۞ ADM Sleipnir
Celtchar mac Uthidir ("Celtchar filho de Uthidir", comumente chamado somente de Celtchar ou Celtchair) é um herói irlandês presente em contos do Ciclo de Ulster. Descrito como sendo um guerreiro "cinzento", alto e terrível, Celtchar participou de vários contos famosos como o Mesca Ulad e o Táin Bó Cúailnge, porém ele é mais conhecido por ter sido portador de uma lança mágica, conhecida como Lúin Celtchair.
Segundo algumas histórias, essa lança teria sido feita pelos Tuatha Dé Danann em tempos antigos e acabou sendo perdida durante uma das batalhas de Mag Tuired. A lança era capaz de prever o início de confrontos, esquentando conforme estes estavam prestes a acontecer. Caso ela não fosse logo usada para derramar sangue, ela explodiria em chamas, então Celtchar a mantinha mergulhada dentro de um caldeirão com um líquido que algumas fontes dizem ser veneno, e outras sangue de de animais e druidas. Em batalha, ela era capaz de matar um guerreiro a cada golpe, e se lançada, mataria nove, sendo um deles sempre um líder.
Mesca Ulad
Celtchar foi um dos homens de Ulster a figurarem no conto Mesca Ulad ("A intoxicação dos homens de Ulster"). Esse conto se passa durante o Samhain e segue os homens de Ulster tentando participar de duas festas que ocorriam na mesma noite. A primeira ocorria em Dún Dá Bhenn (atual condado de Londonderry ) ao norte, e a segunda na fortaleza de Cú Chulainn em Dún Delgan (moderna Dundalk, Co. Louth) ao leste. Os homens ficam embriagados no primeiro banquete e seguiram para o sul em direção a Kerry por acidente. Em Kerry, eles recebem inicialmente a hospitalidade de seus inimigos tradicionais, os homens de Munster, que lhes oferecem um lugar para passarem a noite. O local porém tinha paredes de ferro envoltas por madeira, e tão logo todos os homens de Ulster entraram nele, os homens de Munster atearam fogo. A conclusão dessa história infelizmente se perdeu com o tempo, mas outros contos dão a entender que os homens de Ulster deram um jeito de salvar.
Participação no Táin Bó Cúailnge
O
Táin Bó Cúailnge, ou ("Ataque ao Gado de Cooley") é o conto mais famoso da mitologia irlandesa. Ele envolve a história da rainha
Medb (Maeve) de Connacht e seu marido
Ailill, que planejavam roubar o touro
Donn Cuailnge, pertencente a
Dáire mac Fiachna. Mebd se aproveitou de uma maldição lançada sobre os homens de Ulster pela deusa Macha, que faria com que os mesmos sentissem dores do parto na hora de sua maior necessidade, para lançar seu ataque e roubar o touro. Seu plano acabou sendo frustrado por
Cú Chulainn, que não era natural de Ulster e não foi afetado pela maldição.
Celtchar, juntamente com Conchobar, foram os primeiros guerreiros a conseguirem superarem as dores causadas pela maldição e entrarem em combate contra as tropas de Connacht. Eles reuniram três mil guerreiros e foram de encontro aos guarda-costas de Ailill e Medb, que haviam capturado oito mulheres de Ulster. Celtchair e Conchobar pessoalmente mataram os captores dessas mulheres e as libertaram.
Aided Cheltchair maic Uthechair (A Morte de Celtchar)
A história começa com um guerreiro/hospitaleiro chamado Blaí Briugu. Ele era um homem rico e querido por todos, porém estava debaixo de um geis (uma espécie de maldição/feitiço) que o obrigava a dormir com todas as mulheres que chegassem em sua hospedaria sem seus maridos. Caso ele não o fizesse, morreria.
Como era muito raro isso acontecer, Blaí Briugu conseguia levar uma vida normal em sua hospedaria. Porém, um dia Brig Brethach, mulher de Celtchar, veio até a hospedaria sem a companhia do mesmo. Blaí a conhecia e conhecia também a Celtchar, e sabia qual seria a reação de Celtchar se ele dormisse com sua esposa. Segundo algumas versões do conto, Brig sabia da maldição de Blaí e teria feito tudo de propósito, pois Celtchar não cumpria com suas obrigações maritais.
