31 de outubro de 2024

Cthulhu

۞ ADM Sleipnir

Arte de Francesco Crisci


Cthulhu é uma entidade cósmica fictícia criada por H. P. Lovecraft em seu conto "O Chamado de Cthulhu" (The Call of Cthulhu em inglês). A criatura fez sua primeira aparição na edição de fevereiro de 1928 da revista pulp Weird Tales. Descrito como um Grande Antigo de poder imensurável, Cthulhu possui uma forma grotesca e tentacular, semelhante à de um polvo, e repousa em um sono profundo em sua cidade submersa de R'lyeh, situada sob o Oceano Pacífico. Ele é o homônimo e o elemento mais icônico dos Mythos de Cthulhu, influenciando obras de vários autores posteriores a Lovecraft e sendo amplamente referenciado na cultura popular.

Nome

Lovecraft transcreveu a pronúncia de Cthulhu como Khlûl'-hloo. No entanto, S. T. Joshi observa que Lovecraft apresentou várias pronúncias diferentes em ocasiões distintas (EXP: "The Call of Cthulhu and Other Weird Stories").
"A primeira sílaba [de Khlûl'-hloo] é pronunciada de forma gutural e muito densa. O 'u' é semelhante ao som de 'full'; e a primeira sílaba é semelhante ao som de 'klul', por isso o 'h' representa essa densidade gutural."
HPL, "Cartas Selecionadas V"

De acordo com Lovecraft, esta é apenas a forma mais próxima que o aparelho vocal humano consegue reproduzir os sílabas de uma língua alienígena. Muito tempo após a morte de Lovecraft, a pronúncia kə-TH'oo-loo se tornou comum, sendo endossada pelo jogo Call of Cthulhu.

Arte de Ryan Bittner

Descrição

As descrições mais vívidas de Cthulhu derivam de estátuas da criatura, criadas ou descobertas em contextos específicos e perturbadores. Uma dessas esculturas foi feita pelo jovem artista Henry Anthony Wilcox após uma série de sonhos inquietantes. Wilcox descreve a figura como possuindo “uma mescla de polvo, dragão e caricatura humana [...] uma cabeça carnuda e tentaculada coroava um corpo grotesco e escamoso, dotado de asas rudimentares” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”). Outra estátua, apreendida pela polícia durante uma operação contra um culto assassino, representava “um monstro de traços vagamente antropomorfos, com uma cabeça semelhante à de um polvo, cujo rosto era uma massa de tentáculos, um corpo escamoso e de aparência borrachenta, garras poderosas nas patas dianteiras e traseiras, e longas asas estreitas nas costas.” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).


Os cultistas acreditam que as atividades de Cthulhu e dos Filhos das Estrelas (referidos como “Grandes Antigos”) estão diretamente ligadas à configuração das estrelas. Quando as estrelas estão “na posição certa”, eles podem se mover livremente pelo espaço para colonizar novos mundos. Contudo, quando as estrelas estão “na posição errada”, esses seres não conseguem viver plenamente; embora não possam morrer, entram em um estado de animação suspensa ou estase, “preservados pelos feitiços do poderoso Cthulhu.” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

Em contraste com as representações idolátricas de pedra, Lovecraft oferece uma única descrição direta de Cthulhu por meio do relato de Gustaf Johansen, o único sobrevivente de um grupo de marinheiros que, em 1925, encontrou uma porção submersa da cidade de R'lyeh, brevemente emergida após tremores catastróficos. Johansen destaca a vastidão gargantuesca de Cthulhu, comparando-o a uma montanha ambulante. Ele descreve a criatura como “uma massa gelatinosa e verde”, com “garras flácidas” e uma “cabeça de lula cujos tentáculos se contorciam”. A expressão “uma montanha que caminhava ou tropeçava” ilustra a escala aterradora do monstro, confirmada ainda pelos sonhos de Wilcox, que “vislumbrava uma coisa gigantesca ‘milhas de altura’ que se arrastava ou caminhava desajeitadamente” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

Segundo o relato de Johansen, dois marinheiros morreram de terror ao vê-la, enquanto três outros “foram tragados pelas garras flácidas” da criatura. Em uma tentativa desesperada de fuga, um marinheiro, Parker, “foi engolido por um ângulo de alvenaria que não deveria estar ali”, uma característica da geometria alienígena de R'lyeh. William Briden, que conseguiu alcançar o navio, perdeu a sanidade ao ver o imenso monstro nadando em perseguição, e “continuou rindo intermitentemente até que a morte o levou uma noite em sua cabine.” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

Arte de Disse86

Em adaptações de August Derleth, a aparência de Cthulhu é retratada de maneira distinta, sendo muito mais protoplasmática do que nas descrições de Lovecraft. O Cthulhu de Derleth aparece como uma massa metamórfica, com miríades de tentáculos que brotam de seu corpo e um único olho em seu rosto. (AWD: “Algo em Madeira”, “A Ilha Negra”).

Na série Titus Crow, de Brian Lumley, é sugerido que a criatura encontrada por Johansen talvez não fosse o verdadeiro Cthulhu, mas apenas um de seus Filhos das Estrelas, implicando que o verdadeiro Cthulhu seria ainda mais colossal e difícil de enfrentar.

Regeneração

Após Johansen colidir o navio Alert contra Cthulhu, o corpo da criatura se rompeu como uma "bexiga explodindo" e se desfez em uma "nuvem verde ofuscante", que logo começou a se recompor (HPL: "O Chamado de Cthulhu"). Em outras narrativas, Cthulhu demonstra uma resiliência extraordinária, sobrevivendo até à detonação de uma bomba atômica (AWD: "A Ilha Negra"). Contudo, no romance Strange Eons, de Robert Bloch, seu corpo físico é efetivamente destruído pela explosão, e ele sobrevive apenas ao renascer em outra forma.

Como Lovecraft sugere que Cthulhu "nunca pode realmente morrer", é plausível que a destruição de seu corpo não leve a uma morte definitiva, mas a algo similar a um banimento temporário para outra dimensão ou plano. Esse conceito de retorno após uma suposta destruição também é visto com outras entidades do Mito de Cthulhu, como Chaugnar Faugn (CIRCLE: "O Horror das Colinas") e Byatis (EXP: "O Quarto no Castelo").

Arte de John Dotegowski

Metamorfose

Em Nas Montanhas da Loucura, as obras de arte dos Antigos da Antártida revelam que os Filhos das Estrelas de Cthulhu (e, presumivelmente, o próprio Cthulhu) são compostos de um tipo de matéria desconhecida na Terra. Essa substância única permite que eles "passem por transformações e reintegrações" impossíveis para formas de vida feitas de matéria convencional, como os próprios Antigos.

