۞ ADM Sleipnir
Arte de Sebastián Gutiérrez |
Ryujin (ou Ryūjin, japonês: 龍神, "deus dragão"; também Rinjin, Ryo-Wo, Ryu-o, Ryōjin) é o kami (deus) dragão e governante dos mares pertencente à mitologia japonesa. Ele era tido como um símbolo do poder das marés, representando tanto a generosidade dos mares quanto os seus perigos. Também era crido como tendo grandes conhecimentos sobre medicina, e considerado o portador da chuva e do trovão. Ryujin é freqüentemente associado ou considerado igual a Owatatsumi-no-kami (mais conhecido como Watatsumi) outro deus dragão aquático.
Nas artes, Ryujin é retratado como um gigantesco dragão ou serpente marinha. Ele geralmente carrega consigo as jóias das marés, kanju (干珠, literalmente "joia vazante") e manju (満珠, literalmente "joia corrente"), que representam o poder e a monarquia no Japão e com as quais o deus pode controlar as marés conforme desejar. Ryujin ainda é capaz de controlar e de se transformar em qualquer criatura que exista no mar, podendo também se transformar em um ser humano.
Arte de Genzoman |
Ryūgū-jō, a morada do deus dragão
Ryujin habita em um palácio subaquático chamado Ryūgū-jō (竜宮城, "Castelo do palácio do dragão"). Segundo o Man'yōshū (万葉集, "Coleção das Dez Mil Folhas", a mais antiga coleção da poesia japonesa, datada do séc. VIII), o palácio possui muitos andares, é todo construído de corais vermelhos e brancos, é guardado por serpentes dragões, e é repleto de tesouros. Peixes e outros seres marinhos servem no reino de Ryujin como seus vassalos.
Um jardim circunda o palácio, com cada um dos quatro lados correspondendo a uma estação diferente. No lado norte do palácio Ryūgū-jō, há o Jardim do Inverno, onde a neve cai constantemente. No lado leste fica o Jardim da Primavera onde as borboletas visitam as flores de cerejeira, enquanto os rouxinóis cantam. No lado sul do palácio fica o Jardim do Verão, onde cigarras cantam o tempo todo. Finalmente, no lado ocidental está o Jardim do Outono, onde as árvores brilham em cores reluzentes. Para um ser humano, um dia neste reino é como cem anos na superfície.
Mitos
Hoori e o anzol mágico
Hoori (火折尊, Hoori-no-Mikoto), também conhecido como Hikohohodemi-no-Mikoto (彦火火出見尊) era o terceiro filho de Ninigi-no-Mikoto (neto da deusa do sol Amaterasu) e avô de Jimmu, o lendário primeiro imperador do Japão. Hoori era um exímio caçador, enquanto seu irmão mais velho, Hoderi, era um habilidoso pescador. Os dois estavam sempre competindo entre si, e seus pais lhes presentearam com itens mágicos e igualmente magníficos, para mostrá-los que não tinham um favorito entre eles: Hoori recebeu um arco mágico, e Hoderi um anzol que o permitia pescar uma enorme quantidade de peixes sem nenhum esforço.
Um dia, para provar que podia superar seu irmão em seu próprio campo, Hoderi decidiu que eles deveriam trocar seus presentes por um dia. Hoori obedeceu relutantemente a seu irmão mais velho e trocou seu arco pelo anzol de Hoderi. Então, eles se separaram; o pescador Hoderi foi para a floresta para caçar, enquanto o caçador Hoori foi para o mar para pescar. Os dois logo descobriram que eram péssimos na carreira um do outro. Hoderi não conseguiu caçar um único animal com o arco de Hoori e Hoori por sua vez, não conseguiu pegar um único peixe com o anzol de Hoderi. Para piorar a situação, Hoori ainda perdeu o anzol no mar enquanto tentava pescar com ele.
Hoderi ficou furioso ao saber que seu irmão mais novo havia perdido seu anzol mágico. Ele ficou muito violento e ameaçou matá-lo se não o encontrasse. Hoori então retornou ao mar e mergulhou em busca de encontrar o anzol, mas não importava o quanto ele procurava, não conseguia encontrá-lo. Durante sua procura, Hoori acabou encontrando o palácio onde o rei dragão do mar, Ōwatatsumi, vivia. Hoori visitou o palácio e pediu ajuda a Ōwatatsumi para encontrar o anzol, e este ordenou que todos os peixes do mar procurassem por ele. Eventualmente, eles conseguiram encontrar o anzol mágico, mas, nesse meio tempo, Hoori conheceu e se apaixonou por Toyotama-hime (豊玉姫), a filha do deus dragão. Os dois se casaram e viveram juntos no fundo do mar por três anos.
