۞ ADM Sleipnir
Yebá Beló (ou Yebá Bëló, "Avó do Mundo" ou "Avó da Terra") é divindade criadora e principal figura no mito de criação do povo indígena Dessana (também Desana ou Desano), habitantes do noroeste do estado do Amazonas, também vivendo em terras colombianas.
A Mulher que Surgiu do Nada
Yebá Beló é conhecida como a "Mulher que Surgiu do Nada" ou "a Não-Criada" justamente por conta de ter surgido do nada, num momento onde haviam somente trevas no Universo. O mito conta que ela utilizou seis itens misteriosos e invisíveis para criar a si mesma: um banco de quartzo branco, uma forquilha para segurar o cigarro, uma cuia de ipadu (folha semelhante à de coca), o suporte desta cuia de ipadu, uma cuia de farinha de tapioca e o suporte desta cuia. Enquanto ela ia surgindo, ela se cobria com enfeites. Ela também criou uma maloca toda feita de quartzo branco ("Uhtãboho taribu").
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Uhtãboho taribu, Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)
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A criação do mundo
Dentro da maloca de quartzo, Yebá Beló fumava um cigarro e mascava seu ipadu, enquanto pensava em como deveria ser o mundo. Seu pensamento acabou assumindo a forma de uma esfera, sobre a qual surgiu uma torre. Essa esfera, que era o mundo, absorveu toda a escuridão para dentro de si. Yebá Beló chamou a esfera de Umukowi'i (“Maloca do Universo”).
A criação dos cinco trovões
Ainda não havia luz, a não ser na maloca de quartzo de Yebá Beló, e também não haviam seres vivos no mundo. Após voltar a mascar seu ipadu, Yebá Beló o tirou da boca e com ele formou cinco homens conhecidos como Umukoñehküsuma (Avôs do Mundo") ou Uhtãbohowerimahsã ("Homens do Quartzo Branco"). Esses homens eram trovões e imortais, e Yebá Beló deu para cada deles uma maloca no mundo recém criado, semelhantes a dela.
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Os Cinco Trovões, Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir) |
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Yebá Beló incumbiu os cinco trovões de criarem todo o resto do mundo, como a luz, os rios e a humanidade e eles aceitaram a tarefa. Porém, ao invés de cumprirem seu dever, eles ficavam o tempo todo dentro de suas malocas, e após um tempo sequer lembravam do que tinham que fazer. Yebá Beló voltou a lembrá-los de seus deveres, e eles então deram início aos trabalhos. Os trovões criaram primeiramente os rios, e em seguida tentaram criar a humanidade, porém mesmo recebendo a ajuda de Yebá Beló eles falharam.
A criação de um novo ser
Retornando à sua maloca de quartzo, Yebá Beló consumiu mais ipadu e fumou seu cigarro, enquanto pensava em criar um ser que pudesse seguir suas ordens e completar a criação. Enquanto pensava em como ele deveria ser, de repente a fumaça do cigarro começou a tomar a forma de um ser misterioso, sem um corpo, não podendo ser visto nem tocado.
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Yebá Göãmã, arte de Rodrigo Viany (Sleipnir) |
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Yebá Buró pegou então o seu pari de defesa (wereimikaru) e o envolveu. Depois de tê-lo pegoi, ela o saudou, dizendo Umukosurãpanami (“Bisneto
do Mundo”), ao qual ele respondeu Umukosurãñehkõ (“Tataravó
do Mundo”). O nome deste novo ser era Yebá Göãmã (“Demiurgo
da Terra (ou do Mundo)”. Yebá Beló então lhe falou sobre como os Uhtãbohowerimahsã haviam falhado em cumprir sua ordem, e atribuiu a ele a tarefa de terminar a criação, prometendo guiá-lo no processo. E assim Yebá Göãmã faria. Aceitando a ordem de Yebá Beló, Yebá Göãmã levantou seu bastão cerimonial chamado yewãígõã (“osso de pajé”) e o fez subir de Uhtãboho taribu até o cume da torre do mundo.
A criação do Sol
Yebá Beló cumpriu a sua palavra de guiar o seu bisneto. Ela enfeitou a ponta
do seu bastão com penas amarradas, enfeites próprios deste bastão, masculinos e femininos, e esse adorno ficou brilhando de
diversas cores: branco, azul, verde, amarelo. Enfeitou-o ainda
- com um tipo de brincos ou pingentes, de feição masculina e
feminina. Com esses
enfeites, a ponta do bastão ficou brilhando, e então transformou-se, assumindo um rosto humano. Era Abe, o Sol que acabava de ser criado. A partir de então, ele passou a levar luz de onde só havia escuridão até os confins do mundo. Por fim,
Yebá Buró cobriu o Sol com um tapume de penugem de arara
(mahãweayuhsu).
A criação da terra e da humanidade
Ao verem o trabalho realizado por Yebá Göãmã, os Trovões ficaram com ciúmes, e decidiram destruir a sua obra. Somente um deles, chamado Umukoñehkü (o terceiro trovão), não teve inveja de Yebá Göãmã, e apaziguou os ânimos dos irmãos dando-lhes ipadu e cigarro.
Posteriormente, Yebá Göãmã recebeu de Yebá Beló a tarefa de ir até a maloca de Umukoñehkü e pedir a ele enfeites de penas, com os quais ele poderia criar a humanidade. Antes de subir, porém, ele criou vários paris: o pari de urucu de miriti (nemohsãimikaru), o pari de frutas pequenas de miriti (nemuhtãriimikaru), o pari de miriti meio amarelo (nebohoimikaru), o pari de talos de caraná (ñapüdühkaimikaru). Sustantando-se em cima desses paris que ele havia criado, Yebá Göãmã subiu no espaço. Enquanto isso, Yebá Beló tirou do seio esquerdo sementes de tabaco e as espalhou em cima dos paris. Depois tirou leite, também do seio esquerdo, e o derramou por cima dessas esteiras. As sementes de tabaco formaram a terra e o leite serviu para adubá-la.
Yebá Göãmã, então dirigiu-se para casa do terceiro trovão e lá encontrou com Umukomahsü Boreka, o chefe dos Dessana e seu irmão, e com Umukoñehkü. O terceiro trovão deu a Yebá Göãmã e a Umukomahsü Boreka os enfeitese e então os ensinou o rito para transformá-los em seres humanos. Ele recomendou então, que cada um colhesse uma folha nova de ipadu de um pé que havia no pátio e a engolisse. Quando sentissem dor na barriga, deveriam acender o turi (madeira produtora de fogo), molhá-lo numa cuia d'água e beberem o conteúdo, em seguida vomitarem em um só buraco do rio. Assim fizeram os dois e apareceram duas mulheres muito bonitas. Feito isso, o terceiro trovão decidiu acompanhá-los para ajudá-los a formar a futura humanidade.
fontes:
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