۞ ADM Sleipnir
Durvasa (ou Durvasas, sânscrito : दुर्वासा) era um sábio antigo da mitologia hindu, filho do rishi Atri com sua esposa Anasuya. Ele é conhecido na mitologia devido ao seu temperamento curto. Maldições e pragas proferidas por ele em momentos de raiva arruinaram muitas vidas. Assim, onde quer que ele fosse, ele era recebido com grande reverência (por medo) por humanos e Devas.
Ele é comumente retratado como desejando desfrutar da hospitalidade dos outros, e ficando extremamente irritado quando os anfitriões mostram qualquer tipo de inconveniência ou falham em satisfazê-lo como convidado. Por outro lado, os anfitriões que o servem bem eram muitas vezes abençoados por ele.
Nascimento
De acordo com o capítulo 44 do Brahmananda Purana, Brahma e Shiva certa vez entraram em uma acalorada discussão. Shiva ficou tão furioso com a discussão que fez com que os demais Devas fugissem de sua presença com medo. Sua consorte, Parvati, queixou-se dizendo que era impossível viver ao seu lado desse jeito. Percebendo a desarmonia que sua ira causou, ele decidiu depositar essa ira em Anasuya, esposa do sábio Atri. A partir desta porção de Shiva depositada em Anasuya, nasceu uma criança, que foi chamada Durvasa (cujo nome significa literalmente "com quem é difícil viver"). Por ter nascido da raiva de Shiva, Durvasa tinha uma natureza irascível.
O Bhagavata Purana fornece um relato um pouco diferente acerca do nascimento de Durvasa. Nesta versão, Atri realizou severa penitência para propiciar os deuses Brahma, Vishnu e Shiva e obter um filho por Anasuya que fosse como eles. Satisfeitos comsua penitência, Brahma, Vishnu e Shiva abençoaram o sábio fazendo como que seus filhos com Anasuya nascessem com porções de si mesmos. Assim, Anasuya deu à luz Soma (encarnação de Brahma), Dattatreya (encarnação de Vishnu) e Durvasa (encarnação de Shiva).
Amaldiçoando Indra
Certo dia enquanto caminhava, Durvasa encontrou Indra vindo na direção oposta montando em seu elefante chamado Airavata. Ao se aproximar dele, Durvasa ofereceu-lhe uma grinalda
de flores que trazia em sua mão, porém Indra o ignorou, deixando que Airavata destruísse a grinalda. Durvasa se encheu de ira e rogou uma praga em Indra:
-"O orgulho da riqueza subiu à sua cabeça, Lakshmi irá te abandonar."
Percebendo a loucura que tinha cometido, Indra curvou-se perante Durvasa e pediu o seu perdão, porém Durvasa disse: -"Que Vishnu o faça feliz", e partiu. Graças a maldição de Durvasa, Lakshmi deixou Indra e desapareceu. Esse incidente desencadeou uma série de eventos que levaram à famosa Agitação do Oceano.
Amaldiçoando Shakuntala
Na peça Abhij anashakuntala, escrita pelo poeta Kalidasa, quando a donzela Shakuntala ignorou as exigências de Durvasa para ser recebido como convidado, enquanto sonhava acordada com seu amado Dushyanta, o sábio a amaldiçoou fazendo como que Dushyanta a esquecesse. Horrorizados, os companheiros de Shakuntala conseguiram apaziguar Durvasa, que suavizou a maldição, dizendo que Dushyanta se lembraria de Shakuntala quando visse o anel que ele deu a ela como um símbolo de seu amor. A maldição do sábio tornou-se realidade, sendo eventualmente suspensa exatamente como ele disse que seria.
O encontro com Rama e a maldição de Lakshmana
De acordo com o Uttara Kanda (último livro do épico Ramayana de Valmiki), Durvasa apareceu na porta do palácio de Rama e, vendo seu irmão Lakshmana guardando-a, exigiu uma audiência com Rama. Naquele momento, Rama estava tendo uma conversa particular com Yama, que o visitava em segredo disfarçado como um asceta. Antes da conversa começar, Yama havia dado a Rama instruções estritas de que seu diálogo deveria permanecer confidencial e qualquer pessoa que entrasse na sala e os visse ou ouvisse deveria ser executado. Rama concordou e confiou a Lakshmana o dever de guardar a porta. Assim, quando Durvasa fez sua exigência, Lakshmana educadamente pediu ao sábio que aguardasse até que Rama terminasse sua reunião.
