۞ ADM Sleipnir
OS ESQUEMAS TOLOS DO VELHO REI DRAGÃO TRANSGRIDEM OS DECRETOS DO CÉU. A CARTA DO PRIMEIRO MINISTRO WEI ZHENG PEDE AJUDA A UM OFICIAL DOS MORTOS.
Não falaremos, por enquanto, de Guangrui em seu novo cargo ou do forte ascetismo ao qual Xuanzang se entregou. Falaremos porém, de duas pessoas muito dignas, que viviam nas margens do rio Jing, nos arredores da cidade de Chang-An. Um deles era um pescador chamado Zhang Shao, o outro um lenhador conhecido como Li Ding (1). Apesar da aparente humildade de seus ofícios, ambos eram intelectuais que não passaram no exame oficial, montanheses que dominaram a técnica de leitura. Um dia, depois que um vendeu a lenha que carregava nas costas e o outro a carpa que carregava em sua cesta de pescador, eles se encontraram em uma pequena taberna em Chang-An e beberam até ficarem um pouco alegres. Com uma garrafa nas mãos cada um, eles caminharam hesitantes ao longo das margens do rio Jing, rumo a suas casas.
- Sou da opinião, irmão Li - disse Zhang Shao, - que aqueles que lutam pela fama perderão suas vidas em um empreendimento tão louco, aqueles que lutam pela fortuna perecerão de riquezas, aqueles que lutam por acumular títulos correrão os mesmos riscos de quem dorme abraçado a um tigre, e quem luta para receber mercês oficiais será como quem anda com cobras na manga. Quando paramos para pensar com frieza, descobrimos que suas vidas não se comparam com a existência serena que levamos no alto azul das montanhas ou junto à pureza serena das águas. Regozijamo-nos com nossa própria pobreza e passamos nossos dias sem nos preocupar com nosso destino.
- Há muita verdade no que você acabou de dizer, irmão Zhang - respondeu Li Ding. - Mas a pureza serena das tuas águas não se compara com a altura azul das minhas montanhas.
- É o contrário, querido amigo - , respondeu Zhang Shao rapidamente. - Não há termo de comparação entre suas altas montanhas azuis e minhas águas puras e serenas. Como prova, vou citar um poema tsu (2), que constitui a letra da canção "Borboletas Apaixonadas por Flores" e que diz assim:
"Atravessei mais de dez mil milhas de águas nebulosas em meu pequeno barco à vela e mantive-me acordado, ouvindo apenas o murmúrio da água e o chapinhar travesso dos peixes. Assim purifiquei o meu coração, despojando-o de todo desejo de fama ou riqueza, entregando-me apenas à beleza estilizada das taboas e dos juncos. Existe algum prazer maior do que contar as gaivotas que voam acima? Minha esposa e filhos juntam suas risadas despreocupadas às minhas enquanto as margens cobertas de salgueiros e as lagoas cheias de juncos passam por nós. Quando o vento e as ondas diminuem, durmo profundamente, sem jamais ser perturbado pela vergonha, pela glória ou pela miséria.”
- Insisto que a serenidade de suas águas puras não é superior à beleza de minhas montanhas azuis - enfatizou Li Ding. - Eu também adiciono outro poema tsu como prova, que também faz parte da letra da canção "Borboletas Apaixonadas por Flores", que diz:
"Em uma parte coberta de pinheiros de uma densa floresta eu ouço a música sem palavras de um papa-figo, vibrante como o doce lamento da flauta. Vermelhos pálidos e verdes brilhantes anunciam o florescimento iminente da primavera. Não existe transição entre o verão e ela, tão rapidamente o tempo passa entre as folhas. Então o outono faz sua entrada no palácio da floresta com sua fragrância de flores douradas e seu convite perene à alegria. O inverno frio chega tão rápido quanto um estalar de dedos. Ninguém o domina, ele não recebe ordens de ninguém. Ele é tão livre quanto eu no fluxo eterno das quatro estações ".
- Eu me ratifico - respondeu o pescador - que suas montanhas azuis não são nada comparadas às minhas águas puras. Delas recebo toda a alegria que uma pessoa sábia poderia desejar. Para convencê-lo, cito este poema tsu, letra de "O céu de perdiz":
"Só a água e as nuvens do país das fadas me bastam. O barco à deriva e os remos em repouso me fazem sentir em casa. Com com a minha faca divido peixe fresco e cozinho tartarugas verdes. Neste universo, que é meu, alimento-me de caranguejos roxos, camarões vermelhos, rebentos verdes de junco, rebentos de plantas aquáticas, embora os meus preferidos sejam cabeças de galinha, raízes de lótus, folhas jovens de aipo, pontas de flechas e flores niao-ying."
- Receio que suas águas serenas não ultrapassem em nada minhas montanhas azuis - repetiu o lenhador. - Só eles são capazes de trazer alegria ao meu coração. Como prova, também uso um poema tsu de "O céu de perdiz", que diz:
"Nos picos íngremes que tocam as margens do céu construí minha casa de galhos e grama. Aves curadas, gansos defumados superam tartarugas ou caranguejos; Lebres, antílopes e veados são melhores que peixes ou camarões. Não há nada comparável às folhas aromáticas do chun (3), aos botões amarelados do lien (4), talos de bambu jovens, chá da montanha, ameixas roxas, pêssego vermelho, damascos maduros, tâmaras azedas, peras doces e frutos silvestres".
- Suas montanhas azuis - insistiu o pescador - não superam em nada minhas águas serenas. Posso citar outro poema tsu de "O Imortal Celestial", que afirma:
"A bordo de qualquer barco, vou para onde quero. Não tenho medo das ondulações das ondas ou da cegueira temporária da névoa. Sirvo-me de redes e anzóis para apanhar peixe fresco, a iguaria mais saborosa que existe, sem recorrer a assados ou molhos. Além da água, divido a minha casa com um filho pequeno e uma mulher idosa. Quando a pesca é abundante, Vou aos mercados de Chang-An e troco por vinho, que bebo até enlouquecer. Enrolo-me em algas marinhas, deito-me na água e ressono durante o sono. Nenhuma preocupação me assalta. Não procuro pompa ou almejar a glória."
- Você está muito enganado - corrigiu o lenhador. - Suas águas serenas são inferiores às minhas montanhas azuis. Também tenho um poema de "O Imortal Celestial" como prova:
"No sopé da colina construí uma casa feita de galhos de pinheiro, orquídeas, bambus e ameixeiras. Em busca de lenha seca deixo para trás pequenos bosques e chego ao topo das montanhas. Sem ninguém para me ajudar a controlar, vendo o que quero, os preços dependem apenas da minha vontade. Gasto o dinheiro em vinho, que guardo em potes e jarros de barro. Com a mente entorpecida, deito-me à sombra dos pinheiros , Nenhum pensamento me oprime, sucessos ou fracassos não importam para mim, nada neste mundo me incomoda."
- Tua vida nas montanhas, irmão Li - repetiu o pescador - não é tão agradável como a que levo junto às águas. Cito como testemunho, um poema tsu, que é cantado ao som da canção "Lua sobre o rio oeste":
"As flores espessas das amoras brilham ao luar, enquanto o vento sacode os juncos amarelados. O rio Chu , totalmente adormecido, reflete o distante azul do céu. Coloco a mão em suas águas e faço vibrar seu rendilhado de estrelas. Peixes de todos os tamanhos vêm se enredar em minhas redes; percas mordem meus anzóis aos bandos. Não há outra delicadeza requintada que eles. Que há de estranho em que a despreocupação do meu riso se espalhe por rios e lagos?
