— Parece que Brisa Límpida e Lua Brilhante não são tão preguiçosos como eu imaginava. Normalmente, eles não se levantam antes do sol estar bem alto, mas hoje madrugaram para abrir os portões e varrer os pátios. Fico feliz em ver que eles são capazes de serem responsáveis quando eu não estou por perto.
Os imortais menores também ficaram satisfeitos. Mas, ao chegarem ao salão principal, não encontraram nenhum sinal de incenso, fogo ou ser humano. Nem mesmo Brisa Límpida e Lua Brilhante estavam ali.
— Aqueles dois devem ter aproveitado a nossa ausência para nos roubar — disseram, enfurecidos, os imortais.
— Bobagem! — replicou o Grande Imortal. — Como poderiam dois seguidores do Tao fazer uma coisa dessas? O mais provável é que tenham esquecido de fechar as portas antes de irem dormir ontem e ainda não acordaram.
Como uma flecha, dirigiram-se aos aposentos dos dois taoístas. Encontraram as portas fechadas, mas puderam ouvir claramente o som estridente dos seus roncos. Bateram com força na porta, tentando acordá-los, mas tudo foi inútil. Não havia forma de despertá-los. Com muito esforço, finalmente, os imortais conseguiram abrir a porta e arrancar os dorminhocos de seus leitos. No entanto, nem assim conseguiram tirá-los do sono profundo.
— Meus queridos rapazes! — exclamou, rindo, o Grande Imortal. — Aqueles que alcançaram a imortalidade não deveriam ser tão escravos do sono, já que seus espíritos estão livres de toda aflição. Como é possível que estejam tão cansados?
Sem obter alguma reação, o Grande Imortal mudou de expressão e acrescentou em um tom mais preocupado:
— Será que foram vítimas de algum tipo de encantamento? Tragam-me imediatamente um pouco de água.
Um dos discípulos rapidamente lhe entregou uma tigela meio cheia. O Grande Imortal recitou um encantamento e depois borrifou um pouco do líquido no rosto dos dois adormecidos, expulsando, assim, de seus corpos o Demônio do Sono.
Os jovens não tardaram a despertar. Depois de abrirem os olhos com dificuldade e secarem o rosto com as mangas, ficaram muito surpresos ao ver ao redor deles o Senhor, Sósia da Terra, e os outros imortais. Completamente acordados, não lhes ocorreu outra coisa senão se prostrar no chão e dizer, enquanto batiam repetidamente a testa no chão:
— Os monges que vieram do leste, seus supostos amigos, eram na verdade um bando de ladrões!
— Está bem, está bem — replicou o Grande Imortal, tentando acalmá-los. — Tentem se acalmar e nos contem o que aconteceu.
— Pouco depois de vocês partirem — explicou Brisa Límpida —, chegou, vindo das Terras do Leste, um tal monge Tang. Ele estava acompanhado por três discípulos e montava em um cavalo. Seguindo seus desejos, colhemos dois frutos de ginseng e os oferecemos a ele. Mas ele os recusou, incapaz de ver neles o precioso tesouro que por milênios foi guardado neste templo. Ele insistiu que eram crianças renascidas e se recusou terminantemente a prová-los, então não tivemos outra escolha senão comê-los nós mesmos. O que menos esperávamos era que um de seus seguidores, um tal Sun Wukong, descobrisse nosso segredo e roubasse quatro de nossos valiosos frutos. Quando descobrimos, tentamos fazê-lo entender, mas ele se recusou a nos ouvir e, valendo-se da magia de abandonar o corpo em espírito… Oh! Não consigo contar o que aconteceu. É tão doloroso! — e ambos começaram a chorar, tomados por uma terrível angústia.
— Será que esse monge que mencionaram os agrediu? — perguntaram, surpresos, outros imortais.
— Não — respondeu Lua Brilhante. — Foi pior que isso. Ele derrubou a árvore de ginseng!
