5 de março de 2025

Ana, a Rainha Keshalyi

۞ ADM Sleipnir

Arte de Matias Cabezas

Ana, a Rainha Keshalyi, é uma figura lendária do folclore romani, particularmente nas tradições da Romênia e Eslováquia. Conhecida por sua beleza e pureza de coração, Ana foi a soberana das Keshalyi, um grupo de ninfas que habitavam as altas montanhas da região da Transilvânia. As Keshalyi eram descritas como sendo gentis e incrivelmente belas, sendo conectadas à natureza e às florestas.  

Ana vivia em um palácio encantado, situado no topo das montanhas rochosas, junto de seu pai, o Rei Haze, e das Keshalyi, que eram suas companheiras e subordinadas. Embora levasse uma vida pacífica e harmoniosa, o destino de Ana mudou drasticamente com a aproximação dos Loçolici, demônios subterrâneos deformados que outrora foram humanos corrompidos pelo Diabo. Esses seres horrendos eram conhecidos por sua fome cruel e destruíram grande parte do povo Keshalyi.

O Casamento Forçado com o Rei dos Loçolici

O Rei dos Loçolici, tomado pela luxúria e obcecado pela beleza de Ana, tentou conquistar seu amor, mas foi rejeitado. Furioso com a rejeição, ele ordenou um ataque às Keshalyi, matando e devorando muitas delas. Temendo a destruição total de seu povo, Ana aceitou se casar com o Rei dos Loçolici, sacrificando sua liberdade e felicidade pessoal para salvar as Keshalyi da extinção.

Depois de se mudar para o castelo do Rei no subterrâneo, Ana continuou a resistir à ideia de consumar o casamento. Frustrado, o rei dos Loçolici saiu para dar um longo passeio, e durante o mesmo encontrou um misterioso sapo dourado, que lhe orientou a alimentar a rainha Ana com cérebros de pega. Ele assim o fez, e isso a colocou em um estado de sono profundo, o que permitiu ao desprezivel rei ter relações com Ana contra a sua vontade. Durante o tempo em que essa relação abusiva perdurou, Ana deu luz à nove monstruosidades, conhecidos com os Filhos de Ana.

Os Filhos de Ana

Melalo, "O Sujo"

Arte de tee-dot-jay-dot

Melalo foi o primero filho a nascer da relação entre Ana e o Rei dos Loçolici. Ele se assemelhava a um pássaro imundo, cinza e verde, com duas cabeças e grandes garras cruéis, embora o tipo exato de pássaro nunca seja especificado. Diz-se que, até a década de 1950, uma pessoa violenta ou sem escrúpulos às vezes ainda era chamada de "genro de Melalo". Apesar de ser o primeiro filho, Melalo continuaria sendo um dos mais temidos de toda a sua família, pois era responsável tanto por doenças mentais quanto por todos os atos de violência sem sentido, incluindo assassinato e abuso sexual, às vezes até entrando e possuindo corpos humanos para cometer atos atrozes de crueldade. Embora pequeno, ele também era capaz – e muito adepto – de arrancar corações humanos.

O rei não estava satisfeito com seu primeiro filho, nem com nenhum de seus filhos subsequentes. Ele desejava um filho mais "normal", talvez algo entre ninfa e demônio, e continuaria tentando. Melalo, no entanto, sabia que isso nunca aconteceria e tramava usar seus próprios pais para inundar o mundo com mais miséria, pestilência e morte.

Lilyi, "A Viscosa"

Arte de tee-dot-jay-dot

Melalo amadureceu rapidamente, e quando começou a desejar uma esposa, pediu que seu pai criasse uma para ele. Prometendo que seria uma criança mais apresentável do que ele próprio, aconselhou o rei a cozinhar um peixe no leite de uma jumenta e gotejar o líquido resultante em Ana antes de conceber outra criança. 

Essa segunda criança tomou a forma de um peixe, especificado em registros antigos da lenda como uma peixe-bruxa. No entanto, essa peixe-bruxa possuía um rosto estranhamente semelhante ao de uma mulher, e de cada lado de seu corpo haviam nove longos e viscosos filamentos. Com esses tentáculos, Lilyi infligia doenças aos mortais, atravessando seus corpos para inflamar as membranas mucosas e causar os conhecidos sintomas de resfriados e gripes. Todas as doenças associadas a muco e catarro são obra de Lilyi, assim como todas as formas de disenteria. 

Seu casamento incestuoso com seu irmão emplumado resultaria em ainda mais demônios, que, por sua vez, se casariam entre si e continuariam a inundar o mundo com novas formas de doenças.

