26 de novembro de 2025

Akréti e Kenkutã

۞ ADM Sleipnir

Akréti e Kenkutã são uma dupla de irmãos míticos presentes na mitologia do povo indígena apinajé e também entre os mitos do povo kayapó, onde são conhecidos pelos nomes de Kukryt-Kakô e Kukryt-UireSegundo o mito, eram netos de um casal de anciãos que permaneceu numa aldeia abandonada após os ataques de Hága-ti (ou Agaikriti), um gavião monstruoso que fazia seu ninho num imenso jatobá. A criatura aterrorizava a comunidade ao capturar e devorar os habitantes; entre as suas vítimas estavam os pais de Akréti e Kenkutã, fato que levou o restante da tribo a abandonar o lugar, deixando apenas os avós e os dois meninos para trás.

Primeiras façanhas e a morte de Hága-ti

Certo dia, os avós e os meninos avistaram Hága-ti atravessando os céus, trazendo nas garras o corpo de mais uma vítima. No pescoço dela,  ainda pendia uma buzina, que ressoava ao vento. A visão despertou em Kenkutã profunda tristeza e indignação, levando-o a jurar vingança. Naquela noite, ao ouvir o assobio de um jaó na mata, perguntou ao avô sobre o som. O ancião explicou que se tratava de uma ave que só poderia ser abatida com uma flecha. Determinado a provar sua força, Kenkutã encontrou o animal e, contra as expectativas, matou-o com um golpe de porrete. Mais tarde, ao ouvir o ronco de uma ema, anunciou que também a caçaria. O avô considerou a tarefa impossível devido à velocidade da ave, mas, com o auxílio do irmão Akréti, que a conduziu em sua direção, Kenkutã conseguiu abatê-la da mesma forma. O feito causou admiração entre os avós.

Após esses episódios, o avô organizou uma corrida de tora. Preparou o tronco na roça, trouxe-o aos ombros e depositou-o na antiga praça da aldeia, realizando com a esposa cantos e danças rituais. Em seguida, o casal dirigiu-se ao ribeirão para se banhar, enquanto os meninos se deitaram sobre um grande tronco caído na margem. Na manhã seguinte, recusaram-se a retornar para casa, o que levou o avô a construir um jirau sobre as águas do ribeirão, de onde passou a alimentá-los diariamente.

Os meninos cresceram rapidamente, tornando-se fortes e corpulentos. Quando alcançaram o tamanho do jirau, o avô confeccionou espadas de madeira para cada um. Com essas armas, caçaram e mataram uma anta, levando-a até a entrada da casa dos avós e referindo-se a ela ironicamente como um “rato”. Surpresos com a façanha, os anciãos esquartejaram o animal e, no dia seguinte, cortaram os cabelos dos netos, preparando-os para um novo desafio.

O avô pintou e enfeitou os irmãos antes de conduzi-los ao jatobá onde Hága-ti mantinha seu ninho. No local, construiu uma pequena casa de proteção. Akréti, o mais ágil, passou a provocar o gavião, correndo para dentro da casinha sempre que era atacado, até cansar a criatura. Kenkutã, impaciente, desobedeceu às orientações do irmão e saiu ao encontro do inimigo, mas foi derrubado pela força das asas e obrigado a recuar. Ao meio-dia, enfraquecido e incapaz de voar, Hága-ti pousou no solo. Akréti aproveitou o momento e o matou com a sua espada de madeira. Os irmãos transportaram o corpo até a aldeia, onde o avô retirou suas penas, que se transformaram em pequenos pássaros. Em seguida, esquartejaram o gavião, assaram-no e consumiram sua carne.

O desafio de Kukád e a morte de Kenkutã

Outro desafio, porém, ainda os aguardava. Em uma caverna no alto de um penhasco vivia Kukád, uma ave monstruosa conhecida por decapitar pessoas em pleno voo. Os irmãos decidiram enfrentá-la, e o avô construiu uma nova casinha de proteção próxima ao penhasco. Akréti foi o primeiro a provocá-la, refugiando-se no abrigo quando a ave investiu. Kenkutã insistiu em imitá-lo, mas, ao sair, foi atingido por Kukád, que lhe decepou a cabeça. Inconformado, Akréti tentou vingar o irmão, mas a ave nunca mais deixou a caverna. 

Após colocar a cabeça de Kenkutã em uma forquilha, Akréti decidiu não retornar à casa dos avós e partiu em busca de sua tribo. No percurso, encontrou diferentes grupos que habitavam a região. Primeiro, cruzou com as seriemas, que caçavam pequenos animais incendiando o capim. Em seguida, encontrou os araras pretos, que quebravam cocos de tucum e repartiam a comida. Mais adiante, deparou-se com macacos que colhiam castanhas sapucaias. Estes lhe indicaram o caminho até sua comunidade, informando que teria de atravessar ainda três faixas de mata.

Akréti e Kapa-kwéi

Ao chegar à aguada da aldeia, Akréti escondeu-se atrás de um jatobá, de onde observou uma jovem chamada Kapa-kwéi, que descia para se banhar. Após tentativas de chamar sua atenção, revelou-se a ela como um membro sobrevivente da tribo. Sensibilizada por sua história, Kapa-kwéi concordou em unir-se a ele. Naquela noite, abriu um buraco na parede de sua casa para permitir a entrada do jovem sem ser notado. Quando as amigas vieram buscá-la para a dança da aldeia, encontraram Akréti ao seu lado. No dia seguinte, ele se apresentou formalmente à comunidade e ganhou prestígio ao caçar quatro emas, que ofereceu à sogra.

No entanto, a relação de Akréti com Kapa-kwéi terminou de forma trágica. Durante uma expedição para coletar mel, Akréti cavou um buraco em uma árvore e ordenou que Kapa-kwéi colocasse o braço para retirar os favos. Quando o braço dela ficou preso, ele aproveitou a oportunidade para assassiná-la, esquartejá-la e assar sua carne. Depois, retornou à aldeia com a carne, que foi consumida pelos demais, incluindo o irmão de Kapa-kwéi. 

No entanto, a relação de Akréti com Kapa-kwéi terminou de forma trágica. Durante uma expedição para coletar mel, Akréti pediu que Kapa-kwéi introduzisse o braço no tronco de uma árvore para retirar os favos. Quando ela ficou presa, ele a matou, desmembrou o corpo e assou sua carne, levando-a de volta para a aldeia. Ali, a refeição foi partilhada por todos, inclusive pelo irmão de Kapa-kwéi. Durante o banquete, este reconheceu a carne da irmã e denunciou o crime, embora Akréti negasse. Na manhã seguinte, o irmão seguiu os rastros do cunhado até o local do assassinato, onde encontrou a cabeça da jovem. Recolheu os restos mortais, realizou os ritos fúnebres e a sepultou.

No dia seguinte, Akréti preparava o alimento ritual chamado kupá junto com os demais, e para isso, foi acesa uma grande fogueira. Quando as chamas baixaram, as mulheres o convenceram a colocar sua porção no centro do braseiro. Enquanto estava distraído, os membros da comunidade o empurraram para dentro das brasas, queimando-o vivo. Das suas cinzas nasceu um ninho de cupins da terra, marcando o seu fim.

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