- Tua vida junto às águas, irmão Zhang - respondeu o lenhador - não é tão agradável como a que levo nas montanhas. Você tem a prova neste outro poema "tsu", também acompanhado pela canção "Lua sobre o rio oeste":
"Por caminhos cobertos de trepadeiras e folhas, vou cortando lenha que carrego nas costas. Formo feixes de lenha com toras de salgueiro comidas por insetos e galhos de pinheiro quebrados pelo vento. São promessas de calor no inverno. Estou livre para trocá-los por bebida ou dinheiro."
- Embora deva reconhecer que a sua vida nas montanhas não é nada má - admitiu o pescador -, ela não é tão calma e encantadora como a que levo junto à água. Ao poema tsu da canção "Imortal pelo rio" eu o remeto:
"A maré levará meu barco para longe daqui. Descanso os remos e meu canto, como uma imitação da lua, sobe na tela da noite. Com que elegância se move sobre as águas o astro minguante! A gaivota dorme tranquila no seu ninho, alheia ao manto de flores que se estende pelo céu. O meu sono cresce como os juncos virgens das ilhas onde me deito. Nada o quebra. A altura do sol não tem influência sobre ele a menor influência. Trabalho quando me apetece e descanso quando quero. Ninguém tem tanta liberdade de espírito nem tão invejável dom corporal."
- A tranquilidade e o encanto de sua vida - sentenciou o lenhador - nada são comparados aos que regem meus dias no alto da montanha. Apresento também como prova a parte da canção "Imortal pelo rio" que diz:
"Nas manhãs de outono, despreocupadamente arrasto meu machado pelos caminhos cobertos de geada. No frio da noite, volto para casa, carregando nas costas o o peso da viga, a testa orlada de flores silvestres. A escuridão não me importa, quando volto para trilhar os caminhos que me levam para casa. Quando abro a porta, a lua aparece no céu. Minha esposa e meu filho saem para me receber com sorrisos largos e felizes. Em seguida, reclino-me em uma cama de palha com um tronco como travesseiro. Assim que abro os olhos, um jantar de peras e milho cozido me espera. A bebida recém-servida na panela me ajudará a meditar em minha felicidade".
- Tudo o que estes poemas afirmam - comentou então o pescador - tem a ver com o nosso próprio sustento, com o que fazemos para ganhar a vida honestamente. Mas meus momentos de lazer são muito mais abundantes que os seus. Se duvidar, aqui está um poema que o diz claramente:
"Deitado, observo atentamente o azul do céu e o voo majestoso das garças brancas. Meu barco está atracado na praia e na porta de minha casa está entreaberta. À sombra da vela ensino meu filho a preparar as linhas e consertar os anzóis. Quando os remos descansam, minha esposa e eu colocamos as redes para secar ao sol. Minha mente está tranquila, porque vejo a tranquilidade das águas; sinto-me seguro, porque contemplo a benignidade dos ventos.
- Seus momentos de lazer - respondeu o lenhador - não podem, de forma alguma, se comparar aos meus. Tenho também, como prova do que afirmo, um poema que diz:
"Deitado, observo atentamente o vôo das nuvens brancas em forma de salgueiro. Depois fecho a porta de bambu de minha cabana e, sentando no frescor da palha, começo a pensar no que quero. Quando tenho vontade, pego meus livros e ensino meu filho a ler; quando tenho visitas, converso com elas e depois jogamos xadrez; quando estou agitado, ando por caminhos cobertos de flores e começo a cantar; quando estou triste, subo as montanhas verdes com o alaúde e começo a tocar. Minhas sandálias são de palha, meus cintos são de cânhamo e o calor dos meus cobertores é feito de tecido grosseiro. Prefiro-os, porém, à seda, porque aqui meu coração é livre e sou meu único dono”.
- Li Ding - Zhang Shao finalmente concluiu -, sortudos somos, sim, de poder nos divertir com canções como essas (5) e não nos preocupar com a urgência do ouro. No entanto, tudo o que fizemos até agora agora é recitar fragmentos de poemas, que nos serviram para defender nossos pontos de vista. Por que não recitamos juntos um poema mais longo e vemos como se desenrola essa discussão entre um pescador e um lenhador?
- Acho uma excelente ideia irmão Zhang! - exclamou Li Ding. - Por que você não começa?
- Meu barco repousa sobre águas verdes, cobertas de névoa e ondas onduladas.
- Nas altas montanhas e planaltos inacessíveis estabeleci minha casa.
- Adoro contemplar os riachos e as pontes, enquanto a maré alta passa em todos os lugares se espalha.
- Tenho prazer nas altas cordilheiras cobertas de nuvens ao amanhecer.
- Eu me alimento de carpas capturadas no distante Lung-Men (6).
- O fogo da minha casa é alimentado com blocos de madeira seca.
- O anzol e a rede servirão para me alimentar na velhice.
- Usarei o machado até que minha cabeça fique coberta de cabelos grisalhos.
- Deitado em meu barco, observo o frágil voo dos patos.
- Deitado em lugares verdes, ouço o canto dos cisnes selvagens.
- Nunca me rendi à tentação da malícia traiçoeira,
- Meu navio nunca navegou pelos mares tempestuosos do escândalo.
- Quando minhas redes estão secando, parecem ser de brocado.
- Em pedras brutas afiadas, como o sol brilha a lâmina do machado.
- Sob a nuvem brilhante de agosto, costumo pescar sozinho.
- Nos riachos solitários da montanha, apenas o vento me acompanha.
- Quando a pesca é bem-sucedida, troco por vinho que bebo com minha esposa.
- A lenha que sobrou eu troco por uma garrafa que divido com meus filhos.
- Se eu canto, movido por meu próprio desejo, eu o faço.
- A música das minhas baladas é ditada apenas pela minha alma.
- Chamando-os de irmãos mais velhos, costumo convidar os outros pescadores.
- Meus irmãos são todos os homens que vivem nas florestas.
- Gastamos nosso tempo inventando novos jogos.
- Criamos palavras, que misturamos com o vinho das jarras.
- Todos os dias eu como camarões cozidos e caranguejos.
- Todos os dias me delicio com o sabor dos pássaros e dos patos.
- Minha mulher faz um chá que ela mesma me dá para beber.
- Minha mulher cozinha o arroz com os galhos que a tempestade arrancou.
- Assim que o sol nasce, pego a vara e saio para pescar.
- Assim que o sol nasce, pego o machado e vou procurar lenha.
- Vestido, depois da chuva, com um casaco de algas, corro para apanhar carpas.
- Antes que o vento aumente, tento derrubar pinheiros secos.
- Alheio às leis e regulamentos, levo uma vida de jogos e piadas.
- Dadas as regras do mundo, eu me comporto como se fosse surdo e mudo.
- Espere um momento, por favor, irmão Li - disse então Zhang Shao. - Faz um momento em que comecei a primeira linha do poema. É justo que agora você faça o mesmo. Por que não começamos de novo?
- O homem do campo, embora pareça louco, é apaixonado pelo vento e pela lua.
- Um homem sábio cede seu orgulho aos riachos e lagos.
- Minha herança é lazer e busco diversão acima de tudo.
- Eu desprezo a fofoca e me alegro com a paz de consciência.
- Nas noites de lua soberana durmo tranquilamente em minha cabana de palha.
- Quando o céu escurece e não dá para ver nada, eu me protejo com meu casaco de algas.
- Livre de alegrias e tristezas, encontro companhia entre pinheiros e ameixeiras.