O folclorista Albert Wilmarth teoriza que Cthulhu poderia existir em um estado gasoso, capaz de infiltrar-se até mesmo através de rocha sólida. (CIRCLE: "O Terror das Profundezas"). Na ficção de August Derleth, Cthulhu é retratado como uma entidade extremamente metamórfica e maleável. (AWD: "A Casa na Rua Curwen", “Algo em Madeira”, “A Ilha Negra”)

Habilidades Psíquicas

Castro, um cultista de Cthulhu, revela que os Grandes Antigos possuem habilidades telepáticas e "sabiam de tudo que ocorria no universo". Eles eram capazes de se comunicar com os primeiros humanos "moldando seus sonhos", o que facilitou o surgimento do Culto de Cthulhu. Contudo, após o afundamento de R'lyeh nas profundezas do oceano, "as águas profundas, repletas do antigo mistério primordial através do qual nem mesmo o pensamento pode passar, romperam a comunicação espectral". (HPL: "O Chamado de Cthulhu")

É relevante notar que os "Grandes Antigos" mencionados por Castro se referem especificamente aos Filhos das Estrelas de Cthulhu, e não às outras entidades conhecidas como Grandes Antigos em outras partes do Mito. Isso fica evidente na declaração de Castro de que "todos jazem em casas de pedra na grande cidade de R'lyeh". Em outros trechos, Cthulhu também é identificado como o "sacerdote" dos Grandes Antigos. (HPL: "O Chamado de Cthulhu")

Quando uma parte de R'lyeh, possivelmente a cidadela de Cthulhu, emergiu brevemente em 1925, a influência psíquica de Cthulhu foi sentida globalmente por indivíduos sensíveis, especialmente por artistas e pacientes em asilos. Esse despertar causou uma onda de "pânico, mania e excentricidade" em várias partes do mundo, incluindo surtos de suicídio. (HPL: "O Chamado de Cthulhu")

Assim como ocorre com outras entidades dos Grandes Antigos, ídolos de Cthulhu podem servir como "pontos de contato" que permitem que ele se manifeste física e mentalmente através da escultura. Essa conexão não se limita aos ídolos esculpidos em minerais extraterrestres trazidos à Terra por Cthulhu e seus Filhos das Estrelas; manifestações semelhantes também foram observadas em esculturas de madeira talhadas na Terra. (AWD: "Algo em Madeira")

Arte de nightserpent

Natureza Elementar

Nas histórias de August Derleth, os Grandes Antigos são representados como entidades elementares, cada uma associada a uma das quatro forças clássicas do sistema aristotélico: terra, ar, água e fogo. Cthulhu, em particular, é vinculado ao elemento água (AWD: "A Casa na Rua Curwen", "O Selo de R'lyeh") e descrito como o "líder das forças elementares da água" (AWD: "O Compacto de Sandwin"). Essa afiliação o torna adversário das forças do ar, como Hastur, o Indizível, retratado por Derleth como meio-irmão de Cthulhu e seu rival (AWD: "O Retorno de Hastur").

No entanto, Derleth sugere que as alianças dos Grandes Antigos nem sempre seguem essa afinidade elemental. Em um dos conflitos, Cthulhu se alia a Ithaqua contra Hastur e Cthugha (AWD: "A Ilha Negra"), embora Ithaqua também seja associado ao ar (AWD: "A Coisa que Caminhou sobre o Vento"). Isso indica que os relacionamentos entre esses seres podem ser complexos e motivados por outros fatores além de sua natureza elementar.

Lovecraft, por sua vez, descreve Cthulhu como uma criatura capaz de nadar (HPL: "O Chamado de Cthulhu"), mas seus Filhos das Estrelas são estritamente terrestres, tendo construído suas cidades em terra firme muito antes de sua submersão (HPL: "Nas Montanhas da Loucura"). A aparência física de Cthulhu, retratada em seus ídolos de pedra, mistura características aquáticas (como tentáculos) com traços terrestres (como garras) e aéreos (como asas rudimentares), sugerindo uma natureza ambígua.

Arte de acrylicdreams

Albert Wilmarth observa que Cthulhu "pode ir a qualquer lugar que desejar através do espaço, do ar, do mar ou da própria terra" (CIRCLE: "O Terror das Profundezas"), destacando sua adaptabilidade. Derleth também frequentemente descreve Cthulhu como "anfíbio" (AWD: "O Habitante da Escuridão", "O Vigilante do Céu", "A Casa no Vale"), reforçando a ideia de sua mobilidade entre diferentes ambientes.

Além disso, o elemental aquático B'Moth é considerado um avatar de Cthulhu (EXP: Ye Booke of Monstres II), capaz de se manifestar na água, na névoa ou na chuva, mas impedido de se aproximar de fogo ou calor. Como Cthulhu, B'Moth é uma entidade gigantesca e ancestral, que habita o fundo dos oceanos e se comunica telepaticamente com seus cultistas ao redor do mundo. Alimenta-se das almas humanas e anseia pela volta da humanidade a um estado primal de anarquia, ou a "lei da selva" (ADJ: "A Praga de B'Moth"). Essa visão ecoa o desejo dos cultistas em "O Chamado de Cthulhu" de ver a humanidade libertada das restrições da civilização para se entregar à violência e ao caos.

Estado Semelhante à Morte

A maioria das fontes sugere que Cthulhu e seus Filhos das Estrelas estão atualmente em uma espécie de dormência semelhante à morte, comparável a uma animação suspensa, estivação ou hibernação, da qual não podem despertar sem a intervenção de seus cultistas. Os rituais para despertá-los podem envolver a abertura de portais dimensionais, como sugerido na série O Rastro de Cthulhu (1962). Em muitos relatos, supõe-se que eles só podem retornar à vida quando “as estrelas estiverem certas”.

Essa condição entre a vida e a morte é ilustrada na célebre frase de Lovecraft de que “o Cthulhu morto espera sonhando” e ganha expressão poética na famosa estrofe de Abdul Alhazred:

“Não está morto o que pode eternamente jazer,
E com estranhos éons até a morte pode morrer.”

