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14 de setembro de 2023

Onze Anos de Portal dos Mitos!

Hoje o blog completa onze anos de existência, e não poderia deixar de vir aqui e agradecer a todos que acompanham o meu trabalho desde o início lá em 2012. Como dito em um de meus últimos posts, ando muito ocupado e por isso não estou podendo postar na frequência de antes. Mas continuo pesquisando e rascunhando novos posts que em breve darão o ar da graça por aqui. E tenho dedicado um momento para continuar a traduzir a Jornada ao Oeste, que não vai parar de ser publicada.

Obrigado a todos pelo apoio e por prestigiarem o Portal dos Mitos com sua visita. Viva 11 anos de blog (e contando...)

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12 de setembro de 2023

Kuvalayapida

۞ ADM Sleipnir

Kuvalayapida (Kuvalayāpīḍa, sânscrito कुवलयापीड) é na mitologia hindu o nome de um enorme elefante (ou um asura em forma de elefante) pertencente à Kamsa, tio de Krishna e o rei tirânico de Mathura. Kamsa estava destinado a ser morto por Krishna, e por isso estava sempre tentando de alguma forma assassinar seu futuro algoz. Uma dessas tentativas foi fazer com que Krishna fosse pisoteado por Kuvalayapida, o qual era conhecido por sua violência e temperamento. Como já o havia utilizado em diversas batalhas, todas elas fatais para os seus adversários, Kamsa estava otimista que desta teria sucesso em seu intento. 

Kamsa organizou um festival de lutas como um chamariz para atrair Krishna e Balarama. Ele então convocou Angaraka, o chefe cornaca (tratador de elefantes) e ordenou que ele usasse Kuvalayapida para dar fim nos dois jovens. Angaraka deveria garantir que os dois não fossem capazes de escapar com vida. Angaraka então selecionou uma rua estreita pela qual Krishna e Balarama teriam que passar para alcançar a arena onde o festival ocorreria, e decidiu estacionar Kuvalayapida no caminho.

Krishna e Balarama haviam terminado sua rotina matinal habitual, quando ouviram o som de tambores batendo vindo da arena. Eles imediatamente se prepararam para ir até o local e participarem da diversão, porém, ao chegarem no caminho que levava à arena, se depararam com um enorme elefante montado por Angaraka, que deliberadamente bloqueava o seu caminho. Com uma voz grave, questionou Angaraka sobre o porquê dele estar bloqueando o caminho para a arena, porém o cornaca recusou-se a respondê-lo. Krishna então ameaçou mandar tanto Angaraka quanto o elefante para a morada de Yama.

Angaraka ficou irritado com a atitude de Krishna e incitou Kuvalayapida a atacar os irmãos. O animal correu em direção a Krishna, e o segurou com sua tromba, tentando em seguida derrubá-lo no chão. Krishna por sua vez desferiu um soco no elefante, que sentindo a dor do golpe, deixou-o cair no chão. Krishna então se escondeu entre as quatro patas de Kuvalayapida, enquanto o elefante lutava para encontrá-lo. 

Quando ele finalmente conseguiu avistar Krishna, tentou agarrá-lo novamente com sua tromba, mas ele escapou novamente. Krishna então pegou o animal pelo rabo e começou a provocá-lo. Irritado e frustrado, Kulavayapida deu voltas e mais voltas tentando agarrar Krishna, que por sua vez continuou a se divertir às custas do elefante. Ele golpeava seu rosto, e em seguida se escondia atrás do enorme animal, que de tanto girar acabou perdendo o equilíbrio e caindo no chão.  Para enganá-lo, Krishna fingiu também cair no chão. Kulavayapida se levantou, e vendo Krishna caído, correu em sua direção tentando crava suas presas nele. Quando parecia que ia ser atingido, Krishna se esquivou do golpe, e Kulavayapida acabou enterrando suas presas no chão.

Com muita dificuldade, o elefante acabou se libertando, e incitado novamente por Angaraka, correu furioso em direção a Krishna. Desta vez, Krishna agarrou sua tromba e o derrubou no chão com muita facilidade. Ele então subiu em Kulavayapida e quebrou uma de suas presas, para em seguida usá-la para matar tanto o elefante quanto Angaraka. Com o caminho liberado, Krishna e Balarama puderam finalmente entrar na arena, onde derrotariam os vários guerreiros enviados por Kamsa para matá-los para no fim, conforme foi profetizado, pôr um fim na vida do próprio Kamsa.



fontes:

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5 de setembro de 2023

A Jornada ao Oeste: Capítulo XII

 ۞ ADM Sleipnir


CAPÍTULO XII:

O IMPERADOR DOS TANG CELEBRA A GRANDE CERIMÔNIA DOS MORTOS. GUANYIN CONVERTE A CIGARRA DOURADA.

Envoltos em um redemoinho de vento negro, o guarda demônio levou Liu Quan e sua esposa direto para a cidade de Chang-An. O demônio deixou o espírito do homem no Pavilhão Dourado, levando o de Li Cuilian para o palácio. Naquele exato momento, a princesa Li Yuying estava passeando entre as sebes de flores. Sem perder tempo, o demônio se lançou sobre ela e arrancou sua alma, substituindo-a pela de Li Cuilian. Com sua missão cumprida, ele voltou às pressas para a Região das Trevas.

Ao ver a princesa sem vida no chão, as criadas correram para o Salão dos Sinos Dourados para informar a rainha do ocorrido, gritando:

- A princesa caiu e morreu!

Em pânico, a rainha foi por sua vez até Taizong, que exclamou, suspirando e balançando a cabeça:

- Então era verdade o que me contaram! Perguntei ao Rei das Trevas se meus familiares corriam algum perigo e ele respondeu: "Todos chegarão a uma idade muito avançada, exceto sua irmã mais nova, cujos dias infelizmente estão contados." Parece que eles não estavam errados.

Todo o palácio se pôs a chorar pela princesa. Porém, quando chegaram ao ponto exato onde ela havia caído, constataram, atônitos, que ela ainda respirava. Taizong então voltou-se para seus acompanhantes e exortou-os, louco de alegria:

- Parem de chorar! Não a assustem! 

Então ele se inclinou sobre ela e, erguendo sua cabeça com cuidado, disse-lhe:

 - Acorde, irmã! Acorde!

A princesa virou-se e disse, como se estivesse sonhado:

- Não ande tão rápido, meu marido. Espere por mim!

- Estamos todos ao seu lado, irmã - respondeu Taizong, tentando animá-la. - Acalme-se. Prometo que não vamos te abandonar – e ergueu um pouco mais a cabeça dela.

A princesa então abriu os olhos e, olhando em volta, exclamou, mal humorada:

- Quem te deu permissão para me tocar? Posso saber quem você é?

- Eu sou seu irmão - respondeu Taizong, perplexo -, e essa que vês aqui, sua cunhada.

- Desde quando eu tenho um irmão e uma cunhada? - respondeu a princesa, ainda mais furiosa. - Eu sou Li Cuilian e meu marido, Liu Quan, ambos originalmente de Zunzhou. Cerca de três meses atrás, dei a um monge como esmola um de meus grampos de cabelo de ouro bem na frente de nossa casa. Meu marido viu e me repreendeu severamente por não ter exercido a discrição que se espera de uma mulher casada. Isso me deixou tão deprimida que corri para o meu quarto e me enforquei com uma faixa de seda branca, deixando duas crianças que choravam dia e noite sem parar. Felizmente, quando meu marido desceu à Região das Trevas para entregar os melões do Imperador dos Tang, o Rei Yama teve pena de nós, permitindo que voltássemos à vida juntos. Meu marido estava um pouco à minha frente. Tentei alcançá-lo, mas tropecei e caí no chão. Onde ele está? Por que você se atreve a me tocar, se você não me conhece? Não entendo como podem haver pessoas tão rudes!

- Minha irmã enlouqueceu após a queda -, Taizong comentou com as pessoas ao seu redor. - Não entendo como ela pode dizer tantas bobagens - e mandou levá-la para dentro do palácio, para que, sem perda de tempo, lhe aplicassem um remédio. 

Mas ainda não haviam chegado à porta, quando um dos criados veio correndo e disse, muito alterado:

- Majestade, o homem que enviou com os melões voltou à vida e está lá fora esperando por suas ordens.

Assustado, o Imperador dos Tang ordenou que ele fosse imediatamente trazido à sua presença. Após Liu Quan prostrar-se diante de Taizong, o imperador perguntou-lhe:

- Você cumpriu a missão que lhe ordenei?

- Seu servo - respondeu Liu Quan - foi direto ao Portão dos Espíritos com os melões na cabeça. Ao tomarem conhecimento do propósito de minha visita, os guardas que a guardavam me conduziram ao Salão das Trevas, onde fui recebido pessoalmente pelos Dez Reis do Submundo. Entreguei-lhes os melões e ponderei tanto quanto pude sobre a vossa generosidade e o elevado sentimento de gratidão que possui. O rei Yama ficou muito satisfeito e, por sua vez, elogiou sua forma de agir, dizendo: "Aquele Taizong é, de fato, um homem de palavra."

- O que você viu na Região das Trevas? - o imperador perguntou novamente.

- Não fui muito longe e por isso não pude ver muito - respondeu Liu Quan. - O rei Yama me interrogou sobre meu nome e meu local de nascimento. Expliquei-lhe então que me ofereci para cumprir sua promessa, porque minha esposa havia se suicidado, deixando-me sozinho com os nossos filhos. Ouvindo isso, ele imediatamente ordenou que um guarda demoníaco trouxesse minha esposa. Dessa forma, finalmente pudemos nos encontrar no Salão das Trevas. Enquanto isso, eles deram uma olhada no Livro da Vida e da Morte e viram que nós dois estávamos destinados a viver até uma idade muito avançada; portanto, eles ordenaram mais uma vez que o guarda demoníaco nos acompanhasse, mas desta vez até os portões da vida. Fui adiante e perdi minha esposa de vista, que, aliás, não sei para onde foi.

