29 de abril de 2024

Tainá-can, a Estrela Vespertina

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Tainá-can (também Tahina-Can, Tainacan, Thaina Khan ou Takinahaky) é uma figura presente na cultura do povo indígena Karajá (autodenominado Iny, "nós"), originário do centro-oeste do Brasil. Sua história, transmitida através da tradição oral, entrelaça elementos da cosmovisão indígena, ensinamentos ancestrais e a beleza da língua Karajá.

De acordo com uma versão da história, colhida entre os Karajá em torno do rio Araguaia e publicada pelo professor Hebert Baldus (1899-1970), em um tempo onde os Karajá não conheciam o plantio e a roça, vivendo apenas de frutas e da caça, havia um casal que possuía duas filhas: Imaeru (também Imaherô), a mais velha, e Denaquê (também Denakê, Danace), a mais nova. Certa noite estrelada, Imaeru viu uma estrela chamada Tainá-can, tão bonita e brilhante que ela não se conteve e disse ao pai:

— Pai, aquilo é tão bonito! Queria tanto tê-lo para brincar comigo.

O pai riu com o desejo da filha e explicou que Tainá-can estava tão longe que ninguém podia alcançá-lo. Mas ele acrescentou:

— Só se ele te ouvir e decidir vir até você.

Mais tarde, quando todos dormiam, Imaeru sentiu alguém se aproximar e sentar ao seu lado. Num sussurro, perguntou:

— Quem é você, e o que quer de mim?

— Eu sou Tainá-can; ouvi que você queria que eu estivesse perto de você, então vim. Você quer casar comigo?

Imaeru acordou os pais e acendeu uma fogueira, cuja luz revelou a aparência de Tainá-can: um velho de cabelos e barbas brancas como algodão e pele enrugada. Ao vê-lo, Imaeru disse:

- Eu não o quero como marido. Você é muito velho e feio. Eu quero um marido forte e bonito.

Tainá-can ficou muito triste e começou a chorar, mas Denaquê, com um coração bondoso, teve pena dele e consolou-o, dizendo ao seu pai:

— Eu caso com ele. Quero ele como meu marido.

O casamento aconteceu, deixando o velho Tainá-can muito feliz. Depois do casamento, Tainá-can decidiu trabalhar para sustentar Denaquê, plantando culturas que os Karajá não conheciam. Ele foi ao rio Araguaia, onde mergulhou as mãos na água para colher sementes que flutuavam rio abaixo. As águas lhe deram sementes de milho, mandioca e outras plantas que os Karajá passaram a cultivar.

Ao voltar, Tainá-can disse a Denaquê que iria derrubar mato para fazer uma plantação, mas pediu que ela não o seguisse, apenas cuidasse da comida para recebê-lo quando ele voltasse cansado. Denaquê, preocupada com o cansaço do velho marido, decidiu segui-lo em segredo. Para sua surpresa e felicidade, ao chegar na plantação encontrou um jovem bonito e forte trabalhando. Reconhecendo o marido, correu para ele louca de alegria e o abraçou. Depois, tratou de levá-lo para casa e mostrar os pais a verdadeira forma de seu marido.

Cena da animação Tainá-Kan, a Grande Estrela (2006) 

Imaeru, movida pelo desejo, foi até Tainá-can e disse:

-Você é meu marido, pois você veio até mim e não à Denaquê!

Tainá-can porém lhe respondeu:

- Em Denaquê encontrei a bondade. Mesmo sendo apenas um velho; ela me aceitou, enquanto você me desprezou. Agora não te quero! Somente Denaquê.

Tomara pela inveja, Imaeru soltou um grito e desapareceu, transformando-se em um urutau, cujo canto triste e forte ainda ecoa até hoje. 

Assim, a tribo Karajá aprendeu com Tainá-can a plantar novas culturas, como milho, mandioca e outros, trazendo prosperidade para seu povo.

A Participação de Tupã em outra versão do mito

Na versão do mito narrada pelo autor Waldemar de Andrade e Silva (1933-2015), o deus Tupã desempenha o papel de intermediário entre os desejos humanos e a ordem divina. Imaeru, a filha do Pajé, deseja desposar a estrela Tainá-can. Seu pai, preocupado com sua angústia, pede a Tupã que realize esse desejo. Tupã concede, mas com a condição de que a estrela desça à Terra na forma humana. 

Quando Tainá-can aparece na forma de um velho, Imaeru o rejeita por sua aparência. No entanto, sua irmã, Denaquê, casa-se com o velho e é recompensada quando Tupã o transforma em um homem jovem e belo. Imaeru, invejosa, deseja o marido da irmã, mas o laço entre Denaquê e Tainá-can é forte, levando-os a desaparecerem na mata. Em sua tristeza e inconformidade, Imaeru é transformada por Tupã no pássaro urutau, lamentando a perda do amor que tanto almejava.