Arte de Caberwood

Culto e Adoradores de Cthulhu

O tamanho exato do culto de Cthulhu é desconhecido, mas sabe-se que ele conta com diversas células ao redor do mundo. Os cultistas frequentemente entoam o terrível mantra: "Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn", que se traduz como “Em sua casa em R'lyeh, o Cthulhu morto espera sonhando.” Essa frase é comumente abreviada para “Cthulhu fhtagn”. com interpretações que variam entre “Cthulhu espera”, “Cthulhu sonha” ou “Cthulhu espera sonhando.” Presume-se que o idioma seja R’lyehian, trazido à Terra pelos Filhos das Estrelas (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

O culto de Cthulhu é global, com uma presença central na Arábia e células em lugares tão distantes quanto Groenlândia e Louisiana (HPL: “O Chamado de Cthulhu”). Entre seus líderes, existem “imortais nas montanhas da China.” Cthulhu é descrito por seus seguidores como o “grande sacerdote” dos “Grandes Antigos que habitaram a Terra antes do surgimento dos homens e vieram dos céus” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

A adoração a Cthulhu não é monoteísta. Ser um de seus devotos não impede os cultistas de reverenciar outras divindades cósmicas. Abdul Alhazred, por exemplo, cultuava tanto Cthulhu quanto Yog-Sothoth (HPL: "História do Necronomicon"). Os seguidores de Cthulhu acreditam que, quando ele e seus Filhos das Estrelas despertarem, a humanidade será transformada, retornando a um estado de anarquia primal, livre de leis e moralidade. O culto visualiza um futuro de caos, onde “gritar, matar e se entregar à alegria” são os únicos preceitos, acreditando que os Grandes Antigos ensinarão novas formas de violência e êxtase, incendiando a Terra em um “holocausto de liberdade” (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

Arte de Sanskarans

O culto também é conhecido por realizar sacrifícios humanos. Alguns cultistas alegam que esses assassinatos são realizados por seus aliados, os “Seres Alados Negros.” A natureza desses seres e sua relação com Cthulhu permanece desconhecida, exceto que não são Filhos das Estrelas (HPL: “O Chamado de Cthulhu”).

Cthulhu foi outrora adorado no continente pré-histórico de Mu. Manuscritos de Michael Hayward referem-se a ele como “Cthulhu, tão alto quanto uma montanha, do Abismo Aquático” (CIRCLE: “Os Invasores”).

Certas fontes sugerem que Cthulhu teria inspirado o Leviatã bíblico e que ele e seus Filhos das Estrelas são a origem de lendas sobre dragões e serpentes marinhas, com as cabeças múltiplas, nas interpretações humanas, possivelmente derivadas dos tentáculos faciais das criaturas (EXP: "Cthulhu Idade das Trevas").


O professor Laban Shrewsbury, estudioso dos mitos de Cthulhu, destaca semelhanças entre Cthulhu e Huitzilopochtli, o deus da guerra dos Quechua-Ayars, que também era representado com “serpentes surgindo de várias partes de seu corpo” (AWD: “A Casa na Rua Curwen”).

Além de cultistas humanos, Cthulhu é reverenciado pelas criaturas marinhas conhecidas como os Profundos, que, como seus devotos humanos, realizam sacrifícios em sua homenagem (HPL: "A Sombra sobre Innsmouth"). A relação entre Cthulhu, Pai Dagon e Mãe Hidra — também venerados pelos Profundos — é incerta, mas alguns autores, como Lin Carter, sugerem que Dagon e Hidra sejam subordinados de Cthulhu.

Outras espécies alienígenas também cultuam Cthulhu, como os K’n-yanians, que acreditam que Cthulhu os trouxe das estrelas e veneram o “Tulu-metal,” um elemento ou liga extraterrestre que, segundo eles, foi trazido à Terra por ele (HPL: "O Montículo"). Cthulhu é igualmente louvado pelos Mi-Go e seus aliados humanos, como registrado por Henry Wentworth Akeley em rituais secretos (HPL: "O Sussurrador nas Trevas").

Além disso, os Pescadores do Exterior (em inglês Fishers from Outside), uma raça alienígena que possui postos abandonados nas florestas tropicais da África, possuem uma ligação com “Tsadogwa e Clulu,” sugerindo que possam tê-los reverenciado (HPL: “A Morte Alada”). Por fim, Shrewsbury sugere que os habitantes reptilianos da Cidade Sem Nome eram originalmente uma raça aquática que cultuava Cthulhu (AWD: “O Guardião da Chave”).

Arte de HrvojeSilic

História de Cthulhu

Cthulhu é uma entidade extraterrestre que chegou à Terra em algum momento da era Paleozóica, acompanhado de seus Filhos das Estrelas (HPL: "Nas Montanhas da Loucura"). Algumas fontes descrevem Cthulhu de maneira que parece contradizer os relatos mais conhecidos. Por exemplo, o Necronomicon menciona: "O Grande Cthulhu é primo deles, mas só consegue vê-los vagamente", referindo-se aos Antigos (HPL: "O Horror de Dunwich"). Porém, os contos de Lovecraft e seus personagens usam o termo "Antigos" de maneiras diferentes. Neste contexto específico, refere-se à espécie de Yog-Sothoth, o que pode sugerir que Cthulhu e Yog-Sothoth são parentes, mas não exatamente da mesma natureza. No jogo de RPG Call of Cthulhu, Cthulhu é considerado um Grande Antigo, enquanto Yog-Sothoth é um Deus Exterior.

Em Nas Montanhas da Loucura, exploradores humanos descobrem uma cidade ancestral na Antártida, habitada por criaturas similares a crinóides, chamadas Coisas Antigas, que estavam em guerra com Cthulhu e seus Filhos das Estrelas. Curiosamente, nessa novela, as Coisas Antigas são referidas como os "Antigos" mencionados no Necronomicon. Os exploradores desvendam parte da história dessas criaturas através de registros esculpidos:
“Com o surgimento de novas terras no Pacífico Sul, eventos tremendos começaram [...] Outra raça – uma raça terrestre de seres com forma de polvo e que provavelmente corresponde à lendária prole pré-humana de Cthulhu – logo começou a descer do infinito cósmico, precipitando uma guerra monstruosa que, por um tempo, empurrou os Antigos de volta ao mar [...] Mais tarde, foi feita a paz, e as novas terras foram dadas à prole de Cthulhu, enquanto os Antigos mantinham o mar e as terras mais antigas [...] A Antártida permaneceu o centro da civilização dos Antigos, e todas as cidades construídas lá pela prole de Cthulhu foram destruídas. Então, subitamente, as terras do Pacífico afundaram novamente, levando consigo a assustadora cidade de pedra de R'lyeh e todos os seres cósmicos, permitindo que os Antigos fossem mais uma vez supremos no planeta.” (HPL: Nas Montanhas da Loucura) 

William Dyer, um membro da expedição antártica, observa que "a prole de Cthulhu [...] parece ter sido composta de uma matéria muito diferente daquela que conhecemos, capaz de transformações e reintegrações impossíveis para seus adversários, e aparentemente vinda de regiões ainda mais remotas do espaço cósmico [...] A origem dessas outras criaturas só pode ser adivinhada com extremo cuidado". Ele sugere que os Antigos podem ter inventado uma estrutura cósmica para justificar suas derrotas ocasionais (HPL: "Nas Montanhas da Loucura").

