia, Tedjuáre matou outras pessoas com sua perna transformada em arma. Quando tentou matar uma mulher, ela subiu em uma bacabeira para escapar. Lá do alto, conseguiu feri-lo na garganta com uma folha da palmeira, obrigando-o a recuar temporariamente. Mas Tedjuáre, agora tomado por uma fúria homicida, seguiu até a aldeia e ali continuou seu massacre, matando todos que pôde alcançar.
Os sobreviventes, aterrorizados, fugiram para a mata e lá elaboraram um plano. Usaram o tronco de uma árvore para esculpir um boneco com braços e o cobriram com penas, criando uma figura que imitava a forma humana. Quando Tedjuáre avistou o boneco, pensou tratar-se de mais uma vítima e tentou perfurá-lo com sua perna pontuda. No entanto, o osso ficou preso na madeira, e foi nesse instante que os indígenas saíram de seus esconderijos e finalmente conseguiram abatê-lo, encerrando assim seu reinado de terror.
Outra versão da lenda, narrada por Horace Banner, traz alguns elementos diferentes. Nessa versão, a primeira vítima de Tedjuáre não foi o filho, mas sim sua esposa. Após promover uma onda de matança, acabou caindo em uma emboscada e sendo morto. Tempos depois, mulheres colhiam bacaba quando ouviram um grito: “Lá vai Tedjuáre!” Ele já não tinha corpo — apenas a cabeça e os ombros subiam pela bacabeira. Uma das mulheres reagiu instintivamente: com a casca do cacho de bacaba que segurava, perfurou-lhe o pescoço, fazendo-o cair ao chão. Os índios então o acabaram de matar.
Após sua destruição, Tedjuáre se tornou símbolo do que os Kayapó chamam de rop-í, a lança feita com a tíbia de onça — uma arma tradicional inspirada na perna pontiaguda do mito.
fontes:
- MÉTRAUX, Alfred. Myths and tales of the Kayapó Indians (Kuben-Kran-Kegn Group) (Traduzido por Jorge Domingues Lopes). Disponível em: <https://periodicos.unb.br/index.php/ling/article/download/38989/32149/120944>
- BEREZKIN, YU. E.; DUVAKIN, E. N. Тематическая классификация и распределение фольклорно-мифологических мотивов по ареалам. Disponível em: <https://ruthenia.ru/folklore/berezkin/l9a.html>.
- Banner, H. (1957). Mitos dos índios Kayapó. Disponível em : <https://www.researchgate.net/publication/312438534_Mitos_dos_indios_Kayapo/fulltext/587d3e6b08aed3826af0147d/Mitos-dos-indios-Kayapo.pdf>
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Interessante. . .hey, senão for pedir demais, poderia postar sobre:
ResponderExcluirZagreus,
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La Calavera de La Catrina,
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E Asherah?
Obrigado pelas sugestões. Estarei trabalhando para que possam aparecer por aqui em breve.
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