۞ ADM Sleipnir
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| Arte de Moyi Zhang |
CAPÍTULO LVII:
O VERDADEIRO PEREGRINO EXPÕE SUAS QUEIXAS NA MONTANHA POTALAKA. O FALSO REI DOS MACACOS TRANSCREVE DOCUMENTOS NA CAVERNA DA CORTINA DE ÁGUA.


Contavamos que o Grande Sábio Sun elevou-se aos céus com o coração aflito e o espírito mergulhado em tristeza. Pensou em retornar à Caverna da Cortina de Água, na Montanha das Flores e Frutos, mas teve receio de que os macacos zombassem dele. Os verdadeiros heróis nunca voltam atrás em sua palavra. Depois, considerou buscar refúgio no Palácio Celeste, mas sabia que não o deixariam permanecer por muito tempo. Como terceira opção, pensou nas ilhas do mar, mas sentiu vergonha de encarar os imortais que lá viviam. Pensou, por fim, no palácio dos dragões, mas não suportava a ideia de se aproximar dos reis-dragões como um suplicante. Foi então que percebeu que não havia para onde ir e murmurou, angustiado:
— Não tem jeito — pensou, com amargura. — Vou ter que voltar para o mestre se quiser alcançar a verdadeira realização.
Wukong então desceu das nuvens e, ao tocar o chão, lançou-se aos pés do cavalo de Sanzang, dizendo:
— Mestre, eu imploro o seu perdão. Prometo nunca mais tirar a vida de ninguém. Obedecerei todas as suas ordens sem questionar. Apenas peço que me permita acompanhá-lo até o Paraíso Ocidental.
O monge Tang recusou-se a responde-lo. Assim que parou o cavalo, começou a recitar o feitiço que tanto sofrimento trazia ao Peregrino. Repetiu-o mais de vinte vezes, enquanto o Grande Sábio se contorcia como se fosse um boneco de pano. Somente quando viu que a tiara que lhe apertava a cabeça já havia se enterrado em sua carne, o mestre parou de recitá-lo. Então finalmente disse, irritado:
— Por que não vai embora de uma vez e para de me importunar? Já deixei claro que não quero vê-lo nunca mais.
— Por tudo o que há de mais sagrado, pare com esse feitiço! — implorou o Peregrino. — Há muitos lugares para onde posso ir, mas temo que, sem minha ajuda, o senhor não consiga alcançar o Paraíso Ocidental.
— Você não passa de um macaco assassino! — gritou Sanzang, fora de si. — Só o Céu sabe quantos problemas você já me causou. Estou farto disso! E, além do mais, não é da sua conta se essa jornada chega ao fim ou não. Desapareça da minha frente, antes que eu volte a recitar o feitiço. E, desta vez, eu garanto que não paro até seus miolos escorrerem pelos ouvidos.
Vendo que o mestre não mudaria de ideia, e não querendo sentir novamente aquela dor insuportável, o Peregrino deu um de seus saltos mortais e, num instante, desapareceu entre as nuvens. Foi então que murmurou, ressentido:
— Que monge mais ingrato! Irei até a Montanha Potalaka agora mesmo contar tudo à Bodhisattva Guanyin!
Wukong então mudou a direção do voo e, em menos de meia hora, chegou aos Mares do Sul. Assim que pousou na Montanha Potalaka, correu em direção ao bosque de bambus roxos. Lá, foi recebido por Muzha, que, após saudá-lo respeitosamente, perguntou:
— Pode me dizer aonde vai, Grande Sábio?
— Desejo falar com a Bodhisattva — respondeu o Peregrino.
Muzha o conduziu até a entrada da Caverna do Som das Marés, onde foram recebidos por Sudhana, que perguntou, sorridente:
— A que devemos a honra de receber o Grande Sábio por aqui?
— Vim apresentar uma queixa à Bodhisattva — respondeu o Peregrino.
— Que ousadia a sua! — exclamou Sudhana, soltando uma gargalhada. — Acha que pode fazer o que bem entender com os outros e que ninguém o repreenderá? A Bodhisattva é uma deusa santa e justa, lenta para a ira e generosa no perdão, cujo poder ilimitado liberta todos os seres do sofrimento. Pode explicar que mal ela cometeu para que apresente uma queixa contra ela? Não preciso lembrar que quem acusa um de seus servidores, acusa a ela própria.
O Peregrino estava tão abatido que, ao ouvir aquilo, soltou um grunhido que fez Sudhana recuar, assustado.
— Seu maldito ingrato! — gritou, furioso. — Tem o caráter de um verme cego! Deveria lembrar-se de que antes não passava de um monstro e que, se a Bodhisattva o acolheu, foi porque eu intercedi. Desde então, desfruta de liberdade absoluta e de uma vida tão longa quanto o próprio Céu. É assim que me agradece? Em vez de me insultar, deveria ajoelhar-se diante de mim, por tê-lo ajudado a abraçar a Verdade. Tudo o que disse foi que vim apresentar uma queixa à Bodhisattva. Isso é faltar com o respeito?
— Que falta de humor! — exclamou Sudhana, tentando acalmá-lo com um sorriso. — Não percebeu que estava brincando? Por que essa mudança repentina no seu semblante?
