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22 de junho de 2022

A Escada de Flechas

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

A Escada de Flechas é uma lenda pertencente ao povo indígena caingangue, do extremo sul do Brasil, que conta sobre uma escalada aos céus praticada por eles em tempos antigos, quando a tribo sofria constantemente o ataque de onças vorazes. Era um tempo em que as onças devoravam muito mais pessoas do que hoje, e não havia um só dia em que um caingangue não era devorado vivo por elas, ou desaparecia sem deixar pistas. As presas mais comuns das onças eram os velhos e as crianças, mas nenhum índio estava a salvo de ser alvo delas.

Mesmo colocando vigias nas aldeias e fortificando-as com paliçadas, as onças conseguiam furar suas defesas e devorar os vigias. Certo dia, o cacique da aldeia decidiu buscar uma solução para o problema. Ao consultar o feiticeiro-mor da aldeia, o mesmo sugeriu que eles fugissem. O cacique tentou pensar para onde todos poderiam fugir, mas o fato é que não havia um lugar na terra onde as onças não poderiam alcançá-los. Foi quando o pajé sugeriu que eles fugissem para o céu. Na hora, o cacique pensou que era apenas uma brincadeira do pajé, mas o mesmo havia falado sério.

O próprio pajé tomou em suas mãos uma aljava de flechas e partiu para um descampado, de onde mirou seu arco para os céus e disparou uma flechada. Todos que presenciaram a cena trataram de se encolher, receosos de que Tupã devolvesse a flecha com um raio fulminante. Para a sorte e também espanto de todos, não só Tupã não revidou, como a flecha atirada pelo pajé ficou encravada no céu.

O pajé entregou o arco e a aljava a outro índio, e ordenou que atirasse na flecha que ele havia encravado no céu. O índio mirou e acertou bem na extremidade da flecha encravada, encompridando-a. Dessa forma, cada um dos índios foi atirando uma flecha após outra, até que no fim formaram uma escada que descia do céu até a terra. Só que eles decidiram não subir naquele momento, retornando para a aldeia para descansar e se preparar para escalarem a escada na manhã seguinte.

Assim que o sol raiou, todos foram até o pé da escada de flechas, que para sua surpresa havia se transformado numa escada de cipós, cheia de degraus que facilitavam a subida. Ao colocar, porém, o pé no primeiro degrau da escada, o cacique ouviu o inconfundível rugido de uma onça vindo do céu. Enquanto os índios dormiam, um casal de onças reais acabou sorrateiramente se aproximando da escada e escalando-a.

Agora, fugir para o céu não era mais uma opção, e o cacique decidiu que eles deveriam cortar a escada para que as onças que subiram não pudessem mais descer. Porém, aquele que subisse as escada para cumprir esta tarefa não teria como descer. Demorou um pouco até que um valente casal caingangue se ofereceu para a missão. Eles subiram a escada de flechas, e ao chegar ao topo, cortaram rapidamente a escada, que foi embolar-se aos pés dos índios que observavam tudo do solo. O valente casal  de índios jamais pôde descer, e acredita-se que até hoje viva no céu, junto com o casal de onças. Uma outra versão da lenda conta que quando as onças perceberam o que estava acontecendo, saltaram sobre o casal indígena, mas perderam o equilíbrio e se esborracharam no chão. Já o casal de índios salvadores que ficou lá em cima, por sua nobreza, coragem e amor por seu povo, foram transformados no sol e na lua.

Arte de Márcio Luiz Quedinho

fontes:
  • As 100 Melhores Lendas do Folclore Brasileiro, de A. S. Franchini;
  • Moça Lua e outras lendas, de Walmir Ayala.

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