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| Arte de Aritz Aizpurua |
Olentzero (basco: olents̻eɾo, também Onenzaro, Onentzaro, Olentzaro, Ononzaro e Orentzago) é uma figura tradicional do folclore basco, associada às celebrações do Natal no País Basco, em Navarra e em regiões vizinhas do sudoeste da França. Tradicionalmente representado como um carvoeiro ou camponês das montanhas, Olentzero passou a desempenhar, na atualidade, o papel de portador de presentes às crianças na madrugada de 24 para 25 de dezembro. Ao longo do século XX — especialmente a partir das décadas de 1970 e 1980 — consolidou-se como um dos principais símbolos da identidade cultural basca.
Origem
As origens de Olentzero são consideradas complexas e continuam sendo objeto de debate entre pesquisadores. De modo geral, há consenso de que a figura possui raízes em tradições pré-cristãs ligadas ao solstício de inverno, período que, em muitas culturas europeias antigas, simbolizava o fim do ano velho e o início de um novo ciclo natural. No entanto, não é possível determinar com precisão quando o mito surgiu nem qual teria sido sua forma original.
As primeiras referências documentais claras aparecem no século XVII. O escriba navarro Lope de Isasti registrou a tradição ao mencionar que, na noite de Natal, chamava-se onenzaro de “a estação dos bons” (la sazón de los buenos). Documentos posteriores dos fueros de Navarra confirmam que o termo continuou a ser utilizado ao longo dos séculos XVII e XVIII.
A vila de Lesaka, em Navarra, é frequentemente apontada como um dos centros mais antigos da tradição. Registros etnográficos do início do século XX — especialmente um informe de 1928 reunido pelo pesquisador Julio Caro Baroja — descrevem a confecção de um boneco de palha chamado Olentzero, que era levado em procissão e depois queimado em praça pública. Essa prática está ligada a rituais europeus de destruição simbólica associados à passagem das estações.

Etimologia
A origem do nome Olentzero admite várias interpretações. A explicação mais aceita pelos estudiosos relaciona o termo a elementos do euskera: on (“bom”), combinado com um sufixo genitivo plural, e -zaro (“tempo” ou “estação”). O significado resultante seria algo como “tempo das coisas boas” ou “estação dos bons”, estrutura semelhante à ideia expressa em nochebuena (“noite boa”), em espanhol.
Outras hipóteses — hoje consideradas pouco prováveis — sugerem ligações com o francês Noël, com expressões cristãs como “O Nazareno” ou com construções como oles-aro (“estação das esmolas”). Pesquisadores como Julio Caro Baroja rejeitaram essas interpretações por falta de base histórica ou coerência linguística.
Mitologia
Jentilak e origens pagãs
Na mitologia basca, Olentzero é frequentemente associado aos jentilak, gigantes ancestrais dotados de grande força e ligados aos ciclos naturais e à vida agrária. Segundo uma narrativa difundida, os jentilak teriam visto no céu uma estrela ou nuvem luminosa incomum, interpretada como sinal do nascimento de Jesus Cristo. Diante desse acontecimento, os gigantes desapareceriam: alguns teriam se lançado de penhascos, outros se escondido sob a terra. Olentzero, geralmente descrito como o mais velho ou o único que aceitou a nova era, teria permanecido como o último representante daquele mundo antigo.
Cristianização e sincretismo
Com o avanço do cristianismo no território basco, Olentzero passou a ser reinterpretado como anunciador do nascimento de Cristo. A figura, antes ligada ao fim dos ciclos naturais e à destruição simbólica do ano velho, passou a representar a passagem das trevas para a luz, tanto em sentido religioso quanto simbólico. Esse processo é frequentemente citado como exemplo de sincretismo, no qual crenças pagãs foram incorporadas e ressignificadas pela tradição cristã.