Arte de IStarLightArt

fontes:




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24 de abril de 2024

Acat

۞ ADM Sleipnir


Acat (também Acat-Cib ou Ah-Kat) era uma divindade da mitologia maia associada ao processo de tatuagem e escarificação. Ela foi mencionada pela primeira vez pelo etnógrafo e arqueologista J. Eric S. Thompson  (1898-1975), em seu livro Tattooing and Scarification among the Maya ("Tatuagem e Escarificação entre os Maias") de 1946, onde ele acrescentou que o nome Acat em nauátle significa "junco", enquanto a pronúncia "Ah Cat" significaria "Aquele do Jarro de Armazenamento", provavelmente porque acreditava-se que juncos ocos eram usados ​​no processo de tatuagem. Dizem que Acat abençoava desde a tinta e as agulhas até os espaços de trabalho, além de firmar as mãos dos artistas para obter melhores resultados.

Arte de thothflashpan

De acordo com o finado romancista e engenheiro Charles Russell Coulter e a pesquisadora Patricia Turner, Acat é um dos Bacabs,, deuses dos pontos cardeais, responsáveis por sustentar o céu. Mais vagamente, Acat é ainda associada ao desenvolvimento do feto no útero.

Cultura Popular

Acat é uma antagonista coadjuvante na série animada Maya e os Três Guerreiros (2021) da Netflix. Apesar de ser uma deusa, ela deixa sua sede de sangue ficar fora de controle e prefere “brincar com a comida” em vez de terminar uma missão com eficiência ou honra.

Acat em "Maya e os Três Guerreiros"

fontes:

19 de abril de 2024

Wepwawet

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de Amirul Hafiz

Wepwawet (também Upuaut, Wep-wawet e Ophois) é na mitologia egípcia um antigo deus chacal cujo culto originou-se no Alto Egito. Ele foi um dos primeiros deuses a serem adorados na cidade de Abidos, possivelmente antecedendo (e absorvendo) Khentiamentiu, outro deus da necrópole de Abidos. Durante o Reino Antigo, Wepwawet era popular em todo o Egito, mas à medida que Osíris cresceu em popularidade (absorvendo tanto Khentiamentiu quanto Wepwawet), Anúbis assumiu seu papel funerário. No entanto, ele não desapareceu completamente. O estandarte de Wepwawet era associado ao Alto Egito e tinha a honra de ir à frente do rei durante muitas procissões rituais. Durante o Novo Reino, seu estandarte até precedia o de Osíris e a "procissão de Wepwawet" iniciava os mistérios de Osíris como um deus dos mortos.

Significado do nome e funções

O nome Wepwawet significa "O abridor dos caminhos". Acredita-se que se refira aos caminhos do submundo, mas também pode se referir às escolhas ou caminhos tomados na vida, já que ele também parece ter sido ligado ao poder do faraó vivo. No Livro dos Mortos e no Livro de Amduat, Wepwawet conduz os mortos pelo submundo e os protege em sua jornada perigosa, mas também se pensava que ele agia como um batedor, abrindo um caminho para permitir que eles prosseguissem.

Arte de MadFretsy

De acordo com algumas tradições, foi Wepwawet, e não Anúbis ou Ptah, quem elaborou a cerimônia de "abertura da boca", que garantia que a pessoa teria o uso de todas as suas faculdades na vida após a morte. No entanto, ele também acompanhava o rei quando este caçava e recebeu o epíteto "Aquele com a flecha afiada que é mais poderoso do que os deuses".

Wepwawet também pode ter simbolizado a unificação do Alto e Baixo Egito. Em procissões reais, seu estandarte era pareado com o touro Ápis (representando o Baixo Egito). No entanto, em uma inscrição, a localização de seu nascimento é reivindicada como o templo da deusa Wadjet em Buto (no Delta). Parece que isso foi um movimento político, já que todas as outras evidências sugerem que ele tinha origens no Alto Egito.

Iconografia

Wepwawet geralmente era representado como um lobo ou um homem com cabeça de lobo. No entanto, há algum debate sobre se ele é de fato um lobo. Ao contrário de Anúbis, ele frequentemente é representado com a cabeça cinza ou branca, e os gregos nomearam o Décimo Terceiro nomo do Alto Egito como Licópolis ("cidade do lobo") em sua homenagem. Alguns estudiosos argumentam que ele era um chacal e outros que ele era originalmente um lobo, mas foi fundido com Anúbis e, portanto, passou a ser visto como um deus com cabeça de chacal. Ele era frequentemente representado ao lado do uraeus (cobra real) e um estandarte chamado shedshed.