Outro relato menciona "os mitos assustadores que precedem a chegada do homem à Terra – os ciclos de Yog-Sothoth e Cthulhu – que são insinuados no Necronomicon". A narrativa de Wilmarth sugere que Cthulhu é uma das entidades adoradas pela raça alienígena Mi-Go e reitera a alegação das Coisas Antigas de que os Mi-Go compartilham sua composição material desconhecida. A chegada de Cthulhu está ligada de alguma forma a supernovas (ou talvez a estrelas metafóricas, como grandes figuras históricas): "Aprendi de onde Cthulhu veio pela primeira vez e por que metade das grandes estrelas temporárias da história explodiram". Algumas histórias mencionam que os Mi-Go são chamados de "antigos" por certos humanos (HPL: "O Sussurrador na Escuridão").

Arte de Michael Jaecks

Investigações sobre as atividades da Ordem Esotérica de Dagon em Innsmouth, Massachusetts, revelaram que Cthulhu também é adorado pelos Profundos. Embora a ocupação governamental de Innsmouth em 1928 tenha encerrado as atividades dos Profundos na área, Robert Olmstead estava convencido de que "eles ressurgiriam para o tributo que o Grande Cthulhu exigia", declarando que "da próxima vez, seria uma cidade maior que Innsmouth" (HPL: "A Sombra sobre Innsmouth").

O sacerdote Kathulos de Atlântida (CIRCLE: "Skull-Face") é Cthulhu (HPL: "Cartas Selecionadas 3.421", "O Sussurrador na Escuridão"). Em Skull-Face, de Robert E. Howard, Kathulos é um sacerdote e feiticeiro de Atlântida, descrito como "Filho do Oceano", com poderes de mesmerizar pessoas e animais. A novela menciona frequentemente os "tentáculos" metafóricos de Kathulos, referindo-se à sua influência através de uma sociedade secreta de seguidores fiéis em todo o mundo.


Nas histórias de August Derleth, Cthulhu é um dos Grandes Antigos, ou "Antigos Anciões", que se rebelaram contra os Deuses Anciãos e foram posteriormente aprisionados ou banidos para locais diversos. Especificamente, Cthulhu foi aprisionado na submersa R'lyeh, cuja entrada foi selada com pedras estelares (AWD: "O Covil da Prole Estelar", "A Casa na Rua Curwen", "A Casa no Vale").

Apesar de seu aprisionamento, parece que Cthulhu pode ser invocado por seus cultistas, tendo sido avistado em outros lugares, incluindo um lago subterrâneo no Peru conectado ao Oceano Pacífico (AWD: "O Desfiladeiro Além de Salapunco") e até mesmo na costa de Massachusetts, perto de Innsmouth (AWD: "O Retorno de Hastur"). O Professor Shrewsbury dedicou anos de sua vida para localizar e fechar "passagens" em várias partes do mundo que poderiam servir como rotas de fuga para Cthulhu. Alguns relatos de Derleth sugerem que R'lyeh está no Oceano Atlântico (AWD: "Algo em Madeira"), ou que é um continente submerso em formato de anel, ligando o Atlântico ao Pacífico (AWD: "O Selo de R'lyeh"). Dado seu caráter de geometria impossível, é possível que R'lyeh seja interdimensional, acessível a partir de vários lugares, similar ao Planalto de Leng ou à caverna de Y'qaa.

Em algum momento, Cthulhu pode ter habitado o planeta Saturno (EXP: "O Guardião do Livro", "A Guerra Final").

Árvore Genealógica de Cthulhu

Em correspondências com o autor James F. Morton, H.P. Lovecraft descreve Cthulhu como filho de Nug, que, por sua vez, é descendente de Yog-Sothoth e Shub-Niggurath. Nug tem um irmão gêmeo, Yeb, considerado o progenitor de Tsathoggua. Lovecraft define Cthulhu e Tsathoggua como "os primeiros de suas linhagens a habitarem este planeta" e inclui, em uma árvore genealógica complexa, a si próprio como um descendente de Cthulhu, por meio de figuras como Shaurash-ho, Yogash, o Ghoul, K'baa, a Serpente, e Ghoth, o Escavador (HPL: "Cartas Selecionadas, 4.617").

Nug e Yeb, Arte de Loneanimator

Outros autores, no entanto, propuseram diferentes interpretações. Clark Ashton Smith, em cartas para R.H. Barlow, sugeriu que Cthulhu descendia do andrógino Cxaxukluth (filho de Azathoth) e era irmão de Hziulquoigmnzhah e Ghizguth, sendo este último pai de Tsathoggua. Em outra carta, Smith menciona Ptmâk como o “pai imediato” de Cthulhu e usa o termo "filho de Nug", embora não deixe claro se esse título se refere a Cthulhu ou a Ptmâk (CIRCLE: "Dos Pergaminhos de Pnom").

Em “Eu, Cthulhu”, de Neil Gaiman, Cthulhu teria nascido nos pântanos de Khhaa'yngnaiih, um mundo dominado por uma lua enorme e um sol envelhecido que explodiu. Neste conto, Cthulhu afirma ter devorado tanto seu pai quanto sua mãe. A história descreve Hastur como tio de Cthulhu, em contraste com a visão de August Derleth, que os considera meio-irmãos; já o Rei de Amarelo é retratado como uma entidade independente, diferentemente da associação comum como um avatar de Hastur.

Hastur

O livro Unaussprechlichen Kulten, de Friedrich von Junzt, atribui a paternidade de Cthulhu a Yog-Sothoth e a uma mulher do planeta Vhoorl, na 23ª Nebulosa. Isso sugere que ele possui dois meio-irmãos, Hastur e Vulthoom, também gerados por Yog-Sothoth em outros planetas (EXP: "O Horror na Galeria"), consistente com o que Lovecraft menciona sobre os muitos filhos de Yog-Sothoth com seres de outros mundos, como em O Horror de DunwichO planeta Vhoorl é mencionado pela primeira vez em O Guardião do Livro, de Henry Hasse, onde é descrito como o local de origem de Kathulhn, um matemático que ascendeu a um plano superior e fez contato com entidades cósmicas malignas. A morte de Kathulhn é registrada em um livro sem nome, mas seu guardião alienígena sugere uma conexão entre ele e Cthulhu.