- Minhas maiores amizades são gaivotas, garças e outros pássaros.
- Meu coração não suporta desejo de fortuna ou fama.
- Nunca ouvi sons de armas e tambores.
- Sem cessar, sirvo vinho para me livrar do frio.
- Três vezes ao dia levo comida à boca.
- Para meu sustento dependo da madeira que vendo.
- Vivo do que pesco com minhas linhas e anzóis.
- Com a ajuda do meu filho, afiei o machado.
- Depois de esvaziá-la de peixes, minha família conserta as redes.
- Quando a primavera renasce, gosto de contemplar o verde dos salgueiros.
- No calor da tarde adoro contemplar o frescor dos juncos.
- Os bambus recém-plantados me libertam do calor do verão.
- Novas flores de lótus me refrescam em agosto.
- Quando a geada descer (7), o destino dos pássaros já está traçado.
- No Festival do Duplo Nono () minha mulher cozinha caranguejos que ninguém vende.
- Quando o inverno se aproxima, eu durmo até tarde do dia.
- Não sou dominado pelo calor nem arrepiado pelo frio.
- No ano não há um dia que não atravesse as colinas.
- Não há estação em que eu não navegue à vontade pelos lagos.
- Ah, se o sábio conhecesse o prazer de cortar lenha!
- Quando puxo a linha, imagino ser um imortal.
- Não há fragrância igual à das flores que crescem em meu portal.
- A proa do meu barco abre rastros de água verde.
- Da minha vida satisfeita, não busco o assento dos ministros (8) .
- Minha mente é forte e equilibrada como uma cidade murada.
- Contra o cerco, as cidades mais orgulhosas devem ser protegidas.
- Por mais alto que seja um ministro, ele deve se submeter aos mandatos divinos.
- Que raro prazer é desfrutar da serra e do mar!
- Somos gratos, por isso, aos deuses, à Terra e ao Céu.
Os dois homens continuaram a recitar inúmeras canções e poemas juntos. Quando chegaram ao ponto em que seus caminhos se separavam, eles se curvaram respeitosamente e se despediram.
- Querido irmão Li - disse Zhang Shao, ao fazê-lo -, cuide-se e tome cuidado com os tigres quando subir as montanhas. Ficaria muito triste se você sofresse um acidente, pois, como diz o ditado, "ninguém nos garante que encontraremos amanhã o amigo que encontramos na rua hoje".
- Que tipo de amigo você é? - exclamou Li Ding, irritado ao ouvir essas palavras. - Bons amigos até morreriam uns pelos outros! Mas você, por que me diz coisas tão infelizes? Se eu for ferido por um tigre, seu barco certamente virará no rio.
- Isso nunca vai acontecer - respondeu Zhang Shao, rindo. - O céu sempre anuncia quando vai haver uma tempestade.
- De acordo. Vê-se que hoje não haverá - admitiu Li Ding. - Mas assim como há tempestades inesperadas no céu, também há riqueza ou desgraça repentina com o homem. O que te dá tanta certeza de que não sofrerá um acidente?”
- Você diz isso - respondeu Zhang Shao - porque não tem ideia do que pode acontecer com você quando corta madeira. Por outro lado, quando pesco, posso prever exatamente o que vai acontecer. Garanto-lhe que nenhum acidente me acontecerá.
- Não me faça rir! - exclamou Li Ding zombeteiramente. - Seu trabalho é um dos mais traiçoeiros que existem. Um pescador está sempre arriscando sua vida. Não entendo como você pode ter tanta certeza sobre o futuro.
- Olha - Zhang Shao respondeu com condescendência. - Vou contar uma coisa que você não sabe. Em Chang-An existe um adivinho, que costuma sentar-se na rua do Portão Oeste para prever o futuro a quem o queira pedir. Dou-lhe uma carpa dourada todos os dias e ele, agradecido, consulta para mim os pauzinhos que tem guardado na manga. Seguindo seu conselho, não há vez que eu lance as redes e não as encha de peixes. Acabei de ir vê-lo esta manhã e ele me disse para jogá-las desta vez na curva do rio Jing. Ele também me aconselhou a lançar a linha na direção oeste, se quisesse voltar para casa carregado de camarões e peixes. A propósito, quando eu subir à cidade amanhã, comprarei vinho e lhe encontrarei novamente. Com a paz restaurada, os dois homens então partiram.
Porém, como diz o provérbio, “o que se fala na estrada é ouvido por quem está parado na grama”. Assim, esta última parte da conversa foi ouvida por um yaksha que estava em patrulha ao longo do rio Jing, e ele correu até o Palácio de Cristal da Água para relatar ao seu senhor, gritando:
- Que desgraça! Que tragédia inesperada!
- Posso saber do que está falando? - perguntou o Rei Dragão, surpreso.
- Seu servo - respondeu o yaksha, alvoroçado- estava patrulhando o rio quando ouviu uma conversa entre um pescador e um lenhador. Eles estavam falando sobre algo realmente horrível! Segundo o pescador, na rua do Portão Oeste da cidade de Chang-An existe um adivinho que nunca falha em suas previsões. Sabendo de seus poderes, o pescador lhe dá uma carpa todos os dias. O adivinho então consulta então os pauzinhos que tem escondido na manga e indica-lhe o local exato onde deve lançar as redes. Você entende o perigo que corremos? Se continuar assim, em pouco tempo acabará com todos os nossos irmãos d'água. Onde você encontrará então seres que queiram viver nas regiões aquáticas? Ninguém vai pular sobre as ondas e seu poder se tornará cada vez menor.
O Rei Dragão ficou tão furioso que quis pegar sua espada e ir até Chang-An naquele exato momento para matar o adivinho. Por sorte, seus filhos e netos, os ministros-caranguejo e os conselheiros-camarão, o juiz-perca e o governador-carpa estavam ao seu lado e tentaram dissuadi-lo, dizendo:
- Controle sua justa raiva, majestade. O provérbio está certo quando diz: "Não acredite em nada do que ouve." Além disso, se você marchar assim em direção a Chang-An, nuvens e chuva o seguirão e as pessoas que vivem lá gritarão de horror. Você quer ofender o Céu com tal conduta impensada? Como você tem o poder de aparecer e desaparecer, e de se transformar no que quiser, nossa sugestão é que você assuma a forma de um intelectual e vá até aquela cidade para saber o que está acontecendo. Se, de fato, tal pessoa existe, a melhor coisa que você pode fazer é matá-la o mais rápido possível. Se não for verdade, não há necessidade de sacrificar pessoas inocentes.
Seguindo seu conselho, o Rei Dragão colocou a espada de lado e dispensou as nuvens e a chuva. Ele nadou com força até a margem do rio e, com um simples movimento de seu corpo, transformou-se em um literato de manto branco com feições surpreendentemente viris. Sua estatura era acima do normal, seu andar, lento e sereno, denotava um espírito reflexivo, e toda a sua figura exalava firmeza de espírito e domínio do corpo. Seu discurso erudito exaltava a Confúcio a Mêncio e à conduta virtuosa do Duque de Chou e do Rei Wen (9).
Vestindo um vestido de seda verde jade, com um pano enrolado casualmente em volta da cabeça, ele emergiu da água e caminhou em direção ao Portão Oeste da cidade de Chang-An, onde encontrou uma grande multidão cercando um homem, que dizia em voz baixa e contida:
- Os que pertencem ao signo do dragão terão boa sorte, enquanto os nascidos sob o signo do tigre devem enfrentar inúmeros infortúnios. Por outro lado, aqueles que viram a luz na época de Yin, Chen, Si e Hai verão todos os seus negócios florescerem e a fortuna não sairá de suas mãos, algo que não acontecerá com aqueles que, no momento de seu nascimento , estavam sob a influência do planeta Júpiter.