Shedshed

Relação com outros deuses

Seus relacionamentos com os outros deuses foram confundidos pela fusão e mudança de papéis ao longo da história egípcia. Wepwawet estava intimamente associado a Anúbis, que originalmente fazia parte do Ogdóade de Hermópolis, e passou a ser visto como seu filho. No entanto, ele também estava ligado ao deus Shu da Enéade de Heliópolis pelo epíteto "Aquele que separou o céu da terra".

Quando as duas teologias se fundiram e Anúbis deu lugar a Osíris, desenvolveu-se a ideia de que Osíris era o pai de Anúbis (embora sua mãe geralmente não fosse descrita como a esposa de Osíris, Ísis, mas sim sua irmã Néftis). Para complicar ainda mais as coisas, Wepwawet às vezes era chamado de "filho de Ísis" e identificado como Hórus (e portanto o faraó), embora ela também fosse vista como neta de Shu e madrasta de Anúbis de acordo com a tradição heliopolitana.

Arte de Mohamed Saad


fonte:

17 de abril de 2024

Apivień

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de arteias

Apivień (russo Апівень) é um pequeno demônio ou duende oriundo do folclore bielorrusso, dito perseguir as pessoas, de todas as maneiras possíveis e sob diferentes pretextos. Ele possui uma predileção especial por festas, durante as quais observa quanto álcool cada um bebe e tenta persuadir aqueles que não têm o hábito de beber a beber mais. Se não obtiver sucesso, ele adiciona uma poção entorpecente à bebida e aqueles que a beberem perdem sua aparência humana. 

Apivień gosta de zombar daqueles que estão bêbados, provocando-os, colocando-os em diversas situações cômicas e, às vezes, até mesmo obscenas, fazendo com que briguem, lutem ou simplesmente os empurra debaixo da mesa.

Arte de Valery Slavuk

Apivień só pode ser visto por aqueles que estão consideravelmente embriagados. Diz-se que ele é uma pequena criatura coberta com pelos escuros e finos. Sua cabeça é semelhante à humana, exceto pelo focinho e pelos pequenos chifres semelhantes aos de um jovem bezerro no lugar das sobrancelhas. Apivień tem um cauda encaracolada como a de um leitão e patas com cascos. 

Dizem que não há bêbado no mundo todo que possa beber mais que o Apivień. Quanto ao próprio demônio, não importa quanto ele beba, ele nunca ficará bêbado. Diz-se que uma pessoa que bebe muito mas não fica bêbada bebe como um Apivień.

Arte @belarusian_monsters


fonte:

  • Apivień — according to the Belarusian mythology, a small demon or imp, which clings to the people, inducing them to drink. Disponível em: <https://www.bestiary.us/opiven/en>. Acesso em: 10 abr. 2024.

15 de abril de 2024

Suanyu

۞ ADM Sleipnir


Suanyu (chinês 酸與, Suān yǔ) é uma criatura pertencente à mitologia chinesa, dita habitar uma montanha chamada Fengjing. Ela é descrita no Shan Hai Jing (chinês 山海經, "Clássico das Montanhas e Mares") como um pássaro com um corpo que se assemelha ao de uma serpente, porém dotado de quatro asas, seis olhos e três pernas. 

Arte de dongx

Ainda de acordo com o Shan Hai Jing, diz-se que o Suanyu emite um som que se assemelha ao seu nome. Além disso, avistá-lo é um presságio de pânico iminente.

Cultura Popular

Suanyu aparece como um minichefe no game Wo Long: Fallen Dynasty (para PlayStation 4 e 5, Xbox Series X, Series S, One, Cloud Gaming e Microsoft Windows).

Suanyu no game Wo Long: Fallen Dinasty



fontes:

  • STRASSBERG, R. E. A Chinese bestiary : strange creatures from the guideways through mountains and seas = [Shan hai jing]. Berkeley: University Of California Press, 2018.

  • Suanyu. Disponível em: <https://cryptidz.fandom.com/wiki/Suanyu>. Acesso em: 05 abr. 2024.


12 de abril de 2024

Áclis

۞ ADM Sleipnir

Arte de Joyce Maueira

Áclis (do grego Αχλυς, "olhos embaçados") era o espírito personificado (daimona) da "névoa da morte" – a turvação dos olhos que precede a morte. Ela também pode ter sido a deusa dos venenos mortais. Provavelmente, era contada entre as Queresespíritos femininos (daimones) da morte violenta ou cruel, incluindo morte em batalha, por acidente, assassinato ou doença devastadora. 

