۞ ADM Sleipnir
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| Arte de Andrea Piparo |
Polifemo (do grego Πολύφημος, que significa “muitas palavras”) era um gigante cíclope devorador de homens na mitologia grega, filho do deus dos mares, Poseidon, com a ninfa marinha Teosa. Vivendo isolado em uma caverna próxima ao vulcão Etna, na região da Sicília, Polifemo levava uma vida simples cuidando de suas ovelhas — até que sua rotina foi interrompida pela chegada do herói Odisseu (conhecido como Ulisses na tradição romana).
Na Odisseia, épico de Homero, Odisseu desembarca na ilha dos Ciclopes durante sua longa viagem de retorno da Guerra de Troia. Junto a alguns de seus companheiros, ele entra em uma caverna repleta de provisões. No entanto, o que parecia um abrigo seguro se transforma em um pesadelo quando Polifemo retorna com seus rebanhos, bloqueando a saída com uma imensa pedra. Ignorando os costumes sagrados da hospitalidade, o ciclope devora dois dos homens ainda naquela noite. Na manhã seguinte, mata e come mais dois antes de sair para pastorear suas ovelhas.
Ao retornar à noite, o gigante repete o horror e consome mais dois tripulantes. Odisseu então oferece a ele um vinho forte e não diluído, que havia recebido anteriormente em sua jornada. Embriagado, Polifemo pergunta o nome do visitante, prometendo um “presente de hóspede” em troca da resposta. Astutamente, Odisseu responde que se chama “Οὖτις”, ou seja, “Ninguém”. Satisfeito, o ciclope promete comer esse "Ninguém" por último e adormece profundamente.

Com o monstro inconsciente, Odisseu e seus homens aquecem uma estaca de madeira no fogo e a cravam no único olho do gigante, cegando-o. Ao gritar por socorro, Polifemo diz que “Ninguém” o feriu, fazendo com que os outros ciclopes pensem que ele está sendo atormentado por alguma força divina, e o aconselham apenas a orar. Na manhã seguinte, o ciclope cego solta suas ovelhas para pastar, tateando suas costas para impedir que os homens escapem. Contudo, Odisseu e seus companheiros haviam se amarrado sob os animais e conseguem fugir despercebidos. Já a bordo do navio, prestes a partir, Odisseu comete um ato de hýbris (orgulho excessivo): revela sua verdadeira identidade em um grito de triunfo.
Polifemo, tomado de fúria, clama por vingança a seu pai, Poseidon, que atende ao pedido. O ciclope lança enormes pedras em direção ao navio, que por pouco não é atingido. A partir desse momento, Poseidon passa a perseguir Odisseu, tornando sua jornada de volta para casa ainda mais longa e cheia de sofrimentos.

Embora mais lembrado por seu confronto violento com Odisseu, Polifemo também protagoniza uma narrativa marcada pelo amor não correspondido. Essa versão, mais tardia e de tom pastoral, aparece em fontes como as Metamorfoses de Ovídio e os Idílios de Teócrito, oferecendo um contraste com a imagem do ciclope cruel e selvagem.
Segundo esses relatos, Polifemo se apaixona por Galateia, uma nereida — ninfa do mar — de grande beleza. Rejeitado por ela, que preferia o jovem e belo pastor Ácis, o ciclope tenta conquistá-la com canções, poemas e promessas de presentes, como filhotes de ursos e cordeiros de lã branca. Em algumas versões, chega a construir um santuário em sua homenagem próximo ao Monte Etna, onde morava. O amor, porém, permanece não correspondido. Cego de ciúmes, Polifemo mata Ácis, esmagando-o com uma enorme pedra. Comovida, Galateia transforma o amante morto em um rio, eternizando sua presença na paisagem.
Curiosamente, versões posteriores afirmam que Galateia acabou aceitando o afeto do ciclope e que ambos tiveram um filho chamado Galatos (ou Gálato), figura que em algumas tradições seria ancestral dos gálatas.
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| Arte de Marta Gallegos |
Polifemo na Eneida
Além da Odisseia e das obras helenísticas, Polifemo também aparece na Eneida, épico latino de Virgílio, onde é retratado em uma cena sombria e melancólica. Durante sua jornada, Enéias e seus companheiros desembarcam na ilha dos Ciclopes e encontram Aquemênides, um grego deixado para trás por Odisseu após a fuga da caverna de Polifemo.
Aquemênides narra aos troianos os horrores que viveu e como escapou da fúria do ciclope. Logo após, eles testemunham uma cena impressionante: Polifemo, agora cego, desce até o mar guiando seus rebanhos e apoiando-se em um imenso tronco de pinheiro, usado como bengala. Com passos pesados, o gigante lava sua órbita vazia e ensanguentada nas águas do mar, soltando gemidos de dor.
Ao perceber a presença do navio, Polifemo tenta persegui-los, mas Enéias e sua tripulação conseguem partir a tempo, levando consigo Aquemênides. Atrás deles, o ciclope lança um rugido de frustração tão poderoso que outros ciclopes aparecem na costa, atraídos pelo brado de seu irmão. Assustado, Enéias ordena que aumentem a velocidade da fuga, enquanto deixam para trás a ilha marcada pelo sofrimento e pelo terror.

- ATSMA, A. POLYPHEMUS (Polyphemos) - Cyclops Giant of Greek Mythology. Disponível em: <https://www.theoi.com/Gigante/GigantePolyphemos.html>;
- LUCIA. Polifemo e Galatéia. Disponível em: <https://eventosmitologiagrega.blogspot.com/2010/09/polifemo-e-galateia.html>;
- Polyphemus | Encyclopedia Mythica. Disponível em: <https://pantheon.org/articles/p/polyphemus.html>;
- WIKIPEDIA CONTRIBUTORS. Polyphemus. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Polyphemus>.
Polifemo




Show! Eu tinha ouvido falar do polifemo no desenho da liga da justiça. Se não me engano era numa conversa do Batman e do Laterna verde.
ResponderExcluirNão tenho certeza, mas acho que foi no episódio em que eles enfrentam o Amazo, o andróide que copia os poderes daqueles que enfrenta. Polifemo, aliás, faz parte das histórias da Mulher Maravilha nos quadrinhos.
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