Assim que o Rei Dragão ouviu isso, ele sabia que havia chegado ao local onde o adivinho fazia suas previsões. Caminhou em direção a ele e, abrindo caminho por entre a multidão o melhor que pôde, viu que as quatro paredes da sala estavam cobertas de obras-primas de caligrafia, entre as quais algumas pinturas de excelente corte. Uma fumaça incessante saía do caldeirão, cujas volutas contrastavam com a quietude da água purificada que guardava um recipiente de porcelana. O lugar de destaque foi ocupado por um retrato de Guigu (10), pendurado ligeiramente acima de dois desenhos de Wang Wei. A pedra para diluir a tinta, trazida diretamente de Duanxi (11), em nada prejudicava o pincel de cerdas eriçadas ao lado. Este homem dominava um grande número de técnicas de adivinhação, pois, juntamente com bolas de cristal, números de Guo Pu (12) e outros clássicos de adivinhação poderiam ser descobertos. Ele também conhecia os hexagramas, dominava os oito trigramas, conhecia as leis que regem o Céu e a Terra e era capaz até de distinguir o modo de agir de deuses e demônios. Diante dele estava uma bandeja, na qual estavam listadas as horas cósmicas. Sua mente atribuiu a eles os planetas e estrelas que correspondiam a eles com a velocidade de um gênio. Não havia dúvida de que contemplava, como num espelho, as coisas passadas e as futuras. Não era segredo para ele, como acontece com os deuses, saber qual casa ia ser construída e qual era demolida, quem ia nascer e quem ia morrer, quando ia chover e quando o céu estaria limpo. Os espíritos e os Deuses deviam se sentir alarmados diante de seu pincéil. Seu nome estava escrito em letras claras: Yuan Shoucheng.
Ele não era outro senão o tio de Yuan Tiankang, o astrônomo oficial do império. Ele era um homem de presença agradável e bem versado em todos os tipos de artes. Não foi à toa que ele era conhecido até o último canto do reino e gozava de grande favor na cidade de Chang-An. Sem hesitar, o Rei Dragão entrou em sua tenda. Após a habitual troca de cumprimentos, foi convidado a ocupar o lugar de honra. Enquanto um servo servia o chá, o mestre perguntou-lhe:
- O que você gostaria de saber?
- Preveja o tempo, por favor - respondeu o Rei Dragão.
O adivinho consultou seus pauzinhos e finalmente disse:
- A névoa borrará as copas das árvores e um véu de nuvens apagará as colinas. Se você deseja chuva, amanhã verá seu desejo realizado.
- A que horas isso vai acontecer e quanta água vai cair? - insistiu o rei.
- Na hora do dragão as nuvens começarão a rodopiar - respondeu novamente o adivinho - e na hora da serpente se ouvirá o trovão. A chuva começará a cair na do cavalo e na da ovelha (13) já terá cessado. Um total de quarenta e oito gotas de chuva cairão para cada metro quadrado.
- Me parece correto que assim o faça - respondeu gentilmente o adivinho. - Até logo!. Volte amanhã depois da chuva.
O Rei Dragão se despediu dele e voltou para sua mansão aquática. Assim que souberam de sua chegada, seus ministros e colaboradores mais diretos vieram cumprimentá-lo e perguntaram-lhe:
- Como foi seu encontro com o adivinho?
- É verdade que tal pessoa existe - respondeu o Rei Dragão -, mas posso garantir que é um verdadeiro charlatão. Perguntei a ele quando ia chover e ele me disse amanhã. Perguntei-lhe novamente sobre a hora e a quantidade de chuva que cairia e ele respondeu que na hora do dragão as nuvens começariam a rodar, na hora da serpente o trovão seria ouvido, na hora do cavalo a chuva começaria a cair e pararia na hora da ovelha. Com relação à quantidade de água, ele especificou que exatamente quarenta e oito gotas de chuva cairiam por metro quadrado. Então apostei que se ele estivesse certo, eu daria a ele cinquenta sacos de ouro, mas se ele estivesse errado sobre qualquer coisa, eu arrombaria sua porta e o expulsaria de Chang-An, para que ele não pudesse mais enganar as pessoas.
- Mas o senhor é o chefe supremo dos oito rios, o Grande Rei Dragão encarregado da chuva! - exclamaram seus subordinados, enquanto gargalhavam. - Só depende do senhor se chove ou não. Como aquele homem pode ser tão estúpido? Com certeza ele irá perder!
Os filhos e netos do dragão estavam comemorando com os peixes e caranguejos a vitória certa de seu senhor, quando se ouviu uma voz dizendo:
- Um mensageiro celestial chega com uma ordem para o Rei Dragão do rio Jing!
Todos levantaram a cabeça e viram o emissário, elegantemente vestido com um manto dourado, indo em direção à mansão aquática com uma carta do Imperador de Jade nas mãos. O Rei Dragão endireitou suas roupas da melhor maneira possível e queimou um pouco de incenso. Depois de entregar o documento, o mensageiro subiu no ar e desapareceu. O Rei Dragão abriu o documento e leu, atônito:
"Ordenamos ao Príncipe dos Oito Rios que prepare trovões e chuva e os deixe cair sobre a cidade de Chang-An amanhã."
O mais surpreendente é que os tempos e a quantidade de água que constavam no documento coincidiam exatamente, nos mínimos detalhes, com as previsões feitas pelo adivinho. O Rei Dragão sentiu-se tão abatido que perdeu a consciência, como se fosse uma donzela desnutrida. Ao recobrar a consciência, disse, entristecido, aos seus súditos:
- Quem diria que nesse mundo de pó haveria uma pessoa dotada de tão prodigiosa inteligência? É difícil acreditar que ele possua um conhecimento tão perfeito das leis que regem o céu e a terra! Lamento admitir que ele me derrotou!
- Acalme-se, por favor - aconselharam-no os ministros. - Não é tão difícil quanto parece se livrar desse adivinho. Na verdade, acabamos de bolar um plano que pode calá-lo para sempre.
Assim que o Rei Dragão perguntou o que era, o ministro que havia falado por todos respondeu:
- Se a chuva demorar um décimo de segundo para ocorrer amanhã ou cair uma gota a menos do que o previsto, a previsão não se concretizará, e você terá ganho a aposta. Não é assim? Quem então o impedirá de derrubar sua porta e jogá-lo na rua?
O Rei Dragão aceitou a sugestão com satisfação e parou de se preocupar. No dia seguinte, ele chamou o Duque do Vento, o Senhor do Relâmpago, o Jovem das Nuvens e a Mãe do Relâmpago, e ordenou que o acompanhassem até a cidade de Chang-An. Mas esperou a hora da serpente para desfraldar as nuvens, a do cavalo para fazer ressoar o trovão, a da ovelha para deixar cair a chuva e a do macaco para acabar com a tempestade. Além disso, deixou cair apenas quarenta gotas de água por metro quadrado, exatamente oito a menos do que havia sido encomendado.
