۞ ADM Sleipnir
Os Selk'nam (também conhecidos como Onawo ou Ona) são um povo indígena da região patagônica do sul da Argentina e do Chile, incluindo as ilhas da Terra do Fogo. Foram um dos últimos grupos nativos na América do Sul a serem encontrados por europeus migrantes no final do século XIX. Em meados do século XIX, haviam cerca de 4.000 Selk'nam; em 1919, eram 297 e, em 1930, pouco mais de 100. Hoje, são considerados extintos como uma tribo. A exploração do ouro e a introdução da agricultura na região da Terra do Fogo levaram a uma redução drástica do número de sua população; um processo que é descrito como um genocídio. O que restou de sua cultura e principalmente de sua mitologia é conhecido hoje principalmente pelos trabalhos do etnólogo austríaco Martin Gusinde e da etnóloga franco-americana Anne Chapman.
Cosmologia
Para os Selk'nam, o cosmos era dividido em quatro sho'on ("céus infinitos"), que representam as quatro direções cardeais :
- Kamuk: Céu do norte;
- Kéikruk: Céu do Sul;
- Kenénik: Céu Ocidental;
- Wintek: Céu Oriental. É considerado o mais importante dos quatro sho'on, sendo a residência de Temáukel (divindade suprema Selk'nam) e fonte de tudo o que existe.
Cada shó'on é associado a uma das estações. Kamuk simboliza a primavera e o verão, Kéikruk simboliza o inverno, Kenénik simboliza o outono e, finalmente, Wintek simboliza todas as estações e, possivelmente, até mesmo o tempo.
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Cenuke |
Deuses e espíritos
A religião do povo Selk'nam costuma ser descrita como sendo politeísta, principalmente por causa da existência de vários personagens que geralmente são considerados divindades. No entanto, de acordo com as crenças do povo Selk'nam, apenas Temáukel é reconhecido como um deus, enquanto os demais personagens são identificados mais como ancestrais mitológicos do que como deuses.
Por outro lado, as características atribuídas a esses ancestrais mitológicos são típicas de seres que poderíamos chamar de deuses. Por isso, é possível considerar que a religião do povo Selk'nam era, antes, henoteísta (culto de um único deus sem se negar a existência de outras divindades). Dessa forma, temos um ser superior, semelhante ao Deus das religiões abraâmicas, que corresponde a Temáukel; deuses mitológicos ou ancestrais chamados howenh, dos quais o primeiro a habitar a Terra foi Kenos, um espírito criador e terraformador, enviado por Temáukel; e, finalmente, Xalpen e seus subordinados, sho'orts, que eram todos espíritos cridos serem habitantes do submundo.
Temáukel
Temáukel é o deus supremo do panteão Selk'nam e Haush e, em teoria, de todas as divindades Selk'nam, é o único que é considerado um deus, uma vez que as outras divindades são identificadas como ancestrais mitológicos. Ele é um deus primordial, portanto, sempre existiu. Ele mora na cúpula celestial, no céu oriental ou Wintek e é o criador dela e da Terra primitiva.
Os Howenh
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Shenrr, howenh do vento |
Os Howenh são na prática deuses, mas não eram reconhecidos como tais pelo povo Selk'nam, mas sim como ancestrais mitológicos, já que a única divindade era Temáukel. Os Howenh constituem as grandes forças da natureza e dos elementos terraformadores, mas antes de se tornarem tais elementos, eles existiam como humanos.
Entre os mais importantes estão Kenos, o primeiro howenh; Kwányip e Čénuke, howenhs do norte e sul respectivamente; Kojh, howenh do mar; Kren, howenh do sol; Kre, howenh da lua; Josh, howenh da neve; e Shenrr, howenh do vento.
Kenos, o primeiro howenh
Kenos foi o primeiro howenh a habitar a Terra. Ele é o criador, organizador e o civilizador na mitologia Selk'nam, e a divindade mais importante depois de Temáukel. Ele foi enviado por Temáukel da cúpula celestial para a Terra primitiva, com a missão de organizá-la e criar os ancestrais mitológicos que moldariam a Terra.
Xalpen
Xalpen (também Jalpen ou Alpen) é um espírito feminino, equivalente ao que poderia ser considerado uma deusa do submundo, e de grande importância na cerimônia conhecida como Hain. Essa era uma cerimônia de iniciação dos jovens selknam, chamados klóketen, na qual a participação de mulheres era vedada, e portanto, a crença na existência de Xalpen só subsistia na mente delas.
Xalpen é descrita como uma “fêmea canibal faminta e raivosa”. Ela exigia que os klóketen lhe trouxessem carne de guanaco. No entanto, em um certo ponto do Hain, ele desencadeava sua fúria e se jogava sobre os klóketen para depois comer sua carne. Usando suas unhas longas e afiadas, ela rasgava os jovens em pedaços. Além de se alimentar de carne humana, Xalpen levava os homens dos Hain , especialmente os klóketen, para o subsolo para saciar momentaneamente seus apetites sexuais, às vezes abandonando esses jovens no submundo. Enquanto tudo isso supostamente ocorria, os homens dentro do Hain se ocupavam de fazer efeitos sonoros para fazer com que as mulheres acreditassem que seus filhos estavam sendo atacados por Xalpen.
A cena mais importante da cerimônia Hain era quando Xalpen matava simbolicamente os klóketen, que mais tarde eram "revividos".
Os Sho'orts
Os chamados Sho'orts são espíritos ditos serem companheiros de Xalpen e também integram a cerimônia Hain. Existem sete sho'orts principais: Sate, Yoisik, Wakus, Keyaisl, Talen, Pawus e Sanu. Estes representavam os pontos cardeais
Além deles, existem muitos outros sho'orts, alguns nomeados e outros não. Os mais famosos são:
- Kulan e Koshménk: a "esposa infiel" e o "marido corno", respectivamente;
- Halahache/Kotaix: espírito provido de grandes chifres que simulavam torturar e matar homens;
- Hayílan: servos dos Sho'orts que se comportavam como palhaços;
- Tanu: irmã de Xalpen, representava sua autoridade, agindo como mensageira e testemunha do que estava acontecendo no Hain;
- Ulen: cuja única função era entreter as mulheres com travessuras;
fontes:
- https://pueblosoriginarios.com/
- wikipedia.org
- https://tierraorigen.cl/espiritus-selknam/
- http://www.memoriachilena.gob.cl/602/w3-article-97552.html