Image Map

29 de junho de 2022

Yebá Beló

۞ ADM Sleipnir


Yebá Beló (ou Yebá Bëló, "Avó do Mundo" ou "Avó da Terra") é divindade criadora e principal figura no mito de criação do povo indígena Dessana (também Desana ou Desano), habitantes do noroeste do estado do Amazonas, também vivendo em terras colombianas.

A Mulher que Surgiu do Nada

Yebá Beló é conhecida como a "Mulher que Surgiu do Nada" ou "a Não-Criada" justamente por conta de ter surgido do nada, num momento onde haviam somente trevas no Universo. O mito conta que ela utilizou seis itens misteriosos e invisíveis para criar a si mesma: um banco de quartzo branco, uma forquilha para segurar o cigarro, uma cuia de ipadu (folha semelhante à de coca), o suporte desta cuia de ipadu, uma cuia de farinha de tapioca e o suporte desta cuia. Enquanto ela ia surgindo, ela se cobria com enfeites. Ela também criou uma maloca toda feita de quartzo branco ("Uhtãboho taribu").

Uhtãboho taribu,  Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

A criação do mundo 

Dentro da maloca de quartzo, Yebá Beló fumava um cigarro e mascava seu ipadu, enquanto pensava em como deveria ser o mundo. Seu pensamento acabou assumindo a forma de uma esfera, sobre a qual surgiu uma torre. Essa esfera, que era o mundo, absorveu toda a escuridão para dentro de si. Yebá Beló chamou a esfera de Umukowi'i (“Maloca do Universo”).
 
A criação dos cinco trovões

Ainda não havia luz, a não ser na maloca de quartzo de Yebá Beló, e também não haviam seres vivos no mundo. Após voltar a mascar seu ipadu, Yebá Beló o tirou da boca e com ele formou cinco homens conhecidos como Umukoñehküsuma (Avôs do Mundo") ou Uhtãbohowerimahsã ("Homens do Quartzo Branco"). Esses homens eram trovões e imortais, e Yebá Beló deu para cada deles uma maloca no mundo recém criado, semelhantes a dela. 

Os Cinco Trovões, Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Yebá Beló incumbiu os cinco trovões de criarem todo o resto do mundo, como a luz, os rios e a humanidade e eles aceitaram a tarefa. Porém, ao invés de cumprirem seu dever, eles ficavam o tempo todo dentro de suas malocas, e após um tempo sequer lembravam do que tinham que fazer. Yebá Beló voltou a lembrá-los de seus deveres, e eles então deram início aos trabalhos. Os trovões criaram primeiramente os rios, e em seguida tentaram criar a humanidade, porém mesmo recebendo a ajuda de Yebá Beló eles falharam.

A criação de um novo ser

Retornando à sua maloca de quartzo, Yebá Beló consumiu mais ipadu e fumou seu cigarro, enquanto pensava em criar um ser que pudesse seguir suas ordens e completar a criação. Enquanto pensava em como ele deveria ser, de repente a fumaça do cigarro começou a tomar a forma de um ser misterioso, sem um corpo, não podendo ser visto nem tocado.

Yebá Göãmã, arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Yebá Buró pegou então o seu pari de defesa (wereimikaru) e o envolveu. Depois de tê-lo pegoi, ela o saudou, dizendo Umukosurãpanami (“Bisneto do Mundo”), ao qual ele respondeu Umukosurãñehkõ (“Tataravó do Mundo”). O nome deste novo ser era Yebá Göãmã (“Demiurgo da Terra (ou do Mundo)”. Yebá Beló então lhe falou sobre como os Uhtãbohowerimahsã haviam falhado em cumprir sua ordem, e atribuiu a ele a tarefa de terminar a criação, prometendo guiá-lo no processo. E assim Yebá Göãmã faria. Aceitando a ordem de Yebá Beló, Yebá Göãmã levantou seu bastão cerimonial chamado yewãígõã (“osso de pajé”) e o fez subir de Uhtãboho taribu até o cume da torre do mundo. 

