colocou outras limpas e ajustou a túnica.
Depois cobriu a cabeça com a tiara.
todos os dias atrelarás a ela grandes cavalos.
Entrarás em nossa casa sob a fragrância dos cedros.
e teus bois, sob o jugo, não terão rivais”.
uma sandália que faz tropeçar quem a calça.
Aproxime-se! Vou ler-te a interminável lista de teus amantes.
foi, ano após ano, alvo de tuas torturas.
e agora ele grita: ‘Minha asa!’, na floresta.
mas fizeste cavar para ele sete vezes sete armadilhas.
Amaste o Garanhão que se exalta na batalha,
mas o submeteste a rédeas, esporas e chicote,
destinaste-o a galopar catorze horas diárias
e deste-lhe água lodosa para beber.
E para sua mãe, a divina Silili, foste motivo de lamento.
Amaste o pastor
que sem cessar queimava incenso para ti
e a cada dia te sacrificava cabritos,
mas o golpeaste e o transformaste em chacal,
e agora seus próprios jovens o perseguem
e seus cães rasgam sua pele.
Amaste Ishullanu, o jardineiro de teu pai,
que te trazia cestos de tâmaras
e a cada dia adornava tua mesa.
Tu o olhaste e, aproximando-te, disseste-lhe:
‘Ó meu Ishullanu, deixa que sinta tua força,
estende tua mão e acaricia-me!’
Ishullanu te respondeu:
‘O que desejas de mim?
Acaso minha mãe não cozinhou, não comi eu,
para que tenha que recorrer aos alimentos
de opróbrio e maldição que me ofereces?
E, contra o frio, acaso não me bastam as canas como abrigo?’
Ao ouvir estas palavras, Ishtar,
tu golpeaste Ishullanu, o transformaste em uma aranha
e o colocaste no meio das ruínas,
onde não pode nem subir nem descer.
Teu amor faria comigo o que fizeste com eles!”
Ao ouvir Ishtar estas palavras
enfureceu-se e subiu ao céu.
A deusa Ishtar foi ver o deus Anu, seu pai,
e a deusa Antu, sua mãe, e disse:
“Meu pai, Gilgamesh me encheu de insultos.
Gilgamesh lançou em meu rosto minhas depravações,
minhas depravações e meus feitiços.”
O deus Anu tomou a palavra e disse
à divina princesa Ishtar:
“Certamente pediste o amor dele,
e ele enumerou tuas depravações,
tuas depravações e teus feitiços.”
A deusa Ishtar tomou a palavra e falou
dessa maneira ao deus Anu, seu pai:
“Ó, meu pai, cria um Touro Celestial
para que Gilgamesh saiba o que é o medo!
Se não criares para mim o Touro Celestial,
quebrarei as portas do mundo subterrâneo
e o número dos mortos ultrapassará o dos vivos.”
O deus Anu tomou a palavra e disse
assim à divina princesa Ishtar:
“Se eu atender ao que me pedes,
haverá sete anos de vagens vazias.
Acumulaste grãos para o povo,
amontoaste forragem para os animais?”
A deusa Ishtar tomou a palavra e respondeu
assim ao deus Anu, seu pai:
"Armazenei grãos para o povo
e haverá provisão de forragem para os animais,
caso a terra fique estéril durante sete anos."
(Alguns versos truncados. No entanto, deduz-se que Anu concede criar o Touro Celestial, o qual mata centenas de homens com dois ou três bufos.)
Enkidu agarrou o Touro Celestial pelos chifres.
O Touro Celestial espumou sobre o rosto do herói,
golpeou-o com sua grande cauda.
Então Enkidu abriu a boca
e disse a Gilgamesh:
"Amigo meu, vencemos..."
(Faltam cerca de 15 versos)
Entre a cerviz e os chifres, cravou sua espada.
Com o Touro Celestial morto, arrancaram seu coração
e o ofereceram ao deus Shamash.
Em seguida, sentaram-se, como dois irmãos.
Então a deusa Ishtar subiu à muralha de Uruk,
subiu até as ameias e lançou sua maldição:
"Maldito seja Gilgamesh, por ter me insultado
matando o Touro Celestial!"
Quando Enkidu ouviu estas palavras de Ishtar,
arrancou as partes do Touro Celestial e as atirou ao rosto dela,
dizendo:
"Se eu te pegar, farei contigo
o que fiz com o touro. E pendurarei suas entranhas
em teu pescoço, como uma guirlanda."
A deusa Ishtar chamou as hieródulas do templo,
e sobre as partes do touro todas lamentaram.
Mas Gilgamesh convocou todos os artesãos
para que admirassem o tamanho dos dois chifres,
que formavam uma massa de trinta minas de lápis-lazúli
e cuja cavidade tinha uma largura de dois dedos.
Seis medidas de óleo, o que cabia em cada um deles,
ofereceu Gilgamesh a seu deus, Lugalbanda;
ele ofereceu os dois chifres, como vasos de unguento,
que pendurou no templo da divindade.
Depois, os dois amigos purificaram suas mãos no Eufrates
e puseram-se novamente a caminho,
atravessando a grande rua de Uruk.
Ao passar, todos os observavam.
Então Gilgamesh disse aos servos de seu palácio:
"Quem é o soberano entre os heróis?
Quem é o mais glorioso entre os homens?"
"Gilgamesh é o soberano entre os heróis!
Gilgamesh é o mais glorioso dos homens!"
(Lacuna)
Gilgamesh deu uma festa em seu palácio.
Quando os heróis dormiam em seus leitos, à noite,
Enkidu teve um sonho.
Ao levantar-se, contou ao amigo o que havia sonhado:
"Por que os grandes deuses do céu estão em conselho?"