Quando a chuva parou, o Rei Dragão dispensou seus assistentes, desceu das nuvens e, mais uma vez assumindo a forma do literato vestido de branco, se dirigiu furioso rumo a rua do Portão Oeste. Com um empurrão terrível, ele arrombou a porta da loja de Yuan Shoucheng e começou a destruir tudo em seu caminho, incluindo pincéis, tintas e pinturas. Yuan nem se mexeu; ele permaneceu sentado, como se nada daquilo tivesse a ver com ele. Isso deixou o Rei Dragão ainda mais furioso e, virando-se para onde estava, berrou com desdém:
Yuan Shoucheng não moveu um único dedo. Apesar da gravidade da acusação, estava claro que aquelas palavras não produziram nele o menor sinal de alarme. Em vez disso, ele permaneceu calmo e sorridente, encarando o olhar de seu acusador. Finalmente, ele limpou a garganta e disse:
- Não tenho medo, pois não fiz nada que mereça a pena de morte. Quem deveria estar tremendo é você. Você acha que eu não sei quem você é? Você pode enganar os outros, mas não a mim. Assim que o vi, soube que você não era um literato vestido de branco, mas o próprio Rei Dragão do rio Jing. Você percebe o que você fez? Ao alterar a hora e a quantidade de chuva, você desobedeceu à ordem do Imperador de Jade e transgrediu as leis do céu. Se há alguém aqui digno de ser executado, é você, não eu. Como ousa vir me culpar por algo de que só você é culpado?
Ao ouvir isso, o Rei Dragão sentiu tanto pânico que seu coração começou a bater forte e todos os seus pelos se arrepiaram. Tremendo, ele caiu prostrado no chão e implorou ao adivinho, dizendo:
- Não leve a mal o que acabei de dizer, por favor. Eu não sei o que eu estava pensando. Era só uma brincadeira. Agora vejo, porém, que o que eu considerava um jogo inocente era, na verdade, um crime hediondo. O que posso fazer agora que, como você mesmo disse, transgredi as leis do céu? Rogo que salve minha vida! Caso contrário, não sairei daqui.
- Quem disse que eu posso te salvar? - respondeu Yuan Shoucheng. - A única coisa que está ao meu alcance é indicar uma maneira possível de resolver um problema tão sério. Isso é tudo.
- Prometo que farei tudo o que você disser - respondeu o Rei Dragão.
- À princípio - disse Yuan Shoucheng -, você deve ser executado, por ordem do juiz Wei Zheng, às quinze para uma da tarde. Se você quiser salvar sua pele, a única coisa que você pode fazer é ir ao Imperador Tang Taizong o mais rápido possível e pedir-lhe misericórdia. Suponho que saiba que Wei Zheng é seu ministro e que, portanto, lhe deve obediência em tudo.
O Rei Dragão saiu correndo da tenda de Yuan Shoucheng com lágrimas nos olhos. Naquele exato momento o sol, vermelho como a própria felicidade, estava se pondo. Uma névoa densa se espalhou lentamente sobre as montanhas enquanto os corvos voltavam para seus ninhos e os viajantes procuravam um lugar para passar a noite. Os gansos selvagens já tinham encontrado abrigo na areia e a Via Láctea tornava-se cada vez mais visível. À distância, as luzes fracas de uma aldeia podiam ser vistas. Nos templos, o vento noturno apagou, uma a uma, todas as velas, espalhando depois o cheiro de fumaça. Mais perto, um homem sonhou que havia se transformado em uma mariposa (14) e voado para longe. A lua movia a sombra das flores de um jardim. Acima, enquanto isso, as estrelas se multiplicaram mil vezes. Era meia-noite e a escuridão tomou conta de tudo.
O Rei Dragão do rio Jing, no entanto, não voltou para sua mansão aquática. Esperou, suspenso no ar, até a hora do rato. Ele então desceu das nuvens e se dirigiu ao portão do palácio. Naquele exato momento o Imperador Tang estava sonhando que estava fora do palácio caminhando entre as sombras das flores lançadas no chão pela lua. O dragão assumiu a forma de um homem e correu em sua direção. Deitado de bruços no chão, ele começou a gritar:
- Misericórdia, majestade! Seja misericordioso com a minha vida!
- Se eu soubesse quem você é - respondeu Taizong -, talvez pudesse atender ao seu pedido.
-Sua Majestade é o verdadeiro dragão - disse o Rei Dragão - mas eu sou um dragão amaldiçoado, pois desobedeci a ordem do céu. Consequentemente, seu súdito Juiz Wei Zheng recebeu a ordem de me executar, por ter tentado contra a ordem cósmica. Essa é a razão pela qual agora venho até você, pedindo misericórdia.
- Se, como você diz, Wei Zheng vai se encarregar de fazer justiça - concluiu Taizong -, tenha certeza de que sua vida não correrá o menor perigo. Vá embora e pare de se preocupar.
Encantado, o Rei Dragão levantou-se apressadamente do chão e deixou o palácio, profundamente grato. Taizong acordou pouco depois e não parava de pensar no que acabara de sonhar. No entanto, três quintos da hora da quinta vigília já haviam passado e ele deveria receber todos os seus ministros em audiência. A fumaça do incenso e de outras plantas aromáticas ondulava graciosamente entre os arcos da fênix e depois subia em direção às cúpulas dos dragões, enquanto a nova luz refletia nas delicadas telas de seda.
A névoa ainda não havia se dissipado nas bandeiras e estandartes, enfeitados com penas berrantes. Pelos corredores avançavam oficiais tão virtuosos quanto os próprios Yao e Shuen (15). Todos seguiam o ritual dos Han e dos Chou, cortes às quais também pertencia a música que se ouvia ao fundo. Legiões de criados acendiam, de duas em duas, as lamparinas, enquanto grupos de donzelas, vestidas com trajes de cores vivas, preparavam leques. A luz encheu os salões de unicórnios e deu vida às telas decoradas com pavões. Antes que o imperador aparecesse, todos os presentes o aplaudiram e saudaram. Então, três vezes seguidas, ouviu-se o estalo de um chicote e cabeças inclinaram-se em uníssono em direção ao local onde ficava o trono. Um aroma de flores espalhou-se por todo o palácio, enquanto os coros entoavam cânticos de louvor e a procissão fazia a sua entrada, precedida por estandartes de pérolas e jade. O palanquim real, adornado com os leques do dragão e da fênix, da montanha e do rio, avançava então pelas fileiras dos cortesãos, nobres e refinados, e dos generais, experientes e corajosos. Todos eles usavam vermelho. O espetáculo foi tão magnífico que ninguém duvidou que o selo de ouro e as faixas roxas com os emblemas do sol, da lua e das estrelas durariam milhões de anos, exatamente como a terra e o céu.
Depois que os ministros prestaram homenagem ao imperador, eles se retiraram para um lado e ficaram de pé, cada um ocupando seu lugar de acordo com sua posição. Taizong os examinou um por um com seus penetrantes olhos de dragão. Entre os funcionários civis estavam Fang Xuanling, Du Ruhui, Xu Shizhi, Xu Jingzong, e Wang Guei, e entre os militares Ma Sanbao, Duan Zhixian, Yin Kaishan, Cheng Yaojin, Liu Hongzhi, Hu Jingde, e Qin Shubao. Todos permaneceram de pé, em atitude reverente e submissa. O imperador ficou surpreso por não ver Wei Zheng e, voltando-se para Xu Shizhi, gesticulou para que ele se aproximasse e disse:
- Ontem à noite tive um sonho muito estranho. Um homem apareceu diante de mim e afirmou ser ninguém menos que o Rei Dragão do rio Jing. Ele também disse que havia desobedecido às ordens do céu e que, como punição, seria executado pelo juiz Wei Zheng. Ele então me implorou para poupar sua vida, com o que concordei. E hoje, precisamente Wei Zheng não atendeu meu chamado. O que está acontecendo?