Antes que terminasse de falar, uma cacatua branca apareceu voando. Deu duas voltas sobre suas cabeças, e logo entenderam que a Bodhisattva desejava vê-los. Muzha e Sudhana correram, sem perder tempo, até o trono de lótus. O Peregrino, por sua vez, ajoelhou-se diante da Bodhisattva. As lágrimas brotaram em seus olhos, transformando-se num pranto tão desesperado que encheu toda a caverna com seus lamentos.
— Quer me dizer o que tanto lhe aflige, Wukong? — perguntou a Bodhisattva, após pedir a Muzha que o ajudasse a se levantar do chão. — Pare de chorar. Eu aliviarei seu sofrimento e dissiparei sua dor.
Incapaz de conter as lágrimas, o Peregrino inclinou-se respeitosamente mais uma vez e disse:
— Até hoje, jamais permiti que alguém zombasse de mim. Sempre agi por vontade própria. Foi assim que, depois de ser liberado por vós do justo castigo que o Céu impôs sobre mim, prometi acompanhar o monge Tang em sua jornada ao Paraíso do Oeste, em busca das escrituras sagradas. Para cumprir esse nobre propósito, arrisquei minha vida incontáveis vezes: arranquei ossos frágeis da boca de tigres e escalei as costas ásperas de dragões. Meu único desejo era ver minha culpa perdoada e alcançar o reino da verdadeira iluminação. Como poderia imaginar que, em troca de tantos sacrifícios, o mestre me pagaria com a moeda da ingratidão? Sua cegueira é tamanha que já não distingue o bem do mal, o branco do negro.
— Pode explicar melhor o que quer dizer com "branco e preto"? — pediu a Bodhissatva.
O Peregrino então contou como, ao matar os bandidos, o monge Tang cedeu à ira, incapaz de discernir o certo do errado, e recitou o feitiço que o deixou sem forças, à beira da morte. Relatou também como suas tentativas de reconciliação foram em vão e, sem ter a quem recorrer, decidiu buscar consolo no reino misericordioso da Bodhisattva.
— Quando Tang Sanzang recebeu a missão de viajar para o Oeste — disse a Bodhissatva —, comprometeu-se a seguir sempre o caminho da perfeição. Como poderia aceitar de bom grado as mortes que você mencionou? Você foi terminantemente proibido por ele de usar seus poderes mágicos para se livrar dos bandidos. Claro que eram homens cruéis, mas, no fim das contas, eram apenas seres humanos e não mereciam um castigo tão severo. Eram diferentes dos monstros, demônios e espíritos malignos que você eliminou ao longo da jornada. Enquanto matá-los lhe rendeu méritos incalculáveis, eliminar esses bandidos foi um ato repreensível. Você deveria tê-los apenas assustado, salvando assim a vida do mestre. Portanto, sua conduta não foi tão virtuosa quanto deveria.
— Reconheço que agi mal — disse o Peregrino, prostrando-se no chão, com os olhos cheios de lágrimas. — Mas eu merecia a chance de redimir minhas faltas por meio de boas ações. Não é justo ser expulso da maneira cruel que o mestre escolheu. Suplico que tenha piedade de mim e recite um feitiço que neutralize o encantamento usado pelo monge Tang. Liberte-me também desta tiara de ouro que aperta minhas têmporas, para que eu possa voltar à Caverna da Cortina de Água.
— O feitiço do qual fala — respondeu a Bodhissatva, rindo — foi-me ensinado pelo próprio Tathagata no momento em que me incumbiu de encontrar um peregrino nas Terras do Leste. Naquela ocasião, ele me confiou três tesouros: a túnica bordada, o bastão de nove nós e os três tiaras de ouro, cada um com seu respectivo feitiço. Lamento dizer que ele não me passou nenhuma fórmula para anular seus efeitos.
— Nesse caso — concluiu o Peregrino —, só me resta despedir-me de vós.
— Para onde pretende ir? — perguntou a Bodhissatva.
— Ao Paraíso Ocidental, pedir a Tathagata que retire esta tiara da minha cabeça — respondeu o Peregrino.
— Se esperar um momento — replicou a Bodhissatva —, farei a leitura do futuro.
— Para quê? — retrucou o Peregrino. — Já tenho desgraça suficiente sobre mim.
— Não me refiro ao seu futuro, mas ao do monge Tang — respondeu a Bodhisattva, sentando-se com solenidade no trono de lótus.
Sua mente percorreu os Três Reinos, e a sabedoria de sua visão penetrou cada canto do universo. Só então abriu os olhos e, com a serenidade que lhe era característica, disse:
— Wukong, seu mestre em breve enfrentará uma provação muito difícil. Desesperado, ele irá novamente implorar por sua ajuda, e então eu direi a ele para levá-lo de volta, para que juntos possam obter as escrituras e alcançar o fruto da iluminação.