- O Rei Yama disse algo sobre sua esposa? - Taizong perguntou novamente, alarmado.

- Não muito - respondeu Liu Quan. - O que eu lembro é que o guardião comentou que Li Cuilian estava morta há tanto tempo que seu corpo já devia estar completamente corrompido. Mas o Rei Yama o tranquilizou, dizendo: "Li Yuying, a irmã do imperador, está prestes a morrer. Deixe-a usar seu corpo para voltar à vida." De minha parte, posso garantir que não sei quem é sua irmã ou onde ela mora. E, claro, não vou levantar um único dedo para encontrá-la.

Satisfeito com esta informação, Taizong voltou-se para os oficiais ao redor e disse:

- Ao despedir-me do rei Yama, perguntei-lhe sobre o destino que aguardava a todos os habitantes do palácio, ao que ele respondeu que apenas a minha irmã corria perigo iminente de morte. Sua previsão acaba de se tornar realidade, pois, como todos sabem, ela morreu após uma queda no jardim. Em todo caso, quando vim em seu socorro, ela pareceu recobrar a consciência e gritou, visivelmente aflita: "Não ande tão rápido, meu marido. Espere por mim!". Todos pensamos que a queda a havia perturbado, mas quando questionada novamente sobre o que havia acontecido, ela respondeu exatamente o que Liu Quan acabou de dizer.

- Se o que você nos contou é verdade - concluiu Wei Zheng -, é muito provável que a esposa de Liu Quan tenha voltado à vida, pegando emprestado o corpo de sua augusta irmã. Por que você não chama a princesa para ver o que ela tem a dizer sobre tudo isso?

- Ela está nesse momento dentro do palácio, tomando um remédio - informou Taizong. -Mesmo assim, várias damas da corte foram procurá-la em seus aposentos e a encontraram gritando:

- Não preciso tomar nenhum remédio! Deixe-me sair daqui! Esta não é minha casa. A minha é de tijolo e, claro, não tem absolutamente nada a ver com esta, tão amarelada que parece estar com icterícia e tão enfeitada que dá a impressão de ser um templo. Eu não quero ficar aqui!

Ela ainda gritava, quando quatro ou cinco damas e dois ou três eunucos a forçaram a sair de seus aposentos e a trouxeram perante o imperador, que lhe perguntou:

- Você reconhece seu marido?

- Do que está falando? - ela respondeu. - Estamos noivos desde a infância e tivemos um menino e uma menina.  Como posso não reconhecê-lo? 

O imperador ordenou que a soltassem, e a princesa se lançou escada abaixo em direção ao local onde estava Liu Quan. Ela se agarrou a ele com todas as suas forças e lhe perguntou:

- Onde você esteve e por que não me esperou? Eu caí no chão e quando abri meus olhos, encontrei todas essas pessoas, que não fazem nada além de falar besteiras. Você pode me explicar do que se trata toda essa confusão?

Liu Quan ficou com cara de espanto. Essa certamente era a maneira de falar de sua esposa, mas ela não era nada parecida com ela e ele não ousava reconhecê-la como tal. O Imperador dos Tang, portanto, levou as mãos à cabeça e exclamou:

- Os homens já viram a terra se abrir e os montes se partirem ao meio, mas ninguém jamais viu esse espetáculo de um morto falando pela boca de um vivo.

Que bom governante era aquele homem! Ao entender a situação, ela pegou o enxoval da irmã, com as joias incluídas, e o entregou a Liu Quan. Era como se ele tivesse lhe dado um dote. Na verdade, ele foi liberado de todas as suas obrigações para com a coroa e teve permissão para levar para sua casa o que até então era uma princesa. Ambos agradeceram jogando-se no chão diante dos degraus de jade e voltaram felizes para casa. Há um poema sobre um evento tão incrível que diz:

"Toda a vida do homem é predeterminada de antemão. Nada do que nela acontece é obra do acaso: sua duração, suas múltiplas vicissitudes, o tempo de seu início e o momento exato de seu fim. Não é estranho que Liu Quan tenha voltado à vida, uma vez que os melões foram apresentados, nem que, tomando o corpo de outra pessoa, Li Cuilian tenha revivido."

Yuchi Gong, por sua vez, dirigiu-se com uma enorme carga de ouro e prata para o distrito de Kaifeng, província de Henan, em busca de Xiang Liang. Lá ele descobriu que o mesmo ganhava a vida vendendo água, enquanto sua esposa, chamada Chang, vendia cerâmica bem em frente à sua casa. De todo o dinheiro que ganhavam, guardavam apenas o essencial para viver, dando o resto como esmola aos monges ou queimando-o em benefício dos espíritos. Desta forma, eles foram acumulando mérito após mérito, pois, embora no Mundo da Luz fossem pessoas pobres e sem nenhuma influência, no Mundo das Trevas gozavam de grande consideração e sua riqueza era praticamente incontável. Quando viram Yuchi Gong se aproximando de sua porta com todo aquele ouro e prata, ficaram completamente perplexos. Mas seu espanto aumentou ao contemplar seu esplêndido séquito de oficiais imperiais montados em soberbos cavalos alazões. Eles não entendiam por que pessoas tão importantes viriam à sua humilde casa meio arruinada para entregar um tesouro tão magnífico. Então eles se prostraram no chão e começaram a bater com suas testa no mesmo, mas Yuchi Gong os levantou, dizendo:

- Por mais importantes que pareçamos, somos nós quem devemos nos ajoelhar diante de vocês. Na verdade, viemos da parte do imperador para devolver todo o ouro e prata que vocês emprestaram a ele.

- Ainda que pareça mentira - respondeu o homem, tremendo dos pés à cabeça -, nunca emprestei dinheiro a ninguém. Como vou aceitar, sem mais nem menos, um tesouro como este?

- Não é segredo para ninguém que vocês são, na verdade, muito pobres - admitiu Yuchi Gong. - Mas também sabemos que todo o dinheiro que não necessitam para sua subsistência, vocês empregam em esmolas ou em papel-moeda para os espíritos. Desta forma, e talvez sem vocês mesmos saberem, vocês vêm acumulando uma enorme fortuna na Região das Trevas. Não é estranho então que quando, após três dias e três noites, o imperador Tang Taizong voltou são e salvo da morte, ele reconheceu ter tomado emprestado um de seus armazéns cheio de ouro e prata no submundo. Sua quantidade corresponde exatamente ao que agora trazemos aqui. Confiram vocês mesmos e assim poderemos voltar para relatar tudo ao imperador.

Xiang Liang e sua esposa se recusaram a fazer tal coisa, erguendo os braços para o céu e dizendo:

- Se aceitarmos todo esse ouro e prata, certamente morreremos. Por outro lado, que prova você pode nos oferecer de que nosso pai, o imperador, nos pediu emprestado todo esse dinheiro no outro mundo? Não, não! Sinto muito, mas não podemos aceitar.

- Sua Majestade nos explicou - insistiu Yuchi Gong - que o Juiz Cui Jue atuou como fiador do empréstimo. Se você duvida da nossa palavra, pode perguntar diretamente a ele, mas por favor, aceite isso de uma vez.

- Não vou tocar em nenhuma dessas moedas, mesmo que me matem - , respondeu Xiang Liang com firmeza.

Percebendo que todos os seus esforços eram inúteis, Yuchi Gong enviou um emissário à capital para relatar tudo ao imperador. Quando Taizong soube que Xiang Liang se recusou a aceitar a fortuna que ele havia colocado em suas mãos, exclamou com admiração:

- Que pessoa mais virtuosa!

Sem perder tempo, Taizong emitiu um decreto, no qual pedia que Hu Jingde usasse toda aquela fortuna na construção de um templo e um santuário, bem como na manutenção de todos os serviços religiosos que seriam realizados neles, esperando assim poder saldar definitivamente a dívida que contraíra com o casal. O decreto não tardou a chegar às mãos de Jingde, que o leu de frente para a capital, para que todos conhecessem o seu conteúdo. Ele usou a fortuna para comprar aproximadamente cinquenta acres de terra, onde construiu um templo chamado Xiangguo. À sua esquerda, ele também construiu um santuário, que dedicou ao Xiang, com uma inscrição esculpida em pedra afirmando que tais construções foram erguidas sob a supervisão de Yuchi Gong. Tal é a origem do Grande Templo de Xiangguo (1), ainda de pé nos dias de hoje.

Quando o trabalho foi concluído, Taizong foi informado e ficou muito satisfeito. Mais tarde, convocou muitos de seus oficiais e encarregou-os da publicação de uma ordem, convidando todos os monges do império a participarem da Grande Cerimônia da Terra e da Água, que deveria ser dedicada aos espíritos esquecidos que habitavam a Região das Trevas. A ordem percorreu todo o império, e os governadores das diferentes províncias recomendaram monges ilustres por sua santidade a irem até Chang-An participarem da cerimônia. 