- É possível que seu sonho seja mais verdadeiro do que você pensa - respondeu Shizhi - Portanto, se você deseja cumprir sua promessa, a melhor coisa a fazer é chamar Wei Zheng e mantê-lo ao seu lado o dia todo. Se você não deixá-lo ir, o dragão dos seus sonhos, sem dúvida, conseguirá salvar sua vida.
Encantado, o imperador dos Tang convocou o juiz Wei Zheng ao tribunal. Na noite anterior, Wei Zheng estivera estudando os movimentos das estrelas. Quando ele estava prestes a queimar um pouco de incenso, ele ouviu o choro das garças e, olhando para cima, viu um mensageiro celestial com uma ordem do Imperador de Jade em suas mãos. Nela, ele recebeu a ordem de executar o velho dragão do rio Jing exatamente às quinze para uma da tarde.
Grato aos céus por tamanha honra, o primeiro-ministro preparou-se para cumprir tão importante missão, tomando banho e não comendo nada o dia todo. Ele também pegou sua espada mágica e a afiou várias vezes, purificando assim seu espírito. Ele sabia que toda preparação era pouca e decidiu não comparecer à audiência imperial naquele dia. Por isso, seu coração disparou ao ver chegar um funcionário da corte com a ordem de comparecer imediatamente perante o imperador. Ele não ousou desobedecê-la e, depois de trocar de roupa às pressas, seguiu o oficial até o palácio. Depois de prestar homenagem ao Filho do Céu, deitou-se de bruços no chão e, sem cessar de bater com a testa no chão, desculpou-se por não ter comparecido ao seu posto naquele dia.
- Eu te perdoo - respondeu o Imperador dos Tang -, porque você é, na verdade, um dos nossos mais dignos servos.
Pouco depois, as audiências foram encerradas e os ministros saíram, um após o outro. Só que foi negada a Wei Zheng a permissão para fazê-lo. Além disso, ele convidado a subir ao palanquim dourado e, na companhia do imperador, entrou numa das salas interiores, onde se discutiam as medidas a adotar para melhor defesa do império e demais assuntos de Estado. A meio caminho entre a hora da cobra e a hora do cavalo, o imperador ordenou aos seus servos que trouxessem um tabuleiro de xadrez, dizendo:
- Depressa, porque quero jogar uma partida com o mais digno dos meus súditos.
Assim que os criados cumpriram a ordem, um grupo de concubinas pegaram as peças e as colocaram no tabuleiro. Expressando seu agradecimento pela honra que lhe foi prestada, Wei Zheng sentou-se e começou o jogo. Os dois moviam as peças com cautela, seguindo sempre as instruções do Clássico do Xadrez, que afirma:
"O xadrez ajuda a desenvolver a disciplina e a prudência. Nesse sentido, as peças mais fortes devem ser colocadas no centro, as mais fracas nas laterais e as menos poderosas nas pontas. Existe uma regra de ouro, bem conhecida de todo bom jogador, que diz: "É melhor perder uma peça do que uma vantagem já adquirida. Ao atacar pelo lado esquerdo, é necessário manter o direito bem protegido. Você só pode falar de retaguarda quando se tem uma vanguarda realmente forte, para a qual é preciso ter, por sua vez, uma retaguarda segura. Os dois extremos estão intimamente ligados, mas é preciso ser flexível nos movimentos e, sobretudo, tentar evitar que ambos se choquem. A formação extendida não deve ser muito solta, enquanto uma posição apertada não deve ser restrita. Em vez de se concentrar em defender uma peça, é aconselhável, se quiser vencer, renunciar a ela. Da mesma forma, é melhor ficar parado do que se mover sem rumo. Quando você se encontra em desvantagem numérica para o seu adversário, deve tentar, acima de tudo, sobreviver. Quando, ao contrário, é você quem se encontra nessa situação vantajosa, deve se esforçar para fazer o melhor uso dela. Quem tiver a vitória em mãos não prolongará inutilmente a luta, assim como quem domina uma posição evitará o confronto direto, quem sabe lutar não sofrerá derrota e quem sabe que vai perder não cederá ao pânico. Não é incomum no xadrez começar com uma vantagem considerável, apenas para terminar totalmente derrotado. Se o inimigo reagrupar suas forças, sem ser atacado, é sinal claro de que pretende partir para a ofensiva; se, por outro lado, abandona a defesa de uma pequena porção de seu território, é bem possível que esteja buscando a anexação de outro maior. Se você faz seus movimentos sem pensar, isso mostra que você é uma pessoa precipitada; Não há melhor maneira, então, de buscar a derrota do que ceder ao seu próprio modo de agir. O Livro das Odes afirma com razão: "Aproxime-se com o máximo cuidado, como se estivesse se aproximando de uma ravina profunda." "O tabuleiro de xadrez - diz o poema - é a terra, e o céu as peças. Nas cores preto e branco simboliza-se todo o universo. Quando o jogo atinge o cúmulo da sutileza, o Imortal que nunca joga solta uma gargalhada."
O imperador e o seu ministro permaneceram sentados à mesa até às quinze para uma da manhã, mas o jogo não havia terminado. Wei Zheng de repente deixou cair a cabeça na mesa e foi dormir. Ao vê-lo, Taizong riu e disse:
- Dá para perceber que o nosso homem de confiança se dedica às tarefas de Estado com tanta dedicação que até se esquece de descansar. Não é de estranhar que o sonho acabou vencendo sua resistência e o deixou dormir o quanto quisesse.
Depois de um tempo, porém, Wei Zheng abriu os olhos tão repentinamente quanto os havia fechado e, prostrando-se com o rosto no chão, exclamou alterado:
- Eu mereço mil sentenças de morte! Não entendo como pude adormecer em vossa presença. Peço desculpas pelo tremendo insulto que acabei de lançar contra o senhor.
- Que insulto ? - repetiu Taizong, sorrindo. - Levante-se e vamos continuar jogando. Acho que devemos esquecer a partida anterior e começar uma nova. Não acha?
Wei Zheng agradeceu ao imperador por sua benevolência e reorganizou as peças no tabuleiro. Quando estavam prestes a dar o primeiro passo, gritos terríveis foram ouvidos do lado de fora da grande sala em que estavam. Antes que eles pudessem perguntar o que estava errado, os ministros Qin Shubao e Xu Mougong surgiram trazendo consigo uma cabeça de dragão pingando sangue. Eles a jogaram diante do imperador e disseram:
- Vimos os mares perderem a profundidade e os rios secarem, mas nunca vimos algo tão raro quanto isso.
- Onde vocês encontraram isso? - Taizong perguntou, levantando-se imediatamente.
- Ao sul do Corredor dos Mil Degraus - responderam Shubao e Mougong em coro. - Estávamos lá conversando, quando de repente essa cabeça de dragão caiu das nuvens. Achamos que o senhor deveria vê-la, e é por isso que a trouxemos aqui.
- O que significa isto? - o Imperador dos Tangs perguntou novamente, severo, voltando-se para Wei Zheng.
- Enquanto você dormia? - repetiu o Imperador dos Tang, temeroso e surpreso. - Enquanto você dormia, não percebi o menor movimento de seu corpo, nem sequer vi você alcançar sua espada ou cimitarra. Como você pode executar aquele dragão?
- Embora meu corpo estivesse ao seu lado, com os olhos fechados e virados no tabuleiro de xadrez, a verdade é que meu espírito deixou meu corpo. Uma nuvem sagrada estava esperando por ele e o levou até o quartel de execução do dragão.