Ao ouvir isso, o Grande Sábio permaneceu imóvel, de pé junto ao trono de lótus, sem ousar pronunciar uma palavra. Por ora, deixaremos de falar dele. Voltemos nossa atenção ao monge Tang, que, após a partida do Peregrino, prosseguiu a jornada acompanhado por Bajie, que conduzia o cavalo pelas rédeas, e pelo o Monge Sha, que carregava as bagagens. Após percorrerem cerca de cinquenta quilômetros, Sanzang deteve o cavalo e disse:
— Deixamos a aldeia por volta da quinta vigília. Pouco depois tive aquele desentendimento com aquele macaco rebelde e desde então não paramos. Já é quase meio-dia. Acho que seria bom comermos algo. Quem de vocês se dispõe a procurar comida?
— Por favor, desça, mestre — disse Bajie —, enquanto eu procuro alguma aldeia nas proximidades para pedir comida.
Sanzang desmontou do cavalo, enquanto Bajie elevou-se aos céus. Olhou em todas as direções, mas só avistou uma sucessão interminável de montanhas e cordilheiras, sem nenhum sinal de habitações por perto. Bajie então desceu rapidamente e informou ao monge Tang:
— Não há onde pedir comida por aqui. Não consegui encontrar nenhuma aldeia por perto.
— Se não há onde pedir comida — respondeu Sanzang —, consigam ao menos água para matar a nossa sede.
— Avistei um riacho ao sul da montanha — disse Bajie. — Deixe-me ir até lá buscar água.
O Monge Sha entregou-lhe a tigela de esmolas, e Bajie logo desapareceu novamente entre as nuvens. O mestre sentou-se à beira do caminho para esperá-lo, mas após muito tempo, ele ainda não havia retornado. A sede castigava cada vez mais o monge Tang, e a espera tornava-se angustiante. Sobre esse momento, há um poema que diz:
"Preservar o espírito verdadeiro e nutrir o sopro vital — isso é a essência.
Sentimento e natureza, em sua origem, compartilham a mesma forma.
Quando o espírito e o coração perdem o equilíbrio, toda doença surge.
Se a essência e a forma enfraquecem, o Tao se perde.
Se as Três Flores (1) murcham, todo esforço é em vão.
Se os Quatro Grandes (2) estiverem debilitados, não há razão para lutar.
Sem terra e madeira, não pode haver metal ou água.
Como alcançar o corpo do Dharma através da ociosidade?"
Ao ver o quanto a fome e a sede faziam o mestre sofrer, e percebendo que Bajie não retornava com a água, o Monge Sha amarrou o cavalo e disse:
— Mestre, aguarde aqui um momento. Vou apressá-lo para que traga a água.
Com os olhos marejados de lágrimas, o mestre limitou-se a acenar com a cabeça em resposta. Sem perder tempo, o Monge Sha montou em uma nuvem e partiu apressadamente em direção ao sul da montanha.
Enquanto permanecia sentado em agonia, completamente só, Sanzang de repente ouviu um estrondo próximo. O susto foi tão grande que ele saltou de onde estava, e então avistou Sun Wukong ajoelhado à beira do caminho, erguendo com ambas as mãos uma tigela de porcelana.
— Mestre — disse o Peregrino, sem levantar os olhos do chão. — Sem este velho macaco, até um pouco de água você tem dificuldade em obter. Beba esta tigela de água fresca para aliviar sua sede, enquanto eu busco um pouco de comida para você.
— Não beberei dessa água! — respondeu Sanzang — Prefiro morrer do que aceitar qualquer coisa vinda de você! Vai embora e me deixe em paz!
— Sem minha ajuda, nunca alcançará o Paraíso Ocidental — insistiu o Peregrino.
— O que isso tem a ver contigo? — gritou Sanzang. — Você é um macaco sem princípios, que não tem direito algum de me importunar!
O Peregrino perdeu a paciência e, vermelho de raiva, gritou:
— Por que sente tanto prazer em me humilhar? Com esse comportamento, está provando ser apenas um monge sem coração! — e arremessou a tigela de porcelana no chão.
Dominado pela fúria, o Peregrino empunhou seu bastão de ferro e desferiu um golpe terrível nas costas do mestre, fazendo-o perder os sentidos. Então, sem hesitar, pegou as bagagens do mestre, montou em uma nuvem e desapareceu no horizonte.
Enquanto isso, Bajie havia conseguido pousar na encosta sul da montanha. Subiu em uma pequena elevação e avistou uma cabana escondida entre as rochas. Sem largar a tigela de esmolas, aproximou-se e confirmou que, embora fosse rústica, a construção havia sido feita por mãos humanas.
— Sou tão feio — pensou, envergonhado — que provavelmente irão me negar ajuda. Melhor me transformar em algo mais apresentável.
Sem hesitar, Bajie fez um gesto mágico com os dedos, recitou o feitiço apropriado, sacudiu o corpo sete ou oito vezes e, num instante, transformou-se em um monge de aspecto magro e pele amarelada. Gemendo como se estivesse acometido por uma doença incurável, dirigiu-se até a porta da cabana e disse, em voz alta:
— Benfeitor, haveria sobras de arroz em sua cozinha para viajantes famintos? Sou apenas um pobre monge vindo das Terras do Leste, e estou a caminho do Paraíso Ocidental em busca de escrituras sagradas. Meu mestre está mais adiante, à beira da estrada, faminto e sedento. Se restou algum arroz grudado no fundo da panela, peço humildemente que nos conceda, para que possamos salvar nossas vidas.