Durvasa não ficou satisfeito, e disse que o assunto que ele tinha a tratar com Rama era mais importante que qualquer outra coisa, reiterando o pedido para que fosse recebido imediatamente. Lakshamana novamente pediu que ele fosse paciente e aguardasse o término da reunião de Rama, que ele seria atendido. Durvasa perdeu a paciência e ameaçou amaldiçoar toda a cidade de Ayodhya caso Lakshmana não informasse imediatamente Rama sobre sua chegada.
Em um terrível dilema, Lakshamana decidiu que seria melhor atender a solicitação de Durvasa do que seu senhor e toda a Ayodhya sofressem com suas maldições. Adentrando o palácio, Lakshmana curvou-se diante de seu irmão e olhou para o asceta, ficando chocado ao ver que se tratava do senhor da morte. Ele então informou a Rama sobre a chegada de Durvasa e de seu insistente desejo de vê-lo imediatamente, e em seguida deixou o salão. Rama encerrou seu encontro com Yama e tratou de receber Durvasa, que no fim queria o de sempre: ser recebido e tratado com a melhor hospitalidade possível.
Terminando de receber Durvasa, Rama foi até o irmão completamente dominado pela tristeza, pois não queria matá-lo, porém, havia dado sua palavra a Yama. Rama chamou seus conselheiros para ajudá-lo a resolver esse dilema. Seguindo o conselho de um deles, Vasishta, Rama ordenou que Lakshmana o deixasse para sempre, visto que tal abandono era equivalente à morte no que dizia respeito aos piedosos. Lakshmana foi às margens do rio Sarayu, onde resolveu se lançar e morrer, porém Indra o removeu das águas e o levou vivo para o céu.
Durvasa e Kunti
Quando Kunti (a futura esposa do rei Pandu e mãe dos Pandavas) ainda era uma jovem, ela morava na casa de seu pai adotivo, o rei Kuntibhoja. Certo dia, Durvasa visitou Kuntibhoja buscando sua hospitalidade, e ele o deixa aos cuidados de Kunti, encarregando-a com a responsabilidade de entreter o sábio e atender todas as suas necessidades durante sua estadia com eles. Kunti pacientemente suportou o temperamento de Durvasa e seus pedidos irracionais (como por exemplo exigir comida em estranhas horas da noite), servindo-o com grande dedicação e o deixando extremamente satisfeito.
Antes de ir embora, Durvasa recompensou Kunti ensinando-a um mantra que lhe permitiria invocar qualquer deus de sua escolha e gerar filhos deles. Mais tarde, Kunti usaria esse dom em prol de gerar seus filhos, já que seu marido, Pandu, sofreria uma maldição que não lhe permitia ter relações sexuais.
Protegendo o pudor de Draupadi
Contrariando à versão mais famosa do Mahabharata da tentativa de Dushasana de despir Draupadi, onde ela obtém a ajuda de Khrisna, o Shiva Purana (III.19.63-66) atribui seu resgate milagroso a uma benção concedida a ela por Durvasa.
A história diz que certa vez a tanga do sábio foi levada pelas correntes do rio Ganges. Ao ver a situação, Draupadi rapidamente rasgou um pedaço de sua roupa e usou para cobri-lo. Durvasa ficou bastante satisfeito com ela, e lhe concedeu uma bênção que faria com que um fluxo interminável de roupas surgisse para cobri-la no momento em que Dushasana tentava despi-la no salão real de Hastinapura.
Arte de Abhishek Sharma |
As visitas à Duryodhana e aos Pandavas
Outro exemplo do lado benevolente de Durvasa é o incidente no qual ele concedeu uma benção à Duryodhana. Durante o exílio dos Pandavas, Durvasa e seus discípulos chegaram em Hastinapura, e ficaram satisfeitos com a dedicada hospitalidade de Duryodhana.