Em menos de um mês, todos eles se reuniram na capital do império. O Imperador então pediu a Fu Yi (2), o historiador oficial da corte, que escolhesse o monge mais digno de todos para presidir a cerimônia. Mas, em vez disso, Fu Yi apresentou ao trono um relatório, no qual duvidava da bondade das doutrinas do Buda e no qual, entre outras coisas, se dizia:

Os ensinamentos do Território Ocidental não reconhecem as relações de governante e súdito, de pai e filho. Com a doutrina dos Três Caminhos e a do Caminho Sêxtuplo, eles iludem e seduzem os tolos e os simplórios. Eles enfatizam os pecados do passado para garantir as felicidades do futuro. Cantando em sânscrito, eles buscam uma forma de escapar. Sustentamos, no entanto, que o nascimento, a morte e a duração da vida de uma pessoa são ordenados pela natureza; mas as condições de desgraça ou honra pública são determinadas pela vontade humana. Esses fenômenos não são, como alguns querem que acreditamos, ordenados por Buda. Os ensinamentos de Buda não existiam na época dos Três Reis e Cinco Imperadores, e mesmo assim esses governantes eram sábios, seus súditos leais e seus reinados duradouros. O culto de deuses estrangeiros não foi estabelecido até o período Ming-Di (3) da Dinastia Han, quando os monges ocidentais foram autorizados a propagar suas doutrinas. O evento, de fato, representou uma intrusão estrangeira na China, e os ensinamentos dificilmente são dignos de crédito.

Após ouvir o relatório, Taizong o submeteu à consideração de vários oficiais de inteligência comprovada, entre os quais estava o ministro Xiao Yu. Depois de estudar cuidadosamente o documento, ele se prostrou aos pés do trono e disse:

- Os ensinamentos budistas, que aliás floresceram em dinastias anteriores à nossa, visam apenas a prática do bem e a total supressão do mal. Constituem, portanto, uma garantia para a nossa própria sobrevivência e não devem de forma alguma ser rejeitados, muito pelo contrário. Afinal, Buda é um dos maiores sábios que já existiram, e não é segredo para ninguém que quem despreza esses bons homens acaba se tornando um ser sem princípios. Sugiro, portanto, que o autor deste relatório seja severamente punido.

Fu Yi travou uma discussão amarga com Xiao Yu, afirmando que o princípio de todas as boas ações se baseava no respeito ao governante e aos próprios pais. Buda, ao contrário, abandonou os seus pais e deixou a família de lado. Ele desafiou, de fato, o Filho do Céu e usou o corpo que recebera de seus pais para se rebelar justamente contra eles. Fu Yi acrescentou ainda que Xiao Yu, embora não tivesse nascido na selva, ao aceitar a doutrina da negação paterna, ele tornou verdadeiro o ditado de que um filho ingrato realmente não tem pais. Xiao Yu, por sua vez, cruzou as mãos na altura do peito e, curvando-se diante do adversário, disse em tom solene:

- O inferno foi criado precisamente para pessoas como você.

Taizong então chamou o Grande Chamberlain, Zhang Daoyuan e o Presidente da Chancelaria, Zhang Shiheng à sua presença e perguntou-lhes se as práticas budistas eram ou não eficazes para obter os favores do céu, ao que os dois oficiais responderam:

- A ênfase de Buda está na pureza, na benevolência, na compaixão, nos frutos apropriados e na aparência enganosa de tudo o que existe. Foi o Imperador Wu (4) da dinastia Zhou do Norte o responsável por colocar as Três Religiões em ordem. Mesmo Da Hui, o Grande Mestre Chan (5), elogiou a doutrina do escuro e distante. Por outro lado, há gerações os bem-aventurados são venerados, como o Quinto Patriarca (6), que, segundo a tradição, assumiu forma humana, ou o Bodhidharma (7) , que, como bem sabeis, se manifestou em todo o seu esplendor sagrado. Desde os tempos mais antigos tem sido afirmado que as Três Religiões são igualmente dignas de respeito, e devem ser apoiadas sem reservas. Rogamos, portanto, a Vossa Majestade, que exerça seu julgamento claro e sagaz.”

- Devo admitir que vossas palavras estão cheias de razão - concluiu Taizong, satisfeito. - Quem ousar continuar discutindo sobre isso será punido.

Consequentemente, Wei Zheng, Xiao Yu e Zhang Daoyuan foram ordenados a reunir todos os monges budistas, para que pudessem escolher entre eles aquele com a virtude mais elevada e preparar o que fosse necessário para a cerimônia. Antes de se retirarem, os três caíram com o rosto no chão, agradecendo ao imperador a grande honra que lhes prestava. A essa época remete a lei que determina que quem caluniar um monge ou falar mal do budismo teria seus braços quebrados. 

Na manhã seguinte, os três oficiais da corte começaram a trabalhar. Eles reuniram todos os monges na Plataforma da Montanha e do Rio e dentre eles, selecionaram aquele que consideraram ser de maior mérito e virtude. Anteriormente ele havia sido chamado de Cigarra Dourada, um nome de origem divina, mas ao não dar a devida atenção aos ensinamentos de Buda, ele foi forçado a suportar a existência neste mundo de pó. Caiu, então, nas redes da transmigração e tornou-se homem. Porém, antes de chegar à terra e cumprir-se o tempo de seu nascimento, já era perseguido pela desgraça. Seu pai, um funcionário de Haizhou, foi morto por bandidos e sua mãe teve que jogá-lo na água para salvá-lo. A corrente tratou de jogá-lo contra as rochas e as ondas fizeram de tudo para afogá-lo, mas ele conseguiu chegar à Montanha Dourada e aí sua sorte mudou. O guardião do mosteiro que ficava em uma ilha tão reputada o tirou da água e cuidou pessoalmente de sua educação. Aos dezoito anos conheceu finalmente a mãe, informando mais tarde ao avô das afrontas sofridas por tão respeitável senhora. Sendo um dos principais servidores da corte, obteve o comando de um exército que acabou com os ímpios que a haviam assediado. Para que sua felicidade fosse completa, depois de alguns dias seu pai Guangrui voltou à vida. Como foi emocionante o reencontro de toda a família! Até o próprio imperador se emocionou e fez com que seus nomes fossem inscritos na Torre Lingyan (8), junto com os das pessoas mais ilustres de todo o reino. Por sua bravura lhe ofereceram vários cargos públicos, os quais rejeitou um após o outro, preferindo retirar-se para o mosteiro Hongfu e dedicar-se à busca do Caminho da Verdade. Este fiel servo do Buda era conhecido em sua infância pelo nome de "Aquele-que-flutua-no-rio" e agora era chamado por todos de Chen Xuangzang.

Esse foi precisamente o escolhido pela congregação de monges para presidir à cerimônia dos espíritos esquecidos. Sua escolha não poderia ter sido mais acertada, pois Xuanzang, era uma monge desde a infância, que mantinha uma dieta vegetariana e que havia recebido os mandamentos no momento em que deixou o ventre de sua mãe. Seu avô materno era Yin Kaishan, um dos principais comandantes do exército da atual dinastia. Seu pai, Chen Guangrui, recebeu o cargo de zhuangyuan e foi nomeado Grande Secretário da Câmara de Wenyuan. Xuanzang, no entanto, não tinha amor pela glória ou riqueza, dedicando-se inteiramente à busca do Nirvaṇa. Suas investigações revelaram que ele tinha uma excelente formação familiar e o mais alto caráter moral. Nenhum dos milhares de clássicos e sutras ele deixou de dominar; nenhum dos cânticos e hinos budistas lhe era desconhecido. 

Satisfeitos com uma escolha tão sábia, os três oficiais conduziram Xuanzang até a presença do imperador. Depois de cumprirem rigorosamente a complicada etiqueta da corte, eles se prostraram com o rosto no chão e disseram:

- Seus súditos, em obediência ao seu decreto sagrado, selecionaram para presidir a cerimônia um monge ilustre e de reconhecida virtude chamado Chen Xuanzang.

- Este não é o filho do Grande Secretário Chen Guangrui? - exclamou Taizong após um longo e meditativo silêncio.

- Isso mesmo, senhor - respondeu "Aquele-que-flutua-no-rio", também deitando o rosto no chão. - Meu pai ocupa o cargo que acaba de mencionar.

- Não poderiam ter feito uma escolha mais adequada! - Taizong exclamou novamente, visivelmente satisfeito. - Duvido que haja um monge de maior virtude no mundo do que você. A partir deste momento você é nomeado "Expositor Máximo da Fé e Vigário Supremo de Todos os Monges".

Prostrando-se novamente, Xuanzang tocou repetidamente sua testa no chão em gratidão. Como emblemas de sua nova posição, ele recebeu uma túnica tecida com fios de ouro de cinco cores, um chapéu Vairocana (9) e um cinto de pérolas e jade. Foi-lhe pedido, ao mesmo tempo, que escolhesse os monges de virtude mais comprovada e os nomeasse ācāryas (10). Uma vez cumprida tão importante missão, devia dirigir-se com todos os outros ao Monastério da Transformação, onde iniciariam a cerimônia após selecionar um dia e hora propícios.

Prostrando-se mais uma vez perante o imperador, Xuanzang deixou o palácio e dirigiu-se ao Monastério da Transformação. Ele chamou todos os monges e juntos começaram a preparar as camas, levantar os estrados e ensaiar a música. Observando como eles agiam, Xuanzang selecionou mil e duzentos entre os mais diligentes, dividindo-os em três grupos que ocuparam a parte de trás, o centro e a frente do salão onde as cerimônias seriam realizadas. 