Os homens que moravam naquela cabana haviam saído para o campo, restando apenas duas mulheres no local. Elas tinham acabado de preparar a refeição e se preparavam para levá-la aos maridos quando Bajie bateu à porta. No fogão, restava apenas um caldeirão com um pouco de arroz queimado no fundo. Ao verem o seu aspecto frágil e ouvirem sua história inacreditável sobre vir das distantes Terras do Leste em direção ao Paraíso Ocidental, as mulheres pensaram que ele estava delirando devido a idade. Temendo, porém, que ele caísse morto em sua porta, encheram apressadamente a tigela de esmolas com o pouco de comida que havia sobrado. Bajie aceitou até as crostas de arroz queimado, e, eufórico, voltou pelo mesmo caminho. Assim que teve certeza de que ninguém mais o observava, retomou sua forma original. Ele seguia adiante quando ouviu alguém chamar:
— Bajie!
Ele levantou a cabeça e avistou o Monge Sha, de pé sobre uma rocha.
— Venha cá! — gritou o Monge Sha, saltando para alcançá-lo. — Onde você estava? Aqui mesmo há um riacho de águas cristalinas. Por que não trouxe um pouco para o mestre?
— Quando cheguei aqui — respondeu Bajie, sorrindo satisfeito —, vi uma casa e resolvi pedir um pouco de arroz. Veja só! me deram uma tigela cheia!
— Muito bem — disse o Monge Sha —, mas o mestre está morrendo de sede. Como vamos levar água para ele?
— É simples — respondeu Bajie. — Dobre um pouco a túnica e colocaremos o arroz nela. Assim podemos colocar a água na tigela de esmolas.
Animados, os dois voltaram rapidamente para a estrada. Logo avistaram Sanzang caído no chão, com o rosto coberto de poeira. Alguém havia soltado o cavalo, que pastava adiante, relinchando livremente. Quanto à bagagem, havia desaparecido por completo.
Bajie foi tomado pelo desespero. Deu um chute no chão e gritou, furioso:
— Devem ter sido aqueles bandidos que o Peregrino espancou! Enquanto estávamos fora, mataram o mestre e roubaram nossos pertences!
— Pare de chorar, por favor — aconselhou Bajie. — É inútil continuarmos nossa busca pelas escrituras. Cuide do corpo do mestre enquanto eu procuro uma aldeia por perto para ver se encontro um caixão. Assim que o enterrarmos, cada um poderá seguir seu caminho.
Mas o Monge Sha relutava em deixar o mestre. Com cuidado, virou o corpo de Sanzang e aproximou seu rosto ao dele, enquanto gritava ainda mais desesperado:
— Pobre mestre! Pobre mestre!
Foi então que percebeu que o mestre ainda respirava, ainda que muito fracamente, e em seu peito ainda pulsava um fio de vida.
— Venha aqui, Bajie! — gritou o Monge Sha, com a esperança renovada. — O mestre ainda está vivo!
Sem perder tempo, Bajie se aproximou e, com todo o cuidado, ajudou o mestre a se levantar. Aos poucos, ele foi recobrando a consciência, entre lamentos e gemidos.
— Maldito macaco... — queixou-se com voz extremamente fraca. — Por pouco não me matou...
— De que macaco o mestre está falando? — perguntaram ao mesmo tempo Bajie e o Monge Sha, mas o mestre apenas conseguia gemer. Só depois de beber um pouco de água, conseguiu explicar:
— Logo depois que vocês partiram, Wukong apareceu novamente. Quando me recusei a aceitá-lo de volta, ele ficou furioso, me deu um terrível golpe usando o seu bastão de ferro e ainda roubou nossas bagagens.
— Maldito macaco! — exclamou Bajie, tão furioso que seus dentes rangiam e seu coração batia forte como um vulcão em erupção. — Como pôde ser tão cruel? Monge Sha, cuide do mestre enquanto vou exigir que ele nos devolva nossas bolsas!
— Para que tanta pressa? — protestou o Monge Sha. — Primeiro precisamos levar o mestre até aquela cabana junto às rochas e pedir às mulheres que aqueçam o arroz que nos deram. Só depois, com o mestre recuperado, decidiremos o que fazer.
Bajie não teve nenhuma objeção. Após ajudar o mestre a montar no cavalo, pegaram a tigela de esmolas com o arroz e seguiram até a porta da cabana. Lá dentro, havia apenas uma anciã que, ao vê-los, tentou fugir, apavorada.
Felizmente, o Monge Sha conseguiu detê-la, juntando as mãos em sinal de respeito e falando com humildade:
— Boa senhora, somos monges vindos da corte dos Tang, nas Terras do Leste, rumo ao Paraíso Ocidental. Nosso mestre não está se sentindo bem, e por isso viemos até sua casa pedir um pouco de água quente, para aquecer nosso arroz e ajudá-lo a se alimentar.
— Há pouco tempo — respondeu a anciã — apareceu por aqui outro monge, bastante doente, dizendo também ter vindo das terras do Leste, e lhe dei todo o arroz que restava. Como é possível que vocês também venham do Leste? Se não se importam, peço que procurem outra casa, pois estou sozinha e nada mais tenho a oferecer.
