7 de fevereiro de 2022

Tiddalik

۞ ADM Sleipnir

Arte de Joanna Troughton

Tiddalik (também chamado Tiddalick ou Karaknitt) é um sapo gigante presente em um mito de criação indígena australiano que ocorre durante o chamado Tempo do SonhoRegistrado pela primeira vez por etnógrafos amadores no final do séc. XIX. O mito é geralmente atribuído ao povo Gunai Kurnai, mas é encontrado em várias partes da Austrália.

De acordo com o mito, certo dia Tiddalik acordou com uma sede insaciável. Ele começou a beber a água da lagoa onde vivia, até que toda a água havia sido consumida. Depois disso, ele rastejou para fora do buraco deixado para trás e bebeu a água das fontes de água mais próximas. Ainda não saciado, ele encontrou um rio e consumiu toda a sua água e a dos seus afluentes. A cada fonte de água que ele consumia, ficava cada vez maior. Quando não havia mais nenhuma fonte de água à vista, Tiddalik finalmente parou. Ele agora tinha um tamanho colossal, estando repleto de água em seu interior, e era incapaz de se mover.

Arte de Treiziste

A falta de água e a escassez de chuvas fez com que os animais que habitavam os locais onde Tiddalik passou começassem a se reunir em torno dele, em busca de uma forma de recuperá-la. Seu tamanho, aliado a sua pele que era bastante grossa, o tornavam impenetrável a qualquer coisa que eles pudesse fazer. Após muito pensar, uma ave chamada Goorgourgahgah encontrou uma solução: “Devemos fazê-lo rir”, disse ela. “Assim, ele abrirá a boca e toda a água sairá”Goorgourgahgah foi o primeiro a tentar. Ela voou na frente do rosto de Tiddalik, rindo a plenos pulmões. Ela cambaleou no ar, contou piadas e gargalhou até ficar rouca, porém o impassível Tiddalik apenas piscou.

Todos os outros animais tentaram a sorte. O canguru tentou cambalhotas. O coala fez ruídos estranhos. O lagarto-de-gola correu ao redor com sua gola aberta. O vombate rolou na sujeira. O brolga dançou e gritou. Apesar dos esforços, nada do que eles faziam afetava Tiddalik, e quanto mais eles tentavam, com mais sede ficavam. O sapo monstruoso apenas continuou a observá-los com seus olhos globulares.

Arte de Joanna Troughton

Então, quando todos os animais estavam prestes a entrar em desespero, Nabunum, a enguia, deu um passo solene em direção a Tiddalik. Todos prenderam a respiração enquanto Nabunum se endireitava e se equilibrava precariamente em sua cauda. Enquanto a observava, Tiddalik começou a ficar agitado. Nabunum começou a se torcer e se contorcer, formando aros, espirais e molas com seu corpo, além de girar como um pião. Pela primeira vez, Tiddalik esboçou um sorriso, e seu corpo começou a tremer. Finalmente, Nabunum enrolou seu corpo dando nós em si mesma e Tiddalik não resistiu, começando a rir histericamente. Assim, ele deixou toda a água que ele continha dentro de si se derramar, inundando a terra antes de retornar aos seus devidos lugares. 


Quando tudo se dissipou, Tiddalik voltou a sua forma original, a de um pequeno sapo. Ele tinha rido tanto que perdeu sua voz e só conseguia coaxar roucamente. Hoje, seus descendentes, os sapos retentores de água (Cyclorana platycephala), ainda praticam todas as noites na esperança de recuperar sua voz, e ainda bebem grandes quantidades de água, porém numa escala muito, muito menor.

Cyclorana platycephala

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