۞ ADM Sleipnir
| Arte de Melvin Bainbridge |
Na mitologia Navajo, o Deus Negro (Haashch’ééshzhiní) é uma divindade associada ao fogo e ao firmamento, sendo tradicionalmente reconhecido como o criador das constelações e o inventor da broca de fogo. Ele é considerado uma das quatro figuras sagradas que participaram da organização do mundo, juntamente com o Primeiro Homem (Áłtsé Hastiin), a Primeira Mulher (Áłtsé Asdzą́ą́) e a Mulher Sal (Ashiih Estsan).
Representações e características
O Deus Negro é geralmente descrito como uma figura anciã, de aparência frágil, lenta e aparentemente indefesa. Em alguns mitos, assume também um aspecto de trickster — um trapaceiro mal-humorado que finge pobreza para despertar a generosidade dos outros. Essa representação contrasta com a imagem heroica frequentemente associada a outras divindades indígenas.
Ele é tradicionalmente representado com uma máscara de camurça enegrecida com carvão sagrado e decorada com símbolos celestes em tinta branca — uma lua cheia sobre a boca, uma lua crescente na testa e as Plêiades na têmpora esquerda. Essa aparência é especialmente evocada em cerimônias como a Nightway (Caminho Noturno), uma complexa celebração de cura realizada durante nove dias no inverno. No último dia do ritual, um homem aparece representando o Deus Negro, portando uma broca de fogo e casca de cedro atingido por um raio, com a qual acende diversas fogueiras cerimoniais.
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| Arte de Luxudus |
Papel na criação do mundo e das estrelas
No mito da criação Navajo, após a emergência do povo de mundos anteriores, quatro entidades sagradas — o Primeiro Homem, a Primeira Mulher, a Mulher Sal e o Deus Negro — reuniram-se para planejar e estabelecer as condições de existência no mundo atual. Essa reunião marcou o início da ordenação do universo físico e espiritual, incluindo a organização da terra, dos seres vivos e dos elementos celestes.
Entre essas figuras, o Deus Negro destacou-se por sua íntima associação com o fogo e os corpos celestes. Ele foi encarregado de criar e posicionar as constelações no firmamento. Segundo uma versão do mito, o Deus Negro apareceu diante dos outros Povos Sagrados com a constelação das Plêiades fixada em seu tornozelo. Ao ser questionado sobre o brilho em sua perna, ele bateu vigorosamente o pé no chão, elevando as estrelas ao joelho. Um segundo golpe as levou ao quadril, e um terceiro, ao ombro. Por fim, ao bater o pé uma quarta vez, ele posicionou as Plêiades em sua têmpora esquerda e declarou solenemente: “Lá ficará!”.

Impressionados com a demonstração, os demais seres sagrados atribuíram-lhe a tarefa de adornar os céus com constelações. O Deus Negro então começou a distribuir seus cristais estelares com grande precisão, espalhando as estrelas pela escuridão superior até formar o céu noturno. Sua ação não foi aleatória: cada constelação foi cuidadosamente colocada para formar um padrão simbólico e sagrado, refletindo a ordem que os Navajos reconhecem no cosmos.
No entanto, apesar da beleza do firmamento recém-criado, as estrelas ainda não possuíam luz própria, e a escuridão predominava. Para resolver esse problema, o Deus Negro ofereceu parte de seu fogo ao céu, criando uma “estrela de ignição” que iluminou as demais constelações. Posteriormente, esse mesmo fogo foi transmitido ao sol, completando o ciclo de iluminação do mundo celeste.
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A intervenção do Coiote e a Via Láctea
Em uma variação amplamente difundida do mito, enquanto o Deus Negro organizava pacientemente as constelações, o Coiote — figura trickster típica da mitologia Navajo — observava impacientemente o processo. Frustrado com a lentidão, o Coiote tomou a bolsa de estrelas que o Deus Negro carregava amarrada à cintura e atirou seu conteúdo ao céu. As estrelas restantes espalharam-se aleatoriamente, formando a Via Láctea. Como o Deus Negro não teve tempo de acender essas estrelas com seu fogo, elas ficaram mais fracas, explicando por que algumas estrelas brilham menos do que outras. Em versões alternativas, porém, o próprio Deus Negro teria criado deliberadamente a Via Láctea como parte de seu trabalho cósmico.
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fontes:
- Black God (Navajo mythology). Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Black_God_(Navajo_mythology)>.
- PATRICIA ANN LYNCH; ROBERTS, J. Native American mythology A to Z. New York, Ny: Chelsea House Publishers, 2010.
- BASTIAN, D. E.; MITCHELL, J. K. Handbook of Native American mythology. Oxford ; New York: Oxford University Press, 2008.
Deus Negro (Haashch'ééshzhiní)




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