Ao ouvir isso, o mestre desceu do cavalo com ajuda de Bajie e, curvando-se respeitosamente, disse:
— Quando iniciamos esta jornada, éramos três discípulos, unidos pelo desejo de alcançar o Monastério do Trovão, na Índia, para obter as escrituras sagradas. Contudo, o meu discípulo mais antigo, Sun Wukong, desviou-se do caminho do bem, entregando-se à violência. Por isso, fui obrigado a expulsá-lo. Jamais imaginei que voltaria para me atacar, roubando nossos pertences e vestimentas. É imprescindível que um de meus discípulos vá procurá-lo para recuperar nossas humildes posses. Mas, antes, precisamos repousar um pouco. Compreenda que não podemos fazê-lo ao relento. Prometo que, assim que recuperarmos nossos pertences, seguiremos viagem e não a incomodaremos mais.
— Como eu já disse, eu entreguei todo o arroz que eu tinha ao outro monge — insistiu a anciã. — Ele também dizia estar em peregrinação ao Céu Ocidental, vindo da Terra do Leste. Como podem haver tantos de vocês?
— Eu posso explicar — disse Bajie, não conseguindo conter o riso. — O outro monge de quem fala era eu. Como tenho este focinho comprido e orelhas tão salientes, temi que se assustasse e se recusasse a me ajudar. Por isso, assumi aquele disfarce. Se não acredita, veja o que meu irmão aqui ainda carrega, dentro da túnica. Não é o arroz que a senhora lhe ofereceu?
Ao reconhecer o arroz, a anciã deixou de resistir e os convidou a entrar. Em seguida, preparou um caldeirão de água quente e o entregou ao Monge Sha, para que misturasse com o arroz, que estava um pouco seco. O mestre comeu apenas alguns bocados, mas foram suficientes para que recuperasse as forças e encarasse a situação com mais ânimo.
— Já decidiram quem irá atrás da nossa bagagem? — perguntou o mestre aos discípulos.
— Eu vou — respondeu Bajie prontamente. — Conheço bem o caminho para a Montanha das Flores e Frutos, onde ele tem seu covil. Na última vez que brigou conosco, ele se refugiou na Caverna da Cortina de Água. Foi exatamente lá que o encontrei.
— É melhor você não ir — ponderou Sanzang. — Você nunca se deu bem com o Peregrino e costuma falar de maneira ríspida. A menor provocação pode enfurecê-lo. Quem garante que ele não vai atacá-lo com seu bastão de ferro? Acho melhor o Monge Sha ir no seu lugar.
— Concordo plenamente com o mestre — disse o Monge Sha sem hesitar.
— Aja com extrema cautela — aconselhou o mestre. — Se ele concordar em devolver as bolsas, agradeça e volte imediatamente. Se recusar, não discuta e vá diretamente para os Mares do Sul contar tudo à Bodhisattva. Ela saberá como recuperar nossos pertences.
Antes de partir, o Monge Sha orientou Bajie:
— Seja educado com esta família e proteja o mestre. Lembre-se: quem respeita quem o acolhe nunca ficará sem alimento. Voltarei o mais rápido que puder.
— Entendido — respondeu Bajie, balançando a cabeça. — Mas não esqueça que estamos esperando. Conseguindo ou não recuperar nossa bagagem, volte logo. Não quero que aconteça como com quem tenta atiçar o fogo com uma vara e acaba queimando as duas pontas.
"O espírito abandona o lar, embora o corpo permaneça o mesmo.Como fundir o elixir se o fogo não aquece os fornos?
A Bruxa Amarela deixa seu mestre e vai em busca do Senhor do Metal,
enquanto a Mãe Madeira tenta atrair a atenção do mestre, mesmo abatido e doente. (3)
Ninguém sabe se ele voltará, nem quando será seu retorno.
As Cinco Fases brigam entre si, sem encontrar a serenidade,
nem mesmo em seu crescimento mútuo.
Apenas um desejo parece uni-las: prender novamente o Macaco da Mente."
Após viajar durante três dias e três noites montado em uma nuvem, o Monge Sha finalmente avistou o Grande Oceano Oriental. O som das ondas chegava nítido aos seus ouvidos. Movido pela curiosidade, olhou para baixo e viu que o amanhecer começava a despontar. A escuridão da noite cedia lugar à fria luz do alvorecer, como uma névoa negra sendo absorvida pelo azul crescente do céu. Ainda havia vestígios de sombras e sonhos no ar, mas o triunfo da luz tornava-se cada vez mais evidente. O Monge Sha, no entanto, estava preocupado demais para apreciar a beleza que se desenrolava diante de seus olhos. Depois de deixar para trás a ilha imortal de Yingzhou, seguiu a corrente das marés e a brisa do oceano rumo à Montanha das Flores e Frutos. Logo avistou picos tão altos que desapareciam nas nuvens e tão íngremes que pareciam imensos biombos suspensos no céu.