Cthulhu é frequentemente descrito como uma entidade masculina, sendo referido por pronomes masculinos em várias obras (HPL: "O Horror de Dunwich"). No entanto, algumas fontes o sugerem como uma entidade andrógina. Os Pergaminhos de Pnom indicam o gênero masculino de Ghizguth e Hzioulquoigmnzhah, mas não especificam o de "Tulu" (CIRCLE: "A Árvore Genealógica dos Deuses"). Albert Wilmarth também o descreve com o enigmático "ele, ou ela, ou isso" (CIRCLE: "O Terror das Profundezas"). No conto Eu, Cthulhu, a criatura menciona que eventualmente será consumida por seus descendentes, sugerindo um possível aspecto feminino ou hermafrodita, ao passo que em A Guerra Final, de Dr. David H. Keller, Cthulhu assume uma forma feminina.

Antes de chegar ao Sistema Solar, Cthulhu teria acasalado com Idh-yaa no planeta Xoth, gerando Ghatanothoa, Ythogtha, Zoth-Ommog (EXP: "O Horror na Galeria") e Cthylla (EXP: "A Transiçaõ de Titus Crow"). Os Filhos das Estrelas, uma raça servil a Cthulhu, também teriam sido gerados nessa época (EXP: "Papiro da Sabedoria Sombria").

Além disso, Cthulhu teria se unido à sua irmã Kassogtha, gerando Nctosa e Nctolhu (EXP: "Discípulo do Pesadelo"). Para os monges de Leng, Cthulhu e Nyarlathotep são avatares de Nug e Yeb, conhecidos também como Zhar e Lloigor, que tomam forma quando as estrelas se alinham corretamente. Esses avatares, segundo os monges, são capazes de andar entre os homens, com Cthulhu se manifestando como o sacerdote atlante Kathulos e Nyarlathotep como o faraó egípcio Nephren-Ka (EXP: "O Estranho Destino de Enos Harke").

Kathulos

Em Outras Mídias

Doctor Who

O Doutor encontra Cthulhu pela primeira vez no romance White Darkness, embora a divindade seja referida apenas como um dos Grandes Antigos, sendo identificada pelo nome apenas mais tarde, no romance All-Consuming Fire. No universo de Doctor Who, Cthulhu permanece adormecido em uma caverna sob o Haiti (EXP: "White Darkness, All-Consuming Fire").

Os Caça-Fantasmas (Ghostbusters)

Os Ghostbusters enfrentam "Cathulhu" [sic] na cidade de Nova York, após a divindade ser convocada por um ritual realizado por um grupo de cultistas que roubaram o temido Necronomicon. Felizmente, os heróis conseguem destruir o corpo do monstro com um raio e o banir de volta para sua dimensão de origem, após descobrirem que Cathulhu é vulnerável à eletricidade (EXP: "The Collect Call of Cathulhu"). No jogo de RPG Call of Cthulhu, existe uma manifestação psíquica de Cthulhu conhecida como Chorazin, que também é descrita como vulnerável à eletricidade, similar ao que os Ghostbusters enfrentaram no episódio.


As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy

Na série de comédia animada As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy, "Cthulu" [sic] reside em uma dimensão sobrenatural e atua como um executivo corporativo, governando uma empresa que emprega humanos transformados em criaturas monstruosas. O objetivo da empresa é fazer chamadas telefônicas para contatar mais vítimas que também serão transformadas em monstros (EXP: "Prank Call of Cthulu"). Na série, qualquer contato visual direto com Cthulu é suficiente para causar loucura, embora Mandy contorne isso usando um espelho, para não ter que olhar diretamente para ele.


O Guia do Mochileiro das Galáxias

Cthulhu aparece em And Another Thing..., a sexta e última parte da série de comédia sci-fi O Guia do Mochileiro das Galáxias, escrita por Eoin Colfer após a morte do autor original, Douglas Adams. No livro, Cthulhu participa de uma entrevista de emprego para se tornar o deus do planeta Nano, mas o entrevistador não fica impressionado com seu status atual de "morto, mas sonhando", e a posição acaba indo para o deus nórdico Thor (EXP: And Another Thing...). Curiosamente, o romance afirma que Hastur ajudou Cthulhu a se preparar para a entrevista, sugerindo que a relação entre Cthulhu e Hastur é muito mais amigável no universo de O Guia do Mochileiro do que nas histórias de Derleth.

Marvel

No Multiverso Marvel, o nome Cthulhu tornou-se sinônimo de horrores cósmicos, com entidades eldrich não relacionadas sendo referidas como "Cthulhus" (EXP: The Ultimates Vol. 3 #3). Um deus obscuro chamado "Cthuma-Gurath" foi adorado pelo feiticeiro Shagreen da Terra-5311. No entanto, não se sabe se ele tem alguma conexão com Cthulhu e/ou Shuma-Gorath (EXP: Nightcrawler Vol. 1 #2). Várias outras entidades também foram especuladas, mas não confirmadas como sendo Cthulhu, incluindo um Antigo não identificado que foi banido de volta para o mar pelo Doutor Estranho (EXP: Doctor Strange, Sorcerer Supreme Vol. 1 #1) e um dos Muitos Ângulos Conhecidos no Cancerverse chamado "Ktuhl" (EXP: The Thanos Imperative #1).

Cthuma Gurath

No jogo móvel Marvel Avengers Academy, a Viúva Negra foi possuída por Cthulhu por um tempo. Usando um artefato conhecido como o Coração de Cthulhu, ela utilizou o poder de Cthulhu para fechar um portal para a Dimensão das Trevas após derrotar todos os demônios. Embora a influência de Cthulhu tenha um pesado custo na sanidade da hospedeira, a Viúva Negra manteve controle suficiente antes que pudesse desencadear o fim de tudo (EXP: "Marvel's Doctor Strange Event").