Tculo, "O Gorducho"

Arte de tee-dot-jay-dot

O rei logo começou a sentir inveja da crescente família de seu próprio filho e, mais uma vez, aproveitou-se de sua esposa adormecida; desta vez, após comer a carne de um milhafre  e de um lagostim. Isso, por algum motivo, deu origem a Tculo, descrito como uma pequena bola coberta de espinhos, semelhante a um ouriço-do-mar inchado.

Tculo rastejava para dentro dos orifícios inferiores de humanos desavisados e usava seus espinhos para irritar as paredes dos intestinos, do estômago e dos órgãos reprodutivos, causando dores abdominais, doenças intestinais e náuseas. Ele particularmente gostava de atacar mulheres durante a gravidez e, assim, é responsabilizado por todas as cólicas e vômitos associados a essa condição.

Tculo chegou a invadir e atormentar sua própria irmã perpetuamente grávida, Lilyi, e Melalo sabia que a única maneira de tirar seu irmão gorducho de sua viscosa esposa-peixe era arranjar uma esposa para o pequeno ouriço invasor de traseiros.

Tcaridyi, "A Ardente"

Arte de tee-dot-jay-dot

Não parece haver especificação sobre como a segunda filha de Ana foi criada, mas Tcaridyi tomou a forma de um verme coberto por longos e frágeis pelos. Assim como seu marido, ela sentia especial prazer em atormentar mães. Na verdade, Tcaridyi atacava exclusivamente os corpos de mulheres e, enquanto seu marido preferia atacar durante a gravidez, sua "ardente" irmã era mais atraída por hospedeiras que haviam acabado de dar à luz.

Rastejando através das veias e artérias, os pelos de Tcaridyi se desprendiam gradualmente e contaminavam a corrente sanguínea, causando doenças gerais, fadiga e, especialmente, febre — daí seu título.

Assim como seus irmãos antes deles, Tcaridyi e Tculo tiveram muitos filhos, todos associados, supostamente, a "doenças femininas". No entanto, é difícil definir exatamente o que isso significa. Esta é uma história com pelo menos séculos de idade e, como é de se esperar, não está exatamente atualizada com os avanços da biologia moderna.

Silali, "A Fria"

Arte de tee-dot-jay-dot

Seguindo mais um dos conselhos mirabolantes de Melalo, o rei desprezível preparou uma sopa para Ana usando sua própria saliva e o cadáver assado de um rato. Ao beber a mistura, Ana ficou terrivelmente doente, e um rato branco com muitas patas emergiu de sua boca. Esse era Schilalyi ou Silali, seu primeiro filho gerado sem que o demônio sequer a tocasse. Quebrando o padrão filho/filha/filho/filha, Silali era outro demônio feminino.

Silali se especializava em febres e, especialmente, no rigor – a sensação de estar congelando quando, na verdade, a temperatura do corpo está subindo. Assim como Tculo, Silali atormentava persistentemente seus próprios irmãos e irmãs, aparentemente por solidão – e talvez porque, por algum motivo, seu nascimento particularmente antinatural repugnava Ana mais do que os outros demônios. Silali era uma das filhas mais odiadas por sua mãe.

Bitoso, "O Prendedor"

Arte de tee-dot-jay-dot

Para dar a Silali algo mais produtivo para fazer, Melalo instruiu um de seus pais (não está claro qual deles) a consumir alho embebido em sua própria urina. Após o rei ter relações com Ana, mais uma vez, ela deu à luz Bitoso, um pequeno verme dotado de várias cabeças, e que se tornou marido de Schilalyi.

Curiosamente, Bitoso não era tão prejudicial quanto seus predecessores. Ele se agarrava ao interior de seus hospedeiros para causar apenas desconfortos estomacais simples, mas os filhos que ele gerou com Silali se tornaram responsáveis por uma ampla variedade de problemas persistentes e comuns, incluindo dores de dente, perda de audição e cólica.

Lolmischo, "O Rato Vermelho"

Arte de tee-dot-jay-dot

Exposta aos horrores de sua juventude e às condições imundas do reino demoníaco, Ana sofreu doenças contínuas e eventualmente desenvolveu uma erupção cutânea purulenta por todo o corpo. Melalo lhe disse que a erupção sararia se suas feridas fossem lambidas por ratos, e surpreendentemente, o conselho médico perverso e maligno do pássaro estava correto. Mais ou menos. Os ratos acalmaram Ana, e a erupção desapareceu, mas apenas depois que um rato rastejou para dentro de uma das feridas, cavando profundamente no corpo de Ana, onde se transformou em seu próximo filho, Lolmischo.

Lolmischo  se especializou em todos os tipos de doenças de pele, causando eczema, bolhas, verrugas, furúnculos, espinhas e úlceras dolorosas, simplesmente caminhando sobre os mortais enquanto dormem.

