۞ ADM Sleipnir
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| Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir) |
Heka (ou Hike) era o deus egípcio patrono da magia e também da medicina, além de representar a própria força mágica que permeia o universo. Presente desde os primórdios da religião egípcia, Heka era considerado o poder fundamental que sustentava os deuses, o mundo e a própria vida. Embora sua influência fosse imensa, ele raramente recebia culto formal ou templos dedicados — sua presença era tão essencial e difundida que se tornava quase invisível aos olhos dos antigos estudiosos.
Etimologia
O termo heka designava tanto a divindade quanto o conceito e a prática da magia. A palavra pode ser traduzida como “poder mágico” ou “a primeira obra”, associando-se ao ato criativo primordial. A partir da 20ª dinastia, o nome de Heka passou a ser grafado com o hieróglifo de “força” ou “poder”, o que reforça sua ligação com a manutenção da ordem cósmica.
Origem e Natureza
Heka é uma divindade primitiva, anterior até mesmo aos demais deuses egípcios. Segundo os Textos dos Sarcófagos, ele afirma: “A mim pertencia o universo antes que os deuses viessem a existir. Vocês vieram depois porque eu sou Heka.” Assim, ele é considerado eterno e autoexistente, sem pais ou origem definida. Ele não apenas personificava a magia, mas era o próprio poder que permitia aos deuses criarem o mundo. Por isso, era visto como a força por trás da fala criativa do deus Atum e associado aos deuses Sia (percepção) e Hu (palavra criadora), compondo uma tríade ligada ao pensamento, à fala e à ação mágica.
Iconografia
Heka era geralmente representado como um homem barbado em vestes reais, portando um bastão com duas serpentes entrelaçadas — símbolo associado à cura e à medicina, que influenciaria posteriormente o caduceu, ainda hoje símbolo da profissão médica. Durante o Período Tardio, ele também foi representado como uma criança divina, especialmente na cidade de Latópolis, onde era parte de uma tríade com os deuses Khnum e Menhet.
Magia e Medicina
Na cultura egípcia, magia e medicina eram indissociáveis. Os sacerdotes de Heka (que também atuavam como médicos) utilizavam encantamentos, amuletos e rituais mágicos para curar doenças, consideradas manifestações de forças sobrenaturais. Textos médicos como o Papiro de Ebers destacam que o sucesso da medicina dependia da eficácia da magia, e invocações a Heka eram comuns nesses procedimentos.
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| Arte de Luiz Felipe Champloni |
Papel Religioso e Cósmico
Heka não era apenas um curador, mas também um protetor. Ele acompanhava a barca solar do deus Rá em sua jornada noturna pelo submundo, combatendo o caos representado pelo monstro Apep (Apófis). Também estava presente em rituais funerários, guiando as almas e protegendo os mortos no além-vida. A ele se atribuía a eficácia dos feitiços e fórmulas mágicas contidas nos Textos das Pirâmides e nos Textos dos Sarcófagos, garantindo que essas palavras tivessem poder real.
Templos e Culto
Apesar de seu papel central, Heka não possuía culto organizado ou grandes templos durante a maior parte da história egípcia. Ele era invocado principalmente em práticas privadas, médicas e funerárias. No entanto, há registros de seu culto em Esna, onde uma estátua sua era levada pelos campos durante festivais agrícolas para garantir fertilidade e boas colheitas.
Legado
Com a ascensão do deus Amon durante o Império Novo e, mais tarde, com a influência do cristianismo, a crença em Heka como força divina foi perdendo espaço. No entanto, conceitos similares continuaram a existir em tradições filosóficas como o Estoicismo (com o Logos) e o Neoplatonismo (com o Nous), mantendo viva a ideia de uma força cósmica invisível que sustenta o mundo — uma herança direta de Heka.
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| Arte de cuprumbao |
- Heka | Ancient Egypt Online. Disponível em: <https://ancientegyptonline.co.uk/heka/>.
- MARK, J. Heka. Disponível em: <https://www.worldhistory.org/Heka/>.
- REMLER, P. Egyptian mythology, A to Z. New York: Chelsea House, 2010.
- PINCH, G. Handbook of Egyptian mythology. Santa Barbara, Calif.: Abc-Clio, 2002.





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