Narrativas alternativas
Existem também versões lendárias diferentes sobre sua origem. Uma delas descreve Olentzero como uma criança abandonada na floresta, encontrada por uma fada que lhe concedeu força e bondade. A fada o teria entregue a um casal idoso sem filhos. Já adulto, Olentzero torna-se um carvoeiro generoso, conhecido por fabricar brinquedos de madeira e distribuí-los às crianças da aldeia.
Em versões mais elaboradas, ele realiza um ato de sacrifício — como salvar crianças de um incêndio — e, como recompensa, recebe a imortalidade da fada, podendo retornar todos os anos para levar alegria e presentes. Essas narrativas reforçam sua associação moderna com valores como solidariedade e altruísmo.
É importante destacar que essas histórias variaram bastante conforme a região e a época. Muitas delas foram organizadas ou reforçadas durante o século XX, como parte de esforços conscientes de valorização e revitalização cultural.
Iconografia
Tradicionalmente, Olentzero é representado como um homem robusto, de aparência rústica, vestindo roupas típicas do camponês basco das montanhas. Entre os elementos mais comuns estão a txapela (boina), o colete, as calças grossas e o lenço no pescoço. Seu rosto e suas roupas costumam aparecer sujos de fuligem, em referência direta ao ofício de carvoeiro. Barba grisalha, cachimbo e um grande saco — originalmente de carvão e, mais tarde, de presentes — completam sua imagem.
Seu corpo grande e corpulento simboliza abundância, generosidade e a personificação do “ano velho”, que precisa ser consumido para dar lugar ao novo ciclo.
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Evolução da imagem moderna
Durante muito tempo, Olentzero teve uma imagem ambígua ou até ameaçadora em algumas localidades. Em certos lugares, era usado para assustar crianças ou associado a comportamentos considerados excessivos. Em Areso, por exemplo, dizia-se que Olentzero pegava crianças que ficavam na rua à noite; em Larraun, era descrito como um bêbado de olhos vermelhos; em Dima, aparecia armado com uma foice, sendo usado para impor obediência ao jejum antes do Natal.
Ao longo do século XX, especialmente a partir das décadas de 1970 e 1980, essa imagem foi sendo suavizada e transformada, aproximando-se da figura do “bom velhinho” natalino. Um marco importante ocorreu em 1952, quando o grupo Irrintzi Elkartea, da cidade de Zarautz, iniciou um processo consciente de revitalização da tradição, eliminando aspectos mais assustadores e tornando Olentzero mais adequado ao público infantil. A partir de 1956, essas versões revitalizadas começaram a se espalhar para além da região de Gipuzkoa. Nos anos 1970, Olentzero consolidou-se como distribuidor de presentes, tornando-se uma alternativa cultural basca aos Reis Magos e ao Père Noël francês.
Celebrações contemporâneas
Atualmente, Olentzero é uma das figuras centrais do Natal em muitas comunidades bascas. Na noite de 24 de dezembro, realizam-se procissões e desfiles chamados kalejiras, que combinam encenações, música tradicional e a coleta de alimentos, bebidas ou doces entre os moradores — prática que remete a antigos costumes de pedir esmolas. Embora tenham raízes históricas, essas celebrações se expandiram e se organizaram de forma mais sistemática a partir das décadas de 1970 e 1980, dentro de um movimento mais amplo de revitalização cultural.
Em muitas localidades, Olentzero é acompanhado por Mari Domingi, uma figura feminina inspirada em tradições mitológicas e em uma canção natalina basca. Sua presença nas festividades tornou-se mais comum a partir de 1994. Vestida com trajes tradicionais, Mari Domingi representa a dimensão feminina das celebrações do solstício e contribui para uma maior paridade de gênero entre as figuras que distribuem presentes no Natal basco.

Significado cultural
Além de seu papel festivo, Olentzero adquiriu forte importância cultural e identitária no século XX. Durante a ditadura franquista (1939–1975), expressões da cultura basca foram amplamente reprimidas, e as celebrações tradicionais sofreram restrições. Como símbolo da identidade basca, Olentzero foi diretamente afetado por esse contexto de repressão cultural.
Após a Transição Espanhola e a restauração da autonomia regional, Olentzero foi recuperado e promovido como emblema da continuidade cultural basca. Esse resgate não significou apenas a retomada de uma tradição antiga, mas também sua adaptação consciente às realidades contemporâneas.
Pesquisadores destacam que a importância atual de Olentzero resulta tanto de tradições folclóricas antigas quanto de processos modernos de reinterpretação e construção identitária. Assim, Olentzero é compreendido como uma figura de síntese, que reúne elementos pagãos pré-cristãos, camadas cristãs medievais e práticas contemporâneas, permanecendo como um dos símbolos mais vivos e reconhecíveis do Natal na cultura basca.
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fontes:
- RADIO. Mungia se viste de Navidad con talleres, conciertos y actividades para disfrutar en familia. Disponível em: <https://radiopopular.com/2025/12/mungia-se-viste-de-navidad-con-talleres-conciertos-y-actividades-para-disfrutar-en-familia>;
- WIKIPEDIA CONTRIBUTORS. Olentzero. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Olentzero>;
- CIOLLI, C. Olentzero: The Christmas Giant from Basque Country | Midwesterner Abroad. Disponível em: <https://midwesternerabroad.com/olentzero-the-christmas-giant-from-basque-country/>.
Olentzero



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