۞ ADM Sleipnir

Sapucaia-Oroca, também chamada Sapucaia-Roca (termo que se traduz por “galinheiro”) é uma antiga lenda da Amazônia associada ao povo Mura e à região do rio Madeira. A história narra o desaparecimento de uma cidade engolida pelas águas como punição por sua decadência moral, tornando-se um relato exemplar de caráter espiritual e pedagógico. Misturando crenças indígenas e influências cristãs trazidas por missionários, a tradição foi transmitida como advertência contra o orgulho e a desmedida. Sua estrutura mítica guarda semelhanças com narrativas universais sobre civilizações perdidas, como Atlântida, Eldorado e Paitíti — mundos de esplendor destruídos pela própria arrogância.
A lenda
Segundo as versões populares, Sapucaia-Oroca teria sido uma cidade de beleza e riqueza incomparáveis, diferente de qualquer aldeia conhecida. As construções eram descritas como palácios dourados, e as ruas, cobertas de pedras preciosas. O povo, entregue ao luxo e à fartura, vivia em festas contínuas, desinteressado do trabalho e do convívio com a natureza.

Diante desse excesso, Tupã, o criador, teria se entristecido. Enviou avisos por meio dos pajés, mas ninguém os escutou. A insensatez do povo levou-o a um castigo inevitável: durante dias, uma chuva intensa fez o Madeira transbordar até submergir a cidade inteira.
Apesar da destruição, a divindade, movida por compaixão, não teria condenado os Mura à morte. Acredita-se que continuaram a viver no fundo das águas, e que, nas noites silenciosas, ainda se pode ouvir o canto de galos vindo do leito do rio — lembrança viva dos antigos habitantes. É esse som misterioso que teria inspirado o nome do lugar, Sapucaia-Oroca, em alusão ao “galinheiro” oculto sob o rio.
A versão mais conhecida da história foi registrada em 1873 pelo cônego Francisco Bernardino de Souza, em sua obra, Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas, e posteriormente reunida por Luís da Câmara Cascudo em sua obra Lendas Brasileiras. Nessa narrativa, os Mura celebravam festas dedicadas a Tupana, mas suas danças e cantos tornaram-se tão profanos que fizeram chorar os angaturamas, espíritos protetores do povo. Os pajés, intérpretes dos desígnios divinos, advertiram sobre um castigo iminente, porém foram ignorados. No auge de uma dessas celebrações, a terra tremeu e o rio ergueu-se, tragando a cidade e seus habitantes. As altas barrancas ainda visíveis seriam o vestígio do abismo aberto naquele dia.
Com o tempo, uma nova aldeia surgiu próximo ao local desaparecido. Os moradores, descendentes dos antigos Mura, começaram a escutar, vindos das profundezas, os mesmos galos que um dia cantaram na cidade perdida. Para os pajés, esses sons eram vozes dos angaturamas, que relembravam a catástrofe e exortavam a nova geração a não repetir os erros do passado. Assim, o nome Sapucaia-Oroca manteve viva a lembrança da cidade submersa — um lembrete perene da fronteira entre a abundância e a ruína, entre o orgulho humano e a força implacável das águas.
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| Arte de Marcio Luiz Quedinho |
fontes:
- Lendário Brasílico on Instagram: “365. SAPUCAI-OROCA (AMAZONAS). Disponível em: <https://www.instagram.com/p/DIPTk8FppRP>;
- CONTRIBUTORS TO FANTASTIPEDIA. Sapucaia-Roca. Disponível em: <https://fantasia.fandom.com/pt/wiki/Sapucaia-Roca>;
- A LENDA DA SAPUCAIA-ROCA. Disponível em: <https://xapuri.info/a-lenda-da-da-sapucaia-roca/>;
- LUIS DA CAMARA CASCUDO. Lendas Brasileiras. [S.l.]: GLOBAL EDITORA, 2015.

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