Segundo o poeta Hesíodo, Áclis era também a personificação da miséria e da tristeza. Em seu poema "Escudo de Héracles", Hesíodo fornece um descrição sua, como sendo "pálida, emaciada e chorosa, com dentes batendo, joelhos inchados, longas unhas nos dedos, bochechas ensanguentadas e ombros cobertos de poeira".

Arte do disco "The Dreaming I", a banda de Black Metal Akhlys


fonte:

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10 de abril de 2024

Bunog

۞ ADM Sleipnir

Bunog são uma classe de espíritos oriunda das crenças dos antigos povos habitantes do sul de Iloilo, província localizada na região das Visayas Ocidentais, nas Filipinas. Eles são descritos como cavalos fantasmagóricos que podem ser vistos galopando pela superfície do mar, especialmente durante chuvas ou tempestades. Dizem que emanam um brilho etéreo, o que faz com que muitos acreditem que não passam de miragens. Podem, aqueles que se aproximam deles ou os perturbam podem ter suas embarcações destruídas por eles.

Arte de Von Milano

fonte:
  • STA, S. The Remnants of the Great Ilonggo Nation. [s.l.] Rex Bookstore, Inc., 1997.


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8 de abril de 2024

Eingana

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Eingana é uma divindade criadora pertencente à mitologia aborígene australiana, mas especificamente às crenças do povo Jawoyn, cujo território está localizado no norte da Austrália. Ela é uma serpente primordial oriunda do Tempo do Sonho, e referida como a mãe de todos os seres vivos.

Segundo o mito, Eingana gerou todos os seres vivos que existem dentro de si. Os mesmos foram crescendo dentro dela, mas ao chegar a hora deles saírem de seu ventre, não conseguiam porque Eingana não possuía uma vagina. Incapaz de dar luz a sua criação, Eingana pediu ao deus Barraiya usasse sua lança e abrisse um buraco perto de seu ânus, para que o trabalho de parto pudesse começar. Assim, surgiu a primeira vagina, e os primeiros seres vivos vieram ao mundo.

Eingana também é tida como uma deusa da morte. Conta-se que há uma espécie de tendão que liga todos os seres vivos a ela. Quando esse cordão se rompe, a vida do ser outrora ligado a ela chega ao fim.

Cultura Popular

  • Eingana era um dos muitos espíritos que podiam ser invocados pelos jogadores no finado game Destiny Spirits, para o PS Vita;
  • Eingana dá nome a um planeta presente no game Mass Efect, cujo satélite chama-se Barraiya; 
  • No episódio 101 do anime Yugi-Oh!, o duelista Gansley usa uma carta chamada "Serpente Arco-íris Eingana" durante seu duelo contra Yami Yugi. Quando ela é enviada para o cemitério, todos os monstros que o oponente controla são destruídos.

fontes:

5 de abril de 2024

Sihuhata

۞ ADM Sleipnir

Estátua de um Sihuhata localizada no templo budista Wat Phrathat Doi Khao Kwai, em Chiang Rai

Sihuhata (tailandês สี่หูห้าตา, "quatro ouvidos, cinco olhos") é uma criatura mitológica originária da província de Chiang Rai, no norte da Tailândia, e adorada por sua capacidade de trazer riquezas. Frequentemente vista em estátuas, principalmente na cidade tailandesa de Chiang Mai, ela é representada como uma espécie de urso, macaco ou panda dotado de quatro ouvidos e cinco olhos.

crédito da imagem: canal BlackMoon

Os quatro ouvidos de Sihuhata representam as quatro práticas budistas do dharma: metta (bondade amorosa), karuna (compaixão e generosidade), mudita (alegria empática pelo sucesso e boa fortuna dos outros) e upekha (tranquilidade de espírito).  Já os seus cinco olhos representam os cinco preceitos do dharma budista: abster-se de matar, roubar e mentir; de envolvimento em adultério e outros comportamentos sexuais que prejudicam os outros; e de álcool ou outras substâncias intoxicantes. 

