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Ushi no Koku Mairi (丑の刻参り; também chamado Ushi no Toki Mairi, 丑の時参, “visita ao santuário na hora do boi”) é um ritual de maldição japonês associado à "magia negra" e ao folclore popular. Considerado um dos feitiços mais temidos do Japão, é tradicionalmente realizado durante a Hora do Boi (entre 1h e 3h da manhã), período tido como o mais sombrio da noite, quando a fronteira entre o mundo dos vivos e dos mortos estaria mais frágil e quando espíritos malignos, yūrei e yōkai possuiriam maior poder.
Ritual
O ritual consiste em confeccionar uma boneca de palha (wara ningyō, 藁人形) que representa a vítima desejada. Para maior eficácia, a boneca deve conter algo da pessoa amaldiçoada, como cabelo, unhas, sangue ou pele. Em alternativa, pode-se usar uma fotografia ou o nome escrito em papel. O praticante veste então um traje ritual e, em segredo, dirige-se a um santuário xintoísta, escolhendo uma árvore sagrada (shinboku) como alvo. A boneca é pregada à árvore com longos pregos de ferro (gosunkugi, 五寸釘), ato simbólico que representaria a quebra da barreira entre o mundo dos vivos e o dos espíritos.
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| "Ushinotokimai", de Toriyama Sekien , presente no Konjaku Gazu Zoku Hyakki |
A prática deve ocorrer de forma oculta, pois, segundo a crença, caso o executor seja visto, a maldição recairá sobre ele. Testemunhas, por isso, deveriam ser mortas. O número de noites varia conforme a tradição: algumas versões falam em sete noites consecutivas, com o último prego cravado na cabeça da boneca para provocar a morte da vítima.
Os efeitos da maldição também diferem segundo o relato: em alguns casos, a vítima adoece e morre; em outros, sente dores equivalentes às regiões em que a boneca foi pregada, lembrando práticas semelhantes ao vodu. Outras versões descrevem o ritual como uma invocação, trazendo yōkai ou espíritos vingativos que atormentam e destroem a vítima. Há ainda narrativas em que o praticante, ao final, se transforma em um poderoso oni ou numa kijo ("mulher demônio", uma espécie de oni feminino).
Toriyama Sekien, em sua obra Konjaku Gazu Zoku Hyakki (今昔画図続百鬼, "Os Cem Demônios Ilustrados do Presente e do Passado"), e Katsushika Hokusai, em suas gravuras, retrataram mulheres realizando o ritual, frequentemente acompanhadas por um boi negro ao seu lado. Segundo algumas tradições, após a sétima noite de visita, o praticante deveria encontrar o animal deitado e, ao atravessá-lo, a maldição se completaria. Caso, porém, demonstrasse medo diante do boi, acreditava-se que o feitiço perderia sua eficácia.
Traje ritual
O traje é parte essencial do Ushi no Koku Mairi e simboliza a transformação do praticante em um ser demoníaco. A forma mais conhecida, datada do período Edo, inclui:
- quimono branco com obi e o rosto coberto de pó branco;
- um tripé invertido na cabeça, com velas acesas em suas pernas;
- um espelho xintoísta sobre o peito;
- uma adaga presa ao cinto;
- sandálias geta altas de um só dente (ou pés descalços);
- um pente de madeira (ou navalha) segurado entre os dentes, para garantir silêncio no santuário.

Origens e história
As origens do ritual são incertas. Artefatos do século VIII, como bonecas de madeira atravessadas por pregos de ferro, encontrados em escavações no Japão, sugerem práticas semelhantes desde a introdução do ferro no arquipélago. Arqueólogos também descobriram tábuas com figuras humanas perfuradas, associadas a maldições. Sabe-se que os onmyōji (feiticeiros do yin-yang) do período Heian (794–1185) já utilizavam bonecas para rituais de feitiçaria.
Antigamente, a visita noturna a santuários na Hora do Boi estava ligada a orações secretas, consideradas mais eficazes, mas gradualmente transformou-se em prática de maldição. Um dos primeiros registros literários aparece no épico Heike Monogatari (período Kamakura), em que a mulher amaldiçoada pelo ritual transforma-se na entidade monstruosa Hashi Hime. A peça Noh Kanawa (Muromachi, 1337–1573) consolidou a associação entre bonecas de maldição e o traje demoníaco, configurando o Ushi no Koku Mairi como hoje é conhecido.
Durante o período Edo, o ritual foi amplamente difundido em coleções de histórias sobrenaturais (kaidan-shū) e em ilustrações que mostravam a execução do feitiço e a presença de espíritos malignos aguardando a invocação.
Locais associados
Alguns santuários se tornaram notórios pela prática do Ushi no Koku Mairi, especialmente o Kifune Jinja e o Jishu Jinja, em Kyōto, e o Ikurei Jinja, na província de Okayama. Funcionários desses locais ocasionalmente encontram bonecas de palha pregadas em árvores até os dias atuais.
Na atualidade
Embora o ritual seja considerado parte do folclore, ainda existem referências modernas a sua prática. Kits completos de Ushi no Koku Mairi podem ser adquiridos pela internet, mas a realização do feitiço pode resultar em penalidades legais sob a legislação japonesa.

fontes:
- Ushi no Koku Mairi – Shrine Visit at the Hour of the Ox. Disponível em: <http://hyakumonogatari.com/2013/01/03/ushi-no-koku-mairi-shrine-visit-at-the-hour-of-the-ox/>.
- Ushi no koku mairi | Yokai.com. Disponível em: <https://yokai.com/ushinokokumairi/>.
Ushi no Koku Mairi




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