Desta forma, os preparativos foram dados como terminados. O terceiro dia do nono mês daquele mesmo ano foi escolhido como a data mais propícia para a celebração da Grande Festa da Terra e da Água. Também foi estabelecido que a cerimônia duraria quarenta e nove dias, pois esse era o número resultante da multiplicação do número sagrado sete por si mesmo. Taizong foi informado de tudo isso em tempo hábil e foi ao monastério no dia e hora combinados, acompanhado de seus parentes e altos funcionários, civis e militares. Com o maior respeito, todos os grandes dignitários queimaram incenso e ouviram a leitura dos textos sagrados. Temos como testemunho de tudo isso um poema, que afirma:

"Quando a estrela de Zhenguan completou treze anos, o imperador convocou todos os seus súditos para ouvirem os Livros Sagrados. O Salão da Grande Promessa parecia uma imitação do céu. Todos se reuniram em um templo tão esplêndido pelo desejo e graça do próprio imperador. A Cigarra Dourada presidiu os ofícios que tanto bem trariam aos espíritos dos condenados. Ele falou da necessidade de fazer sempre o bem e ampliou a exposição dos Três Caminhos da Vida."

Assim, no décimo terceiro ano do período Zhenguan, quando o ano estava em jisi e o nono mês em jiaxu, no terceiro dia e na hora de gueimao, Chen Xuanzang, o Expositor Máximo da Fé, mandou chamar os mil e duzentos monges ilustres que ele havia previamente selecionado e reuniu-se com eles no Monastério da Transformação na cidade de Chang-An, onde lhes expôs o significado dos sutras sagrados. Depois de realizar sua audiência habitual, o imperador deixou a Sala do Tesouro do Sino Dourado e, montado em sua carruagem de dragões e fênixes, dirigiu-se ao monastério, seguido por muitos de seus oficiais, civis e militares. Assim que chegaram, ouviram respeitosamente os textos e queimaram incenso. 

A procissão imperial arrastava atrás de si todas as bênçãos do céu. Seu esplendor era tal que dez mil feixes da mais pura luz pareciam flutuar no ar, competindo em brilho com o próprio sol. Uma brisa de bons presságios soprava pelos lugares por onde passava. Dava a impressão de que nascia dos movimentos solenes dos mil senhores cobertos de jade que caminhavam à frente e atrás da procissão. À direita e à esquerda, bandeiras e estandartes eram erguidos por soldados endurecidos pela batalha, armados com espadas, machados e maças. Sua ferocidade contrastava com o vermelho delicado dos candeeiros de seda e da artística urna de incenso que perfumava os locais por onde o imperador passava. Todos se moviam com indescritível solenidade. Os dragões voavam e as fênixes dançavam, enquanto os falcões voavam alto e as águias abriam suas asas majestosamente. Era como se quisessem proteger um soberano tão justo e gentil, cuja felicidade que trouxe para seu povo excedia em muito a de seus antepassados Yu e Shun (11); suas decisões sempre foram tão equilibradas que asseguraram a paz para sempre, rivalizando com Yao e Tang. Não é de estranhar que os que o rodeavam usassem túnicas luxuosas, que, no entanto, não conseguiam superar a beleza da sua, cheia de dragões bordados, que pareciam ganhar vida com os seus movimentos. As placas de jade, os gorros crivados de pérolas, as faixas roxas profusamente bordadas, os medalhões de ouro e os leques de penas de fênix contribuíam para fazer crer que se tratava, na verdade, de uma procissão que descia diretamente do céu. Mil fileiras de soldados protegiam o trono, e duas fileiras de marechais encarregavam-se de sua defesa imediata. Tudo era pouco para este imperador, sincero e justo, que inclinava a cabeça diante de Buda e não hesitava em queimar incenso em sua homenagem ou em buscar, avidamente, os frutos da virtude.

A grande procissão imperial não tardou a chegar ao monastério. O imperador então ordenou que parassem a música e, descendo da carruagem, foi prestar homenagem à Buda, seguido por todos os oficiais trazendo incensos nas mãos. Depois de se curvarem três vezes seguidas, ergueram a cabeça e olharam em volta, maravilhados com a solenidade daquele extraordinário recinto sagrado. Por toda parte era possível ver o tremular de bandeiras e estandartes, tão brilhantes como raios vindos diretamente do sol. A imagem dourada de Lokājyeṣṭha (12) constituía um verdadeiro convite ao recolhimento, embora fosse difícil dizer se ela era mais ou menos impressionante do que as imagens dos arhats, esculpidas em jade. Todos os vasos estavam preenchidos com flores sagradas, que conferiam ao templo uma refrescante sensação de um bosque composto não de árvores, mas de delicados bordados. Nuvens aromáticas de incenso de sândalo surgiam dos incensários e se elevavam ao alto. A transparência da sua cor contrastava com o vermelho das badejas onde repousavam as serenas pirâmides de frutas maduras ou de bolos e doces. Os monges não se cansavam de entoar sutras sagrados pelo bem-estar dos espíritos abandonados.

Taizong e os oficiais imperiais levantaram seus incensos e se curvaram primeiro ante ao corpo dourado do Buda, para depois prestar homenagem aos arhats. O Mestre da Lei e Máximo Expositor da Fé, Chen Xuanzang, veio então dar as boas-vindas a Taizong, seguido pelos demais monges, que retornaram aos seus lugares assim que a cerimônia terminou. Um documento foi então entregue a Taizong, no qual se dizia:

Como o budismo está assentado sobre o nirvana, é fácil inferir que a virtude suprema é vasta e insondável. O espírito dos limpos e puros move-se com total liberdade, passando sem cessar de uma a outra das Três Regiões. São dez mil transformações e mil mudanças, todas reguladas pelas forças do yin e do yang. Incompreensíveis são, na verdade, a substância, a função, a natureza autêntica e a permanência de tais fenômenos. Quão lamentáveis ​​são, além disso, os espíritos esquecidos! Para aliviar seu sofrimento e seguir os desejos de Taizong, escolhemos e reunimos diferentes monges cuja responsabilidade consistirá em proclamar a Lei e nela meditar sem cessar. Desta forma, os portões da salvação serão escancarados e os vasos da misericórdia se encherão até a borda, libertando assim as pessoas do Mar da Aflição e salvando-as da condenação dos Seis Caminhos. Todos então retornarão ao caminho da Verdade e desfrutarão das bênçãos do céu. Seja através da ação, do descanso ou da inatividade total, o objetivo é alcançar a união com as essências puras e  tornar-se uma delas. Esta é, pois, uma ocasião única, pois quem participar destas cerimónias antegozará os enormes prazeres que se saboreiam na cidade celeste, libertar-se-á dos castigos infernais, ascenderá sem demora às regiões de suprema felicidade e circulará livremente pelas regiões ocidentais. O poema afirma com razão: "Para obter a salvação, basta um incenso e alguns escritos dotados de poder libertador. Ao proclamar a lei incompreensível, atraímos sobre nós a graça do céu, o perdão de nossas culpas e a redenção de nossas dores futuras. Que nossa nação desfrute da bênção incomparável da paz duradoura!".

Comovido com o que acabara de ler, Taizong voltou-se para os monges e disse:

- Permaneçam firmes em sua entrega e nunca abandonem o serviço de Buda. Se assim o fizerem, tenham certeza de que não terão lutado em vão e receberão de mim uma esplêndida recompensa.

Os mil e duzentos monges caíram com o rosto no chão e começaram a bater com a testa no chão em agradecimento. Depois de comer as três refeições vegetarianas prescritas por lei, o Imperador dos Tang voltou ao seu palácio. A celebração propriamente dita aconteceria sete dias depois, e ele decidiu esperar em seus aposentos pela chegada de um momento tão auspicioso, quando seria novamente convidado a presidir as oferendas e ritos. Seus servos mais imediatos fizeram o mesmo, deixando o palácio imperial assim que a noite começou a cair. À oeste havia apenas uma estreita faixa de luz e o voo rápido de algumas gralhas voltando para seus ninhos. Uma rede de silêncio se abateu sobre a cidade, que aos poucos se enchia de luzes e o tempo parecia parar. Não havia melhor momento para os monges de Chan se dedicarem às suas práticas meditativas. Na manhã seguinte, o Mestre da Lei voltou a ocupar seu estrado e chamou os monges restantes para o seu lado, para continuar com a recitação dos sutras. Não foi diferente do dia anterior, então não vamos nos alongar mais sobre isso.

Ao contrário, falaremos sobre a Bodhisattva Guanyin da Montanha Potalaka dos Mares do Sul, que, após receber a ordem de Tathagata para procurar uma pessoa digna que se comprometesse a buscar as escrituras, percorreu a cidade de Chang-An sem encontrar ninguém verdadeiramente virtuoso. Quando estava prestes a perder as esperanças, ouviu que Tang Taizong havia ordenado que os monges da mais comprovada virtude fossem trazidos a corte para celebrar uma grande cerimônia pelos mortos. 

Seu entusiasmo também aumentou quando soube que o monge escolhido para presidir os serviços não era outro senão aquele conhecido pelo nome de "Aquele-que-flutua-no-rio". A Bodhisattva sabia que ele tinha sido um dos principais discípulos de Buda, que teve a infelicidade de cair nas redes de transmigração. Muito feliz, ela pegou os tesouros que Buda lhe dera e, acompanhada de Muzha, saiu para vendê-los nas principais ruas da cidade. "Que tesouros eram esses?", o leitor certamente se perguntará. Pois tratam-se da da túnica bordada de seda e do cajado sacerdotal de nove anéis. Ela não colocou à venda nesta ocasião as três faixas de cabeça que também havia recebido de Tathagata, guardou-as em segurança para uso futuro.

A cidade estava repleta de monges sem formação, e que por isso mesmo não haviam sido escolhidos para participar da grande cerimônia pelos mortos. Um deles, de fato, ao ver a Bodhisattva, que havia assumido a forma de um monge coberto de chagas e feridas, descalço, com a cabeça raspada e vestido de trapos, aproximou-se dela e perguntou, apontando para a luxuosa túnica:

- Quanto você pede por isso, porco?