Curiosamente, ao ouvir uma notícia tão grave, o Grande Imortal não se mostrou zangado. Tentou consolar seus discípulos, dizendo:
— Não chorem mais, por favor. Esse sujeito de quem falam é um imortal da Grande Mônada. Ele possui um poder mágico extraordinário e, em seu tempo, causou um grande tumulto nos Céus. Agora que nossa árvore foi destruída, quero que me digam se podem reconhecer esses monges assim que os virem.
— Com certeza — respondeu Brisa Límpida.
— Nesse caso — concluiu o Grande Imortal —, venham comigo. Os outros podem ir preparando os instrumentos de tortura. Vamos castigá-los assim que eu voltar.
Os imortais obedeceram sem questionar, enquanto o Grande Imortal, Brisa Límpida e Lua Brilhante montaram em uma nuvem e partiram em perseguição à Sanzang. Num piscar de olhos, percorreram mil quilômetros, mas não conseguiram avistar o monge Tang em parte alguma. O Grande Imortal então olhou para o leste e percebeu que havia deixado-os novecentos quilômetros para trás. Apesar de galoparem durante toda a noite sem parar, Sanzang e os seus só haviam avançado cento e vinte quilômetros. O Grande Imortal mudou a direção da nuvem e voltou sobre seus passos.
— Aquele que está deitado debaixo de uma árvore é o monge Tang — exclamou, muito empolgado, um dos jovens.
— Já o vejo — disse o Grande Imortal. — Voltem e preparem as cordas. Eu mesmo vou capturá-lo.
Brisa Límpida e Lua Brilhante voltaram para o templo sem dizer uma palavra. O Grande Imortal, por sua vez, desceu da nuvem e, sacudindo levemente o corpo, transformou-se em um taoísta mendicante. Suas roupas pareciam ter sido remendadas mais de cem vezes, assim como sua faixa, que, de alguma forma, lembrava a de Lü Dongbin (1). Na mão, segurava um espanta-moscas com cerdas de iaque (2), com o qual, de vez em quando, fazia soar um pequeno tambor em forma de peixe. Ele calçava sandálias de palha com três laços e na cabeça ostentava um turbante sinuoso. Suas largas mangas se moviam livremente ao ritmo do vento. Cantando uma canção sobre a lua nova, ele se aproximou de onde estava o monge Tang e disse em voz alta:
— Este pobre taoísta os saúda, levantando respeitosamente as mãos.
— Perdoem-me por não ter sido eu a cumprimentá-lo primeiro — respondeu Sanzang, inclinando-se diante dele.
— De onde vêm e por que pararam para meditar em um lugar como este? — perguntou o Grande Imortal.
— Venho da terra dos Tang e estou indo para o Paraíso Ocidental em busca das escrituras sagradas — respondeu Sanzang.
— Se o que diz é verdade — exclamou o Grande Imortal, fingindo surpresa —, então você deve ter passado pela montanha onde eu habito.
— Que montanha é essa de que fala? — perguntou Sanzang.
— A Montanha da Longevidade — respondeu o Grande Imortal. — Eu vivo em um templo lá, que leva o nome de Templo das Cinco Vilas.
— Não, não. Você está enganado — interveio o Peregrino, assim que ouviu. — Não passamos por lá. Seguimos, na verdade, por outro caminho.
— Maldito macaco! — exclamou o Grande Imortal, apontando firmemente o dedo para ele. — A quem você está tentando enganar? Acha que não sei que foi você quem derrubou a árvore de ginseng e depois aproveitou a escuridão da noite para fugir? Por que tenta negar? O que você deve fazer é trazer imediatamente outra árvore para mim.
O Peregrino ficou furioso ao ouvir tais acusações e recorreu ao seu bastão de ferro. Sem responder uma única palavra ao Grande Imortal, desferiu sobre sua cabeça um golpe terrível. O taoísta desviou-se a tempo, movendo-se para o lado e elevando-se pelos ares.
