۞ ADM Sleipnir
Mimi-nashi Hōichi (japonês 耳なし芳一 ou みみなしほういち, "Hōichi, o Sem Orelhas") é um famoso personagem pertencente ao folclore japonês. Ele era um menestrel cego mestre na arte da Biwa (icônico instrumento de cordas japonês) e residia em Amidaji, um templo budista localizado na cidade de Shimonoseki. Hōichi era conhecido por sua habilidade em interpretar o Conto dos Heike (japonês 平家物語; em particular sua interpretação da Batalha de Dan no ura e a morte do imperador Antoku), e conta-se que o jeito com que Hōichi tocava o instrumento era tão esplêndido que ele podia até fazer fantasmas e demônios chorarem.
Sua história é bem conhecida no Japão e também fora dele, graças ao livro de Lafcadio Hearn (1850-1904), Kwaidan: Histórias e Estudos de Coisas Estranhas. A versão de Hearn foi baseada na história Biwa no hikyoku yorei wo nakashimu, publicada pelo escritor Isseki Sanjin em sua série Gayū kidan (Histórias secretas de jogos noturnos), de 1782.
Arte de Mateusz Ferenc |
História
Certa noite, Hōichi tocava seu biwa no pórtico do templo Amidaji quando recebeu a visita de um samurai que exigia que Hōichi o acompanhasse até a presença de seu senhor, para quem ele deveria apresentar sua performance do Conto dos Heike. O samurai conduziu Hōichi ao local onde seu senhor estava, e parecia que um grande número de pessoas estava presente. De repente, uma voz ordenou que Hōichi tocasse a Batalha de Dan no ura do Conto dos Heike.Hōichi obedeceu o comando, e conforme tocava seu biwa, ficava surpreso com a reação dramática do público à sua apresentação. Quando Hōichi chegou no clímax da história, onde ele contava sobre a derrota dos Heike e o afogamento do jovem imperador Antoku, todos começaram a chorar bem alto.
Terminada a apresentação, o público saudou Hōichi elogiando sua performance. Uma voz solicitou que ele voltasse na noite seguinte. Em seguida, o samurai acompanhou Hōichi de volta ao seu templo. O samurai também ordenou que Hōichi não contasse a ninguém sobre o que havia acontecido. Na noite seguinte, o samurai retornou até Hōichi, e o conduziu até o local onde ele havia se apresentado na noite anterior. Mais uma vez Hōichi tocou seu biwa, levando seu público às lágrimas.
O sumo sacerdote de Amidaji notou que Hōichi estava saindo todas às noites, retornando somente na manhã seguinte. Quando perguntou a Hōichi onde ele estava indo, ele se recusou a contar. Preocupado, o sumo sacerdote ordenou que seus servos seguissem Hōichi em sua próxima saída. Ao anoitecer, o samurai mais uma vez veio buscar Hōichi. Os servos do templo o seguiram até um antigo cemitério da família Heike. Lá, viram Hōichi sentado diante do túmulo do imperador Antoku. Enquanto ele tocava apaixonadamente seu biwa, hitodamas (bolas de fogo que de acordo com o folclore japonês são almas humanas) surgiam e dançavam no ar ao seu redor. Os servos, percebendo que Hōichi estava em perigo, correram até ele e o arrastaram para longe dos túmulos, conduzindo-o de volta ao templo. Lá, relataram ao sumo sacerdote o que havia acontecido.
O sumo sacerdote explicou a Hōichi que os nobres que ele vinha encontrando noite após noite eram na verdade os fantasmas daqueles que haviam perecido na Batalha de Dan no ura. E aqueles fantasmas não estavam satisfeitos com sua performance; na verdade, eles iriam acabar matando-o e ficariam com sua alma.
Sabendo que os fantasmas retornariam até Hōichi na noite seguinte para levá-lo até o túmulo dos Heike novamente, o sumo sacerdote pintou o Sutra do Coração por todo o seu corpo para protegê-lo. O Sutra faria com que Hōichi ficasse invisível para os fantasmas, mas como eles ainda poderiam ouvi-lo, o sumo sacerdote o orientou a não fazer nenhum som enquanto eles estivessem por perto.
Como previsto, o fantasma do samurai voltou na noite seguinte. Ele chamou pelo nome de Hōichi, mas ele permaneceu em silêncio. O fantasma continuou chamando por seu nome. Não sendo atendido, disse: “Por que você não responde? Eu vejo seu biwa, então eu sei que você está ai”. Hōichi ouvia os passos pesados e os resmungos do fantasma enquanto o mesmo o procurava.
De repente, Hōichi ouviu o fantasma dizer: “Ah, agora eu vejo porque você não responde. Sua boca e seu corpo foram levados. Apenas suas orelhas permanecem aqui! Pois bem, levarei suas orelhas até meu senhor como prova de que fiz tudo o que podia fazer”. O fantasma do samurai então arrancou as orelhas de Hōichi, mas o menestrel não gritou nem emitiu nenhum ruído. O fantasma foi embora do templo levando as orelhas de Hōichi consigo.
De manhã, os servos do templo encontraram Hōichi caído inconsciente sobre uma poça de sangue. Quando viram o que havia acontecido, o sumo sacerdote percebeu seu erro. Ele havia pintado o sutra por todo o corpo de Hōichi, exceto em suas orelhas. Por isso, elas permaneceram visíveis para o fantasma. O sacerdote se desculpou com Hōichi e cuidou de seus ferimentos, e os fantasmas nunca mais vieram atrás dele. A história se espalhou por toda parte e Hōichi ficou mais famoso do que nunca. Pessoas vinham de todas as partes para ouvir o mestre biwa sem orelhas, cuja música tinha o poder de fazer fantasmas chorarem.
Inspiração para a história
Acredita-se que a história de Hōichi foi baseada em um monge real do século XIV chamado Akashi Kakuichi. Kakuichi ficou cego por volta dos trinta anos de idade, quando começou a praticar o biwa. Em pouco tempo ele ultrapassou seu próprio mestre na arte do biwa e se tornou um dos mestres biwa mais influentes do Japão. A versão de Kakuichi do Conto dos Heike é até hoje a mais popular, sendo considerada padrão para estudos acadêmicos.
O Templo de Amidaji hoje
Hoje, o templo de Amidaji é conhecido como Akama jingū, e é dedicado ao imperador Antoku. Seu terreno contém um pequeno santuário dedicado a Hōichi e o túmulo de quatorze membros do clã Heike. De vez em quando, surgem relatos de fantasmas inquietos avistados dentro e ao redor do terreno do santuário.
fontes:
ta otimo o conto so tenho uma pergunta por que o fantasma levou a orelhas dele
ResponderExcluirBom, ele as arrancou pq eram as únicas partes do corpo do monge que ele conseguia ver (o sutra de proteção foi pintado em todo o seu corpo menos nas orelhas). Agora o que o fantasma fez com as orelhas não é citado no conto.
Excluir