- O preço desta túnica é de cinco mil peças de prata - respondeu a Bodhisattva - e o deste cajado, duas mil.

- Você está doente da cabeça! - exclamou o monge, soltando uma gargalhada. - Claro, deve-se ser um lunático para pedir sete mil moedas de prata por duas coisas tão comuns. Eles não valem isso, mesmo que o tornem imortal ou o transformem no próprio Buda. A melhor coisa que você pode fazer é levá-los para casa, porque tenho certeza que ninguém vai comprar de você.

A Bodhisattva nem se deu ao trabalho de discutir com ele. Ela pegou a mercadoria e continuou andando, seguida por Muzha. Depois de algum tempo chegaram ao Portão da Flor Oriental, onde encontraram o ministro Xiao Yu, que voltava da corte. À frente dele haviam homens gritando para abrirem caminho, mas a Bodhisattva recusou-se firmemente a se afastar. Ela permaneceu parada bem no meio da estrada com a túnica nas mãos. O ministro por pouco não a atropelava com o cavalo. Felizmente puxou as rédeas a tempo e, surpreendido com a beleza deslumbrante da túnica, pediu aos seus companheiros que descobrissem o preço de tão extraordinária peça.

- Pela túnica quero cinco mil moedas de prata - respondeu a Bodhisattva - e duas mil pelo  cajado.

- É possível saber o que eles têm de especial para serem tão caros? - perguntou Xiao Yu.

- Esta túnica é tão peculiar - respondeu a Bodhisattva - que para alguns pode ser muito cara e para outros totalmente gratuita. Depende de como você olha para ela.

- Como assim depende de como se olha para ela? - repetiu Xiao Yu.

- Quem a usar - disse a Bodhisattva - não conhecerá o sofrimento do inferno nem será vítima da violência ou de animais tão ferozes como tigres e lobos. Se, ao contrário, for vestida por um monge que só pensa em aproveitar a vida, ou um monge que desrespeita as leis e mandamentos, ou qualquer um que zomba de Buda ou dos sutras, isso adicionará mais combustível à sua já pesada condenação.

- Muito bem - admitiu o ministro -, mas o que quer dizer com isso de que para alguns pode ser muito cara e para outros totalmente gratuita?

- Aquele que não segue as Leis de Buda - sentenciou a Bodhisattva - ou não mostra nenhum respeito pelas Três Jóias (13) deve pagar sete mil moedas de prata, se quiser obter minha túnica e meu cajado. Aquele que, por outro lado, respeita as Três Jóias, se entrega à prática do bem e obedece ao pé da letra às regras de Buda, merece desfrutar de tesouros como os que estou vendendo agora. De bom grado te darei a túnica e o cajado e, assim, estaremos unidos na bondade.

Compreendendo que aquele era um homem de extrema virtude, Xiao Yu desmontou do cavalo e, após cumprimentá-lo respeitosamente, disse:

- Me chamo Xiao Yu, e peço perdão por qualquer ofensa que eu possa ter lhe causado. Nosso grande imperador é uma pessoa muito religiosa, e todos nós que temos a grande honra de servi-lo na corte partilhamos de sua fé. Na verdade, a Grande Cerimônia da Terra e da Água acabou de começar, e acredito que esta túnica seria perfeita para Chen Xuanzang, o Maior Expositor da Fé, usar. Por que você não me acompanha ao palácio e pedimos uma audiência com o imperador?

A Bodhisattva concordou, satisfeita e, virando-se, entrou novamente no Portão das Flores do Leste. Assim que os viu aparecer, o Guardião do Portão Amarelo correu para relatar sua chegada. Eles foram imediatamente conduzidos à Sala do Tesouro, onde Xiao Yu e os dois monges cobertos de chagas aguardavam impacientemente a aparição do imperador.

- Qual é esse assunto importante que você quer me falar? - perguntou Taizong, assim que se sentou.

- Ao sair pelo Portão da Flor Oriental - respondeu Xiao Yu, atirando-se ao chão -, me deparei com esses dois monges, que vendiam uma túnica e um cajado sacerdotal. Imediatamente pensei que Xuanzang poderia usá-los durante a cerimônia e é por isso que estou agora diante de Vossa Majestade.

Visivelmente satisfeito, Taizong perguntou pelo preço da túnica, ao que a Bodhisattva respondeu, sem sequer se curvar ou abaixar a cabeça, igual a Muzha:

- A túnica custa cinco mil peças de prata e o cajado duas mil.

- O que eles têm de especial para que seu preço seja tão alto? - perguntou Taizong novamente. Então a Bodhisvatta respondeu:

- Se um dragão usasse um único fio desta túnica, jamais seria devorado por nenhuma besta. Além do mais, se uma garça se agarrasse a um de seus fios, poderia alcançar o mundo onde vivem os deuses. Quem se sentar sobre esta túnica receberá instantaneamente as respeitosas saudações de dez mil deuses, e quem a vestir terá a companhia dos Sete Budas (14)Além disso, foi confeccionada com seda de lagartas brancas como gelo e fiada por artesãos altamente qualificados. Como se isso não bastasse, foi tecida por garotas imortais auxiliadas por donzelas celestiais. Foram elas que uniram as diferentes partes, recheando-as depois com bordados artísticos e complicados. Não é estranho, então, que suas cores sejam tão finas e brilhantes quanto botões de flor. Vista-a, se desejar, e você será envolvido por uma névoa avermelhada, que desaparecerá assim que você a tirar. Esta peça foi formada nos próprios portões dos Três Céus e obteve a aura mágica que a envolve diante das Cinco Montanhas. É incrustada com folhas de lótus trazidas do Ocidente e as pérolas que a adornam brilham como planetas e estrelas. Em suas quatro pontas, ela carrega tantas pérolas que emitem luz à noite e que rivalizam em pureza com a esmeralda que ocupa seu ponto mais alto. Você pode mantê-la guardada ou vesti-la para receber os sábios. Mas saiba que, quando guardada, ela emite uma luz muito parecida com a do arco-íris, que transpassa qualquer recipiente, e, quando vestida, é capaz de amedrontar tanto deuses quanto demônios. Isso não é surpreendente, considerando que ela foi costurada com pérolas de valor como a radhi, a mani (15), aquela que limpa a poeira, aquela que detém os ventos, aquela que lembra a cornalina vermelha, aquela que tem a cor roxa do coral e a Sariputra, que emite luz à noite. Todas elas são tão perfeitas que parecem ter roubado a brancura da lua e o tom avermelhado do sol. A aura que a envolve alcança o céu, penetrando como uma torrente por todas as suas portas. Seu brilho confere perfeição a tudo o que existe. Quando ilumina as montanhas e os riachos, expulsa tigres e leopardos de suas tocas; quando sua luz se espalha pelos mares e atinge as ilhas, põe dragões e peixes em movimento . Como se isso não bastasse, ela possui duas correntes de ouro puro penduradas em ambos os lados, fechando seu pescoço com um pequeno círculo de jade branco como a neve. Esta é, em suma, a túnica da qual o poema afirma: "Há apenas uma verdade: a das Três Jóias e a dos Seis Caminhos, através dos quais as quatro classes de criaturas que existem viajam sem cessar. Quem recebeu a iluminação conhece e respeita as leis de Deus e do homem; é capaz de emitir lampejos de verdadeira sabedoria. Se o próprio Buda ordenou a confecção desta túnica, como os dez mil kalpas podem afetar o monge que a veste?"

- Isso é muito bom - respondeu o Imperador dos Tang, visivelmente satisfeito. - Mas você pode me explicar o que há de tão especial nesse cajado com nove anéis?

- Como bem reparou - respondeu a Bodhisattva -, o meu cajado possui nove anéis feitos de ferro e bronze, e com nove seções de videira que não envelhece. Quem o sustenta em suas mãos se manterá jovem para sempre, o que não é estranho, se levarmos em conta que o Quinto Patriarca vagou com ele pelos céus e que Lo-Po (16) o levou consigo para o submundo quando foi em busca de sua mãe. Nunca foi manchado com a poeira avermelhada deste mundo, embora tenha sido usado pelo deus-monge em sua ascensão à Montanha de Jade (17).

Impressionado, o imperador ordenou que a túnica fosse estendida diante dele para que pudesse examiná-la cuidadosamente. Ao terminar de fazê-lo, Taizong constatou que era realmente uma peça única.

- Eu não quero enganar você - disse Taizong à Bodhisattva. - Sou um fervoroso admirador da Religião da Misericórdia, a qual tenho dedicado muitos esforços para propagá-la. Nos últimos dias, reuni no Monastério da Transformação muitos monges para que aprofundassem o estudo da Lei e se dedicassem integralmente à recitação dos sutras. Entre eles há um homem de extraordinária virtude que atende pelo nome de Xuanzang, e eu gostaria de dar a ele esses dois tesouros que você possui. Eu juro que não os quero para mim. Quanto você realmente quer por eles?

- Se ele, como você diz, se trata um homem de elevada virtude - concluíram a Bodhisattva e Muzha, cruzando as mãos na altura do peito e dando graças à Buda -, com grande prazer lhe daremos esta túnica e este cajado. Como se trata de um clérigo tão humilde, não aceitaremos uma única moeda por eles - e então se viraram, tentando encontrar a saída. O imperador pediu que Xiao Yu os trouxesse de volta imediatamente. Cumprida a ordem, o ministro levantou-se de seu assento e disse com manifesta inquietação:

- Antes você dizia que a túnica valia cinco mil peças de prata e o cajado, duas mil. Agora que você se convenceu de que estamos realmente interessados ​​em comprá-los, você nos diz que não deseja aceitar nenhum dinheiro em troca. Se você pensa que vamos usar a força para capturá-los, está muito enganado. Não pertencemos a esse tipo de homens. Pagaremos a quantia que inicialmente nos pediu, e esperamos que aceite sem reservas.

