۞ ADM Sleipnir
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| Arte de William Lahemar-boisseau |
Tlazolteotl (do náuatle clássico Tlāzōlteōtl) é uma deusa asteca, associada ao sexo, luxúria, pecado, fertilidade, impureza, purificação, confissão, e também à morte causada pelo desejo. Sua natureza paradoxal, de provocar o pecado e ao mesmo tempo perdoá-lo, faz dela uma das mais complexas e fundamentais divindades do panteão asteca.
Estudos arqueológicos e etnográficos indicam que Tlazolteotl possui origens pré-astecas, sendo possivelmente derivada de uma antiga deusa-mãe huasteca da região costeira do Golfo do México. Quando os astecas expandiram seu império, ela foi assimilada ao panteão mexica, incorporando características do politeísmo central e do sistema ritual de Tenochtitlán.
Tlazolteotl rege a 13ª trecena do calendário sagrado asteca Tōnalpōhualli, que se inicia com o dia Ce Ōllin ("Primeiro Movimento"). Seu símbolo animal é o jaguar, representando força, instinto e os aspectos noturnos da sexualidade e da transformação.
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| Arte de MoloNiebla |
Etimologia e Epítetos
O nome Tlazolteotl deriva das palavras náuatles tlazolli (“imundície”, “sujeira”, também com o sentido de pecado) e teōtl (“deus” ou “divindade”), significando literalmente "deusa da imundície" ou "deusa da sujeira". Ela também era conhecida por outros nomes e títulos que refletiam diferentes aspectos de sua natureza:
- Tlahēlcuāni – “A que come sujeira” (ou “a que devora o pecado”);
- Tlazōlmiquiztli – “A morte causada pela luxúria”;
- Ixcuina ou Ixcuinan – “Senhora do Algodão”.
Sob o nome Ixcuinan, Tlazolteotl era entendida como uma divindade quadripartida, composta por quatro irmãs ou manifestações femininas conhecidas como as Ixcuinammeh (ou Tlazōltēteoh):
- Tiyacapan – a primogênita;
- Tēicuih (ou Tēiuc) – a irmã mais nova;
- Tlahco (ou Tlahcoyēhua) – a irmã do meio;
- Xōcotzin – a mais jovem.
Essas irmãs representavam diferentes fases da vida feminina e eram ligadas ao desejo, à vaidade, ao prazer e à fertilidade. Elas também personificavam o luxo e o excesso.
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| Ixcuinammeh, por MoloNiebla |
Deusa do Pecado e da Confissão
Tlazolteotl é uma das poucas divindades da mitologia mesoamericana que incorpora a ideia de pecado moral, sendo aquela que incita ao desejo carnal, mas também a que perdoa e purifica. A concepção asteca de impureza era tanto física quanto espiritual, e ela era invocada nos rituais de confissão e absolvição conduzidos por sacerdotes especializados chamados tlapouhqui.
O perdão de Tlazolteotl podia ser concedido apenas uma vez na vida, e geralmente era buscado por pessoas idosas próximas à morte. O processo envolvia a escolha ritual de uma data propícia por meio do calendário tōnalpōhualli, confissão oral, aplicação de penitências e banhos rituais em temazcales (banhos de vapor).
Purificação e a Simbologia da Sujeira
A purificação operada por Tlazolteotl envolvia o conceito simbólico da "comida de sujeira": a deusa "devorava" o pecado dos fiéis — representado como imundície — e, assim, promovia a sua purificação espiritual. Isso se relacionava diretamente à ideia náuatle de que tlazolli podia ser tanto um dejeto quanto uma falha moral.
Tlazolteotl também era chamada de "Deusa do Excremento Divino", e algumas representações a mostram com manchas ocre próximas da boca e do nariz, sugerindo que ela literalmente se alimentava da sujeira espiritual dos humanos. Há uma conexão simbólica entre as palavras náuatles para "divino", "ouro" e "excremento", como o termo teocuitlatl (“excremento sagrado”, também usado para se referir ao ouro), reforçando a ambivalência de seu culto.
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| Arte de Excruciator |
Doenças e Punições
Segundo a crença asteca, Tlazolteotl e suas manifestações podiam punir os indivíduos que se entregassem a prazeres ilícitos, enviando-lhes doenças, especialmente aquelas de natureza sexual, como as doenças venéreas. A única forma de cura era por meio de rituais de purificação, banhos de vapor e confissão.
Culto e Festival de Ochpaniztli
Tlazolteotl era uma das divindades principais veneradas durante o festival de Ochpaniztli (“O Ato de Varrer”), celebrado entre 2 e 21 de setembro, no início da estação de colheita. As cerimônias incluíam rituais de limpeza, varrição cerimonial, reparos comunitários, semeadura de milho, danças e cerimônias militares. O festival simbolizava a renovação da terra e a eliminação das impurezas sociais e espirituais.
Cultura Popular
- Tlazolteotl é uma das muitas divindades a aparecerem na franquia de jogos Shin Megami Tensei;
- No filme Os Caçadores da Arca Perdida, o artefato fictício, o Ídolo Dourado , é baseado na figura real do parto asteca de Dumbarton Oaks. Presume-se que o artefato seja uma representação de Tlazolteotl.
fontes:
- Goddess of the month: Tlazolteotl. Disponível em: <https://www.mexicolore.co.uk/aztecs/gods/goddess-of-the-month-tlazolteotl>.
- Tlazolteotl. Disponível em: <https://pueblosoriginarios.com/meso/valle/azteca/dioses/tlazolteotl.html>.
- BINGHAM, A.; ROBERTS, J. South and Meso-American Mythology A to Z. [s.l.] Infobase Publishing, 2010.
- ROBELO, C. A. Diccionario de mitología nahoa. [s.l: s.n.].
Tlazolteotl





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