Viúva Negra (possuía por Cthulhu) (Marvel Avengers Academy)

Nasuverso

Cthulhu aparece como um Deus Exterior na franquia Fate, da Type-Moon. Após ser convocado por Raum, Cthulhu decide usar o pintor japonês ukiyo-e Katsushika Hokusai como hospedeiro. Ao contrário da maioria dos humanos, Hokusai não sucumbiu à loucura do encontro e conseguiu se fundir com o deus maligno, fazendo com que seus desenhos evokassem geometria não euclidiana. Hokusai toma a forma de um pequeno polvo flutuante, sempre acompanhado por sua filha Katsushika Oui, com os dois se fundindo em sua terceira Ascensão. Embora o poder e a influência do Deus Externo se tornem mais proeminentes à medida que seu hospedeiro continua a ganhar força, Hokusai e Oui permanecem resistentes a seus efeitos devido ao seu vínculo de pai e filha. Em combate, seu Noble Phantasm Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji pode usar a loucura de Cthulhu para enfraquecer a sanidade dos oponentes (EXP: Fate/Grand Order).

Outra manifestação de Cthulhu foi convocada por Gilles de Rais, usando o canto "Ph'nglui mglw'nafh wgah'nagl fhtagn" do Prelati's Spellbook. Conhecido como o Horror Gigantesco, o monstro eldritch tentou devorar as pessoas da cidade de Fuyuki, mas foi derrotado por Artoria Pendragon, que o incinerou completamente com sua Excalibur (EXP: Fate/Zero). Gilles de Rais também utiliza o canto "Cthulhu fhtagn" para invocar demônios marinhos extra-dimensionais.

Os Simpsons

No episódio "Treehouse of Horror XXIX", a família Simpsons vai de férias para a cidade de Fogburyport, em New England (uma paródia de Innsmouth), e Homer participa de um concurso de comer ostras. No entanto, tudo se revela uma farsa, pois os cidadãos são revelados como Profundos que planejavam sacrificar a família para Cthulhu. O deus maligno quase devora Homer, mas o poupa quando Homer observa que ainda lhe deve um concurso de comida. Os cidadãos fornecem a Cthulhu e Homer uma montanha de ostras, e Cthulhu acaba perdendo. Após isso, a família Simpsons cozinha e come Cthulhu como recompensa.


Na história em quadrinhos "Cthulhu? Gesundheit!", Bart encontra uma cópia do Necronomicon e convoca Cthulhu para se vingar de seus inimigos, como matar o diretor Skinner e alguns valentões. Cthulhu rapidamente sai do controle, causando um caos na cidade. Bart e seu amigo Milhouse não conseguem deter Cthulhu, e a história termina com toda a família Simpsons sendo transformada em monstros lovecraftianos, incluindo o próprio Bart.

No jogo móvel The Simpsons: Tapped Out, revela-se que Cthulhu teve um filho chamado M'nthster, que foi abandonado quando bebê após ser trocado por um par de óculos de designer.

South Park

Na série de comédia animada South Park, Cthulhu foi acidentalmente libertado ao mundo pela companhia de petróleo DP, durante um acidente de perfuração interdimensional. Eric Cartman (em sua persona Coon) consegue fazer amizade com Cthulhu e causa estragos com o deus sombrio, enquanto planeja se vingar de seus amigos por tê-lo expulsado de seu grupo de super-heróis. 


Também é revelado que os pais de Kenny McCormick costumavam ser membros do Culto de Cthulhu. Embora seus pais afirmem que apenas compareciam às reuniões para conseguir cerveja grátis, é fortemente implícito que Cthulhu amaldiçoou Kenny com a imortalidade, fazendo com que ele fosse morto e ressuscitado inúmeras vezes (as mortes de Kenny são uma piada recorrente ao longo da série, especialmente nas primeiras temporadas). Cthulhu acaba sendo derrotado pelo super-herói Mintberry Crunch e enviado de volta a R'lyeh (EXP: "The Coon and Friends Trilogy").

Em um episódio anterior, Cthulhu foi visto no Lado Maligno da Terra da Imaginação, implicando que ele era originalmente um personagem fictício no universo de South Park (EXP: "Imaginationland, Episode III").

Outras inspirações

Música

São muitas as influência de Cthulhu e seus Mythos na música. O mito de Cthulhu é um tema encontrado em várias músicas do Metallica, incluindo "The Thing That Should Not Be" e "The Call of Ktulu". No penúltimo álbum da banda, "Hardwired... To Self-Destruct", eles mais uma vez revisitam Cthulhu com a música "Dream No More", na qual eles invocam o monstro marinho adormecido de seu sono. 
"Ele dorme sob mares negros esperando / Jazia sonhando na morte / Ele dorme sob cosmos tremulando / Estrelas concedendo seu respirar."

Mercyful Fate centra sua música "The Mad Arab" em Abdul “O Louco Árabe” Alhazred, um personagem criado por Lovecraft e autor do notório texto mágico, The Necronomicon. Na parte II da canção, a banda faz referência a Cthulhu. A letra menciona:
“O filho de um pastor, Abdul Alhazred / Viajando nas montanhas, as montanhas a leste / Uma noite diante dele, havia aquela rocha gigante / Três símbolos esculpidos em sangue.” 

A letra "Thy Horror Cosmic", da banda Black Dahlia Murder fala sobre acordar e adorar Cthulhu. A banda até utiliza parte da mesma linguagem arcaica na qual as obras de Lovecraft foram escritas:

“Por vastos éons dormiu, espreitando sob as profundezas assombradas / Perversa encharcada pelo mar, levante-se / Nomeado pela língua mais vil, sua vontade flui dentro de mim / Chamando -- o que foi deve ser novamente.”


“Cthulhu Dawn” do Cradle of Filth fala sobre o chamado de Cthulhu de seu sono e o caos apocalíptico que se seguiria após a ascensão da criatura. 

“Dentro dessa arena desmembrada / Um selo quebrado em uma antiga maldição / Libera bestas da fenda sísmica / Com alcance relampejante e sede genocida.”


Ciência

Vários organismos foram nomeados em homenagem a Cthulhu, incluindo a aranha da Califórnia (Pimoa cthulhu),  a mariposa da Nova Guiné (Speiredonia cthulhui), e um equinodermo fóssil (Sollasina cthulhu). Dois microrganismos que auxiliam na digestão de madeira por cupins foram nomeados em homenagem a Cthulhu e à "filha" de Cthulhu, Cthylla: Cthulhu macrofasciculumque e Cthylla microfasciculumque.