- Parece que você não entendeu direito - respondeu a Bodhisattva, levantando as mãos em saudação. - Há algum tempo, fiz uma promessa de que, se encontrasse alguém que se alegrasse em fazer o bem e servir ao Buda, eu daria a ele esses tesouros. É claro que Vossa Majestade está ansioso para ver sua virtude aumentada e a causa budista triunfar em seu reino. Consequentemente, acredito que chegou a hora de cumprir o que foi prometido. Vou deixar esses tesouros em suas mãos e sairei com os bolsos tão vazios quanto quando cheguei.

O imperador entendeu sua atitude e não quis continuar insistindo. No entanto, ele ordenou que um esplêndido banquete vegetariano fosse preparado em sua homenagem, mas a Bodhisattva o rejeitou com tanta firmeza que, mais uma vez, ele teve que desistir de seus esforços. Despediu-se de Tazong com a gentileza que a caracterizava e retirou-se para o templo do espírito local.

Por volta do meio-dia, Taizong realizou uma nova audiência, para a qual ele pediu que Wei Zheng convocasse Xuanzang. O Mestre da Lei estava cantando sutras e recitando geyas (18) quando ouviu o decreto do imperador, e deixando a plataforma imediatamente, seguiu Wei Zheng até o trono.

- Lamento sinceramente tê-lo arrancado de suas meditações - desculpou-se respeitosamente o imperador. - Mas esta manhã Xiao Yu encontrou um casal de monges que insistiu em me dar uma túnica cheia de bordados e um cajado com nove argolas, os quais desejo colocar em suas mãos. Não tenho dúvidas de que serão muito úteis para você, enquanto para mim não trazem a menor vantagem.

Xuanzang imediatamente curvou-se para expressar seus agradecimentos. Isso encorajou Taizong a seguir dizendo:

- Se nosso Mestre da Lei estiver disposto, por favor, coloque a túnica para que possamos dar uma olhada.

O monge abriu a túnica e a vestiu com a rapidez de quem está acostumado a trocar de trajes rituais. Com o cajado nas mãos, sua figura adquiriu tamanha presença que tanto o imperador quanto seus súditos ficaram boquiabertos. Ele realmente parecia um verdadeiro filho de Tathagata. Que elegância de seu porte! Que delicadeza de sua aparência! A túnica de Buda ajustava-se ao seu corpo como uma luva na mão. Seu esplendor era tal que cobria o mundo inteiro e o brilho de suas cores alcançava todos os cantos do universo. Para onde quer que se dirigisse o olhar, era possível ver inúmeras fileiras de pérolas, esplendidamente conjugadas com os adornos de ouro e os bordados de estranhos e berrantes desenhos. Um artístico anel de ouro unia suas golas, feitas do mais fino veludo, e nas quais estavam representadas as mais altas fileiras do céu.  À medida que desciam, as fileiras diminuíam progressivamente, e estrelas eram representadas à direita e à esquerda de tão especial túnica. Nunca houve um homem na terra com tanta sorte como Xuanzang. Digno de exibir um tesouro tão esplêndido, ele parecia um arhat vivo recém-chegado do oeste. Não é exagero dizer que ele lembrava o próprio Buda com seu bastão de nove anéis e seu chapéu Vairocana. Todos os funcionários, tanto civis como militares, ficaram tão impressionados que, levantando-se ao mesmo tempo, gritaram:

- Bravo!

Tal reação agradou muito a Taizong, que pediu ao Mestre da Lei que não retirasse a túnica, e nem deixasse de lado seu cajado. Não satisfeito, ordenou que viessem dois regimentos de guardas de honra, e confiou-lhes a escolta de tão distinto e respeitável personagem. Eles saíram imediatamente do palácio, dirigindo-se ao monastério enquanto passavam pelas ruas mais importantes da cidade. A procissão era tão brilhante que parecia que um novo zhuangyuan estava passeando pela cidade. Os mercadores e comerciantes da cidade de Chang-An, os príncipes e nobres, os intelectuais e os homens de letras, os homens adultos e as meninas, todos aglomeravam-se ao longo da estrada, tentando vê-lo.

- Que monge! - exclamaram, entusiasmados. - Ele parece um arhat que acabou de descer à terra.

Xuanzang parecia imune a tais elogios. Imperturbável, ele continuou seu caminho para o monastério, onde foi saudado de pé pelos outros monges. Assim que viram ele surgir vestindo aquela túnica e segurando aquele cajado de nove anéis, pensaram se tratar do próprio Rei Ksitigarbha (19) em pessoa, e curvaram suas cabeças respeitosamente diante dele. Sem parar, Xuanzang dirigiu-se ao salão principal, onde queimou incenso em homenagem à Buda e falou da tremenda afeição do imperador pelos seus súditos. Terminado o discurso, cada um voltou ao lugar que lhe fora designado. 

Logo o sol começou a se por no ocidente. Aos poucos a escuridão foi turvando as árvores, enquanto o primeiro toque do sino se fazia ouvir por toda a capital. Após soar por três vezes seguidas, todo tipo de atividade humana cessou, mergulhando todas as ruas em um progressivo silêncio. Somente no Templo Principal haviam luzes acesas. Na quietude que tomou conta da cidade, apenas os monges se prepararam para recitar sutras, domar demônios e nutrir seus espíritos.

O tempo passou como água entre os dedos, e chegou o dia da Grande Cerimônia dos Mortos. Xuanzang enviou uma carta ao imperador, na qual o convidava a oferecer incenso. Taizong imediatamente preparou suas carruagens e foi para o monastério, seguido por todos os seus oficiais, civis e militares, seus parentes e as damas da corte. Sabendo da importância do ato, todos os habitantes da cidade - jovens e velhos, plebeus e nobres - dirigiram-se rapidamente ao monastério para ouvir as explicações dos textos sagrados. 

A própria Bodhisattva disse à Muzha:

- Hoje é o dia da grande cerimônia. Sua importância é de tal magnitude que acho que chegou a hora de nos misturarmos com a multidão e descobrir algumas coisas que nos interessam: primeiro, se a cerimônia será tão solene quanto promete; segundo, se a Cigarra Dourada é realmente digna dos tesouros que lhe confiei; e terceiro, se o budismo que ela prega está de acordo com os ensinamentos do Mestre ou segue o curso de suas próprias paixões e desejos.

Sem mais delongas, eles se dirigiram para o monastério. O retorno de dois seres excepcionais a um lugar sagrado era como o reencontro há muito adiado de dois amigos íntimos. Ao entrarem no templo, sua surpresa não teve limites. Eles nunca haviam suspeitado que na capital de uma grande nação como aquela pudesse existir um monastério que superava em magnificência o de Sadvarsa (20) e até mesmo o Jardim de Jetavana em Sravasti. Não tinha nada a invejar ao renomado templo de Caturdisah (21), no qual a música sacra e os cantos budistas ressoavam incessantemente.  A Bodhisattva se dirigiu para um dos lados do estrado e se pôs a observar a Cigarra Dourada. Tudo ao seu redor era imaculadamente puro, sem um único grão de poeira. Xuanzang, o Grande Mestre, ocupava um lugar de destaque, para o qual os espíritos, que suas orações acabavam de resgatar, se aproximavam, sem serem vistos. Um pouco mais atrás, as pessoas mais importantes da cidade ouviam com muita atenção suas explicações. Todos, jovens e velhos, pareciam confortados com o que ouviam. Jamais haviam suspeitado que a esmola tivesse tanto valor e a misericórdia gozasse de tanta estima no Paraíso.

Tudo isso confirmou à Bodhisattva que ele era um homem superior aos outros. A forma como ele falava sobre as provas que todo ser tem que passar neste mundo de trevas e poeira era maravilhosa; da universalidade da Lei, tão extensa que poderia cobrir todas as colinas e chegar até o último canto do espaço. Sua ênfase foi colocada no exame contínuo da vida e na prática incansável da boa obra. Dessa forma, o favor do céu e a bênção do alto poderiam ser obtidos. O Mestre da Lei passou então a recitar o "Sutra da Vida e Libertação dos Falecidos", para em seguida palestrar sobre a "Crônica do Tesouro Divino Para Obter a Paz Nacional". Após a referida leitura, explicou o significado de não poucas passagens do "Pergaminho Sobre o Mérito e o Bom Trabalho". A Bodhisattva então aproximou-se do estrado e bateu nele com suas mãos, após o qual gritou a plenos pulmões:

- Ei, monge! Parece que você só sabe falar do Hinayana (22). Você não tem ideia sobre o Mahayana (23)?

Xuanzang ficou feliz com essa pergunta e, descendo do estrado, dirigiu-se à Bodhisattva e disse, após cumprimentá-la respeitosamente:

- Perdoe, respeitável mestre, não tê-lo tratado com a consideração que merece. Em relação à pergunta que me fizeste, direi-te que, se fiz conferências sobre o Hinayana, foi porque todos os aqui reunidos sabem do que se trata, ao passo que desconhecem completamente o que se refere ao Mahayana. Eu mesmo, reconhecendo minha ignorância, tenho que admitir que não sei muito sobre ele.