A criação do Sol 

Yebá Beló cumpriu a sua palavra de guiar o seu bisneto. Ela enfeitou a ponta do seu bastão com penas amarradas, enfeites próprios deste bastão, masculinos e femininos, e esse adorno ficou brilhando de diversas cores: branco, azul, verde, amarelo. Enfeitou-o ainda - com um tipo de brincos ou pingentes, de feição masculina e feminina. Com esses enfeites, a ponta do bastão ficou brilhando, e então transformou-se, assumindo um rosto humano. Era Abe, o Sol que acabava de ser criado. A partir de então, ele passou a levar luz de onde só havia escuridão até os confins do mundo. Por fim, Yebá Buró cobriu o Sol com um tapume de penugem de arara (mahãweayuhsu). 

A criação da terra e da humanidade

Ao verem o trabalho realizado por Yebá Göãmã, os Trovões ficaram com ciúmes, e decidiram destruir a sua obra. Somente um deles, chamado Umukoñehkü (o terceiro trovão), não teve inveja de Yebá Göãmã, e apaziguou os ânimos dos irmãos dando-lhes ipadu e cigarro. 

Posteriormente, Yebá Göãmã recebeu de Yebá Beló a tarefa de ir até a maloca de Umukoñehkü e pedir a ele enfeites de penas, com os quais ele poderia criar a humanidade.  Antes de subir, porém, ele criou vários paris: o pari de urucu de miriti (nemohsãimikaru), o pari de frutas pequenas de miriti (nemuhtãriimikaru), o pari de miriti meio amarelo (nebohoimikaru), o pari de talos de caraná (ñapüdühkaimikaru). Sustantando-se em cima desses paris que ele havia criado, Yebá Göãmã subiu no espaço. Enquanto isso, Yebá Beló tirou do seio esquerdo sementes de tabaco e as espalhou em cima dos paris. Depois tirou leite, também do seio esquerdo, e o derramou por cima dessas esteiras. As sementes de tabaco formaram a terra e o leite serviu para adubá-la.

Yebá Göãmã, então dirigiu-se para casa do terceiro trovão e lá encontrou com Umukomahsü Boreka, o chefe dos Dessana e seu irmão, e com Umukoñehkü. O terceiro trovão deu a Yebá Göãmã e a Umukomahsü Boreka os enfeitese e então os ensinou o rito para transformá-los em seres humanos. Ele recomendou então, que cada um colhesse uma folha nova de ipadu de um pé que havia no pátio e a engolisse. Quando sentissem dor na barriga, deveriam acender o turi (madeira produtora de fogo), molhá-lo numa cuia d'água e beberem o conteúdo, em seguida vomitarem em um só buraco do rio. Assim fizeram os dois e apareceram duas mulheres muito bonitas. Feito isso, o terceiro trovão decidiu acompanhá-los para ajudá-los a formar a futura humanidade.

PARTICIPE! Deixe seu comentário, elogio ou crítica nas publicações. Faça também sugestões. Sua interação é importante ajuda a manter o blog ativo! Siga o Portal dos Mitos no Youtube, TikTok e Instagram!

4 comentários:

  1. Sr. Sleipnir, o senhor poderia por obséquio fazer uma publicação sobre os orcs? Falando sobre sua origem na cultura pop e explicando eles na mitologica/folclore. Independentemente da resposta, agradeço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assim que eu tiver um tempo farei uma pesquisa e verei o que consigo trazer.

      Excluir
  2. Sr. Sleipnir, o senhor poderia citar os nomes dos outros 4 trovões imortais, pois o Terceiro já foi dito, já o 1, 2, 4 e 5 Trovões Imortais não sabemos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A fonte de onde retirei a história não cita o nome dos demais. Caso eu descubra seus nomes, posso trazê-los futuramente.

      Excluir



Seu comentário é muito importante e muito bem vindo, porém é necessário que evitem:

1) Xingamentos ou ofensas gratuitas ao autor e a outros comentaristas;
2)Comentários racistas, homofóbicos, xenófobos e similares;
3)Spam de conteúdo e divulgações não autorizadas;
4)Publicar referências e links para conteúdo pornográfico;
5)Comentários que nada tenham a ver com a postagem.

Comentários que inflijam um desses pontos estão sujeitos a exclusão.

De preferência, evite fazer comentários anônimos. Faça login com uma conta do Google, assim poderei responder seus comentários de forma mais apropriada, e de brinde você poderá entrar no ranking dos top comentaristas do blog.



Ruby