Pousou no cume mais elevado e observou o horizonte, tentando descobrir o caminho que levava à Caverna da Cortina de Água. À medida que se aproximava, começou a ouvir os gritos estridentes dos inúmeros macacos que habitavam a montanha. Chegou ainda mais perto e viu o Peregrino sentado sobre um estrado de pedra, segurando um pedaço de papel nas mãos, que lia repetidamente aos seus súditos, dizendo:
"O Imperador Li, soberano da Grandiosa Dinastia Tang nas Terras do Leste, confere, por meio deste documento, ao sábio Chen Xuanzang, irmão do trono e Mestre da Lei, a sagrada missão de viajar até o Monastério do Trovão, situado na Montanha do Espírito nas Terras do Oeste, para solicitar ao Respeitável Patriarca Budista, Tathagata, a entrega de suas Escrituras Sagradas. Após sofrer uma grave enfermidade, que debilitou profundamente seu corpo, fui chamado ao Reino Inferior para prestar contas de meus atos. Felizmente, os Reis da Escuridão tiveram a bondade de prolongar minha vida, permitindo-lme retornar à existência. Em gratidão, convoquei todos os monges do império para que orassem ininterruptamente em favor das almas dos falecidos. Fomos agraciados com a aparição da Misericordiosa Bodhisattva Guanyin, que sob a forma de uma luz ofuscante, nos revelou que, nas Terras do Oeste, habitava um Buda cujas escrituras poderiam libertar os espíritos dos mortos de seu sofrimento. Por isso, confio ao Mestre da Lei, Chen Xuanzang, a missão de atravessar as dez mil montanhas que nos separam do Paraíso Ocidental para obter as Escrituras Sagradas. Expresso o desejo de que, ao passar pelos diversos reinos do Ocidente, essa nobre jornada não seja impedida e que, com base neste decreto imperial, permitam-lhe livre trânsito em prova de boa vontade. Este é um documento imperial, promulgado em um dia auspicioso do outono, no décimo terceiro ano do reinado de Zhenguan, sob o reinado dos Grandes Tang."
O texto continuava:
Após deixar minha nobre nação, cruzei inúmeros países, tomando como discípulos os seguintes monges: Sun Wukong, também conhecido como Peregrino; Zhu Wuneng, também chamado de Zhu Bajie; e Sha Wujing, também conhecido como Monge Sha (4).
Terminada a leitura, o Rei dos Macacos recomeçou do princípio, como se quisesse que todos os seus súditos decorassem o texto. O Monge Sha rapidamente entendeu que se tratava do passaporte de viagem. Sem conseguir conter a impaciência, saiu de seu esconderijo e disse:
— Não se deve tratar com tão pouco respeito um escrito como este. Foi redigido pessoalmente pelo imperador e agora pertence ao nosso mestre. Além disso, por que o lê tantas vezes?
O Peregrino levantou a cabeça, mas, surpreendentemente, não reconheceu o Monge Sha e, com autoridade, ordenou:
— Agarrem-no!
Num piscar de olhos, os macacos cercaram o Monge Sha e, entre empurrões e golpes, o conduziram até o Peregrino, que gritou, furioso:
— Quem é você para ousar invadir a morada de um imortal sem ter sido convidado?
O Monge Sha então percebeu o quanto o Peregrino havia mudado. Sua cor era diferente e, embora tivessem sido companheiros de jornada por tanto tempo, nada em sua atitude indicava que o reconhecia. Compreendendo a gravidade da situação, o Monge Sha inclinou-se respeitosamente e disse:
— Permita-me explicá-lo, irmão mais velho. O mestre, como bem sabe, possui um temperamento impulsivo. Isso o levou a amaldiçoá-lo e a recitar o feitiço que tanto sofrimento lhe causa, além de expulsá-lo do nosso grupo. Nós, seus irmãos, não fizemos o suficiente para acalmá-lo e logo tivemos que sair em busca de água e comida, pois ele estava com fome e sede. Ninguém imaginou que você voltaria com boas intenções. Quando o mestre se recusou a aceitá-lo de volta, você ficou ofendido e o atacou, deixando-o inconsciente no chão enquanto levava a nossa bagagem. Após socorrermos o mestre, ele me incumbiu de procurá-lo e negociar com você. Se não guarda mais rancor e ainda se lembra da bondade que ele teve ao libertá-lo no passado, por favor devolva a nossa bagagem e volte comigo para encontrá-lo. Assim, poderemos alcançar juntos o Paraíso Ocidental e obter as escrituras. Mas, se ainda estiver muito magoado e não quiser vir conosco, peço pelo menos que devolva a nossa bagagem. Assim, você poderá viver em paz nestas montanhas e, ao mesmo tempo, nos fará um grande favor.
— Parece que minha conduta foi mal interpretada. Se ataquei o monge Tang e fugi com sua bagagem, não foi para me refugiar nestas montanhas e por um fim a sua jornada ao Oeste. Muito pelo contrário! Estou memorizando este documento de viagem porque pretendo ir sozinho até o Monastério do Trovão e solicitar diretamente a Buda as escrituras sagradas. Quando regressar com elas às Terras do Leste, todos reconhecerão que o mérito é exclusivamente meu, e os habitantes de Jambudvipa me aclamarão como patriarca e protetor. Assim, minha fama será eterna.