- As doutrinas que acabaste de expor - respondeu a Bodhisattva - são incapazes de trazer a salvação aos condenados e conduzi-los ao céu. A única coisa para a qual servem é confundir os mortais. Eu tenho em minha posse o Tripitaka (24), três coleções das leis do Mahayana do Buda. Esses textos podem levar espíritos perdidos para o céu, libertar aqueles que sofrem de suas angústias e quebrar o sinistro ciclo da transmigração, dotando os corpos de imortalidade.

Enquanto discutiam, o oficial encarregado do incenso e da supervisão dos diferentes salões foi ao encontro do imperador e disse:

- O Mestre estava dando uma palestra sobre a Lei, quando foi interrompido pelos comentários sem sentido de dois monges maltrapilhos.

O imperador ficou furioso e ordenou sua prisão imediata. Enquanto eram conduzidos para a parte de trás, eles passaram por Taizong, mas a Bodhisattva não se curvou diante dele nem mesmo o  saudou com as mãos. Ela apenas limitou-se a olha-lo diretamente no rosto e perguntar-lhe:

- Posso saber o que deseja de mim, Majestade?

- Você não é o monge que me trouxe a túnica outro dia? - exclamou Taizong, por sua vez, reconhecendo-o.

- Isso mesmo - admitiu a Bodhisattva.

- Se vieste ouvir as explicações dos textos sagrados - repreendeu-o severamente Taizong -, deves seguir escrupulosamente a dieta vegetariana e não travar discussões estéreis com o Mestre. O que pretende trazendo a discórdia para a sala de estudos? Prolongar desnecessariamente os trabalhos?

- Acontece que o que aquele seu mestre estava explicando - respondeu a Bodhisattva - são doutrinas do Hinayana, totalmente incapazes de trazer salvação aos espíritos perdidos e levá-los ao céu. Eu, por outro lado, conheço o Tripitaka, as leis do Mahayana de Buda, que podem salvar os condenados, libertar os aflitos e tornar o corpo imortal.

- E onde estão essas Leis do Mahāyāna de Buda? - Taizong perguntou novamente, profundamente interessado.

- Na terra de nosso Senhor Tathagata - respondeu a Bodhisattva -, no Grande Templo do Trovão, que está localizado na Índia, especificamente no Paraíso Ocidental. Seus ensinamentos são tão comprometedores que podem desencadear uma centena de inimizades e trazer infortúnios inesperados.

- Consegue se lembrar de algum fragmento? - insistiu Taizong, no mesmo tom animado de antes.

- Claro que sim - respondeu novamente a Bodhisattva.

- Nesse caso - concluiu Taizong, cheio de alegria -, que o Mestre faça esse monge subir ao estrado e permita que ele exponha tão maravilhosa doutrina.

A Bodhisattva e Muzha ascenderam ao topo da plataforma, mas não se sentaram nela. Eles voaram pelos ares, até pousar em uma nuvem sagrada, revelando assim sua verdadeira personalidade. A Bodhisattva segurava o vaso com o galho de salgueiro em suas mãos, enquanto Muzha ficou de pé ao seu lado segurando uma enorme barra de ferro. O Imperador dos Tang ficou tão maravilhado que abaixou a cabeça, adotando uma atitude de absoluta reverência. Os demais oficiais militares e civis prostraram-se com o rosto em terra e queimaram incenso. 

Não havia uma única pessoa em todo o monastério que não inclinasse a cabeça - incluindo monges, freiras, taoístas, pessoas comuns, homens de letras, artesãos e comerciantes - ou exclamasse, admirados e entusiasmados:

- A Bodhisattva! A Bodhisattva!

Há uma música sobre esse fenômeno tão extraordinário, que diz:

Tudo o que eles viram foi uma névoa envolvente e o dharmakaya (25) envolto em uma luz sagrada. Na numinosidade daquele ar celestial, surgiu de repente a figura de uma mulher. Em sua cabeça, ela levava um cocar feito de folhas de ouro, incrustado com flores de jade e inúmeros colares de pérolas. Ele vestia uma túnica de seda azul, tão clara que na realidade parecia ser branca. Na altura da cintura ela trazia duas bolsinhas para guardar perfume, feitas de jade e pérolas, que brilhavam como a lua e balançavam delicadamente ao vento. Ela também usava uma saia de seda tão branca que parecia ter sido feita por lagartas do gelo. Rodeada de ouro, ela conhecia a beleza das nuvens de mil cores e as ondas mutáveis ​​do mar de jaspe. À sua frente, esvoaçava uma cacatua de bico vermelho e plumagem amarelada, que percorria o Oceano Oriental e o mundo inteiro promovendo obras de misericórdia e piedade filial. Tinha nas mãos um vaso, verdadeiro dispensador de bens, de onde sobressaía um pequeno ramo de salgueiro, capaz de umedecer o azul do céu e varrer do mundo todo o mal. Abaixo de seus pés crescia uma flor de lótus dourada, um contraponto cromático aos anéis de jade que uniam várias partes de sua roupa. Desta forma, Guanshiyin (26), a libertadora de tristezas e dores, foi vista"

Uma visão tão inesperada deixou Taizong tão animado que ele se esqueceu completamente dos assuntos do império. O mesmo aconteceu com os funcionários, civis e militares, que, deixando de lado a etiqueta da corte, começaram a gritar com entusiasmo:

 - Estamos com a Bodhisattva Guanyin! Estamos com ela!

Taizong convocou o pintor mais renomado de seu reino e ordenou-lhe que fizesse um esboço apressado da verdadeira figura da Bodhisattva. O escolhido foi um certo Wu Daozi, retratista especializado em sábios e deuses pela elevada e nobre natureza de suas concepções. Mais tarde foram-lhe confiados os retratos de personagens ilustres que figuravam na Torre Ling-Yen. Sem perder tempo, Daozi pegou seu incomparável pincel e deixou a figura da Bodhisattva registrada para a posteridade. Assim que concluiu a pintura, as nuvens sagradas foram se dissipando gradualmente, até que, finalmente, a luz dourada desapareceu por completo. Nesse exato momento, desceu do céu uma folha de papel, na qual estava escrito o seguinte em estilo gāthā (27):

"Convidamos o Grande Soberano dos Tang a ir em busca das escrituras mais destacadas do Ocidente. De fato, o caminho é longo, mas seus sessenta mil quilômetros levam diretamente ao Mahayana ou "Grande Veículo". Somente seus ensinamentos são capazes de redimir os espíritos condenados e conduzi-los ao céu. Quem se voluntariar para uma jornada tão dolorosa se tornará um Buda de ouro."

Assim que Taizong o leu, voltou-se para os monges e disse:

- Acho que o melhor é suspendermos a cerimônia até que alguém traga os textos do Mahayana. Enquanto isso, vamos nos esforçar para produzir tantos frutos de virtude quanto pudermos.

Todos os presentes concordaram com a decisão do imperador, que, levantando novamente a voz, perguntou:

 - Quem está disposto a ir ao Paraíso Ocidental em busca das escrituras sagradas?

Apenas havia acabado de dizê-lo, quando o Mestre da Lei deu um passo à frente e, após curvar-se, disse:

 - Embora eu seja apenas um pobre monge inculto, estou disposto a mostrar-lhe a fidelidade de um cão ou de um cavalo. Irei em busca dessas escrituras e, assim, seu reino permanecerá firme e duradouro.

O Imperador dos Tang ficou muito satisfeito ao ouvir isso. Ele foi até onde o monge estava e, levantando-o com as próprias mãos, proclamou:

- Se você está disposto a provar sua lealdade a mim desta forma, independentemente da distância ou das inconveniências da viagem, meu desejo é que, antes de empreendê-la, estabeleçamos um pacto de fraternidade.

Xuanzang tornou a prostrar-se perante o imperador, enquanto batia sua cabeça repetidamente no chão em agradecimento. O Imperador dos Tang era de fato um homem de palavra e, tendo Buda como testemunha, curvou-se quatro vezes seguidas a Xuanzang, chamando-o de "meu irmão, o santo monge". Profundamente comovido, Xuanzang respondeu:

- Eu, Majestade, não passo de um pobre monge que não sabe fazer outra coisa senão buscar a perfeição. Não entendo o que o senhor viu em mim para me tratar com tanta consideração e carinho. Eu prometo que não pouparei esforços até chegar ao Paraíso Ocidental. Não voltarei de mãos vazias, eu lhe garanto. Prefiro a morte e a condenação eterna no inferno à voltar sem as escrituras.

Ele então se voltou para a imagem de Buda e, tomando três bastões de incenso em suas mãos, jurou cumprir fielmente a missão que lhe foi confiada. Muito satisfeito, o Imperador Tang ordenou que sua carruagem voltasse ao palácio para emitir os documentos oficiais nomeando o Mestre da Lei como o seu representante, e aguardar o dia e hora auspiciosos para a publicação dos mesmos. Uma vez que todos se retiraram, Xuanzang regressou, por sua vez, ao Monastério da Grande Bênção. Os muitos monges daquele templo e seus vários discípulos, ao ouvirem sobre o assunto das escrituras, correram ao seu encontro e lhe perguntaram:

- É verdade que você jurou ir até o Paraíso Ocidental?

- Isso mesmo - respondeu Xuanzang, sincero.

- Ouvi dizer que o caminho para aquele lugar é longo e está repleto de perigos - , respondeu um de seus discípulos, preocupado. - Isso sem contar os tigres, os leopardos e todo tipo de monstros ameaçadores que espreitam os viajantes. Temo que haverá partida, mas não um retorno para você, pois será difícil proteger sua vida.

