15 de setembro de 2015

Hespérides

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de Emily Harvey

Na mitologia grega, as Hespérides (em grego: Ἑσπερίδες, Hesperídes) são ninfas crepusculares associadas ao extremo ocidente do mundo conhecido pelos gregos. Elas eram responsáveis por cuidar de um pomar encantado conhecido como o Jardim das Hespérides, onde cresciam maçãs douradas da imortalidade.

Filhas da Nix (a noite) segundo Hesíodo, ou, conforme outras tradições, filhas de Atlas Hesperis, ou ainda de Zeus Têmis, as Hespérides são tradicionalmente três — EgleErítia Héspera (ou Hesperetusa), mas diferentes autores da Antiguidade ampliaram esse número, mencionando até quatro, cinco ou sete ninfas distintas, cujos nomes variam conforme a fonte. Entre os nomes adicionais mais frequentemente citados estão: AretusaHesperusaLiparaAsterope Crisotemis. Em algumas versões, Egle é também chamada de "a radiante", enquanto Erítia pode ser identificada como "a vermelha" ou "a rubra", evocando o brilho do poente.

As Hespérides eram associadas à beleza, à juventude e ao encantamento do crepúsculo, simbolizando o limiar entre o dia e a noite, entre o mundo civilizado e o desconhecido. Suas vozes eram descritas como doces e envolventes, e seu canto era comparado ao das musas. Eram frequentemente retratadas como jovens graciosas em trajes leves, segurando frutos dourados ou flores, em um ambiente paradisíaco de árvores frutíferas e fontes límpidas. Em algumas representações artísticas, estão cercadas por vegetação exuberante, ao lado de Hera, ou junto a Ladon,  o dragão de cem cabeças filho de Tifão e Equidna.

O Jardim das Hespérides

Arte de Alexandru Morariu

O Jardim das Hespérides era o pomar sagrado da deusa Hera, situado no extremo ocidente do mundo conhecido — além do oceano que circundava a Terra, nos limites do mundo mortal. Algumas fontes o localizam próximo às montanhas do Atlas, na região da atual África do Norte. O autor romano Plínio, o Velho, o situa na cidade de Lixus, no atual Marrocos, cenário também associado ao combate entre Héracles e o gigante Anteu. Em outra parte de sua obra História Natural, Plínio afirma que as Hespérides viviam em duas ilhas do Atlântico, próximas à costa marroquina. A cidade de Euespérides (hoje Benghazi, na Líbia), fundada por colonos gregos, também pode ter conexões mitológicas com o jardim.

No pomar crescia uma árvore — ou bosque — que dava frutos dourados, presente de Gaia a Hera por ocasião de seu casamento com Zeus. Encantada com o dom, Hera ordenou que os ramos fossem plantados em seu jardim sagrado, que se estendia até as encostas do Monte Atlas. As Hespérides tinham a missão de cuidar desse jardim, mas, desconfiando da tentação das próprias ninfas, Hera incumbiu também o dragão de cem cabeças Ladon de guardar os frutos.

Essas maçãs douradas simbolizavam juventude e imortalidade e aparecem em vários mitos. No episódio do Julgamento de Páris, é do Jardim das Hespérides que Éris, deusa da Discórdia, retira a maçã do "para a mais bela", cujo lançamento no banquete dos deuses levou à Guerra de Troia. Em épocas posteriores, especialmente na Idade Média e no Renascimento, sugeriu-se que os "frutos dourados" eram, na verdade, laranjas — fruta então desconhecida na Europa. Esse raciocínio levou os gregos a nomearem os cítricos como hesperidoides (Ἑσπεριδοειδῆ), e até hoje a palavra grega para laranja é portokáli, derivada de "Portugal", país próximo à lendária localização ocidental do Jardim.

O Décimo Primeiro Trabalho de Héracles

O Jardim das Hespérides figura proeminentemente no décimo primeiro dos doze trabalhos de Héracles. Após cumprir os dez primeiros, o herói foi encarregado de roubar os frutos dourados do jardim. Para encontrar o local, Héracles capturou o velho do mar, uma divindade marinha metamórfica, e o forçou a revelar o caminho. Em algumas versões, o herói consultou Prometeu, acorrentado no Cáucaso, e em troca da libertação, o titã lhe indicou o trajeto.

Durante a jornada, Héracles enfrentou o gigante Anteu, cuja força vinha do contato com a Terra (sua mãe, Gaia), e que foi derrotado com um abraço que o ergueu do solo. Em outras versões, Héracles foi capturado no Egito por Busíris, que o pretendia sacrificar, mas o herói escapou e matou o rei.

Arte de Nidhogge

Ao alcançar o jardim, existem diferentes versões sobre como Héracles obteve os frutos. Em uma delas, ele convence Atlas a buscá-los, oferecendo-se para segurar os céus temporariamente. Atlas, pai das Hespérides, aceita, mas ao voltar, tenta enganar Héracles e não reassumir o fardo. O herói, fingindo aceitar, pede apenas que o titã o substitua por um momento para ajustar seu manto — e então parte com os frutos. Em outra versão, Héracles mata o dragão Ladon com uma flecha e colhe ele mesmo as maçãs.

Algumas fontes indicam que, após a conclusão da tarefa, Atena devolveu os frutos ao jardim. Os "frutos da alegria" que tentaram Atalanta também foram por vezes identificados com os frutos do jardim, embora outros os distingam da maçã da discórdia lançada por Éris.

Representações artísticas gregas, especialmente em cerâmicas áticas do final do século V a.C., frequentemente mostram Héracles em repouso no jardim, cercado pelas ninfas.

A Chegada dos Argonautas ao Jardim

Após Héracles derrotar Ladon e obter os frutos, os Argonautas passaram pela planície das Hespérides em sua jornada. Sedentos, imploraram ajuda às ninfas, que, comovidas, os guiaram a uma fonte criada pelo próprio Héracles. Em sua sede, o herói havia golpeado uma rocha próxima ao lago Tritônis, fazendo jorrar água do solo. As ninfas, então transformadas em árvores — Êgle em um salgueiro, Eritheia em um olmo e Hespere em uma álamo — revelaram suas formas nos troncos, narrando o episódio em que Héracles derrotou o dragão e saciou sua sede. Os Argonautas, liderados por Orfeu, agradeceram com orações e votos de oferendas futuras, e saciaram-se na fonte mágica revelada.

Variações do Mito

Segundo uma versão relatada por Diodoro da Sicília, as Hespérides não guardavam frutos, mas sim rebanhos de ovelhas extremamente belas, chamadas poeticamente de "maçãs douradas". Esse nome seria uma metáfora baseada em sua cor dourada e sua beleza incomum. O "dragão" que guardava o rebanho, nesta versão, era um pastor chamado Dracon, notável por sua força e coragem, encarregado de proteger os animais contra ladrões.

Arte de Albert Herter

fontes:

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Postagem revisada e atualizada em 11/07/2025

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Um comentário:

  1. Uma excelente nota cultural não acha? Tantos nomes comuns eu consegui identificar ai e aposto que a maioria das pessoa desconhece sua origem. Extremamente didático isso.
    A questão da maçã também me fez lembrar o filme em que os cavaleiros de Atena enfrentam Éris que possui uma maçã dourada.
    Sobre Ladon, eu adquiri o primeiro exemplar da coleção Dragões da editora Dagostini e o primeiro é ele. Mas na representação ele não tem 100 cabeças. Serviu de adendo.
    Muito obrigado.

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