O Peregrino montou em uma nuvem e iniciou sua perseguição, mas o Grande Imortal recuperou sua forma habitual e enfrentou-o. Na cabeça, usava um chapéu de ouro avermelhado, que destacava a simplicidade de sua túnica adornada com penas de garça. Sua cintura estava amarrada com uma faixa de seda, cujo colorido contrastava com o dos sapatos que calçava. Seu corpo possuía a flexibilidade de um jovem e seu rosto poderia muito bem ser confundido com o de uma donzela, se não fosse por sua barba e seus bigodes chamativos. Algumas penas de corvo adornavam seu cabelo. O mais impressionante, no entanto, era que ele enfrentava o Peregrino sem usar nenhuma arma, exceto seu espanta-moscas de cerdas de iaque com um cabo de jade, o qual brandia ameaçadoramente em suas mãos.
O Peregrino desferiu sobre ele uma série de golpes, mas o Grande Imortal os desviava um após o outro com habilidade singular. Depois de duas ou três rodadas, o taoísta recorreu ao poder de sua magia prodigiosa. De pé na ponta de uma nuvem e de frente para o vento, ele abriu suavemente a ampla manga de sua túnica, tão longa que alcançava o chão. Com um movimento circular que lembrava o de um criado varrendo, ele envolveu e capturou os quatro monges e o cavalo.
— Isso é terrível! — exclamou Bajie, desconcertado. — Estamos dentro de um saco de roupas.
— Não seja idiota! — repreendeu o Peregrino. — Fomos capturados dentro da manga dele.
— Nesse caso, não será muito difícil sair daqui — afirmou Bajie. — Se quiser, posso fazer um buraco com o ancinho neste tecido. Quando escaparmos, podemos dizer que ele foi descuidado e não nos segurou com firmeza, de modo que caímos da manga dele.
Bajie começou a cavar loucamente no tecido com seu ancinho, mas tudo em vão: embora o material fosse macio ao toque, era mais duro que aço do qual o ancinho era feito.
Enquanto isso, o Grande Imortal havia e iniciado o caminho de volta. Assim que retornou ao Templo das Cinco Vilas, sentou-se no salão principal e começou a retirar de sua manga os monges um por um, como se fossem marionetes. O primeiro a sair foi o monge Tang, que não demorou a ser amarrado a uma das grandes colunas do salão. Em seguida, tirou os seus três discípulos e os prendeu em outros três pilares. Finalmente, ele retirou o cavalo e o amarrou no pátio, onde lhe ofereceram um pouco de feno, enquanto a bagagem era lançada em um dos corredores.
— Estes que vocês vêem aqui — disse o Grande Imortal a seus seguidores — são monges, pessoas que renunciaram a família para seguir os caminhos da Verdade. Portanto, não devem ser submetidos a ações de machados, lanças ou espadas. No entanto, eles destruíram nossa árvore de ginseng e merecem um castigo exemplar. Tragam-me o chicote, que pretendo esmagar suas costas, para que aprendam a respeitar os bens alheios.
Os imortais obedeceram sem questionar. O chicote que colocaram em suas mãos não era de pele de vaca, nem de ovelha, nem de búfalo, mas era feito com sete correias de pele de dragão. O Imortal as mergulhou na água e esperou que adquirissem uma flexibilidade extraordinária. Quando tudo estava pronto, um dos imortais mais robustos perguntou:
— Quem o senhor quer que chicoteemos primeiro?
— Sanzang, é claro — respondeu o Grande Imortal. — Afinal, ele é o responsável por todo o grupo.
— O mestre não irá resistir a tal castigo — pensou o Peregrino, alarmado. — Se ele morrer, eu serei o culpado.
Incapaz de controlar sua agitação, levantou a voz e acrescentou:
— Você está muito enganado. O monge Tang não teve nada a ver com tudo isso. Fui eu quem roubou os frutos e depois os comi. Além disso, derrubei sua preciosa árvore com minhas próprias mãos. Por que não me chicoteiam primeiro, em vez de se vingar de meu pobre mestre, que não fez absolutamente nada?
