19 de janeiro de 2024

Katxeré, a Mulher Estrela

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Katxeré, a Mulher Estrela (também chamada Katxerê, Catxerê ou Katxedekúi), é uma figura que segundo as crenças do povo indígena Krahô (Craô), habitante no nordeste do Estado do Tocantins, desceu do céu e transformou suas vidas, ensinando-lhes a plantar e preparar milho, batata, inhame, mandioca e amendoim. A lenda a seguir conta como tudo aconteceu.

No interior da tribo Krahô, havia um jovem solteiro que certa noite, como de costume, dormia sob as estrelas no pátio da aldeia. Naquela noite em especial, havia no céu uma estrela que o observava dormir. Apiedando-se do jovem por ele estar dormindo solitário, a estrela decidiu descer do céu e unir-se a ele. Para isso, ela se metamorfoseou em um sapo, pulando em direção ao seu peito. O jovem acordou assustado e, sem pensar duas vezes, agarrou o sapo e o atirou no chão. O sapo pulou novamente em sua direção e o jovem novamente o agarrou e o atirou para longe. O sapo pulou uma terceira vez na barriga do jovem, e quando este estava prestes a agarrá-lo novamente, o sapo revelou sua verdadeira identidade para ele. Ela contou que se chamava Katxeré, e que desceu do céu para que ele não ficasse mais sozinho. Eles então passaram a noite juntos (mas sem se unirem carnalmente).

ilustração por J.Lanzellotti

Ao amanhecer, Katxeré diminuiu de tamanho, tornando-se uma mulher minúscula, e então pediu ao jovem para guardá-la em uma cabaça que ficava pendurada em sua casa. Ela pediu ao jovem que, antes dele sair para caçar, destampasse a cabaça e olhasse para ela, e assim ele o fez. Depois, tampou a cabaça novamente, amarrou sua tampa e a pendurou novamente no lugar. Antes de sair para caçar, ele recomendou que ninguém mexesse nela, mas sua irmã, cheia de curiosidade, abriu a cabaça e descobriu que havia uma minúscula mulher dentro dela. Ao retornar, o jovem foi até a cabaça e, ao examinar o nó tradicional de sua tribo, percebeu que alguém havia violado seu segredo. Furioso, ele declarou que viveria com Katxeré como marido e mulher, e que não dormiria mais no pátio como os solteiros. Ele retirou Katxeré de dentro da cabaça, e ela retomou seu tamanho original.

Na manhã seguinte, eles foram juntos se banhar no rio e avistaram uma árvore cheia de espigas, que estava sendo bicada pelos periquitos. Katxeré ensinou aos Krahô como plantar, colher e preparar o milho, bem como a mandioca, o inhame e o amendoim, que até então eram desconhecidos para eles. Ela também orientou o jovem a criar uma roça, ensinando-o a derrubar com um facão, a capinar e a plantar. Em seguida, disse:

- Agora, vou ao céu, onde vivem meus parentes, buscar mudas de batata, inhame, mandioca e amendoim para plantá-los na roça.

Katxeré então partiu rumo ao céu, mas logo voltou trazendo consigo as mudas que havia prometido. Elas foram plantadas e cultivadas, e os índios adotaram essas plantas para sempre. 

Katxeré volta para o céu

Infelizmente para o jovem e para a tribo Krahô, um ato de violência faria com que Katxeré voltasse aos céus para nunca mais retornar. Certa uma noite em que seu marido estava caçando, cinco homens chegaram à sua casa, e sabendo de sua ausência, abusaram sexualmente de Katxeré, adormecendo depois do ato abominável. Aproveitando-se do sono deles, Katxeré cuspiu na boca de cada um, e todos eles acabaram morrendoQuando seu marido voltou, ela contou-lhe tudo o que havia acontecido, e depois subiu de volta ao céu, para nunca mais retornar.

Uma outra versão dessa lenda diminui o número dos abusadores de cinco para apenas um. Também substitui o ato do cuspe para uma espécie de "poção mágica" que Katxeré faz e convida o povo da tribo a beber. Um por um, eles vão bebendo da poção e morrendo, até os demais ficarem com medo de experimentá-la.

fontes:





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