Os soldados celestes já o haviam amarrado e meu espírito lhe disse: "Você foi condenado à morte por ter desobedecido às ordens do céu. Por sua ordem, acabarei agora com a sua vida vulgar." O dragão ouviu a frase tremendo. Então ele encolheu suas garras e assim esperou a morte.
O espírito de seu servo arregaçou as mangas de sua túnica, recuou e ergueu sua espada, que imediatamente desferiu com força no pescoço do acusado. Assim se explica como a cabeça do dragão que vê a sua frente desceu dos céus.
Assim que Taizong ouviu essas palavras, sentiu satisfação e tristeza ao mesmo tempo. Satisfação em ter um homem da estatura de Wei Zheng como ministro - como ele poderia se preocupar com a segurança do império, tendo colaboradores tão valiosos ao seu lado? - e tristeza, porque havia prometido salvar o dragão e não foi capaz de de evitar que terminasse seus dias de forma tão lamentável. Então ele se viu forçado a ordenar que Shubao pendurasse a cabeça no mercado para que todo o povo de Chang-An a visse. Então, seguindo o costume, ele recompensou a Wei Zheng e dispensou os outros ministros.
Naquela noite, retirou-se para seus aposentos com uma estranha sensação de derrota. Ele não conseguia tirar da cabeça a imagem do dragão chorando e implorando por sua misericórdia. Ele nunca imaginou que os acontecimentos se desenvolveriam dessa forma ou que, a longo prazo, o dragão acabaria sendo executado. Tendo pensado sobre o assunto por muito tempo, o imperador ficou fisicamente e mentalmente esgotado. Por volta da hora da segunda vigília, o lamento de alguém chorando foi ouvido nos portões do palácio, e Taizong sentiu um remorso ainda maior. Em um sonho, ele viu o Rei Dragão do rio Jing com a cabeça pingando sangue nas mãos e chorando lamentavelmente:
Ele agarrou Taizong com tanta força que o imperador não conseguia se mover, embora tenha desesperadamente tentado fazê-lo repetidas vezes. Seu corpo inteiro estava coberto de suor pelo esforço. Quando tudo parecia perdido, um enxame de nuvens perfumadas apareceu do sul, no qual viajava uma sacerdotisa taoísta. Com rapidez inesperada, aproximou-se deles e começou a agitar um delicado galho de salgueiro.
Ao vê-la, o dragão sem cabeça fugiu para o noroeste, ainda chorando e lamentando alto. A sacerdotisa era ninguém menos que a Bodhisattva Guanyin que veio para as Terras Orientais em conformidade com a ordem de Buda para encontrar uma pessoa disposta a recolher as escrituras. Ela havia acabado de se instalar no templo do espírito protetor da cidade de Chang-An, quando ouviu os demônios gritando e os espíritos chorando. Percebendo que o imperador estava em perigo, ela correu em seu auxílio, conseguindo afastar o dragão amaldiçoado. Apesar de tudo, o ex-senhor do rio Jing foi ao Tribunal do Reino Inferior apresentar sua denúncia.
Taizong acordou tão assustado que só conseguiu gritar:
- Fantasmas! Fantasmas!
Seus gritos aterrorizaram tanto as rainhas dos três palácios, as concubinas das seis câmaras e os eunucos que as serviam, que eles não pregaram o olho a noite toda. Felizmente, não demorou muito para que soasse o quinto relógio e todos os oficiais da corte, tanto civis como militares, se reunissem na sala de audiências. Eles esperaram impacientemente até o amanhecer, mas o imperador não apareceu. Isso fez com que todos se sentissem indescritivelmente desconfortáveis e temerosos. Por fim, quando o sol estava prestes a atingir seu zênite, chegou a notificação imperial, dizendo:
"Os ministros estão dispensados hoje de cumprir suas obrigações estatais. Desculpem tê-los feito esperar tanto, mas a verdade é que não me sinto muito bem."
Assim se passaram cinco ou seis dias. A preocupação dos funcionários chegou a tal ponto que eles decidiram ir à corte, sem serem chamados, para descobrir por si mesmos o que estava acontecendo. Quando estavam para entrar, a Rainha Mãe apareceu e ordenou que fossem em busca do médico imperial. Todos ficaram na porta esperando por mais notícias. Depois de um tempo, o médico saiu e todos correram até ele, perguntando sobre o estado de saúde do imperador.
- O pulso de Sua Majestade - respondeu o médico, visivelmente preocupado - está extremamente irregular. Ora parece fraco, ora dispara em um ritmo francamente louco. O mais alarmante, no entanto, é que ele resmunga sobre fantasmas, e não resta absolutamente nenhum fôlego em suas entranhas. Meu diagnóstico é que que ele venha a falecer dentro de sete dias, no máximo.
- Desde os meus dezoito anos, conduzo os meus exércitos até ao último recanto da terra. Muitas foram, então, as calamidades a que fui submetido. No entanto, posso garantir que nunca me deparei com algo tão estranho quanto o que está acontecendo comigo agora. Acreditem ou não, fui atacado por fantasmas.
- Acalme-se, Majestade - aconselhou Shubao. -Jingde (16) e eu ficaremos de guarda no seu portão esta noite e veremos o que está acontecendo.
Taizong aceitou a sugestão com gratidão e os outros ministros se retiraram sem fazer barulho. Naquela noite, os dois oficiais imperiais vestiram suas couraças e capacetes e, segurando maças e machados, ficaram de cada lado da porta do quarto imperial. Sua aparência não poderia ser mais marcial. Seus elmos de ouro brilhavam como se fossem feitos de fogo, assim como seus peitorais, que pareciam ter sido feitos de escamas de dragão. As suas couraças, incrustadas de pérolas e pedras preciosas, assemelhavam-se às nuvens em que viajam os deuses, realçando a beleza das faixas de seda, que usavam apertadas à cintura. Um tinha olhos de fênix, que, ao olhar para cima, faziam as estrelas se encherem de medo. Os do outro eram escuros, mas seu fulgor lembrava um raio, e seu brilho lembrava a brancura da lua. Ambos eram excelentes guerreiros. Não é de estranhar que com o tempo acabaram se tornando guardiões das portas e protetores do lar.
Eles passaram a noite inteira perto do portão de seu senhor, mas não viram nada de estranho. Dessa forma, Taizong conseguiu dormir em paz do pôr ao nascer do sol. Agradecido, conduziu-os aos seus aposentos privados e disse:
- Desde que adoeci, não dormi como ontem à noite. Estou em dívida com vocês. Agora, se desejarem, podem retirar-se para descansar. Assim, vocês estarão em condições de ficar de guarda à minha porta, assim que escurecer.
Os dois generais obedeceram à vontade do imperador, e durante duas ou três noites não saíram do quarto imperial. Desta forma, a paz desceu sobre o palácio. Mas o apetite de Taizong diminuiu de forma alarmante e sua doença piorou ainda mais. Ele considerou, portanto, que o sacrifício de seus súditos era desnecessário e, chamando-os de volta à sua presença, juntamente com os ministros Du e Fang, disse-lhes:
- Embora nestes últimos dois dias eu tenha descansado bem, receio que não tenha sido agradável para vocês ficarem acordados a noite toda. Então decidi, para que vocês também possam dormir, mandarei um artista pintar seus retratos e colocá-los no batente da minha porta. Espero que não tenham nenhuma objeção a fazer.
