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Atargatis é uma deusa da mitologia síria, associada à fertilidade, às águas e à proteção das cidades, cujo culto se expandiu para a Mesopotâmia, a Grécia, Roma e outras regiões do Mediterrâneo. Sua denominação original permanece incerta. Nas fontes gregas aparece como Derketo ou Ceto, enquanto em Roma era invocada como Dea Syria (“a Deusa Síria”). Filólogos sugerem que o nome derive de formas aramaicas como 𐡏𐡕𐡓𐡏𐡕𐡄 (ʿAttarʿattā), possivelmente significando “divina Ata”. Outros a relacionam etimologicamente a Ishtar e Astarte, antigas deusas mesopotâmicas e fenícias da fertilidade e do amor.
Ao longo da tradição, Atargatis recebeu múltiplos epítetos e variantes: Atarate, Atergatis, Ataryatis, Atharate, Derketo, Tar-Ata e Ata, possivelmente seu nome mais antigo. Em certos cultos tardios, foi também identificada a Afrodite sob o epíteto Hagne. Alguns estudiosos sugerem que sua figura resultou da fusão de diferentes deusas do Levante, como Anat, Astarte e Asherah, herdeiras das tradições religiosas de Ugarit na Idade do Bronze.
Iconografia
As representações de Atargatis variavam conforme a região. Em Ashkelon, predominava a forma de sereia, com corpo de peixe e torso humano. Já em Hierápolis, era retratada de forma antropomórfica: entronizada, ladeada por leões, com coroa mural, cetro e fuso — símbolos de soberania, destino e fertilidade. Moedas e relevos a mostram cavalgando leões, coroada com golfinhos ou emergindo das águas, sempre com forte ênfase em sua ligação com o mar e a fecundidade. Seus olhos, muitas vezes incrustados com pedras preciosas, conferiam às imagens aspecto vivo e vigilante.
Mitologia
Segundo o mito sírio, Atargatis teria descido dos céus na forma de um ovo cósmico, do qual emergiu como uma mulher-peixe — união simbólica dos elementos celestes e aquáticos. Por essa narrativa, é considerada a “mãe das sereias”.
Outra tradição conta que, invejada por uma rival, foi amaldiçoada a se apaixonar por um belo mortal, com quem teve uma filha: Semíramis, a futura rainha assíria. Após o nascimento, deixou a criança no deserto para ser alimentada por pombas, suas aves sagradas, e lançou-se em um lago, transformando-se na mãe-peixe onipotente. Em honra a essa metamorfose, os sírios antigos abstinham-se de comer peixes e pombas, consagrando-os como animais invioláveis.
Além de deusa das águas, Atargatis também foi venerada como soberana da vegetação, coroada por muralhas e ladeada por leões; como deusa celeste, cercada de águias; ou como divindade marinha coroada por golfinhos. Alguns mitógrafos a mencionam como consorte do deus Hadad, o senhor das tempestades, reforçando sua ligação com a fertilidade da terra.
O mito de Combabus
O escritor Luciano de Samósata preservou um célebre episódio ligado à fundação do templo de Hierápolis. A rainha assíria Estratonice recebeu em sonho a ordem de reconstruir o santuário de Atargatis. Para acompanhá-la, foi designado o nobre Combabus. Temendo a reputação da rainha, ele castrou-se voluntariamente e guardou seus genitais preservados em mel como prova de castidade.
Quando a rainha, apaixonada, foi dissuadida pela revelação de sua mutilação, rumores de adultério levaram Combabus a julgamento. Ao apresentar a caixa selada ao rei, provou sua inocência. Em seguida, dedicou sua vida à deusa, tornando-se sacerdote e estabelecendo o modelo do clero eunuco que marcaria o culto de Atargatis.
Culto e sacerdócio
Os templos dedicados à Atargatis eram caracterizados por tanques com peixes sagrados e pombais em árvores consagradas. O santuário de Hierápolis (antiga Bambyce) tornou-se um dos mais célebres do Oriente, descrito como magnífico e adornado com ouro, prata e pedras preciosas. Seu sacerdócio era formado por eunucos devotos que, em rituais extáticos, dançavam, tocavam música e se autoflagelavam. O ato de castração, inspirado no exemplo de Combabus, simbolizava a entrega total à deusa.
Fora de Hierápolis, templos foram erguidos em Ashkelon, Edessa, Dura-Europos, Palmira e Petra. Entre os nabateus, Atargatis ocupava posição central, refletindo a importância do princípio feminino em sua religiosidade.
Sincretismo e expansão
Atargatis foi amplamente sincretizada com divindades do mundo mediterrânico, aproximando-se de Afrodite, Cibele, Reia e Hera. Essa flexibilidade permitiu que seu culto florescesse sob o Império Romano, expandindo-se como o da Dea Syria. Sacerdotes itinerantes difundiram sua devoção por diversas províncias, chegando à Sicília, Delos e Roma. Assim, Atargatis consolidou-se não apenas como deusa das águas e da fertilidade, mas também como guardiã universal das cidades, da ordem cósmica e do destino.
fontes:
- CHARLES RUSSELL COULTER; TURNER, P. Encyclopedia of ancient deities. Oxford ; Toronto: Oxford University Press, 2001.
- MONAGHAN, P. Encyclopedia of goddesses and heroines. Novato, California: New World Library, 2014.
- Atargatis, the Phoenician Great Goddess. Disponível em: <https://www.thaliatook.com/OGOD/atargatis.php>.
Atargatis




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