— Parece que não pensou direito no que acabou de dizer — respondeu o Monge Sha, sorrindo. — Que eu saiba, ninguém jamais mencionou seu nome em relação a esta missão de obter as escrituras. Quando Tathagata estabeleceu os três Cânones, encarregou a Bodhisattva Guanyin de encontrar um buscador digno dos textos sagrados nas Terras do Leste. Ela nos escolheu para protegê-lo e ajudá-lo a atravessar as dez mil montanhas que se erguem entre o início e o fim da jornada. Além disso, ela nos revelou que o escolhido para esta missão havia sido discípulo do próprio Tathagata, conhecido como Cigarra Dourada. Certa vez, ele se distraiu durante um sermão de Buda e por isso foi expulso da Montanha do Espírito. No entanto. recebeu permissão para reencarnar no Leste com a condição de retornar ao Oeste após dedicar-se totalmente ao bem. Como enfrentaria inúmeros obstáculos em sua jornada, fomos libertados de nossas condenações para protegê-lo. Se recusar a acompanhar o monge Tang, saiba que o Patriarca Budista nunca lhe confiará as escrituras sagradas, e todos os seus sonhos de grandeza acabarão reduzidos a pó.
— Você sempre foi tão limitado que nunca conseguiu compreender nada — replicou o Peregrino. — Pelo que acaba de dizer, tem consigo um monge Tang que precisa da nossa proteção. Mas quem garante que eu não tenho outro monge ao meu lado? Na verdade, acabei de escolher um monge verdadeiramente virtuoso, que irá em busca dessas escrituras e contará com minha ajuda em todo momento. O que há de errado nisso? Amanhã mesmo daremos início a nossa jornada. Se não acredita, posso mostrá-lo, para que veja com seus próprios olhos!
Voltando-se então para as legiões de macacos, gritou:
— Tragam o mestre imediatamente!
Em um instante, surgiram os macacos, trazendo um cavalo branco, um Tang Sanzang, um Zhu Bajie carregando o fardo de bagagens e um Monge Sha segurando o bastão do mestre. Eram tão perfeitamente semelhantes aos originais que até o verdadeiro Monge Sha ficou sem palavras, tomado pelo espanto. Via diante de si a própria imagem refletida, enquanto suas palavras se desfaziam como folhas de bambu levadas pelo vento.
Finalmente, a ira superou o espanto, e o Monge Sha exclamou:
— É impossível existir outro Sha Wujing! Ninguém pode imitar meu jeito de caminhar e de sentar, ou o meu caráter! Não basta usurpar seu nome! Para que aprenda a ter mais respeito, experimente o gosto do meu cajado!
Após terminar de dizê-lo, desferiu um golpe certeiro na cabeça do impostor, que imediatamente se desfez em pó, revelando que não passava de um macaco disfarçado de monge. Tomado pela ira, o Peregrino empunhou sua barra de extremidades douradas e lançou-se contra o antigo companheiro de jornada. Os outros macacos tentaram cercá-lo, mas o Monge Sha, manobrando com destreza seu cajado exterminador de monstros, conseguiu abrir caminho e se elevou aos céus.
— Que macaco sem escrúpulos! — pensou, enquanto fugia rapidamente montado sobre uma nuvem. — Preciso informar imediatamente à Bodhisattva tudo o que aconteceu.
O Peregrino nem sequer se preocupou em persegui-lo. Ao perceber que que o Monge Sha estava fugindo, ele retornou à caverna e ordenou que esfolassem o macaco morto. Depois de fritarem a sua carne, ela foi servida entre todos os presentes, acompanhada de taças de licor de coco. Após saborear aquela refeição esplêndida, o Peregrino escolheu outro macaco, habilidoso nas artes da metamorfose, que imediatamente assumiu a forma exata do Monge Sha. Então, novamente deu instruções sobre a jornada para o Oeste, mas por ora deixaremos esse impostores de lado.
Voltemos a falar do verdadeiro Monge Sha, que, após ultrapassar os limites do Oceano Oriental e viajar sem descanso por um dia e uma noite, avistou finalmente a Montanha Potalaka. Tomado pela curiosidade, deteve a nuvem em que viajava e olhou ao redor. Jamais seus olhos haviam contemplado um lugar tão extraordinário. Embora invisível aos mortais, aquele local pertencia tanto à Terra quanto ao Céu. Centenas de riachos fluíam em todas as direções, como se quisessem purificar as estrelas e o sol de toda impureza. O vento soprava com uma doçura especial, e a luz da lua parecia ainda mais viva e intensa. Quando a maré subia, grandes peixes transformavam-se em aves, e monstros marinhos nadavam com alegria entre as ondas (5). Aquele era o ponto onde as águas do Oceano Oriental e do Mar do Noroeste se encontravam. Os quatro mares, na verdade, recebiam ali sua força vital, embora todos eles tivessem ilhas habitadas por imortais. E para que falar da beleza de Penglai, se a magnificência da Montanha Potalaka era infinitamente superior? As cúpulas da montanha reluziam como joias preciosas. Ao seu redor, uma névoa luminosa parecia capturar todos os raios da lua. A suavidade do vapor contrastava com o verde intenso dos bosques de bambu, onde bandos de pavões esvoaçavam com as caudas abertas em esplendor. Um colorido papagaio pousava nos galhos de um salgueiro, travando uma conversa ininteligível com a relva de jade e as flores eternas, que nunca murchavam. Lótus dourados as observavam com inveja, enquanto árvores centenárias torciam seus troncos, tentando não privar aquelas flores do contato direto com o sol. Garças brancas voavam acima das cúpulas, projetando suas sombras sobre ninhos de fênix ocultos entre as árvores das encostas. A atmosfera era de tal santidade que até os peixes saltavam sobre as ondas, ansiosos por ouvir a leitura das escrituras e dos princípios que conduzem à imortalidade.