Minceskre, "A Saída dos Genitais"

Após dar à luz a Lolmischo, Ana perguntou ao seu próprio filho, Melalo, se havia alguma maneira de se tornar estéril de forma definitiva, e ele disse à mãe que ela deveria se enterrar em um monte de esterco. Ela resolveu seguir o conselho do filho, e enquanto mergulhava em um poço de fezes, um pequeno besouro subiu pelo seu corpo, alcançando o seu útero e se transformando em sua filha final e mais maligna.

Minceskre, por sua vez, parecia um pequeno besouro com as costas peludas, e em pelo menos uma das primeiras representações que vimos, ela pode também ter se assemelhado a uma vulva rastejante. Ao se arrastar sobre e, às vezes, entrar nos corpos mortais, Minceskre criou todas as doenças venéreas conhecidas pela humanidade, além de várias doenças sanguíneas mortais. Tomando Lolmischo como seu marido, ela também deu à luz aos demônios responsáveis pela horrível varíola, febre escarlatina, sarampo e muitas outras.

Poreskoro, "O Caudado"

Arte de tee-dot-jay-dot

Tanto Ana quanto seus companheiros Keshalyi estavam desesperados para acabar com o pesadelo de uma vez por todas, e o povo fada acreditava que poderiam adoecer o rei dos demônios com um bolo especial contendo pelos de um gato, pelos de um cachorro demoníaco e os restos em pó de uma cobra seca. No final, os Keshali conseguiram o que queriam, mas a um preço horrível e terrível.

Envenenado pelo estranho bolo, o rei concebeu apenas mais um filho. Este tinha o corpo de um pássaro, com uma cobra como cauda, quatro cabeças caninas e quatro cabeças felinas. Um hermafrodita autofértil, Poreskoro não precisou de um cônjuge incestuoso para inundar o mundo com uma ninhada profana, que incluiria cólera, peste negra e todos os maiores e mais tenazes assassinos da humanidade que não foram cobertos por Minceskre. Portanto, é seguro afirmar que o legado de Poreskoro inclui a maioria das formas de câncer e condições genéticas degenerativas incuráveis.

Poreskoro era tão hediondo que nem mesmo o Rei dos Loçolici suportava olhá-lo, e isso levou o Rei a perceber que seu casamento com Ana não tinha futuro.

A Liberdade de Ana e o Tratado com os Loçolici

Após o nascimento de Poreskoro, o Rei dos Loçolici decidiu libertar Ana, mas como era um monstro amoral, ele o fez sob duas condições rigorosas. Em primeiro lugar, os Loçolici deixariam os Keshalyi em paz enquanto Ana estivesse viva. Em segundo, cada Keshalyi que atingisse a idade de 999 anos deveria ser entregue aos Loçolici para ser devorado por eles.

Desde então, a rainha Ana vive reclusa em um castelo isolado na montanha,, onde é alimentada e sustentada pelos Keshalyi. Todas as manhãs, três das ninfas a visitam e lhe dão uma única gota de sangue de sua mão esquerda para mantê-la viva. Diz-se que ocasionalmente ela deixa o castelo e aparece sob a forma de um sapo dourado para transmitir conselhos médicos aos humanos.

Enquanto isso, sua descendência demoníaca continua a se reproduzir nas profundezas da terra, com cada geração se tornando mais degenerada e bizarra do que a anterior. Sempre que uma nova condição médica surge, ou um vírus se muta em uma nova cepa, pode-se, supostamente, culpar uma orgia incestuosa de demônios viscosos fervendo profundamente sob nossos pés.

Arte de Carla Adams


fontes:
PARTICIPE! Deixe seu comentário, elogio ou crítica nas publicações. Faça também sugestões. Sua interação é importante ajuda a manter o blog ativo! Siga o Portal dos Mitos no Youtube, TikTok e Instagram!

Nenhum comentário:



Seu comentário é muito importante e muito bem vindo, porém é necessário que evitem:

1) Xingamentos ou ofensas gratuitas ao autor e a outros comentaristas;
2)Comentários racistas, homofóbicos, xenófobos e similares;
3)Spam de conteúdo e divulgações não autorizadas;
4)Publicar referências e links para conteúdo pornográfico;
5)Comentários que nada tenham a ver com a postagem.

Comentários que inflijam um desses pontos estão sujeitos a exclusão.

De preferência, evite fazer comentários anônimos. Faça login com uma conta do Google, assim poderei responder seus comentários de forma mais apropriada, e de brinde você poderá entrar no ranking dos top comentaristas do blog.



Ruby