24 de novembro de 2021

Galvarino, O Guerreiro com Lâminas nas Mãos

۞ ADM Sleipnir

Arte de BahamondeART

Galvarino (nascimento:? - morte: 30 de novembro de 1557) foi um famoso guerreiro e toqui (líder) mapuche, participando dos conflitos iniciais da longa Guerra de Arauco, travada entre os colonizadores espanhóis e o povo mapuche. Galvarino tornou-se um símbolo de perseverança e resistência, superando uma grave mutilação e retornando ao combate ao lado de seus companheiros.

A Batalha das Lagunillas

A Batalha de Lagunillas foi uma das batalhas ocorridas durante a Guerra de Arauco. Ela ocorreu em 8 de novembro de 1557, e foi travada entre o exército de García Hurtado de Mendoza, ex-governador real do Chile, e o exército de guerreiros mapuches. Durante essa batalha, García e suas forças conseguiram facilmente prevalecer contra os mapuches, que se demonstraram desorganizados em combate. Os guerreiros que não foram mortos tornaram-se prisioneiros (os números falam em cerca de 150 homens), e entre esses prisioneiros estava seu líder, Galvarino.

Após serem rapidamente julgados, todos os prisioneiros foram condenados a amputação da mão direita e do nariz, enquanto os líderes, como Galvarino, teriam as duas mãos amputadas. Essa terrível punição era uma mensagem de García para os mapuches: ou se submetiam ao governo, ou seriam todos mutilados e/ou mortos. Dizem que durante a amputação de seus membros, Galvarino não demonstrou nenhum sinal de dor, e ao final, pediu aos seus captores que o matassem, mas o mesmo foi recusado.

A Determinação de Galvarino

Galvarino e os demais guerreiros foram liberados e enviados de volta até Caupolicán, o grande líder do povo mapuche na época. Os espanhóis esperavam que a visão de seus homens mutilados fizessem com que Caupolicán se rendesse, e talvez isso tivesse acontecido se não fosse por Galvarino, que não só inflamou Caupolicán e seus companheiros a continuassem a batalha contra os seus opressores, como fixou duas lâminas em seus pulsos, para que ele próprio pudesse retornar ao campo de batalha. Não existem registros sobre o quão grandes ou afiadas eram essas lâminas, e também não é claro se elas foram amarradas em torno de seus pulsos ou se foram cravadas e cauterizadas no local onde antes ficavam suas mãos, mas podemos ver artes representando Galvarino das duas formas.

Arte de Fabian Todorovic

A Batalha Final

Caupolicán decidiu que os mapuches revidariam contra os espanhóis, e nomeou Galvarino como um de seus comandantes. No dia 30 de novembro de 1557, menos de um mês após ter sido capturado, Galvarino estava na linha de frente do que ficou conhecido como a Batalha de Millarapue

O plano do exército mapuche era emboscar o acampamento espanhol e dominar García antes que ele pudesse virar sua artilharia e cavalos contra os guerreiros, porém eles lançaram sua armadilha rápido demais e, apesar de um sucesso inicial em impedir a cavalaria de García, o comandante conseguiu acertar os atacantes nativos com tiros de canhão, abrindo uma fenda para seus cavaleiros cavalgarem e semearem o caos. Conta-se que, ao todo, três mil mapuches foram mortos, em comparação com apenas ferimentos leves e dezenas de cavalos mortos do lado espanhol. Também houveram centenas de mapuches capturados, incluindo Galvarino.

Existem poucas evidências sobre o desempenho de Galvarino durante esta batalha. Jeronimo de Vivar, um soldado espanhol que mais tarde escreveu um relato das Guerras de Arauco intitulado Crónica, escreveu que Galvarino incitava os guerreiros mapuches a avançarem levantando seus braços laminados e gritando: “Ninguém pode fugir além de morrer, porque você morre defendendo sua pátria mãe!”. Vivar também escreveu que Galvarino confrontou diretamente o esquadrão de García, conseguindo derrubar o segundo homem em comando do general.

Arte de Shweta Raj

Galvarino não teria uma terceira oportunidade de confrontar os espanhóis, sendo condenado à morte juntamente com os demais homens capturados. Alonso de Ercilla, um assessor espanhol que mais tarde escreveria o poema épico “La Araucana ”, afirmou que tentou intervir em favor de Galvarino, suplicando-lhe que se juntasse aos espanhóis, porém Galvarino teria lhe respondido: “Prefiro morrer a viver como você, e só lamento que minha morte me impeça de rasgá-lo em pedaços com os dentes”. Alguns afirmam que García atirou Galvarino aos cães, enquanto outros afirmam que ele foi enforcado. Outros ainda acreditam que Galvarino tirou a própria vida, para que seus captores não tivessem esse prazer. 

A Guerra de Arauco continuaria por quase 300 anos, com os mapuches continuamente resistindo à colonização pelos espanhóis. A história de Galvarino tornou-se um grito de guerra para o povo mapuche, e um símbolo de resistência e também da tenacidade dos mesmos. Os mapuches sobrevivem até hoje na região, mostrando que os sacrifícios feitos pelos seus antepassados resultaram na preservação de sua cultura por muito tempo.

Arte de juanex

fontes:
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8 comentários:

  1. Parabéns pela boa qualidade do seu trabalho.
    Abraços

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  2. Muito bom o post, eu tinha visto um pouco sobre ele em um video no youtube, mais era resumido. Aqui foi mais completo, na minha opinião

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  3. Respostas
    1. Parece mesmo, inclusive esse vilão está presente no filme do Shang-Chi.

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  4. fico surpreso do numero de mitos não ter acabado

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    1. Acredite, perto de tudo o que existe, mesmo com quase dez anos de trabalho, só explorei a superfície. Há muito a ser mostrado e trazido à luz.

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