6 de setembro de 2025

A Princesa do Monte Ledang (Puteri Gunung Ledang)

۞ ADM Sleipnir

Puteri Gunung Ledang ("A Princesa do Monte Ledang") é um dos contos folclóricos mais célebres da Malásia e de Singapura, transmitido oralmente por séculos em diversas versões. Sua origem remonta ao século XV, no auge do Sultanato de Malaca, quando o reino se consolidara como um dos principais portos das rotas comerciais entre a Índia e a China.

A tradição conta que, no cume do Monte Ledang (também conhecido como Monte Ophir), vivia uma princesa de beleza sobrenatural e dotada de poderes místicos. Muitos acreditavam que ela não era uma simples mortal: falava-se que seu cortejo era composto apenas por mulheres que podiam surgir e desaparecer junto às brumas da montanha, engravidar com o sopro do vento e que ela era protegida por tigres que, na verdade, seriam povos da selva capazes de se transformar. Sua fama corria por toda a região, até chegar aos ouvidos do sultão soberano de Malaca, identificado em algumas versões como Mansur Shah e em outras como Mahmud Shah

Após a morte de sua esposa, o sultão foi aconselhado por cortesãos e nobres a contrair novo matrimônio. Recusando alianças com princesas locais, declarou que desejava apenas a mão da Princesa do Monte Ledang, considerada inalcançável por qualquer outro soberano. Para levar sua proposta, enviou mensageiros ao monte, entre eles o almirante Sang Satia e Tun Mamed (ou Mamat). Em algumas versões, porém, é o lendário guerreiro Hang Tuah quem assume a missão de transmitir pessoalmente o pedido do sultão.

A subida ao Monte Ledang mostrou-se árdua, repleta de obstáculos naturais, até que Tun Mamed decidiu prosseguir sozinho com o auxílio de homens da região. Durante o caminho, encontrou uma floresta de bambus que ressoavam como cânticos ao vento, localizada em uma altitude tão elevada que parecia tocar as nuvens. Mais adiante, alcançou um jardim encantado, povoado por aves e plantas que produziam sons melodiosos. No centro desse espaço erguia-se um salão construído de ossos, onde Tun Mamed encontrou uma idosa chamada Dang Raya Rani, acompanhada por quatro jovens mulheres. 

Ao ouvir a proposta de casamento, a anciã afirmou que transmitiria a mensagem à princesa e, em seguida, desapareceu repentinamente com suas acompanhantes. Pouco depois, surgiu outra mulher, ainda mais idosa e encurvada, que apresentou as condições impostas pela princesa para aceitar o matrimônio. As condições variam de versão para versão, mas são basicamente as seguintes:

  • Uma ponte de ouro que a conduzisse do Monte Ledang até Malaca;
  • Uma ponte de prata que lhe permitisse retornar de Malaca ao Monte Ledang;
  • Sete barris cheios de lágrimas humanas;
  • Sete barris de suco extraído de nozes jovens da árvore de bétele (Areca catechu), destinados também ao banho da princesa;
  • Sete bandejas repletas de corações de germes;
  • Sete bandejas cheias de corações de mosquitos;
  • Uma tigela contendo ouro misturado ao sangue do filho mais novo do sultão.

Após anunciar as condições, a anciã desapareceu. Muitas versões sugerem que essa mulher era, na verdade, a própria princesa disfarçada, e que suas exigências aparentemente impossíveis tinham o objetivo de demoverem o sultão de seu pedido de casamento.

De volta a Malaca, a mensagem foi levada ao palácio por Tun MamedEmbora considerasse possível atender às tarefas extraordinárias (e em muitas versões ele, de fato, chega a realizar a maioria deles, levando inclusive seu reino a falência) Mahmud Shah recusou-se a derramar o sangue de seu herdeiro, abandonando assim a proposta de casamento.

Elementos presentes em outras versões

Em algumas versões, foi Hang Tuah quem ouviu pessoalmente as condições da princesa. Ele compreendeu que eram impossíveis de serem cumpridas e, tomado pela vergonha de não conseguir cumprir a missão do rei, teria lançado sua adaga mágica, o keris Taming Sari, no rio Duyung, desaparecendo da narrativa. 

Outras versões acrescentam que a princesa teria sido esposa do navegador lendário Nakhoda Ragam. Durante um momento de intimidade, ele teria sido morto pela princesa com uma agulha de costura, seja por acidente ou de forma intencional. Seu barco, à deriva, teria se despedaçado, originando seis ilhas próximas a Malaca. Após o ocorrido, a princesa teria se recolhido ao Monte Ledang, fazendo voto de nunca mais se casar. É nesse estado de reclusão que recebe os emissários do sultão.

Cultura Popular

Como uma personagem bastante popular na Malásia, Puteri Gunung Ledang teve sua lenda reescrita para várias obras de ficção infantil e juvenil e adaptada para outras mídias, como filmes e peças teatrais. O filme malaio Puteri Gunung Ledang (1961) ajudou a popularizar a história no cinema da região. Já o filme Puteri Gunung Ledang  (2004) foi a aclamado pela crítica, sendo o primeiro filme malaio a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O MOBA Honor of Kings lançou em sua versão global uma skin da personagem Lady Zhen baseada na lenda de Puteri Gunung Ledang.

fontes:

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