- Fiz um juramento e estou pronto para cumpri-lo, não importa o que aconteça - respondeu Xuanzang. - Além do mais, eu concordei perante ao céu que se eu não voltar com essas escrituras, a condenação eterna do inferno recairá sobre mim. O Imperador concedeu-me uma grande honra ao confiar-me uma missão tão importante, e estou determinado a retribuir-lhe fielmente toda a confiança que em mim depositou. Não posso me dar ao luxo de decepcioná-lo, mesmo que não saiba o que me espera no futuro.

Ele então mudou de tom e acrescentou:

- Ninguém sabe ao certo quanto tempo estarei fora. Talvez dois anos, ou três, ou seis, ou sete. A única certeza é que quando vires que os ramos dos pinheiros que estão plantados à porta apontam para o oeste, estarei prestes a concluir a viagem. Caso contrário, vocês devem continuar esperando.

Todos os discípulos memorizaram firmemente suas palavras. Na manhã seguinte, Taizong realizou uma audiência e reuniu todos os seus oficiais. Eles redigiram um documento formal declarando a intenção de adquirir as escrituras e o carimbaram com o selo de livre passagem. Eles mal terminaram de fazê-lo quando o Presidente do Conselho Imperial de Astronomia apareceu com o seguinte relatório: 

- A posição dos planetas hoje é extremamente favorável para o início de viagens especialmente longas.

Tal relatório agradou muito ao Imperador dos Tang. Depois de algum tempo apareceu o Guardião da Porta Amarela, que anunciou com voz solene:

- O Mestre da Lei aguarda para ser recebido em audiência.

O imperador imediatamente o deixou entrar e disse-lhe com entusiasmo:

 - Querido irmão, segundo as estrelas, hoje é um dia auspicioso para a viagem. Também acabamos de redigir um salvo-conduto carimbado com o selo imperial. Seria conveniente, portanto, que você iniciasse o caminho o mais rápido possível. Gostaria que aceitasse como presente esta tigela de ouro avermelhado, que poderá usar ao longo de sua jornada para pedir esmolas. Duas pessoas irão acompanhá-lo e terá um cavalo à sua disposição.

Satisfeito, Xuanzang aceitou os presentes com grandes mostras de gratidão e partiu imediatamente. O imperador subiu na carruagem e saiu para se despedir dele às portas da cidade, acompanhado de um grande número de oficiais. Os monges do Monastério da Grande Bênção já estavam esperando lá com as roupas de verão e de inverno de Xuanzang.Quando o imperador os viu, ordenou que primeiro colocassem as malas nos cavalos e depois pediu a um oficial que trouxesse uma jarra de vinho. Taizong encheu um copo e, preparando-se para brindar, perguntou:

- Qual o seu nome de cortesia, irmão?

- Eu, senhor - respondeu Xuanzang - sou um homem que deixou sua família. Eu não ouso assumir um nome de cortesia.

- Não importa - respondeu Taizong. - A Bodhisattva disse que no Paraíso Ocidental haviam três coleções de escrituras. Você, irmão, deveria tirar disso um nome de cortesia. Que tal Sanzang?"

- Ninguém poderia ter pensado em um nome mais apropriado - Xuanzang respondeu novamente. No entanto, não se atreveu a beber o vinho e acrescentou

- Deve saber, Majestade, que o álcool nos é totalmente proibido. Eu, na verdade, nunca experimentei em toda a minha vida.

- A jornada de hoje - disse Taizong - não deve ser comparada com nenhum evento comum. Por que não tomamos uma taça de vinho vegetariano juntos e brindamos ao sucesso de sua viagem?

Xuanzang não se atreveu a dizer não. Quando estava prestes a colocar o vinho na boca, viu Taizong de repente se abaixar, pegar um pouco de terra e despejá-la diretamente em seu copo. Xuanzang fez uma cara tão surpresa que o imperador começou a rir e perguntou:

- Quanto tempo você acha que esta viagem ao Paraíso Ocidental pode levar?

- Provavelmente estarei de volta em três anos -  respondeu Xuanzang.

- Muito tempo para uma jornada repleta de dificuldades -  comentou Taizong. - Beba, irmão, e lembre-se disso: um pouco de pó de seu próprio país é muito mais valioso do que dez mil moedas de ouro de outras terras.

Xuanzang então entendeu o significado do que acabara de fazer e bebeu a taça em um só gole, agradecendo ao imperador por tudo que havia feito por ele. Sem mais delongas, ele saiu pelo portão e deixou a cidade, enquanto o imperador Tang regressou ao seu palácio. 

Não sabemos o que aconteceu com ele durante a viagem. Quem quiser descobrir deve ouvir atentamente as explicações dadas no próximo capítulo.


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    Notas do Capítulo XII:

    1. Na verdade, o Templo Xiangguo foi construído em Kai-Feng, Henan, durante o Período dos Reinos Combatentes (402-222 aC) e reconstruído por Tang Ruei-Chung por volta do ano 684.
    2. Historicamente, Fu Yi foi um dos grandes oponentes das ideias defendidas pelo Budismo.
    3. Han Ming-Di (58-76) manteve o poder durante a dinastia Han Oriental. 
    4. Wu-Di, que reinou de 561 a 578, foi um dos imperadores da dinastia Chou do Norte que tentou trazer a paz entre o confucionismo, o taoísmo e o budismo. 
    5. O Budismo Chan é uma escola chinesa do budismo mahayana. Originária do Budismo Zen, desenvolveu-se na China a partir do século VI d.C, tornando-se especialmente popular durante as dinastias Tang e Song. Os monges Chan constituíram uma seita cuja fundação é atribuída a Bodhidharma.
    6. O Quinto Grande Patriarca da Seita Chan foi Hung-Ren (601-674), o qual dizem que enquanto esteve no ventre de sua mãe, iluminou a casa onde viveu com luz sagrada por mais de um mês, e ao nascer espalhou por todos os lugares um aroma muito penetrante.
    7. Bodhidharma foi um dos grandes patriarcas budistas, a quem se atribui uma grande atividade literária e proselitista.
    8. Durante a dinastia Tang, a Torre Lingyan exibia retratos das pessoas mais importantes da época.
    9. Chapéu bordado com a efígie do Buda Vairocana.
    10. Acārya é um mestre espiritual. Com o tempo, esse termo passou a designar todos os monges budistas.
    11. Imperadores míticos da antiguidade. Consequentemente, eles foram considerados ancestrais do próprio Tang Taizong.
    12. Outro dos nomes de Buda, que significa “o mais honrado do mundo”.
    13. As Três Joias, também conhecidas como Três Tesouros, Três Refúgios, ou Tríplice Joia, fazem parte da tradição budista, sendo o conjunto dos ensinamentos do Buda, em que Buda representa o Desperto, o Dharma representa a Lei ou a Doutrina e a Sangha representa a Comunidade dos Discípulos/seguidores. 
    14. Os sete Budas dos tempos antigos, ou Budas Sapta, eram: Vipasyin, Sikhui, Visvabhu, Krakucchanda, Kanakamuni, Kasyapa e Sakyamuni.
    15. Tanto a pérola “radhi” como a pérola “mani” faziam parte dos tesouros budistas e caracterizavam-se pela sua extraordinária luminosidade, capaz de devolver a visão aos cegos e fazer com que os pecadores compreendessem o erro da sua conduta. São, na realidade, materializações da iluminação.
    16. Lo-Po é o nome que os chineses deram a Mahamaudgalyayana, um dos discípulos de Sakyamuni, famoso por ter ido ao inferno para libertar sua mãe de espíritos famintos. 
    17. A Montanha Jade é outro dos lugares onde viveu Wang-Mu-Niang Niang. Ver, a este respeito, a nota 9 do capítulo V.
    18. Os "geyas" são uma das doze classes de sutras do Budismo Hinayana, caracterizados pela sua estrutura métrica. 
    19. Ksitigarbha, o Protetor da Terra, é um dos oito Dhyani-bodhisattvas, que governam, junto com Yama, o submundo.
    20. Nele aconteciam as reuniões periódicas de todos os seguidores de Buda.
    21. Caturdisah foi outro dos mosteiros budistas mais famosos.
    22. Hinayana, “veículo menor”, é uma das duas divisões gerais do Budismo (a outra é o Mahayana). A motivação do praticante Hinayana em seguir o caminho do Dharma é principalmente o seu intenso desejo de liberação pessoal da existência condicionada, ou samsara.
    23. Mahayana, “grande veículo”, é  Uma das duas divisões gerais do budismo (a outra é o Hinayana). A motivação do praticante Mahayana em seguir o caminho do Dharma é principalmente o seu intenso desejo de que todos os seres mães sencientes sejam liberados da existência condicional, ou samsara, e alcancem a plena iluminação da budeidade.
    24. O título Tripitaka, "San-Tsang", concedido ao histórico Xuanzang, significa, na verdade, “Três Coleções”.
    25. O "Dharmakaya" é o autêntico corpo espiritual daqueles que atingiram o estado de Buda.
    26. Guanshiyin significa literalmente “aquele que não ignora os apelos do mundo”. 
    27. Gāthā refere-se especialmente a qualquer métrica poética usada em lendas e não faz parte dos Vedas , mas é peculiar ao sânscrito épico ou ao prácrito. A palavra é originalmente derivada da raiz sânscrita/prácrita gai , que significa 'falar, cantar, recitar ou exaltar.


    • Tradução em pt-br por Rodrigo Viany (Sleipnir). Favor não utilizar sem permissão.
    • Tradução baseada na tradução do chinês para o espanhol feitas por Enrique P. Gatón e Imelda Huang-Wang, e do chinês para o inglês feita por Collinson Fair.
    fontes consultadas para a pesquisa:
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    Ruby