O Caçador de Forno Grande

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Forno Grande é um monte localizado no município do Castelo, no Espírito Santo, onde dizem que em tempos remotos, antes do lugar ser habitado pelas tribos indígenas, dominavam espíritos infernais que, ali, estabeleceram uma comunicação com as entranhas da Terra. Posteriormente, a tribo dos puris veio a firmar-se na região, porém foram afastados pelos bandeirantes mineiros, cobiçosos das famosas minas de ouro e pedras preciosas. 

Segundo relatos diversos, na fase inicial do desbravamento, quando chegaram os primeiros povoadores brancos, havia ainda quem fizesse tratos com o demônio, com o saci, o curupira, etc., ou procurasse vencê-los em troca de riquezas. Este foi o caso de um certo caçador, que atraído pela riqueza de ouro e de pedras preciosas da região, apostou com os amigos que iria até o monte, e confrontaria o Saci. Em caso de vitória, ele seria eleito chefe do povoado.

Certa madrugada o caçador partiu, subindo o monte e atravessando cipós e espinheiros. Porém, quanto mais subia, mais distante parecia estar de seu alvo. Após passar o dia inteiro andando, a noite chegou, e o caçador não viu nem sinal de jacutingas, veados, pacas, porcos do mato ou outros animais que ele pudesse caçar e se alimentar. Exausto e com fome, ele resolveu sentar-se numa pedra ao pé de uma extensa laje coberta pelas folhas de uma figueira branca. Repousou ali até a hora da Ave-Maria, quando sentiu um ligeiro tremor de terra. Assustado, o caçador pegou sua espingarda e resolveu investigar ao redor.

Foi então que ele se deparou com o astuto Saci, dando saltos e fazendo-lhe caretas. O caçador imediatamente largou sua espingarda no chão para fazer um esconjuro e traçar o sinal da cruz. O Saci aproveitou o momento para descarregar a arma e atirá-la para bem longe. O caçador então partiu em disparada do local, sendo perseguido pelo traquina. Ele correu até alcançar o povoado, no entanto as luzes já estavam apagadas, e os todos haviam trancado suas portas e ido dormir, não querendo arcar com as consequências de se enfrentar o Saci. Dizem que o caçador continua correndo, até os dias de hoje, para que os outros possam viver em paz, a salvo do perigo do local ainda chamado Forno Grande.

Arte de Francisco Veiga

fontes: 

• Lendas Capixabas, de Maria Stella de Novaes;
• Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro, de Alceu Maynard Araujo;
• http://lendasestorias.blogspot.com/2014/05/o-cacador-de-forno-grande.html

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