Quando Celtchar descobriu, perseguiu Blái até a corte real de Ulster. Lá, o rei Conchobar disputava uma partida de fidchell (um jogo de tabuleiro medieval irlandês) com o herói Cú Chulainn, quando Blái entrou correndo em direção aos dois em busca de sua ajuda. Antes que ele pudesse alcançá-los, Celtchar atirou sua lança, atravessando Blái e cravando-o morto na parede. Uma gota de sangue respingou sobre o tabuleiro, e tanto Conchobar quanto Cú Chulainn consideraram o ato de Celtchar um insulto, além de uma violação à lei da hospitalidade.
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"Searing Spear", arte de Chris Rahn |
Celtchar fugiu para Munster, enquanto o povo de Ulster estava muito chateado com a situação. Não só haviam perdido Blái, que era querido por todos, como um de seus melhores campeões estava foragido. Para que também não perdessem Celtchar, o povo pediu que Conchobar o trouxesse de volta. O rei concorda, e envia um dos filhos de Celtchar até ele com o pedido para que retorne à Ulster, mas caso ele não retornasse, seu filho seria punido em seu lugar. Diante dessa situação, Celtchar retornou, mas sua transgressão não seria perdoada facilmente. Ele foi informado de que deveria livrar a terra de Ulster de três flagelos.
O primeiro deles era um homem chamado Conganchnes Mac Dedad, que buscava vingança pelo assassinato de seu irmão Cú Roí pelos homens de Ulster. Conganchnes possuía uma pele tão dura que nenhuma arma era capaz de perfurá-la. Celtchar fez com que sua filha, Niamh, se casasse com Conganchnes, e descobrisse seu ponto fraco. Um belo dia, Niamh pergunta ao marido se havia alguma forma de matá-lo, e Conganchnes simplesmente lhe revela que a única maneira de fazer isso é enfiar pontas de ferro em brasa na sola de seus pés, que eram a única parte de seu corpo que não eram impenetráveis. Em posse dessa informação, Celtchar prepara um grande banquete para seu genro, com dois enormes espetos assando sobre duas fogueiras enormes. Quando todos estavam satisfeitos, um feitiço de sono é lançado sobre Conganchness. Enquanto ele dormia profundamente, Celtchar pegou os dois espetos e os enfiou nas solas dos pés de Conganchness com uma marreta. Em um ato final, Celtchar corta sua cabeça e a enterra em um monte de pedras.
O segundo flagelo era um cão chamado Luch Donn ("rato marrom"). Ele foi encontrado ainda filhote por uma viúva, que o criou até ficar enorme e incontrolável. Ele acabou matando asas ovelhas e gado da viúva, depois seus filhos e, finalmente, a própria viúva, e depois passou a devastar um povoado por noite. Para lidar com ele, Celtchar levou um tronco de amieiro do tamanho de seu braço. Ele o esvaziou e depois o ferveu em um banho de ervas, mel e gordura, tornando-o macio e resistente. Celtchar então se dirigiu até o covil do cão, que ao farejar o cheiro do tronco, logo veio até ele. Celtchar jogou o tronco para o cão, que ao mordê-lo ficou com seus dentes presos nele, permitindo que Celtchar se aproximasse dele, e enfiasse o seu braço na cavidade de sua garganta e arrancasse o seu coração.
A essa altura, já havia se passado um ano desde que Celtchar havia enterrado a cabeça de Conganchness embaixo de uma pilha de pedras, e as pessoas que viviam nas proximidades começaram a ouvir gritos e gemidos vindos dela. Quando eles moveram as pedras, encontraram três filhotes de cão: um marrom, um manchado e um preto. O filhote marrom foi dado ao ferreiro Culann; o filhote malhado ao rei de Leinster, Mac Dá Thó e lhe causou muitos problemas; e finalmente o filhote preto foi dado a Celtchar, que o chamou de Dóelchú.
Dóelchú tornou-se um cão feroz e só deixava Celtchar controlá-lo. Um dia, enquanto Celtchar estava ausente, ele se libertou de suas amarras e começou a massacrar os rebanhos na região onde vivia. Como Celtchar estava ausente no momento, nada podia ser feito para impedir que Dóelchú devastasse a terra e se tornasse o terceiro flagelo com que o próprio Celtchar deveria lidar. Celtchar reúne alguns homens e vai até o local onde Dóelchú estava escondido. Após chamá-lo três vezes, o cão finalmente aparece, correndo alegremente em direção ao seu dono e lambendo os seus pés. Relutante, e com muita tristeza em seu coração, Celtchar empunha sua lança e põe um fim à vida de Dóelchú. Após erguer a lança, uma gota de sangue do cão escorreu pelo seu cabo, tocou em Celtchar e o mesmo caiu morto no chão. Algumas fontes dizem que o sangue do cão era venenoso, e outras dizem que a gota literalmente atravessou seu corpo.
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