10 de setembro de 2015

Cai Cai Vilu & Ten Ten Vilu

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de Gianina Villagran

Cai Cai Vilu (também grafado Coi Coi-Vilu ou Caicai-Vilu, do mapudungun kaykayfilu: "serpente do mar") e Ten Ten Vilu (também grafado Trentren-Vilu, do mapudungun trengtrengfilu: "serpente da terra") são um par de serpentes mitológicas presentes na cosmogonia dos povos mapuche e chilota, e que representam as forças opostas e complementares da natureza: a água e a terra. Cai Cai Vilu possui o poder de dominar as águas e tudo relacionado a ela, enquanto Ten Ten Vilu tem o poder de dominar a terra e os vulcões.

Segundo a tradição mapuche, Cai Cai Vilu e Ten Ten Vilu eram originalmente Caicai e Trentren, dois gigantes filhos de Peripillán (o pillan do fogo) e Antu (o pillan do sol), respectivamente. Após tentarem tomar o lugar dos pais, os dois foram expulsos do Wenumapu (mundo celestial) e lançados à terra. Posteriormente, Caicai, filho de Peripillán, foi transformado em uma gigantesca serpente marinha como castigo; Trentren, filho de Antu, foi convertido em uma serpente telúrica. Herdando a rivalidade de seus pais, os dois foram enviados a cuidar de seus respectivos domínios: Cai Cai Vilu ao mar, junto aos ngen-ko (espíritos das águas), e Ten Ten Vilu à terra, junto aos ngen-mapu (espíritos da terra), com a missão de proteger e ensinar a humanidade.

O Confronto entre Cai Cai Vilu e Ten Ten Vilu

Durante séculos, os humanos prosperaram sob a proteção das forças naturais. No entanto, Cai Cai Vilu adormeceu por longos anos, e ao despertar, ficou enfurecido ao ver a ingratidão da humanidade para com os presentes do mar. Desejando puni-los, 
Cai Cai Vilu começou a elevar o nível das águas, causando uma catástrofe de proporções míticas. Com sua cauda em forma de peixe, golpeava o oceano, gerando ondas colossais que inundaram vales, colinas e montanhas, engolindo vilas e arrastando seres humanos para o fundo do mar.

Atendendo ao chamado desesperado dos sobreviventes, Ten Ten Vilu despertou e ergueu montanhas e cordilheiras para protegê-los. Usando seus poderes telúricos, transformou parte dos humanos em pássaros, para que voassem até os picos; outros em peixes ou mamíferos marinhos, para que escapassem pela água; e aqueles que já haviam se afogado foram transformados em sumpall (uma raça de criaturas aquáticas da tradição mapuche, similares a sereias e tritões). Alguns humanos, paralisados de medo, foram transformados em pedras, conhecidas como mankial.

Arte de Racobarra

Ten Ten Vilu carregava os sobreviventes em suas costas e pedia que as montanhas subissem ainda mais, criando refúgios nas alturas. Mas Cai Cai Vilu, em sua fúria, lançava furacões, chuvas violentas e redemoinhos, tentando destruir as elevações. A batalha entre os dois se intensificou, abarcando toda a região — uma guerra titânica entre mar e terra.

Após longos dias de combate, nenhuma das duas entidades conseguia derrotar a outra. Exaustos, decidiram interromper a batalha. Cai Cai Vilu, parcialmente derrotado, recuou e deixou parte do território submerso, moldando o atual relevo do sul do Chile. Ten Ten Vilu permaneceu vigilante, fixando-se nas montanhas para proteger a terra e seus habitantes. Segundo a tradição de Chiloé, Cai Cai Vilu aceitou o território que conseguiu inundar e delegou o governo dos mares ao grande ser mitológico Millalobo, o rei dos oceanos.

Na tradição mapuche, após o cataclismo, a humanidade tentou seguir sua vida normalmente. No entanto, tempos depois, foi Ten Ten Vilu quem se enfureceu com os humanos, desta vez por sua arrogância e descaso com a terra. Como castigo, fez os vulcões entrarem em erupção e obrigou as populações a se deslocarem. Desde então, os mapuche dizem que os terremotos e erupções vulcânicas são manifestações da fúria de Ten Ten Vilu, enquanto maremotos, enchentes e tempestades são sinais de que Cai Cai Vilu se agita durante seu sono no fundo do mar.

Arte de Jose Munõz

Variações Regionais

Devido à ampla extensão geográfica ocupada pelo povo mapuche e à tradição oral que transmite suas narrativas, o mito de Cai Cai Vilu e Ten Ten Vilu apresenta diversas variações regionais. No Vale Central chileno, entre Galvarino e Temuco, Cai Cai Vilu é retratado como uma serpente com três braços em forma de árvores, cabeça de boi e cauda enraizada. Segundo essa versão, os humanos provocavam a criatura batendo em sua cauda com varas, até que, irritada, Cai Cai Vilu fugiu para o céu levando consigo todos os animais, que se tornaram os espíritos protetores dos seres vivos. Na região do Toltén, por outro lado, Cai Cai Vilu assume a forma de um pássaro marinho maligno, que tenta exterminar os mapuche ao fazer o mar subir. Para salvar humanos e animais, Ten Ten Vilu cresce constantemente até superar a ameaça, fixando a altura atual das montanhas.

Já na tradição huilliche, a origem do conflito entre as serpentes é atribuída a questões de vingança. Em uma versão, uma filha do Trauco rejeita Peripillán, pai de Cai Cai Vilu, provocando sua ira. Em outra, é a recusa de uma jovem ao filho de Cai Cai Vilu que desencadeia a inundação. Há ainda versões registradas em comunidades mapuches da Argentina, especialmente nos Andes, em que Cai Cai Vilu Ten Ten Vilu são considerados irmãos, filhos das divindades Nguenechen — o deus criador — e Küyen, a deusa da lua. Nessas interpretações, ambos teriam missões complementares na preservação do equilíbrio natural da Terra.

fontes:


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3 comentários:



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