— Dá para ver que você é corajoso e não lhe falta lábia— exclamou, sorrindo, o Grande Imortal. — Está bem. Chicoteie-o primeiro.
— Quantos chicotadas devemos dar? — perguntou um dos discípulos.
— O mesmo número dos frutos que haviam na árvore — respondeu o Grande Imortal. — Trinta.
Um dos imortais menores pegou o chicote e se dispôs a cumprir a ordem de seu senhor. Temendo que o castigo fosse mais forte do que o inicialmente previsto, o Peregrino abriu os olhos o máximo que pôde para descobrir onde ele pretendia desferir os golpes. Foi assim que descobriu que ele iria chicoteá-lo nas pernas. Então, movimentou ligeiramente o corpo e disse:
— Transformem-se! — e imediatamente suas duas pernas adquiriram a dureza do aço.
Com golpes precisos, o imortal deu-lhe trinta chicotadas antes de largar o chicote. Quando terminou, já era perto do meio-dia e, levantando o olhar para o céu, o Grande Imortal disse:
— Acho que agora devemos chicotear Sanzang por não saber dominar seus discípulos e permitir que se comportem como verdadeiros bandidos.
O imortal pegou novamente o chicote, mas o Peregrino o deteve a tempo, gritando:
— Isso que você acabou de dizer também não é verdade, porque, enquanto eu roubava os frutos, meu mestre estava neste mesmo lugar conversando com seus dois discípulos, totalmente alheio ao que estava acontecendo. Você pode acusá-lo de não ser muito rigoroso conosco, mas de maneira nenhuma deve culpá-lo por algo que não fez. Os únicos culpados de tudo somos seus discípulos. Portanto, o melhor que você pode fazer é me chicotear novamente.
— Embora você seja um macaco que não tem respeito por nada — replicou o Grande Imortal —, você possui sentimentos filiais, e isso te honra. Que assim seja, e seu desejo seja atendido! — e novamente, Wukong recebeu trinta chicotadas.
Assim que o castigo terminou, o Peregrino baixou o olhar e constatou que suas duas pernas brilhavam como espelhos. No entanto, ele não sentia nenhuma dor.
O anoitecer estava começando quando o Grande Imortal ordenou:
— Mergulhem o chicote na água até amanhã de manhã. As sessões de castigo terminaram por hoje.
Os imortais assim o fizeram. Assim que terminaram a refeição vespertina, retiraram-se para seus aposentos para descansar. O monge Tang então foi tomado pela angústia e, com os olhos marejados de lágrimas, queixou-se amargamente a seus discípulos de sua sorte, dizendo:
— Sempre acontece a mesma coisa: vocês quebram a lei e depois eu tenho que sofrer as consequências. Será que vocês vão parar de me meter em confusões?
— Pare de lamentar de uma vez — reclamou o Peregrino. — Afinal, até agora só chicotearam a mim. Não sei de onde vem tanta reclamação!
— Está bem — reconheceu o monge Tang. — Você se sacrificou duas vezes por mim. Mas esta corda está machucando meus pulsos.
— Vocês não são os únicos que sofrem — repreendeu-os o Monge Sha. — Todos estamos na mesma situação.
— Parem de discutir! — instou o Peregrino. — Dentro de pouco tempo estaremos seguindo nosso caminho novamente.
— Você está mentindo novamente! — exclamou Bajie. — Essas cordas são de cânhamo molhado. Não pense que vai ser tão fácil se livrar delas. Elas não são como as fechaduras das portas que você abriu tão facilmente com sua magia!
— Eu juro que não estou mentindo — disse o Peregrino. — Minha magia pode com todo tipo de cordas, inclusive as de cânhamo molhado. Para ela, uma corda da grossura de uma tigela de arroz é como um sopro de vento de outono.