Hoori encontra Toyotama-hime, pintura de Evelyn Maude Blanche Paul (1883 – 1963) |
Eventualmente, Hoori ficou com saudades de casa, e também desejava devolver ao irmão o anzol que havia perdido. Toyotama-hime buscou seu pai Ōwatatsumi para obter um meio de evitar que Hoori fosse embora, mas Ōwatatsumi resolveu ajudar Hoori entregando-lhe as jóias das marés. Prevendo que Hoderi não receberia Hoori de uma forma amigável, Ōwatatsumi instruiu Hoori de como usá-las para se defender do irmão e atacá-lo, caso fosse necessário. Hoori então se despediu temporariamente de sua esposa, e partiu rumo a superfície.
Para sua surpresa, Hoderi estava a sua espera, e extremamente furioso pelo irmão ter demorado tanto para retornar. Hoderi partiu para cima de Hoori, tentando de fato matá-lo, mas Hoori usou as jóias das marés para comandar as ondas e envolver Hoderi. Hoderi estava quase se afogando, mas mantinha-se furioso (além de ser orgulhoso demais para pedir a ajuda do irmão). Hoori por sua vez não suportou ver o irmão se afogando, e usou o poder das jóias para fazer as ondas levarem Hoderi para a costa. Percebendo o coração bondoso de seu irmão e seu próprio egoísmo, Hoderi pediu perdão e prometeu nunca mais ser excessivamente competitivo e invejoso.
A lenda de Urashima Taro
Urashima Taro era um simples pescador que certo dia presenciou uma pequena tartaruga sendo maltratada na praia por algumas crianças. Taro interveio na situação repreendendo-as, resgatando a tartaruga e devolvendo-a ao mar. No dia seguinte, enquanto passava pelo local rumo ao trabalho, uma enorme tartaruga se aproximou dele e, para sua surpresa, falou com ele agradecendo-o por ter salvo a pequena tartaruga e revelando-lhe que aquela na verdade era a filha do rei dragão do mar Ryujin. Ela também lhe informou que o próprio Ryujin desejava agradecê-lo pessoalmente, oferecendo assim um convite para que ele fosse até o seu palácio subaquático, Ryūgū-jō.
Urashima ficou feliz com o convite, mas também ficou indeciso sobre aceitá-lo, pois sua mãe o aguardava todos os dias em casa após terminar a pescaria, e ele não queria ficar longe de casa por muito tempo. A tartaruga afirmou que ele não precisava passar muito tempo no palácio, podendo ir embora assim que desejasse. Impulsionado pelos mistérios que ele encontraria no fundo do mar, Urashima finalmente aceitou o convite da tartaruga. Ela permitiu que ele subisse em suas costas e, através de magia, fez surgir brânquias em Taro (ou envolveu sua cabeça em uma bolha) para que ele pudesse respirar debaixo d'água.
Ao chegar no palácio do rei dragão, Urashima foi recepcionado pelo rei dragão Ryujin e por uma linda jovem chamada Otohime, que revelou-lhe ser a princesa e também a pequena tartaruga que ele havia resgatado. Como gratidão por sua atitude, Urashima foi autorizado a ficar no palácio como hóspede de honra pelo tempo que desejasse, usufruindo de tudo de bom e de melhor que o reino tinha para oferecê-lo.
Embora feliz por poder conhecer um lugar tão fantástico e receber as honrarias do deus dragão, passados três dias no palácio, Urashima recordou-se de de sua mãe e manifestou o desejo de retornar para sua vila, pois a mesma certamente estaria preocupada com seu sumiço. A princesa Otohime tentou convencê-lo a permanecer no palácio e não voltar para sua antiga vida, porém Urashima se mostrou irredutível. Percebendo que Urashima não mudaria de ideia, Otohime o presenteou com uma caixa de jóias chamada Tamatebako, e o fez prometer que jamais a abriria. Eles então se despediram, e Urashima subiu novamente no casco da tartaruga, desta vez rumo a sua vila natal.
De volta a superfície, Urashima Taro correu rumo a sua casa para rever sua mãe e seus familiares, porém ele reparou que tudo estava diferente do que ele conhecia: casas, ruas e até mesmo as pessoas que viviam na vila. Chegando ao local onde ficava sua casa, Urashima descobriu que outra família vivia no local, e ao perguntar-lhes sobre sua mãe, estes não souberam lhe informar. Bastante confuso, ele se apresentou ao proprietário da casa como Urashima Taro, e perguntou-lhe se ele já havia ouvido a respeito dele. Foi então que o proprietário lembrou que de fato houve um pescador chamado Urashima Taro que viveu no local com sua mãe, mas que o mesmo havia desaparecido no mar e jamais retornou. Além disso, o fato teria ocorrido à centenas de anos, trezentos anos para ser mais preciso.
