Ao chegarem à aldeia, Sanzang desmontou do cavalo. Logo perceberam que se tratava de um lugar verdadeiramente encantador. O caminho que a atravessava estava ornado de flores, e todas as casas se abrigavam sob uma incrível variedade de árvores. Ao longe, ouvia-se o suave murmúrio das águas, provavelmente nascidas nas montanhas. Os prados se misturavam em perfeita harmonia com os campos de trigo. Em um salgueiro, balançado suavemente pela brisa, dormia um pássaro cansado, enquanto uma pequena gaivota repousava entre juncos cobertos de orvalho. Os cedros pareciam disputar beleza com os pinheiros; o mesmo faziam os tufos de espadanas com os tons avermelhados e brilhantes das folhas de bordo. Ao cair da tarde, os cães latiam como se quisessem desafiar os galos, que anunciavam o fim do dia com cantos estridentes. Os rebanhos de vacas retornavam vagarosamente aos currais, onde os camponeses alimentavam os demais animais. Das chaminés, subiam densas colunas de fumaça, sinal de que o milho estava sendo cozido no fogo de cada lar. O sol acabara de se pôr, e os moradores da montanha já começavam a se recolher em suas casas.
De uma delas saiu um ancião, que, após retribuir o cumprimento de Sanzang, perguntou:
— De onde vem o senhor?
— Venho da corte dos Tang — respondeu Sanzang. — Por ordem expressa de seu imperador, sigo rumo ao Paraíso Ocidental em busca das escrituras sagradas. Ao passar por estas terras tão belas, a noite se aproximou, e decidimos procurar abrigo nesta respeitável aldeia.
— Há uma enorme distância entre aquele lugar e aqui — comentou o ancião, sorrindo. — Como conseguiram escalar tantas montanhas e atravessar tantos rios?
— Não viajo sozinho — explicou Sanzang. — Tenho três discípulos me acompanhando.
— E onde eles estão? — indagou o ancião.
— São aqueles ali, em pé à beira do caminho — disse Sanzang, apontando com o dedo.
O ancião virou-se para olhar na direção indicada, mas, ao ver a aparência estranha dos três, deu meia-volta e correu para dentro de casa. Felizmente, Sanzang o segurou pela roupa e suplicou:
— Por favor, conceda-nos abrigo apenas por esta noite. Assim que o dia amanhecer, retomaremos nossa jornada. Eu prometo!
O ancião tremia tanto de medo que mal conseguia falar. Seu corpo sacudia como a copa de um bordo em meio a uma tempestade. Reunindo uma força de vontade admirável, conseguiu enfim balançar a cabeça e as mãos, dizendo:
— Não, não! Impossível! Aqueles alí não são humanos... são monstros!
— Não precisa ter medo — tentou acalmá-lo Sanzang, sorrindo. — Não são monstros como imagina. Sempre foram feios assim, desde que nasceram.
— Não adianta tentar me enganar! — gritou o ancião. — Um deles é claramente um yaksha, o outro é um espírito com cara de cavalo, e o último parece um senhor do trovão!
Ao ouvir isso, o Peregrino gritou:
— O senhor do trovão é meu neto, o yaksha é meu bisneto, e o espírito com cara de cavalo é meu tataraneto!
O rosto do ancião perdeu toda a cor, como se sua alma tivesse saído do corpo. Tudo o que queria era correr para dentro de casa e se trancar. Sanzang, ainda segurando-o pelo braço, o acompanhou até a varanda e insistiu, sorridente:
— Não precisa se assustar. Eles são um pouco rudes e não sabem se expressar com educação. Apesar de todos os meus esforços, recusam-se a aprender boas maneiras.
Enquanto Sanzang tentava acalmar o ancião, surgiu uma mulher de idade semelhante, trazendo consigo um menino de cerca de seis anos. Ela se afastou um pouco para deixá-los passar e perguntou:
— O que é todo esse alvoroço?
— Traga um pouco de chá, por favor — respondeu o ancião, já mais calmo.
Sem fazer mais perguntas, a mulher soltou o menino e logo voltou com duas xícaras de chá. Após alguns goles, Sanzang se voltou para ela e explicou:
— Senhora, sou apenas um monge humilde, enviado pelo grande imperador dos Tang em missão ao Paraíso Ocidental, em busca das escrituras sagradas. Ao passar por aqui, a noite caiu e decidimos procurar abrigo nesta aldeia. O respeitável chefe de sua casa se assustou muito com a aparência dos meus discípulos, que de fato não são muito bem-apessoados... e tampouco possuem os modos mais refinados.
— Ora, se assusta com rostos feios — disse a mulher, dirigindo-se ao ancião —,o que fará quando encontrar um lobo ou um tigre?