۞ ADM Sleipnir

A Mulher Aranha (conhecida entre os Hopi como Kokyangwuti ou Gogyeng Sowuhti, entre os Navajo (Diné) como Na’ashjé’ii Asdzáá, entre os Ojibwe como Asibikaashi, e referida em diversas outras tradições como Avó Aranha, Velha Aranha ou Anciã Aranha) é uma figura mitológica central e multifacetada presente em várias tradições nativas da América do Norte. Embora sua imagem varie conforme o povo e o território, ela é amplamente reconhecida como uma divindade criadora, protetora, guia espiritual, guardiã do conhecimento e tecelã do destino.
Apesar da diversidade de papéis e atributos, a Mulher Aranha costuma estar associada a temas como a criação do mundo, a transmissão do saber, a mediação entre planos espirituais e físicos, e a preservação do equilíbrio cósmico. Suas histórias vão desde a formação da vida até a invenção da cerâmica, do fogo e das artes — mas em certas culturas, ela também assume formas mais sombrias, atuando como provadora ou devoradora.
Na cosmologia dos Diné (Navajo), a Mulher Aranha é uma figura sagrada que ensinou a Primeira Mulher a tecer, introduzindo os humanos à arte da tecelagem, considerada uma expressão de harmonia e beleza espiritual (hózhǫ́). Ela também orienta os heróis e ajuda a preservar o equilíbrio do mundo natural.
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| Arte de itzamahel |
Na Tradição Navajo (Diné)
Na cosmologia dos Diné, Na’ashjé’ii Asdzáá é uma entidade sagrada que introduziu a Primeira Mulher à arte da tecelagem. Essa prática, para os Navajo, não é apenas artesanal, mas uma expressão da harmonia universal (hózhǫ́), que conecta os seres humanos ao tecido do mundo espiritual. A Mulher Aranha também guia os heróis culturais e auxilia na manutenção do equilíbrio entre os reinos naturais e sobrenaturais.
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| Arte de Brett Melograno |
Na Tradição Zuni
Entre os Zuni, a Avó Aranha atua como aliada mágica dos gêmeos guerreiros Ahayuta e Matsilema, ajudando-os a derrotar o Monstro Devorador de Nuvens (Lo Ikwithltchunona), uma entidade que ameaçava a humanidade ao engolir as chuvas e secar a terra. Sua ajuda foi essencial para restaurar o ciclo das águas e garantir a continuidade da agricultura e da vida.
Na Tradição Acoma
No mito de criação dos Acoma, a Mulher Aranha concede sementes sagradas às irmãs primordiais Iatiku e suas companheiras. Essas sementes germinam e se tornam as primeiras plantas do mundo novo, representando a transição do caos primordial para a fertilidade e a ordem do mundo cultivável.
Na Tradição Cherokee e Choctaw
Para os Cherokee e os Choctaw, a Avó Aranha é uma heroína cultural e portadora da luz. No início dos tempos, quando o mundo era envolto em trevas, ela se aventurou até os povos do leste, que possuíam o fogo. Por ser pequena e discreta, conseguiu roubar uma centelha, escondida dentro de um pote de barro transportado em sua teia. Assim, trouxe o fogo para a humanidade, ensinando como usá-lo com sabedoria e segurança. Em algumas versões, ela não rouba o fogo, mas o próprio Sol. Além disso, ela ensinou os humanos a fazer cerâmica, dotando-os de ferramentas fundamentais para o sustento e a cultura.

Na Tradição Hopi
Entre os Hopi, Kokyangwuti ocupa um dos papéis mais abrangentes e sagrados: o de criadora do mundo. Durante a emergência e migração dos povos para o mundo atual, é ela quem molda todos os seres vivos — incluindo os humanos — a partir da argila, soprando a vida sobre eles. Como a grande tecelã da existência, ela conecta os mundos visível e invisível através de fios espirituais, sendo a responsável por manter a ordem e o fluxo da vida.
Na Tradição Pawnee
Em contraste com suas representações mais benevolentes, a tradição Pawnee apresenta uma versão sombria da Mulher Aranha. Nesse mito, ela vive isolada com suas filhas, cultivando uma horta de milho, feijão e abóbora. Viajantes que buscavam suas sementes eram desafiados a participar de um jogo de dados — que era, na verdade, uma armadilha mortal. Durante o jogo, ela conjurava tempestades que congelavam os visitantes, pendurando depois seus crânios nas paredes de sua cabana.
Dois meninos sagrados, dotados de poder espiritual, foram enviados para pôr fim a esses horrores. Após resistirem aos alimentos envenenados — como cérebros, olhos e orelhas humanas disfarçados de comida — e aos feitiços da Mulher Aranha, eles desafiaram a entidade a dançar ao som de seus cânticos. Ao final do ritual, um enxame de gafanhotos, convocado por um canto mágico, a ergueu até o céu e a abandonou na Lua. Diz-se que até hoje sua veste pode ser vista na superfície lunar. Os gafanhotos que enxameiam no verão seriam os descendentes dessa batalha celestial.

- Spider Woman. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Spider_Grandmother>.
- PATRICIA ANN LYNCH; ROBERTS, J. Native American mythology A to Z. New York, Ny: Chelsea House Publishers, 2010.
- BASTIAN, D. E.; MITCHELL, J. K. Handbook of Native American mythology. Oxford ; New York: Oxford University Press, 2008.



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