Em lendas do antigo Reino de Lan Na, Sihuhata era visto como uma encarnação de Indra, o rei dos deuses da mitologia védica. Uma dessas lendas fala sobre uma ocasião em que Indra olhava para a Terra e viu um fazendeiro pobre que trabalha extremamente duro, mas nunca acumulava riqueza. Ele também cuidava bem de sua mãe idosa. Indra sentiu grande compaixão por esse fazendeiro e desce à Terra para ver - e testar - sua virtude. Disfarçado como Sihuhata, Indra destrói toda a colheita do fazendeiro. O pobre fazendeiro fica extremamente zangado e amarra Sihuhata a um poste. Ele volta para casa para alimentar e cuidar de sua mãe idosa e depois retorna ao monstro. Sentindo compaixão pela criatura, ele oferece comida e acende um fogo para mantê-la aquecida. Ele sai para fazer algo e, quando volta, fica atônito ao ver a criatura comendo carvão vermelho incandescente. Ele fica ainda mais surpreso quando o monstro começa a defecar pepitas de ouro. Devido à sua compaixão pela criatura que havia tirado todo o seu sustento, o fazendeiro acabou sendo recompensado com essas pepitas de ouro e ficando rico. 

Devido a esta lenda, é comum ver estátuas do Sihuhata defecando ou sentada em pilhas de ouro. Também é comum ver oferendas de carvão deixadas em estátuas do mesmo.

fonte:

3 de abril de 2024

Súileach

۞ ADM Sleipnir

Arte de Hollie Mackay

Súileach ("visão aguçada" ou "cheio de olhos" em irlandês) é uma criatura mitológica irlandesa, dita ter habitado Loch Súilí, um fiorde glacial localizado no condado de Donegal, na Irlanda. Descrita como uma enorme serpente marinha dotada de duzentos olhos em cada lado de sua cabeça, Súileach aterrorizou a região até ser finalmente morto por alguém cuja as fontes discordam sobre a identidade. 

A maioria das fontes atribui a autoria do assassinato de Suileach à São Columba (521– 597 E.C., também conhecido como Columba de Iona, ou, em gaélico, Colm Cille ou Columcille ("pomba da Igreja"), um monge irlandês responsável por reintroduzir o Cristianismo entre os povos Pictos. 

São Columba

Conta-se que São Columba levou um chefe local consigo para ajudá-lo a matar a serpente, mas quando ela surgiu de sua caverna, o chefe fugiu apavorado, deixando o santo enfrentá-la sozinho. Empunhando uma espada, São Columba travou uma épica batalha contra Súileach, ao final da qual ele conseguiu decapitá-la. Depois, Columba caçou o chefe que o havia abandonado, decidido a matá-lo também. Sabendo que não tinha chances contra um homem santo como Columba, o chefe decidiu se submeter ao fio de sua espada, mas antes pediu que Columba limpasse sua lâmina, ainda suja com o sangue de Súileach. Enquanto São Columba limpava sua espada num rio, e a água levava o sangue rio abaixo, sua raiva também se foi, e ele acabou poupando a vida do chefe. 

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

fontes:

1 de abril de 2024

A Cabeça do Enforcado

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

A Cabeça do Enforcado é uma lenda paranaense, oriunda da região do Imbocuí, na cidade de Paranaguá. Ela fala sobre um escravo africano, que acabou matando o seu amo devido aos maus tratos que sofreu durante muito tempo. O escravo foi rapidamente julgado e condenado à morte por enforcamento poucos dias depois. 

Naquela época, era um costume cortar a cabeça dos escravos após enforcá-los, e colocá-la sob um poste em um local bem visível e frequentado por outros escravos, para que servisse de exemplo para os mesmos. A cabeça deste escravo em particular foi colocada sob a Fonte da Cambôa, local que era diariamente frequentado por outros escravos. Os escravos que iam à fonte buscar água para seus amos, ao chegarem na ladeira, baixavam a cabeça para não olhar o crânio pendurado. O pavor invadia a alma deles, cheia de crendices e medos. Tinham verdadeiro horror de descer a ladeira ao anoitecer, pois dizia-se que a visão de um corpo sem cabeça vagava desde o escurecer até a alta madrugada, enlouquecendo quem por ali passasse. 

Para os senhores de escravos, essa lenda era um meio seguro de obrigar os cativos ao trabalho, ameaçando-os, caso vadiassem, de mandá-los à fonte durante a noite. Esse costume manteve-se vivo desde o século XVII, nos tempos coloniais, até 1888, quando foi proclamada a abolição da escravatura. Com a independência do país, muitas leis foram revogadas, e com isso o crânio foi removido do local. Passados mais de 300 anos, a Fonte da Cambôa é hoje um lugar agradável e muito visitado pelos turistas. Já as terríveis histórias do tempo da escravidão cada vez ficam mais distantes e esquecidas.

Fonte da Cambôa nos dias atuais

fonte:

  • AUGUSTO CARNEIRO JR., R. (ED.). Lendas e Contos Populares do Paraná. [s.l: s.n.].



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