Mal havia terminado de falar, quando Wukong percebeu que o templo estava em silêncio absoluto. Compreendendo que era arriscado continuar falando, ele sacudiu o corpo e, de imediato, se viu livre das cordas que o mantinham amarrado.
— Vamos, mestre. Continuemos nossa jornada o quanto antes — disse a Sanzang.
— E nós? Você não pensa em nos salvar? — perguntou, desconcertado, o Monge Sha.
— Claro que sim — respondeu o Peregrino. — Mas seria conveniente que falasse um pouco mais baixo, não acha? — e desatou todos os seus companheiros.
Em seguida, se vestiram, selaram o cavalo e recolheram a bagagem que estava espalhada ao longo de um dos corredores. Ao chegar à porta do templo, o Peregrino se voltou para Bajie e disse:
— Vá até aquele penhasco e me traga quatro salgueiros pequenos.
— Para que você os quer? — indagou-o Bajie.
— Para alguma coisa, não acha? — respondeu o Peregrino. — Apenas faça o que estou pedindo.
Bajie realmente possuía uma certa força bruta. Ele fez como foi instruído, e com um empurrão do seu focinho, derrubou um dos salgueiros. Derrubando mais três, ele os juntou em um feixe e os trouxe de volta. O Peregrino tirou os galhos dos troncos, e os dois carregaram os troncos para dentro, onde os amarraram nas colunas com as cordas com as quais haviam sido amarrados anteriormente. Em seguida, Wukong recitou um feitiço e, mordendo a ponta da língua, cuspiu um pouco de sangue, enquanto gritava:
— Transformem-se!
No mesmo instante, um deles se transformou no monge Tang, outro no Peregrino, e os outros dois tomaram a figura de Bajie e do Monge Sha. Eram exatamente iguais a eles, e o mais impressionante era que sabiam seus nomes e o que responder ao serem questionados.
Terminada essa magnífica obra, Wukong e Bajie retornaram ao lado de seu mestre. Como havia acontecido na vez anterior, não pararam para descansar uma única vez durante toda a noite. Ao amanhecer, Sanzang estava tão cansado que mal conseguia se manter na sela. Ao vê-lo, o Peregrino o confrontou, dizendo:
— Mestre, você é mole demais! Não entendo como uma pessoa que abandonou sua casa pode ser tão fraca. Se eu, o velho Macaco, ficasse sem dormir por mil noites, ainda assim não sentiria fadiga. Bem, é melhor você descer do cavalo, para que os viajantes não vejam sua condição e riam de você. Vamos encontrar um abrigo temporário sob a encosta da montanha e descansar um pouco antes de continuarmos.
Assim que começou a clarear, o Grande Imortal saltou da cama e, após tomar um pequeno desjejum, ordenou aos seus discípulos:
— Tragam o chicote ! Hoje é dia de açoitar Sanzang!
Um dos imortais menores brandiu o chicote e disse ao monge Tang: — Vou te bater!
— Vá em frente! — respondeu o salgueiro, e então recebeu os trinta golpes sem reclamar.
O imortal então se voltou para Bajie e anunciou:
— Agora é a sua vez!
— Vá em frente! — respondeu o outro salgueiro, e sofreu um castigo idêntico.
O mesmo aconteceu com o salgueiro que representava o Monge Sha, mas, quando chegou a vez daquele que encarnava o Peregrino, o verdadeiro Wukong deu um grito de dor e exclamou:
— Algo não está certo.
— O que você quer dizer? — perguntou Sanzang, intrigado.
— Ao transformar os salgueiros em nós mesmos, pensei que não iriam me chicotear de novo e não me protegi com um feitiço adequado. Por isso, agora estou sentindo na carne os golpes que estão dando no meu eu de madeira. Tenho que parar a magia imediatamente! — disse Wukong, e recitou uma fórmula para encerrar o feitiço.