Urashima ficou sem saber o que fazer. O jovem pescador ficou profundamente amargurado por seu destino, e retornou à praia esperando reencontrar a tartaruga com a qual havia visitado o palácio do rei dragão. O reencontro acabou não ocorrendo e, desesperado e sem perspectivas, Urashima decidiu abrir a caixa de jóias que havia recebido de Otohime, ainda que tivesse sido instruído a não fazê-lo. Ao abrir a caixa, Urashima percebeu que não havia nada além de uma fumaça branca, que o envolveu. Seu corpo tornou-se velho e enrugado, nasceu-lhe uma longa barba branca e suas costas curvaram-se com o peso de tantos anos.
Enquanto sentia sua vida se esvaindo, Urashima ouviu a voz doce e triste da princesa Otohime vindo do mar. - "Eu lhe disse para não abrir a caixa. Nela estavam todos os seus anos …" A caixa continha a "eterna juventude" de Urashima Taro, e o pescador, ao descumprir sua promessa, deixou-a ir-se para sempre.
Porque as águas vivas não possuem ossos?
Outro mito com a participação de Ryujin está relacionado com a forma como as águas-vivas (ou polvos, conforme a versão) perderam seus ossos. A história se passa há muito tempo, quando as águas-vivas ainda tinham barbatanas, pés e ossos e eram servos do deus dragão. Em diferentes versões da história, Ryujin, sua filha Otohime (ou Toyotame-hime ou ainda sua esposa) tiveram um desejo de comer o fígado de um macaco vivo. O deus dragão enviou uma água-viva para a superfície para encontrar e trazer um macaco até o palácio Ryūgū-jō.
Um macaco foi atraído facilmente com a promessa de ver o maravilhoso palácio submarino de Ryujin, mas ao longo do caminho, a água-viva se sentiu culpada e revelou ao macaco o verdadeiro motivo pelo qual ele estava sendo convidado para o palácio. O macaco, após um rápido raciocínio, disse a água-viva que ele havia deixado o fígado dele em um frasco na terra, e ficaria feliz em ir buscá-lo. Depois de esperar por um tempo, a água-viva voltou para Ryūgū-jō e explicou à Ryujin o porque do macaco demorar a chegar. Ryujin ficou tão furioso que espancou a água-viva até que seus ossos fossem esmagados, e por isso as águas-vivas são como as conhecemos hoje.
Imperatriz Jingu e a invasão da Coreia
De acordo com uma lenda japonesa, a mítica imperatriz do Japão, Jingu, liderou uma invasão à Coréia, e durante uma de suas batalhas contra o exército coreano, ela contou com a ajuda das jóias das mares de Ryujin para vencer. Durante a batalha, Jingu lançou a jóia Kanju no mar, fazendo com que a maré baixasse e encalhasse a frota coreana, obrigando os soldados a abandonarem seus navios. Depois, Jingu lançou a jóia Manju no mar, e a maré voltou a subir, engolindo os soldados que haviam deixado seus navios e empurrando a frota japonesa em direção ao porto coreano, garantindo assim a vitória para a imperatriz.
Ryujin e Jingu, arte de Alena YMhin |
fontes:
- https://cacadoresdelendas.com.br
- https://www.nippon.com
- https://yokai.com/wani
- Wikipédia (ENG e JP);
- Japanese Mythology A to Z, de Jeremy Roberts.
Seria possivel matar o dragão ryujin de alguma forma ?
ResponderExcluirAcredito que sim, as lendas não dizem nada sobre ele ser imortal. Porém não acho que um humano fosse capaz de fazê-lo, talvez um semideus com o auxilio de algum artefato mágico pudesse matá-lo.
ExcluirTalvez ele seja o Leviatã descrito no livro de Jó
ResponderExcluirSempre há a possibilidade dessas criaturas serem na verdade uma só, pois a maioria dessas mitologias, senão todas elas, se originaram de uma só, provavelmente da suméria. Com o passar dos séculos, seus mitos foram sendo moldados e foram se diferenciando uns dos outros em alguns aspectos, mas sempre existem raízes que os ligam.
ExcluirVC ta ser to e o leviatã sim
ExcluirComo a Jormungand na mitologia nórdica
Excluirgostei do site, muito bom.Mais eu queria saber se VCS poderiam fazer sobre o Dracolich(dragão noturno) é um dragão esqueleto e eu queria saber mais sobre ele
ResponderExcluirO dracolich é uma criatura do D&D, e não se enquadra atualmente na proposta do nosso blog. Estou analisando a possibilidade de abrir uma sessão aqui no blog para criaturas de ficção, e caso ela seja criada, certamente faremos uma postagem sobre ele.
Excluirmais o ryujin ñ parece dragão
ResponderExcluirEu queria saber quem é o verdadeiro Kami dos mares Susanoo ou Ryujin
ResponderExcluirEu queria saber aonde e o castelo do Ryujin
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