۞ ADM Sleipnir
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| Arte de Leo |
Apep (também conhecido como Aphopis, Apófis, Apepi, Apap, Aaapef, Pepi, entre outras variantes) é uma divindade da mitologia egípcia antiga associada às forças do mal, das trevas, do caos e da destruição. Representado predominantemente como uma enorme serpente, Apep é considerado o principal inimigo do deus solar Rá e um dos mais poderosos símbolos do mal e do desordenamento cósmico na crença egípcia. Ele não era cultuado, mas temido, e rituais específicos foram desenvolvidos para combatê-lo e garantir a continuidade da ordem divina, a Ma’at.
Origem e natureza
Acredita-se que Apep tenha surgido desde os tempos primordiais, possivelmente a partir da própria escuridão e caos existentes antes da criação do mundo. Em alguns mitos tardios, é dito que ele nasceu da saliva da deusa Neith, ainda nas águas primordiais, tornando-se uma serpente colossal com mais de 100 metros de comprimento. Seu nome pode ter raízes no verbo egípcio que significa "ser amarrado", refletindo seu papel como força que aprisiona, sufoca e ameaça.
Sua primeira menção textual aparece no Império Médio, mas a mitologia em torno dele se desenvolveu plenamente no Novo Império (c. 1550–1069 a.C.), especialmente nos textos funerários como o Amduat, o Livro dos Portões e o Livro da Derrota de Apófis.
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| Arte de Sherif Wadgy |
Aparência e simbologia
Apep era geralmente descrito como uma serpente gigantesca, mas em alguns relatos também assumia a forma de um crocodilo colossal ou outras manifestações monstruosas, como uma bola circular representando o “olho maligno”. Seu rugido era temido por deuses e humanos, e dizia-se que apenas o som de sua voz fazia até Rá estremecer. Ele era associado a terremotos, eclipses solares, tempestades violentas e outras manifestações caóticas da natureza.
Seu corpo era tão grande que envolvia o mundo, sendo conhecido como “o Envolvente” e “O Grande Rebelde”. Ele também recebeu títulos como “O Abominável”, “Sacudidor da Terra” e “Serpente do Renascimento” — este último possivelmente por sua capacidade de retornar eternamente após ser destruído.
Conflito com Rá
A batalha entre Apep e Rá simbolizava a luta diária entre a luz e as trevas. Todas as noites, durante a travessia do deus solar pelo Duat (o mundo subterrâneo), Apep tentava impedir a passagem da barca solar, prendendo-a em seus enormes anéis, criando bancos de areia ou inundando as águas do submundo. O objetivo era impedir o renascimento do sol ao amanhecer, mergulhando o mundo na escuridão eterna. Em alguns relatos, Apep conseguia engolir a barca solar inteira, aprisionando Rá dentro de seu corpo serpentino. Contudo, os deuses aliados a Rá abriam um buraco em sua barriga para libertar o deus solar, garantindo sua continuidade. Caso fracassassem, o sol não renasceria, e o mundo mergulharia na escuridão eterna.
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| Arte de Pascal Quidalt |
Diversos deuses ajudavam Rá em sua jornada, especialmente Seth, o deus da força e do caos ordenado, que era o único capaz de atravessar Apep com uma lança e enfrentar seus gritos aterrorizantes. Outras divindades que participavam da defesa do sol incluíam Isis, Neith, Hórus, Geb, Aker, Serqet, Hathor e até espíritos dos mortos, que, às vezes, se manifestavam como o deus Shu.
Em algumas versões, o próprio Rá assumia a forma de um grande gato (o “Grande Gato de Heliópolis”), que decapitava Apep sob a árvore sagrada Ished, num evento simbólico conhecido como a “Noite da Guerra e da Expulsão dos Rebeldes”.

Rituais de combate
Apep não podia ser morto de forma definitiva — ele renascia todas as noites, tornando o combate contra ele um ritual diário. Para enfrentá-lo simbolicamente, os sacerdotes de Amon-Rá realizavam cerimônias complexas que incluíam a confecção de efígies de cera representando a serpente, as quais eram amaldiçoadas, pisoteadas, esfaqueadas, amarradas com cordões vermelhos e pretos, e finalmente lançadas ao fogo. Também recitavam encantamentos do Livro da Derrota de Apep, que prescrevia métodos específicos de destruição, como cuspir sobre a figura do inimigo, esmagá-lo com o pé esquerdo, perfurá-lo com uma lança, prendê-lo com correntes, golpeá-lo com uma faca e queimá-lo com fogo sagrado.