Ao ver a transformação experimentada pelos prisioneiros, os taoístas começaram a tremer de medo. Aquele que estava executando o castigo largou o chicote e correu para informar seu mestre, dizendo:
— Mestre, eu comecei açoitando o monge Tang, mas agora estou apenas golpeando algumas raízes de salgueiro!
Quando o Grande Imortal ouviu essas palavras, ele riu amargamente, dizendo:
— Isso é obra do Peregrino Sun! — exclamou o Grande Imortal, rindo amargamente. — Que macaco mais extraordinário! Eu havia ouvido dizer que, quando se rebelou contra o Céu, ele escapou até das redes cósmicas, mas nunca acreditei. Agora tenho que admitir que esses rumores eram totalmente verdadeiros. Ninguém pode escapar assim tão facilmente do meu poder. Foi muito engenhoso transformar salgueiros em pessoas, mas isso não vai ficar sem castigo. Vou persegui-los agora mesmo.
Ele não tinha acabado de dizer isso quando se elevou por cima das nuvens com um salto. Então, olhou fixamente para o Oeste e logo avistou os quatro monges fugitivos. Um deles estava a cavalo, enquanto os outros carregavam a bagagem. O Grande Imortal se lançou sobre eles como uma águia, enquanto gritava:
— Aonde você pensa que vai, Peregrino Sun? Devolva-me imediatamente a árvore de ginseng!
— Estamos perdidos! — exclamou Bajie. — Nosso inimigo está em cima de nós de novo.
— Por enquanto, esqueçamos a palavra "bondade" — sugeriu o Peregrino. — Permita-nos nos entregar a um pouco de violência e acabar com ele para que possamos escapar.
Ao ouvir isso, o monge Tang começou a tremer, incapaz de articular qualquer palavra. Por sua vez, o Monge Sha pegou seu bastão, e o mesmo fizeram Bajie com o ancinho e o Peregrino com o bastão de ferro. Juntos, eles se elevaram no ar e, cercando o Grande Imortal, começaram a desferir furiosos golpes sobre ele.
Da batalha que se iniciou, existe um poema, que diz:"Wukong não sabia que o Imortal Zhenyuan —
Senhor, Sósia da Terra — era maravilhoso e estranho.
Embora três armas divinas mostrassem seu poder,
Um espanta-moscas de iaque voou com natural facilidade
Para aparar os golpes à esquerda e à direita,
Para bloquear os golpes na frente e atrás.
A noite passou, o dia chegou, ainda não conseguiram escapar!
Quanto tempo levariam para chegar ao Oeste?"
Brandindo suas armas, os três monges se lançaram de uma vez sobre o Grande Imortal, mas ele os enfrentou com seu humilde espanta-moscas com cerdas de iaque. No entanto, não havia nem meia hora de batalha quando o Grande Imortal abriu a manga e, com um único movimento, recapturou os quatro monges, o cavalo e suas bagagens.
Em seguida, ele mudou a direção da nuvem e retornou ao seu templo, onde foi recebido pelos outros imortais.
Sem perda de tempo, sentou-se no salão principal e começou a tirar os prisioneiros de sua manga, um a um.
Desta vez, o monge Tang foi amarrado a uma pequena árvore huai que havia no pátio, enquanto o Monge Sha e Bajie foram acorrentados a outras duas árvores que cresciam ao lado. O Peregrino, por sua vez, foi deixado no chão, embora fortemente amarrado.
— Imagino que eles pretendem me interrogar primeiro — pensou o Peregrino.
Depois que os imortais terminaram de amarrar os prisioneiros, eles foram instruídos a trazer dez grandes fardos de tecido, o que fez o Peregrino soltar uma gargalhada enquanto dizia:
— Pelo visto, Bajie, esse cavalheiro tem a intenção de nos fazer alguns trajes. Poderíamos aproveitar a ocasião e pedir para ele confeccionar também algumas túnicas de monge (3).