Embora desejasse contemplar tamanha beleza por cem anos, o Monge Sha fez sua nuvem pousar na Montanha Potalaka. Imediatamente, foi recebido por Muzha, que lhe perguntou:
— Preciso discutir um assunto de extrema importância com a Bodhisattva — respondeu o Monge Sha, devolvendo o cumprimento com uma reverência. — Se possível, gostaria de ser conduzido à sua presença imediatamente.
Muzha suspeitava que o assunto era algo relacionado ao Peregrino, mas nada comentou. Dirigiu-se imediatamente ao interior da caverna e anunciou à Bodhisattva:
— Sha Wujing, o mais jovem discípulo do monge Tang, acaba de chegar e solicita uma audiência com Vossa Reverência.
Ao ouvir isso, o Peregrino, que se encontrava justamente abaixo do estrado onde a Bodhisattva estava sentada, pensou, cheio de esperança:
— Certamente o monge Tang deve ter enfrentado uma grande dificuldade e enviou o Monge Sha para pedir ajuda à Bodhisattva.
Guanyin ordenou a Muzha que conduzisse o Monge Sha à sua presença. O monge prostrou-se, encostando o rosto na terra, e começou a bater a testa contra o chão. Quando levantou a cabeça para relatar à Bodhisattva tudo o que havia acontecido, avistou subitamente o Peregrino sentado ao lado e, sem dizer uma palavra, desferiu um golpe violento em direção ao seu rosto com o seu cajado de matar monstros. O Peregrino esquivou-se com agilidade do golpe, mas não revidou.
— Maldito macaco! — exclamou o Monge Sha, tomado pela fúria. — Você é um rebelde, responsável por dez mil mortes, e ainda tem a ousadia de tentar enganar a Bodhisattva? Que tipo de criatura depravada é você?
— Não provoque brigas em minha presença, Sha Wujing! — advertiu a Bodhisattva. — Se tem alguma acusação a fazer, exponha-a e deixe que eu a julgue.
Sem perder tempo, o Grande Sábio e o Monge Sha se despediram da Bodhisattva e partiram imediatamente. Como resultado de sua jornada, diante da Montanha das Flores e Frutos, o que era branco foi claramente separado do que era negro, e a bondade desmascarou a maldade na entrada da Caverna da Cortina de Água.
Ainda não sabemos como conseguiram isso. Quem quiser descobrir, deverá prestar atenção às explicações que serão dadas no próximo capítulo.
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- As Três Flores se referem ao processo pelo qual o "ching" (essência), o "chi" (energia vital) e o "shen" (espírito) convergem na parte superior da cabeça, formando um elixir altamente eficaz;
- No taoísmo, os Quatro Grandes, ou "sz-da", são o Tao, o Céu, a Terra e o Governante. Contudo, em um sentido mais social, também são considerados grandes méritos, reconhecimento universal, virtudes excepcionais e poder ilimitado. No budismo, por outro lado, os elementos terra, água, fogo e vento, ou "tanmatra", formam o corpo humano. A doença, portanto, é vista como uma manifestação da perda desse equilíbrio essencial;
- Este poema é de grande importância, pois não apenas destaca a identificação de cada protagonista com as Cinco Fases, mas também revela a enorme tensão existente entre eles. Essa tensão, longe de ser fruto de diferenças de caráter, tem uma origem cósmica;
- Acredita-se que esta parte tenha sido adicionada pela soberana do País das Mulheres (ver capítulo LFV), o que provoca uma mudança substancial no tom e estilo, se comparado ao restante do documento;
- Há uma referência ao filósofo Zhuangzi, que no início de seus escritos descreve como o peixe Kun pode se metamorfosear na ave Peng, ambos de proporções verdadeiramente extraordinárias.

- Tradução em pt-br por Rodrigo Viany (Sleipnir). Favor não utilizar sem permissão.
- Tradução baseada na tradução do chinês para o espanhol feitas por Enrique P. Gatón e Imelda Huang-Wang, e do chinês para o inglês feita por Collinson Fair.
A Jornada ao Oeste: Capítulo LVII




CONTINUA POR FAVOR VEY, PELO AMOR DE DEUS, CONTINUA
ResponderExcluirOlá! Tirei um tempo da Jornada ao Oeste, pois estou de férias do trabalho e queria descanar um pouco, focar em outros assuntos. Tenho 61 capítulos publicados, já atualizei o final deste e dos outros com os botões para ir para o próximo. Em breve o Capitulo 62 será publicado.
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