Outra parte essencial do ritual envolvia a destruição simbólica de elementos considerados vitais à existência de Apep — seu nome, sua sombra, sua imagem e sua magia. Por fim, papiros contendo seu nome secreto eram queimados nas chamas como forma de aniquilá-lo espiritualmente. Essas práticas reforçavam a crença na preservação da Ma’at e garantiam o retorno diário do sol.
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| Arte de Gonzalo Kenny |
Outras serpentes e comparações
Além de Apep, os egípcios também reconheceram a existência de outras serpentes demoníacas associadas ao caos e à escuridão. Entre elas estavam Akeneh, Antaf, Hekret, Senenahemthet, Setcheh, Tcheser-tep e Thethu. Embora alguns desses nomes se assemelhem aos de divindades conhecidas, essas criaturas não eram consideradas deuses, mas sim entidades distintas e maléficas, muitas vezes associadas aos perigos do mundo subterrâneo e às forças que ameaçavam a ordem cósmica (Ma’at).
A imagem de Apep influenciou representações posteriores de seres do caos em outras culturas. Sua forma híbrida de serpente e crocodilo pode ter inspirado a figura dos dragões na mitologia medieval. Além disso, estudiosos sugerem uma associação entre Apep e Rahabh, uma entidade presente na tradição hebraica descrita como um monstro marinho caótico e inimigo do deus criador. Assim como Apep, Rahabh representa a personificação do caos primitivo e da resistência à harmonia divina.
Legado e interpretação
Ao contrário de outros deuses egípcios, Apep jamais foi adorado — ele era temido e rejeitado. Ainda assim, sua figura era central no drama cósmico egípcio que opunha ordem e caos, luz e escuridão, renovação e destruição.
Alguns faraós hicsos adotaram variações do nome Apepi como título real, o que gerou debates entre estudiosos quanto às possíveis implicações culturais, políticas ou religiosas, já que Apep era, indiscutivelmente, uma divindade maligna.
Na cosmologia egípcia, Apep representa o eterno retorno do mal e a necessidade constante de enfrentá-lo — não com a esperança de eliminá-lo para sempre, mas com a certeza de que sua derrota diária mantém o mundo em equilíbrio.
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| Arte de dodovoxo |
fontes:
- HILL, J. Apep (Apophis) | Ancient Egypt Online. Disponível em: <https://ancientegyptonline.co.uk/apep/>.
- REMLER, P. Egyptian mythology, A to Z. New York: Chelsea House, 2010.
- CHARLES RUSSELL COULTER; TURNER, P. Encyclopedia of ancient deities. Oxford ; Toronto: Oxford University Press, 2001.
- PINCH, G. Handbook of Egyptian mythology. Santa Barbara, Calif.: ABC-CLIO, 2002.
Apep







então, ele ia para cima de vários deuses sem medo? esse aí tem coragem
ResponderExcluirPorque é um ser de caos e destruição. Na mitologia egípcia,Apep odeia a criação,e o objetivo dele é,na verdade,devorar o deus Rá. Porque como na mitologia egípcia,Rá criou tudo, todos os deuses, humanos e seres dependem de Rá. Se o Rá morrer,o universo seria destruído. Se o Apep matar o Rá,vai estar matando todo o universo.
ExcluirApep é lokasso, meu amigo KKK
Excluirse eu fosse apep e vesse um deus na minha frente eu vazava queria nem saber
ExcluirO que eram demônios na mitologia egípcia?
ResponderExcluirBom, primeiramente, apesar de geralmente chamados de demônios egípcios, o termo "demônio" propriamente não existia ou era usado pelos egípcios. O que se conhece como demônios são espíritos e criaturas que causam males aos humanos e eram temidos por eles. Basicamente existiam 2 classes, os que habitavam o reino dos mortos (inclusive sendo retratados em papiros funerários) e os que viviam e vagavam pelo mundo dos homens espalhando doenças e até mesmo possuindo pessoas.
ExcluirTem uma série que se chama theodosia e que tem o app
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