O Grande Imortal não prestou atenção às suas palavras. Quando todos os pedaços de tecido estavam prontos, ele se voltou para seus subordinados e ordenou:
— Agora envolvam Tang Sanzang, Zhu Bajie e Sha Wujing com eles.
Os imortais cumpriram suas ordens sem demora.
— Fantástico! — exclamou o Peregrino no mesmo tom irônico de antes. — Estamos prontos para ser enterrados vivos!
Depois que eles foram embrulhados, os taoístas trouxeram um barril de laca que eles mesmos haviam feito, e o Grande Imortal deu a ordem para que os tecidos que envolviam os monges fossem completamente revestidos com ela. Apenas seus rostos ficaram descobertos.
— Fico feliz que não tenham coberto nossas cabeças — disse Bajie. — Mas vocês se importariam de fazer também um buraco na parte de baixo para podermos nos aliviar quando precisarmos?
Sem prestar a menor atenção ao que Bajie falava, o Grande Imortal ordenou que trouxessem um enorme caldeirão.
— Que sorte, Bajie! — gritou o Peregrino, rindo. — Parece que eles têm a intenção de nos alimentar.
— Para mim, não há problema em que o façam — afirmou Bajie. — Assim, se morrermos, seremos pelo menos espíritos bem alimentados.
Os diversos imortais trouxeram o enorme caldeirão e o colocaram diante dos degraus do salão principal. Depois de dar a ordem para que fizessem um grande fogo com bastante lenha seca, o Grande Imortal disse:
— Agora encham o caldeirão com óleo e, quando estiver fervendo, coloquem o Peregrino Sun dentro e frite-o bem. Esse será o pagamento por ele ter destruído a árvore de ginseng.
— Isso é exatamente o que eu quero — pensou o Peregrino, muito satisfeito. — Faz muito tempo que não tomo um banho e minha pele está tão seca que às vezes causa coceiras insuportáveis. Vai me fazer bem me esquentar um pouco.
Não demorou muito para que o óleo começasse a ferver. No entanto, o Sábio tomou precauções. Temendo que pudesse haver algum tipo extraordinário de magia que ele não poderia controlar uma vez que estivesse dentro do caldeirão, deu uma olhada rápida ao redor. No leste, viu um pequeno terraço com um relógio de sol no topo, enquanto no oeste ergueu-se um artístico leão de pedra. Ele então rolou até lá, mordeu a ponta da língua e cuspiu sangue sobre o leão, dizendo:
— Transforme-se!
Imediatamente, ela se transformou em sua própria imagem. Não faltava um único detalhe, incluindo as correntes e seu olhar de fogo. Satisfeito com tão esplêndida obra, o verdadeiro Peregrino se elevou pelo ar e passou a observar o que os taoístas estavam fazendo.
Justamente naquele momento, um dos imortais se aproximou de seu senhor e informou:
— O óleo já está pronto.
— Nesse caso — concluiu o Grande Imortal —, peguem o Peregrino Sun e coloquem-no dentro.
Quatro dos jovens imediatamente se dispuseram a cumprir a ordem, mas, para sua surpresa, nem sequer conseguiram levantá-lo do lugar. Logo se juntaram a eles mais oito; no entanto, o resultado foi o mesmo. Desconcertados, solicitaram a ajuda de outros quatro companheiros. Tudo foi em vão. Não conseguiram mover nem um milímetro.
— Parece que esse macaco gosta muito de terra — comentou um dos imortais. — Se não, não entendo como não conseguimos levantá-lo do chão, porque ele não é tão grande assim.
Tiveram que vir mais quatro imortais para conseguirem, com grande dificuldade, erguer o macaco e lançá-lo no caldeirão. Seu peso era tão enorme que o óleo espirrou em todas as direções, queimando os taoístas e causando-lhes horríveis bolhas no rosto. No entanto, sua atenção foi desviada pelos gritos do imortal que estava alimentando o fogo.