Pimoa cthulhu

Em 2014, a estudiosa de ciência e tecnologia Donna Haraway apresentou uma palestra intitulada "Antropoceno, Capitaloceno, Chthuluceno: Permanecendo com o Problema", na qual propôs o termo "Chthuluceno" como uma alternativa ao conceito de Antropoceno. Essa nova denominação surge da complexa interconexão entre todos os seres, que aparentemente são individuais. Haraway afirma não ter qualquer dívida com o Cthulhu de Lovecraft, alegando que seu "chthulu" deriva do grego khthonios, que significa "da terra". No entanto, a figura de Lovecraft está muito mais próxima do termo que ela criou do que a raiz grega, e sua descrição sobre o significado do Chthuluceno se alinha com a ideia lovecraftiana da ameaça apocalíptica e multitentacular que Cthulhu representa, capaz de colapsar a civilização em um horror sem fim: "Chthulucene não se fecha sobre si mesmo; não se arredonda; suas zonas de contato são onipresentes e continuamente se desenrolam em tendrilas labirínticas."

O matemático George Olshevsky nomeou os poliedros invertidos não convexos em homenagem a outros Grandes Antigos, destacando o grande icosidodecaedro invertido como "Cthulhu". 

Em 2015, uma região alongada e escura ao longo do equador de Plutão, inicialmente chamada de "a Baleia", foi proposta para ser nomeada como "Região Cthulhu" pela equipe da NASA responsável pela missão New Horizons. Essa característica recebeu o nome informal de Cthulhu Macula ("Mácula de Cthulhu"), embora tenha sido oficialmente designada como Belton Regio pela União Astronômica Internacional.

A Mácula de Cthulhu (grande mancha vermelha à esquerda). imagem: NASA/JHUAPL/SwRI

Imagens Artísticas

Cthulhu tem servido como inspiração direta para muitos artistas e escultores modernos. Entre os artistas que produziram representações dessa criatura, destacam-se Paul Carrick, Stephen Hickman, Kevin Evans, Dave Carson, François Launet e Ursula Vernon. Existem várias representações escultóricas de Cthulhu, sendo uma das mais notáveis a estátua de Cthulhu de Stephen Hickman, que foi destaque na coleção Spectrum e está exposta em vitrines da Biblioteca John Hay da Universidade Brown, em Providence. Essa estátua frequentemente serve como um objeto separado de inspiração para muitas obras, sendo as mais recentes os amuletos de adorador de Cthulhu fabricados por um joalheiro russo. Por um tempo, réplicas da estatueta de Cthulhu de Hickman foram produzidas pela Bowen Designs, mas atualmente não estão disponíveis para venda. Hoje, a estátua de Cthulhu de Hickman pode ser adquirida apenas no eBay e em outras casas de leilão.



fontes:
Legenda das siglas exibidas no post:

HPL - Refere-se à obras de H. P. Lovecraft;
AWD - Refere-se à obras de August Willian Delerth;
ADJ - Refere-se à obras adjacentes aos Mythos. Esta categoria contém todas as obras que foram polinizadas de forma cruzada com o Mythos (ou seja, suas ideias foram adquiridas por ele) ou que usam algumas ideias do Mythos sem estarem diretamente inseridas no Mythos propriamente dito;
EXP - Refere-se à obras de ficção, filmes e mídias adicionais não definidas anteriormente que se passam no Mythos;
CIRCLE - Ciclo do Mito de Lovecraft. Se refere especificamente à obras com envolvimento direto de HP Lovecraft, foram concluídas antes de sua morte em 1937 e publicadas durante sua vida ou logo depois. Acredita-se que estas sejam o coração mais destilado do Mythos. Isso não sugere de forma alguma que essas obras não foram influenciadas ou fortemente editadas por outros, mas sim que podem ser entendidas como "mais verdadeiras" à visão individual de Lovecraft.
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30 de outubro de 2024

Chesma iyesi

۞ ADM Sleipnir

Arte de Traci Shepard

Chesma iyesi (também Çeşme İyesi, Bulak İyesi ou Pınar İyesi) é uma figura pertencente à mitologia e folclore dos povos túrquicos. Trata-se de um espírito aquático feminino com a capacidade de mudar de forma. A Chesma iyesi geralmente aparece como um gato, mas pode assumir diversas formas, como outros animais, criaturas semelhantes a fadas e sereias, ou frequentemente como uma mulher humana atraente, cuja verdadeira identidade é revelada pelas barras de suas roupas, que estão sempre molhadas. Cada Chesma iyesi está ligada a um poço, fonte ou nascente específica.

Embora muitas vezes sejam consideradas perigosas, usando suas formas sedutoras para atrair jovens para a água e afogá-los, existe uma variante mais benevolente chamada Kuyu iyesi. Esta, ao contrário da Chesma iyesi, atua como uma guardiã protetora dos poços, cujas águas são acreditadas possuir propriedades curativas ou de sorte.


fontes:

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28 de outubro de 2024

A Epopéia de Gilgamesh - Tábua VI

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de MarmaduX para o moba SMITE


TÁBUA VI

Terminado o combate, Gilgamesh começa a se enfeitar. A deusa Ishtar, admirada com a beleza do herói, se oferece a ele. Gilgamesh a rejeita, repreendendo-a pelo que fez a seus numerosos amantes. Enfurecida, a deusa sobe aos céus, queixa-se a seu pai Anu e pede a criação de um "touro celeste" para aniquilar Gilgamesh. Anu concorda, mas com a condição de que sua filha, deusa da fertilidade, faça prosperar as colheitas e os rebanhos durante sete anos. Centenas de homens valentes tentam resistir ao monstro, que os dispersa apenas com seu sopro. Finalmente, o touro é abatido por Enkidu. Ishtar lamenta-se nas muralhas de Uruk. Enkidu arranca partes do touro e as lança contra a cabeça de Ishtar.

 

(Texto assírio)

(Depois do combate)

Gilgamesh limpou suas armas, fez com que brilhassem,
soltou a cabeleira sobre os ombros,
tirou suas vestes manchadas na luta,
colocou outras limpas e ajustou a túnica.
Depois cobriu a cabeça com a tiara.
A grande deusa Ishtar fixou os olhos na grande beleza de
Gilgamesh:
“Ei, Gilgamesh, seja meu amante,
concede-me o dom do teu amor!
Serás meu esposo e eu serei tua esposa;
mandarei preparar para ti uma carruagem adornada de lápis-lazúli e ouro:
suas rodas são de ouro e os aros de eletrum;
todos os dias atrelarás a ela grandes cavalos.
Entrarás em nossa casa sob a fragrância dos cedros.
Quando entrares em nossa casa,
aqueles que estão sentados nos tronos beijarão teus pés,
os reis, os príncipes e os senhores se inclinarão diante de ti;
os montanheses e as gentes da planície te oferecerão seus tributos;
tuas cabras serão férteis e tuas ovelhas darão gêmeos;
teu jumento carregará mais que tua mula;
teus cavalos de corrida serão famosos
e teus bois, sob o jugo, não terão rivais”.

