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| Arte de Veronika Iakimenko |
Sadko (em russo: Садко) é uma figura lendária da tradição folclórica russa, originalmente associada a uma antiga divindade das águas que, após a cristianização da Rússia, foi reinterpretado como um talentoso músico e mercador de Novgorod. Sua história é conhecida por misturar elementos mitológicos, aventuras marítimas e intervenções sobrenaturais, tornando-se um dos contos eslavos mais famosos. A lenda ganhou projeção internacional através da ópera Sadko, composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1898.
Origens e ascensão
Sadko era originalmente um talentoso, porém pobre, músico que tocava o gusli, um antigo instrumento de cordas russo semelhante a uma cítara ou saltério. Ele ganhava a vida entretenendo os nobres e mercadores em banquetes em Novgorod, até que um dia caiu em desgraça por razões desconhecidas.
Desolado, Sadko dirigiu-se às margens do Lago Ilmen, onde passou horas tocando sua música melancólica. Sua melodia atraiu a atenção do Tsar do Mar, uma poderosa entidade aquática que governava as águas (possivelmente uma personificação do próprio lago). Agradecido pelo espetáculo musical, o Tsar do Mar ofereceu a Sadko um meio de enriquecer: ele deveria participar de um banquete com os mercadores mais ricos de Novgorod e fazer uma aposta ousada.

A aposta dos peixes dourados
No banquete, enquanto os mercadores se gabavam de suas riquezas, Sadko afirmou que conhecia um lugar no Lago Ilmen onde nadavam peixes com nadadeiras de ouro. Os mercadores, incrédulos, aceitaram a aposta: se Sadko provasse sua afirmação, ganharia suas riquezas; se falhasse, perderia sua cabeça.
Sadko lançou uma rede de seda nas águas do lago e, como prometido, pescou três peixes com nadadeiras douradas. Vitorioso, ele recebeu uma fortuna imensa, tornando-se um dos homens mais ricos de Novgorod.

A queda em desgraça e a viagem pelo mar
Anos depois, em outro banquete, Sadko fez uma afirmação ainda mais ousada: disse que tinha riqueza suficiente para comprar todas as mercadorias de Novgorod. Dois governadores da cidade, Foma Nazariev e Luka Zinoviev, aceitaram a aposta, exigindo que Sadko provasse seu feito ou pagasse uma multa de trinta mil rublos.

Por três dias, os servos de Sadko compraram tudo o que encontraram nas feiras e lojas de Novgorod. No entanto, novos produtos continuavam chegando de outras cidades, como Moscou, tornando sua tarefa impossível. Reconhecendo a derrota, Sadko pagou a multa e decidiu recuperar seu dinheiro viajando em uma frota de trinta navios para negociar em terras distantes.
A fúria do Tsar do Mar e o sacrifício
Durante a viagem de volta, após vender todas as mercadorias e acumular grandes tesouros, os navios de Sadko ficaram paralisados no meio do mar, apesar dos ventos favoráveis. Sadko compreendeu que o Tsar do Mar estava irado por não ter recebido tributo durante suas viagens anteriores.

Os marinheiros tentaram aplacar a ira do deus marinho jogando barrís de ouro e prata ao mar, mas os navios continuavam imóveis. Sadko então sugeriu que fosse realizado um sorteio para que fosse escolhido um sacrifício humano. Ele tentou enganar seus homens, escrevendo seu nome em um graveto enquanto os outros escreviam em moedas de ouro. O sacrifício seria aquele cujo nome afundasse primeiro. No entanto, para seu desespero, seu graveto afundou, enquanto as moedas permaneceram na superfície.
A descida ao reino subaquático
No fundo do mar, Sadko foi levado a um magnífico palácio subaquático, onde o Tsar do Mar ordenou que ele tocasse para seu entretenimento. A música de Sadko era tão poderosa que fez o deus dançar freneticamente, desencadeando tempestades que destruíram navios e afogaram marinheiros no mundo acima.
A intervenção divina e o retorno
Enquanto tocava, Sadko foi abordado por um velho sábio (posteriormente revelado como São Nicolau de Mozhaisk, o santo padroeiro dos marinheiros), que o instruiu a quebrar as cordas de seu gusli para interromper a dança catastrófica do Tsar do Mar. Sadko obedeceu, e as tempestades cessaram.
Para manter Sadko em seu reino, o Tsar do Mar ofereceu-lhe uma noiva entre centenas de belas donzelas. Seguindo o conselho do velho, Sadko escolheu a última delas, Chernava (ou Volkhova, em algumas versões), mas adormeceu antes de consumar o casamento. Ao acordar, ele se viu de volta às margens do Rio Chernava, com sua frota retornando são e salva a Novgorod.

Em agradecimento por sua libertação, Sadko cumpriu sua promessa e construiu uma grande catedral em honra a São Nicolau em Novgorod. Algumas versões da lenda afirmam que ele também ergueu um templo dedicado à Virgem Maria. Após essa experiência, Sadko abandonou para sempre as viagens marítimas, vivendo o resto de seus dias como um homem rico e piedoso em sua cidade natal.
Variante da lenda
Uma versão alternativa sugere que as tempestades causadas pelo Tsar do Mar afundaram os navios de Sadko, deixando-o pobre e forçando-o a trabalhar como barqueiro por doze anos. Nessa narrativa, ele eventualmente recebeu ajuda do espírito do rio, que o recompensou transformando peixes em moedas de prata, restituindo sua fortuna.
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| Arte de Evgeny Bashmakov |
fontes:
- DIXON-KENNEDY, M. Encyclopedia of Russian and Slavic myth and legend. Oxford: Abc-Clio, 1999.
- KENJIK. Былина: Садко (с иллюстрациями) | Сказки Сунгиря. Disponível em: <https://l1nq.com/9zE1Z>
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