— O caldeirão está vazando! — dizia, desesperado. — Está vazando óleo por todos os lados!
Mal ele havia dito essas palavras, quando todo o óleo desapareceu por completo. O que viram dentro do caldeirão com o fundo perfurado era um leão de pedra.
— Maldito macaco! — exclamou o Grande Imortal, enfurecido. — Nunca vi ninguém tão esguio como ele. Como é possível que ele tenha escapado bem debaixo do meu nariz? Além disso, por que ele teve que destruir meu caldeirão? Não bastava ele apenas escapar? Tenho que admitir que não há maneira de pegá-lo, porque, quando você acha que conseguiu, o mais certo é que esteja agarrando uma sombra. É como lidar com mercúrio ou tentar capturar o vento. Está bem. Que ele vá e nos deixe em paz. Desamarrem Sanzang e tragam um novo caldeirão. Vamos fritá-lo para vingar a destruição da nossa árvore de ginseng.
Os imortais obedeceram imediatamente. Foram até onde estava o monge Tang e começaram a arrancar o tecido coberto de laca.
— O mestre está em uma situação realmente desesperadora — pensou o Peregrino, alarmado, do alto. — Se o colocarem nesse caldeirão, o primeiro fervor vai matá-lo, o segundo vai queimá-lo e o terceiro e o quarto o transformarão em um pedaço de carne totalmente irreconhecível. Não tenho outra escolha senão tentar salvá-lo o quanto antes.
Com pressa, Wukong desceu das nuvens e se dirigiu ao salão principal.
— Deixem meu mestre em paz — gritou, com firmeza. — Se estão decididos a fritar alguém, por que não me colocam no caldeirão?
— Maldito macaco! — exclamou, surpreso, o Grande Imortal. — Como você se atreve a ser tão insolente depois de ter arruinado meu caldeirão?
— Você teve a má sorte de encontrar comigo — respondeu o Peregrino, soltando uma gargalhada. — Além disso, qual é a razão de me culpar por tudo? Justamente quando estava prestes a desfrutar de sua hospitalidade na forma de óleo fervente, eu senti vontade de me aliviar. Temi que, ao fazê-lo no seu caldeirão, pudesse estragar o óleo e depois não servir para cozinhar. Agora que estou completamente aliviado, estou disposto a entrar no seu caldeirão. Qual é a razão de querer fritar meu mestre? Fritem a mim e pronto.
Quando o Grande Imortal ouviu essas palavras, ele riu sinistramente e abandonou o salão disposto a por suas mãos no Peregrino. Não sabemos o que aconteceu em seguida, ou se o Peregrino conseguirá escapar novamente. Quem quiser descobrir terá que ouvir as explicações que serão oferecidas no próximo capítulo.
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Notas do Capítulo XXV
- Lü Dongbin é um dos Oito Imortais Taoístas.
- Os grandes mestres da antiguidade frequentemente utilizavam um espanta-moscas com cerdas de iaque para espantar insetos ou simplesmente limpar o pó. Com o tempo, isso adquiriu um sentido cerimonial e simbólico, sendo usado por mestres taoístas e budistas como uma expressão de sua pureza e desapego das realidades mundanas.
- No original, diz-se "sinos de monge", mas está claro que se refere às suas vestimentas, já que as túnicas dos clérigos eram popularmente conhecidas como sinos.
- Tradução em pt-br por Rodrigo Viany (Sleipnir). Favor não utilizar sem permissão.
- Tradução baseada na tradução do chinês para o espanhol feitas por Enrique P. Gatón e Imelda Huang-Wang, e do chinês para o inglês feita por Collinson Fair.
fontes consultadas para a pesquisa:
25% da obra foi concluida, parabéns. Você ainda não tem ideia da importância desse trabalho na sua vida (falo pelo lado positivo!). O jogo do Wukong, lhe deu um vislumbre do que eu digo. Então, muita sorte e empenho. Conto com você.
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