Os ministros imediatamente atenderam a seus desejos e chamaram os dois melhores pintores do império para retratar os dois generais em seus trajes de guerra. Assim que as pinturas ficaram prontas, foram colocadas nos batentes das portas e, nas duas ou três noites seguintes, não houve nenhum incidente. Na quarta, porém, um barulho persistente de quebra de telhas e tijolos voltou a ser ouvido nos fundos do palácio, o que acabou prejudicando a frágil saúde do imperador. Assim que amanheceu, ele chamou seus ministros mais uma vez e disse-lhes:
- Para alívio de todos, nos últimos dias não houve o menor incidente na parte da frente do palácio. Mas ontem à noite, voltei a ouvir ruídos na parte de trás do palácio, tão horríveis que quase perdi o juízo.
- Isso é porque Jingde e Shubao estavam guardando o portão principal - disse Mougong, dando um passo à frente. - Se o senhor quiser que o barulho pare completamente, coloque Wei Zheng de guarda na porta dos fundos.
A noite, de fato, passou e nenhum fantasma apareceu. Mesmo assim, a situação do imperador tornou-se cada vez mais crítica. Sua doença piorou tanto que a rainha chamou todos os ministros e acertou com eles os detalhes do funeral. Taizong também convocou Xu Mougong ao lado de sua cama para confiar a ele os assuntos de estado, entregando o príncipe herdeiro aos cuidados do ministro, como Liu Bei fez com Zhuge Liang (18). Quando acabou de falar, banhou-se e trocou de roupa, esperando resignadamente a sua hora. Wei Zheng então deu um passo à frente o e puxou sua vestimenta real com a mão, dizendo:
- Não desanime, Majestade. Tenho comigo algo que lhe garantirá uma vida longa.
- Minha doença - respondeu Taizong, totalmente entregue - atingiu um ponto crítico, do qual jamais poderei me recuperar. Minha vida está acabando aos poucos. Como você pode me aconselhar a não ceder ao desânimo?
- Tenho aqui uma carta - respondeu Wei Zheng - que quero que entregue a Cui Jue, um dos juízes do Reino Inferior, assim que chegar ao submundo.
- Quem é esse Cui Jue? - Taizong perguntou, cada vez mais fraco.
- Ele foi um dos principais colaboradores de seu falecido pai - respondeu Wei Zheng. - Iniciou a carreira como magistrado de Cizhou, sendo posteriormente promovido a vice-presidente do Conselho de Ritos. Quando ele ainda estava vivo, tive a grande honra de estar entre seus amigos mais próximos. Sei que agora ele serve como juiz da capital do Reino Inferior, sendo responsável pelo registro dos vivos e dos mortos. Ele mesmo me disse isso, já que nos vemos em sonhos com certa frequência. Entregue a ele esta carta e tenho certeza que ele não jogará fora a amizade que nos une e permitirá que você volte ao mundo dos vivos.
Ao ouvir essas palavras, Taizong pegou a carta com esperança e a enfiou nas mangas. Ele não havia terminado de fazê-lo, quando fechou os olhos e morreu. As rainhas e concubinas dos três palácios e três câmaras, o príncipe herdeiro e os dois escalões de oficiais, militares e civis, vestiram-se de luto e começaram a pranteá-lo. O caixão imperial foi colocado no Salão do Tigre Branco. No entanto, não falaremos agora das cerimônias que se seguiram nem de como ocorreu o funeral.
Quem quiser saber como o Imperador Tang Taizong voltou à vida, deve ouvir com atenção o que é dito no próximo capítulo.
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Notas do Capítulo X:
- A vida dos pescadores e lenhadores costumava estar associada a uma existência pacífica, completamente afastada das preocupações mundanas e centrada na meditação, pelo que são muitas as ressonâncias literárias que os diálogos entre membros de profissões tão idílicas evocam, uma vez que constituíam algo comum para poetas e filósofos das dinastias Song e Tang;
- A poesia "Tsu" surgiu no início do século X, coincidindo com os anos finais da dinastia Tang, como uma evolução das canções que eram cantadas nos bordéis e que apresentavam uma clara influência dos modos musicais da Ásia Central. Embora tonalmente se assemelhem ao tom poético «lü-shr», o seu ritmo é mais irregular, acompanhando a evolução de certas melodias, de que o texto cita alguns exemplos.
- Trata-se do Cedreiro-cheiroso (Cedrela odorata);
- Esta planta é conhecida em estudos científicos como Melia japonica;
- Vários dos poemas que mencionam tanto o lenhador como o pescador são adaptações, mais ou menos fiéis, de versos escritos por poetas da dinastia Song, como Lin He-Ching (967-1028) ou Ching Kwang (1049-1100);
- Lung-Men, um local na província de Shanshi, é famoso por ser o local onde as carpas iniciam sua subida anual pelas corredeiras do rio Amarelo;
- "O aparecimento da geada" é um dos vinte e quatro períodos solares, que ocorre nos últimos dias do mês de outubro;
- Desde a época da dinastia Chou, os grandes ministros foram: o "Tai-Shr", ou Grande Mestre, o "Tai-Fu", ou Grande Conselheiro, o "Tai-Pao", ou Grande Protetor;
- O Rei Wen, a quem se atribui a fundação da dinastia Chou (1111-256 aC), foi considerado por Confúcio o inspirador dos seus ensinamentos pela sua sabedoria, pela sua grande virtude e pela solicitude que sempre demonstrou para com os seus súditos;
- Guigu é um dos antigos mestres taoístas, que dizem ter tido mais de cem discípulos;
- Duanxi é um rio na província de Guangdong, famoso pela excelente qualidade de suas pedras para fazer pedras para diluir tinta;
- Guo Pu foi um famoso poeta da dinastia Chin (265-419), que se dedicou com igual sucesso à prática das artes ocultas;
- Quanto às horas do dragão, da serpente, do cavalo, da ovelha, do macaco e do rato, ver nota 7 do capítulo V;
- Referência ao segundo capítulo dos escritos de Zhuang Zhou, onde o autor descreve um sonho em que se metamorfoseou em borboleta.
- Yao e Shuen foram dois antigos imperadores, famosos por sua virtude e dedicação ao povo;
- Jingde é o nome dado em contos populares a Yuchi Gong, um famoso guerreiro da dinastia Tang, que, junto com Qin Shubao, acabou se tornando o espírito protetor do lar. Por isso, suas efígies eram representadas nos batentes das portas das casas;
- Shen Tu e Yu Lei eram outros dois espíritos protetores do lar com as mesmas prerrogativas dos anteriores;
- Antes de morrer, o imperador Liu Bei confiou os assuntos de estado a Zhuge Liang, cobrando-o para assumir se seu herdeiro se mostrasse indigno das responsabilidades do governo.
- Tradução em pt-br por Rodrigo Viany (Sleipnir). Favor não utilizar sem permissão.
- Tradução baseada na tradução do chinês para o espanhol feitas por Enrique P. Gatón e Imelda Huang-Wang, e do chinês para o inglês feita por Collinson Fair.
oi. esse clima de folhetim com capítulos semanais é muito empolgante. fico ansiosa pelo próximo. obrigada.
ResponderExcluirMuito brigado você por tirar um tempinho para comentar, muito obrigado mesmo. Cada dia que passo me sinto desestimulado em continuar, mas enquanto tiver aqueles que apreciam o meu trabalho aqui, haverá força pra seguir.
ExcluirQuéisso! Eu olho todo dia! Desculpe não comentar tanto... aprendo muito com vc! Parto daqui para outras leituras. Vc estimula a pesquisa. Eu é que agradeço. ♥
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