Tendo ficado bastante satisfeito, Durvasa concedeu uma benção à Duryodhana, porém este resolveu usar a benção para amaldiçoar seus inimigos, os Pandavas. Duryodhana pediu como benção que Durvasa visitasse os Pandavas na floresta, com a secreta intenção de fazê-los enfrentarem a fúria do sábio. Conforme o desejo de Duryodhana, Durvasa e seus discípulos visitaram os Pandavas em seu exílio na floresta. Durante este período de exílio, os Pandavas obtinham sua alimentação diária por meio do Akshaya Patra,um vaso mágico dado à Yudhishthira pelo deus Surya. O suprimento diário de alimentos fornecido pelo Akshaya Patra se esgotava sempre quando Draupadi terminava de se alimentar.
Surya entregando o Akshaya Patra à Yudishthira |
Como Draupadi já havia terminado sua refeição diária no momento em que Durvasa chegou, não havia comida para servi-lo, e os Pandavas ficaram aflitos quanto ao seu destino caso eles não conseguissem alimentá-lo. Antes da refeição, Durvasa e seus discípulos foram se banhar no rio, e enquanto isso Draupadi clamou à Krishna por ajuda.
Krishna apareceu imediatamente diante de Draupadi dizendo que estava com muita fome e pediu comida a ela. Draupadi ficou desesperada, e disse-lhe que orou a ele justamente porque não tinha mais comida para oferecer. Krishna então disse a ela para trazer a Akshaya Patra até ele. Quando ela o fez, ele comeu um único grão de arroz e um pedaço de vegetal que encontrou presos ao vaso e anunciou que estava satisfeito com a "refeição". O ato de Krishna saciou também a fome de Durvasa e de seus discípulos, pois saciar a Krishna significava saciar todas as coisas vivas. Durvasa e seus discípulos, acabaram deixando o local silenciosamente após o banho sem retornar ao abrigo dos Pandavas, pois não queriam encarar a reação deles ao recusarem a comida que lhes serviriam.
Ambarisha e o quase fim de Durvasa
De acordo com o Bhagavata Purana, Ambarisha era o rei de um grande devoto de Vishnu, e sua devoção agradava tanto ao deus que ele lhe concedeu seu astra, o Sudarshana Chakra. Certa vez, Ambarisha realizou um jejum especial que duraria um ano, e chegando próximo do momento de quebrá-lo, ele recebeu a visita de Durvasa e de seus discípulos. Ambarisha deu-lhe as boas vindas com todo o devido respeito, e pediu-lhe que fosse seu convidado de honra no banquete onde quebraria o jejum.
Aceitando seu convite, Durvasa pediu que Ambarisha esperasse por ele enquanto ele dava um mergulho no rio. Porém, o momento auspicioso para quebrar o jejum e cumprir seus votos chegou e Durvasa não havia retornado. Ambarisha viu-se em um dilema, e depois de consultar outros sábios, ele tomou um gole de água para quebrar o jejum, e esperou pela chegada de Durvasa para lhe oferecer comida.
Quando Durvasa retornou e tomou conhecimento de que Ambarisha havia quebrado o seu jejum antes dele ter feito sua refeição, ele ficou extremamente furioso e, usando um fio de seu próprio cabelo, criou um demônio e o enviou para matá-lo. Durvasa só não contava que o Sudarshana Chakra interviria, aniquilando o demônio e depois o perseguindo.
Durvasa buscou a ajuda de Shiva e de Brahma, que disseram a ele que nada podiam fazer contra o Sudarshana Chakra, e o aconselharam a buscar refúgio em Vishnu, que era o dono dessa astra. Durvasa então pediu a ajuda de Vishnu, e o mesmo lhe disse que não podia intervir na situação devido a imaculada devoção de Ambarisha. Vishnu o aconselhou a buscar Ambarisha e pedir o seu perdão, e Durvasa assim o fez. Ao retornar até Ambarisha, percebeu que o mesmo ainda o esperava para sentar-se com ele e comerem juntos. Emocionado, Durvasa pediu o seu perdão e humildemente pediu que ele chamasse o Sudarshana Chakra de volta. Ambarisha o fez sem pensar duas vezes, e assim poupou a vida de Durvasa.
Bom, basicamente então ele é um filhinho de papai mimado que não pode nem respeitar a conversa alheia, né?
ResponderExcluirResumidamente é isso sim haha.
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