۞ ADM Sleipnir
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| Arte de Fernando Gil |
Angoera é uma figura lendária do folclore do Rio Grande do Sul, associada às tradições missioneiras deixadas pelos Sete Povos das Missões (conjunto de aldeamentos guarani-jesuíticos na fronteira do Brasil com a Argentina) Essa entidade, também conhecida como Generoso, é descrita como um espírito brincalhão e alegre, que participava da vida cotidiana das estâncias gaúchas, manifestando-se através de sons, cantos e danças.
Origem do nome
Angoera é uma contração do termo guarani Anhangoéra (ou Anhã-goéra), que significa "espectro" ou "fantasma", conforme definido pelo geógrafo e historiador Teodoro Sampaio. Outra interpretação, proposta por Plínio Ayrosa, deriva de anhúnga-oéra, traduzido como "alma astuta" ou "esperta", aludindo à sua inteligência e valentia.
Lenda
Originalmente, Angoera era um índio guarani de personalidade séria e taciturna. Porém, após ser batizado pelos jesuítas, recebeu o nome de Generoso e tornou-se uma figura alegre, apaixonada por música e dança. Ele Serviu fielmente aos padres missioneiros até sua morte, que teria ocorrido de forma pacífica e feliz.
| Arte de @felipegviegas |
Após sua morte, o espírito de Generoso continuou a se fazer presente na vida das estâncias gaúchas, manifestando-se de formas singulares e encantadoras. Dizia-se que, quando a noite caía sobre os campos e as famílias se reuniam em torno do fogão, súbitos estalos nas madeiras do teto ou nos vimes dos balaios anunciavam sua visita. Se uma viola fosse esquecida ao relento, logo se ouvia o som de suas cordas sendo tangidas suavemente, como se Generoso revivesse as canções que alegravam seus dias em vida. Nas casas, ele assobiava pelas frestas das portas, espreitando os moradores com curiosidade, e, quando as famílias se reuniam à luz das candeias, uma brisa invisível fazia a chama oscilar, projetando sombras dançantes pelas paredes.
| Arte de @felipegviegas |
Mas era nos bailes que sua presença se tornava mais evidente. Durante os fandangos nas estâncias ou as chimarritas nos ranchos humildes, os dançarinos sentiam, entre o rufar das violas, pisadas compassadas que não pertenciam a ninguém visível. E quando o cantor entoava versos com especial inspiração, muitas vezes repetia uma antiga copla, atribuída ao próprio Generoso:
Relação com Outras Lendas
Generoso apresenta semelhanças com outras figuras folclóricas, como o Saci-Pererê e o Santos Vega (da Argentina). No entanto, sua origem é anterior à disseminação do mito do Saci no Sul do Brasil, sendo uma criação autóctone do imaginário missioneiro.
Com o tempo, a lenda de Generoso foi se diluindo, especialmente com a chegada de novas correntes migratórias e o fortalecimento de outras assombrações regionais, como o Negrinho do Pastoreio. Ainda assim, sua figura permanece como uma das mais autênticas do folclore gaúcho, representando a alegria e a herança cultural guarani-jesuítica.
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| Arte de Marcio Luiz Quedinho @lendario.brasilico |
fontes:
- O ANGÜERA - LENDA GAÚCHA. Disponível em: <https://charqueadashistoria.blogspot.com/2020/05/o-anguera-lenda-gaucha.html>;
- CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. Rio De Janeiro: Olympio, 1976.


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