Gilgamesh abriu a boca e disse
estas palavras à divina Ishtar:
“E o que eu teria que te dar se me casasse contigo?
Deveria dar-te óleo para ungir teu corpo e roupas,
pão e víveres?
…alimento para tua divindade,
…bebida apropriada para tua realeza?
O que ganharia eu casando contigo?
Tu não passas de uma ruína que não dá abrigo,
uma porta que não resiste à tempestade,
um palácio que os heróis saquearam,
uma armadilha mal disfarçada,
uma mancha que suja quem a toca,
um odre cheio de água que molha quem o carrega,
um pedaço de cal que se desprende do muro,
um amuleto incapaz de proteger em país inimigo,
uma sandália que faz tropeçar quem a calça.
A qual amante foste fiel?
Qual dos teus pastores sempre te agradou?
Aproxime-se! Vou ler-te a interminável lista de teus amantes.
Dumuzi, o amante da tua juventude,
foi, ano após ano, alvo de tuas torturas.
Amaste o Pássaro-pastor de penas coloridas
e lhe quebraste uma asa,
e agora ele grita: ‘Minha asa!’, na floresta.
Amaste o Leão admirável e forte,
mas fizeste cavar para ele sete vezes sete armadilhas.
Amaste o Garanhão que se exalta na batalha,
mas o submeteste a rédeas, esporas e chicote,
destinaste-o a galopar catorze horas diárias
e deste-lhe água lodosa para beber.
E para sua mãe, a divina Silili, foste motivo de lamento.
Amaste o pastor
que sem cessar queimava incenso para ti
e a cada dia te sacrificava cabritos,
mas o golpeaste e o transformaste em chacal,
e agora seus próprios jovens o perseguem
e seus cães rasgam sua pele.
Amaste Ishullanu, o jardineiro de teu pai,
que te trazia cestos de tâmaras
e a cada dia adornava tua mesa.
Tu o olhaste e, aproximando-te, disseste-lhe:
‘Ó meu Ishullanu, deixa que sinta tua força,
estende tua mão e acaricia-me!’
Ishullanu te respondeu:
‘O que desejas de mim?
Acaso minha mãe não cozinhou, não comi eu,
para que tenha que recorrer aos alimentos
de opróbrio e maldição que me ofereces?
E, contra o frio, acaso não me bastam as canas como abrigo?’
Ao ouvir estas palavras, Ishtar,
tu golpeaste Ishullanu, o transformaste em uma aranha
e o colocaste no meio das ruínas,
onde não pode nem subir nem descer.
Teu amor faria comigo o que fizeste com eles!”

Ao ouvir Ishtar estas palavras
enfureceu-se e subiu ao céu.
A deusa Ishtar foi ver o deus Anu, seu pai,
e a deusa Antu, sua mãe, e disse:
“Meu pai, Gilgamesh me encheu de insultos.
Gilgamesh lançou em meu rosto minhas depravações,
minhas depravações e meus feitiços.”
O deus Anu tomou a palavra e disse
à divina princesa Ishtar:
“Certamente pediste o amor dele,
e ele enumerou tuas depravações,
tuas depravações e teus feitiços.”
A deusa Ishtar tomou a palavra e falou
dessa maneira ao deus Anu, seu pai:
“Ó, meu pai, cria um Touro Celestial
para que Gilgamesh saiba o que é o medo!
Se não criares para mim o Touro Celestial,
quebrarei as portas do mundo subterrâneo
e o número dos mortos ultrapassará o dos vivos.”
O deus Anu tomou a palavra e disse
assim à divina princesa Ishtar:
“Se eu atender ao que me pedes,
haverá sete anos de vagens vazias.
Acumulaste grãos para o povo,
amontoaste forragem para os animais?”
A deusa Ishtar tomou a palavra e respondeu
assim ao deus Anu, seu pai:
"Armazenei grãos para o povo
e haverá provisão de forragem para os animais,
caso a terra fique estéril durante sete anos."

(Alguns versos truncados. No entanto, deduz-se que Anu concede criar o Touro Celestial, o qual mata centenas de homens com dois ou três bufos.)

Enkidu agarrou o Touro Celestial pelos chifres.
O Touro Celestial espumou sobre o rosto do herói,
golpeou-o com sua grande cauda.
Então Enkidu abriu a boca
e disse a Gilgamesh:
"Amigo meu, vencemos..."

(Faltam cerca de 15 versos)

Entre a cerviz e os chifres, cravou sua espada.
Com o Touro Celestial morto, arrancaram seu coração
e o ofereceram ao deus Shamash.
Em seguida, sentaram-se, como dois irmãos.
Então a deusa Ishtar subiu à muralha de Uruk,
subiu até as ameias e lançou sua maldição:
"Maldito seja Gilgamesh, por ter me insultado
matando o Touro Celestial!"
Quando Enkidu ouviu estas palavras de Ishtar,
arrancou as partes do Touro Celestial e as atirou ao rosto dela,
dizendo:
"Se eu te pegar, farei contigo
o que fiz com o touro. E pendurarei suas entranhas
em teu pescoço, como uma guirlanda."
A deusa Ishtar chamou as hieródulas do templo,
e sobre as partes do touro todas lamentaram.
Mas Gilgamesh convocou todos os artesãos
para que admirassem o tamanho dos dois chifres,
que formavam uma massa de trinta minas de lápis-lazúli
e cuja cavidade tinha uma largura de dois dedos.
Seis medidas de óleo, o que cabia em cada um deles,
ofereceu Gilgamesh a seu deus, Lugalbanda;
ele ofereceu os dois chifres, como vasos de unguento,
que pendurou no templo da divindade.
Depois, os dois amigos purificaram suas mãos no Eufrates
e puseram-se novamente a caminho,
atravessando a grande rua de Uruk.
Ao passar, todos os observavam.
Então Gilgamesh disse aos servos de seu palácio:
"Quem é o soberano entre os heróis?
Quem é o mais glorioso entre os homens?"
"Gilgamesh é o soberano entre os heróis!
Gilgamesh é o mais glorioso dos homens!"

(Lacuna)

Gilgamesh deu uma festa em seu palácio.
Quando os heróis dormiam em seus leitos, à noite,
Enkidu teve um sonho.
Ao levantar-se, contou ao amigo o que havia sonhado:
"Por que os grandes deuses do céu estão em conselho?"



FIM DA TÁBUA VI

TÁBUA VII EM BREVE

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Ruby