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O Ururau da Lapa é uma criatura lendária do folclore fluminense, especialmente associada ao município de Campos dos Goytacazes, no Norte do Rio de Janeiro. É descrito como um jacaré colossal, de couraça extremamente resistente e olhos luminosos visíveis à noite sob a lâmina d’água. A etimologia do termo “Ururau” é incerta, embora frequentemente relacionada a expressões indígenas que designariam um “grande jacaré-de-papo-amarelo”.
O Ururau é associado a ataques contra embarcações, ao desaparecimento de animais e à capacidade de sumir nos trechos profundos do rio Paraíba do Sul, da Lagoa de Cima e de outras áreas pantanosas. Sua lenda se desenvolveu em uma área historicamente habitada pelos Goitacá, povo indígena conhecido por sua habilidade na caça, no manejo de grandes arcos e na navegação por ambientes alagadiços. A geografia campista — marcada por brejos, lagoas e cursos d’água — favoreceu o surgimento de relatos sobre jacarés de grande porte, cenário no qual o mito do Ururau se consolidou entre os séculos XVIII e XIX, acompanhando a expansão rural e açucareira da região.

Lendas
Uma das lendas mais difundidas sobre o Ururau o interpreta como o resultado de uma metamorfose espiritual. Segundo essa versão, um jovem humilde mantinha encontros secretos com a filha de um latifundiário local. Descoberto e morto a tiros, seu corpo foi lançado ao Paraíba do Sul diante da Igreja da Lapa. As águas turbulentas teriam envolvido o cadáver e, por intervenção sobrenatural, transformado-o em um jacaré gigantesco, dotado de força e couraça impenetrável. A criatura, movida pela dor e pela busca da amada — que, em algumas variantes, foi enclausurada em um convento e teria morrido pouco depois — perambula pelas águas como um espírito vingador.
Outra lenda liga o Ururau ao transporte do sino destinado à Igreja da Lapa. Durante a travessia do rio, o jacaré teria atacado a embarcação, afundando-a junto com o sino. Em certas versões, o peso do objeto aprisiona o Ururau nas profundezas do Paraíba do Sul; em outras, o sino converte-se em sua morada, ressoando de tempos em tempos sob a água como sinal de sua presença.
O Arurau
Existem registros de uma criatura semelhante na Lagoa Feia, conhecida como Arurau, documentada em 2024 pela cineasta Carolina de Cássia após entrevistas com moradores da comunidade de Muxuango. O Arurau é descrito como um jacaré antigo e de grande porte que engoliria sombras e reflexos sobre a água. Embora possua características próximas às do Ururau, é tratado na tradição popular como uma entidade distinta, representando outro aspecto da relação entre a região e seus ambientes alagadiços.

Cultura Popular
A lenda do Ururau foi registrada por Luís da Câmara Cascudo na década de 1950 e, desde então, passou a figurar com regularidade em narrativas literárias, estudos folclóricos e reportagens regionais. Em 1976, recebeu uma adaptação em prosa e cordel por Osório Peixoto, e, em 1979, deu nome ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Ururau da Lapa, marco de sua incorporação à cultura popular campista.
| GRES Ururau da Lapa |
Em 2025, a criatura voltou a ganhar destaque ao ser transformada em tema de um jogo de cartas (Ururau: o Jogo) e de uma história em quadrinhos, desenvolvidos por Vinícius Soares Freixo e João Paulo Miranda.

fontes:
- REDAÇÃO GB. Ururau da Lapa – Folclore Brasileiro. Disponível em: <https://gazetabragantina.com.br/2025/09/05/ururau-da-lapa-folclore-brasileiro/>;
- G. L. Soffiati, C. R. da C. Lopes, J. S. M. Barbosa, N. da C. M. Pessanha, P. G. T. da Silva. Ururau da Lapa: proposta de ensino de História Regional e Local a partir de sobrevivências de uma lenda folclórica na cultura campista contemporânea. Disponível em: <https://editoraessentia.iff.edu.br/index.php/conepe/article/view/20701>
- A CIDADE LUZ. Ururau da Lapa. Disponível em: <https://camposnf.blogspot.com/2009/03/ururau-da-lapa.html>.
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