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5 de abril de 2014

A Edda Poética: Parte X - Völundarkviða

۞ ADM Sleipnir

Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira.


O Völundarkviða ("A Canção de Völundr") é um dos poemas da Edda Poética, que narra como Völundr, um ferreiro, se vingou sobre Níðuðr, que havia lhe capturado. Após ser escravizado e ter os tendões cortados para não fugir, ele passou a fabricar jóias para o rei. Völundr então decide se vingar do rei, matando os seus dois filhos, e seduzindo a sua filha, Böðvildr. Com as partes dos corpos dos rapazes Völundr fabricou jóias e deu para o casal real, depois embriagou Böðvildr com quem deixou esperando um filho e voou com asas para o céu obtendo a liberdade. Esse poema foi preservado no Codex Regius e no AM 748 I 4to (apenas o prólogo, porque está muito fragmentado). A lenda de Völundr aparece na Þiðrekssaga af Bern e no poema The Lament of Deor, em Inglês Arcaico.

Völundarkviða

Havia um rei em Svíþjóð* chamado Níðuðr. Ele tinha dois filhos e uma filha. Ela se chamava Böðvildr. Havia três irmãos, filhos do rei dos Finnar**. Um se chamava Slagfiðr, o segundo Egill, o terceiro Völundr. Eles andavam sobre esquis e caçavam bestas selvagens. Eles vieram para Úlfdalir***, e ali fizeram para si uma casa. Ali havia um lago chamado Úlfsjár****. Uma manhã eles encontraram sobre a extremidade do lago três fêmeas sentadas e tecendo linho. Perto delas estavam suas plumagens de cisnes. Elas eram Valkyrjur*****. Duas delas, Hlaðguðr-Svanhvít e Hervör-Alvitr, eram filhas do rei Hlöðvér; a terceira era Ölrún, a filha de Kjár de Valland******. Eles as levaram ao lar com eles para sua moradia. Egill obteve Ölrún, Slagfiðr Svanhvít, e Völundr Alvitr. Eles viveram ali sete anos. Então elas voaram embora para procurar batalhas, e não retornaram. Então Egill saiu esquiando a procura de Ölrún, e Slagfiðr a procura de Svanhvít, mas Völundr permaneceu em Úlfdalir. Ele era um homem habilidoso, assim os homens o conheciam de velhas sagas. O rei Níðuðr ordenou que ele fosse agarrado, assim como é relatado aqui:

01-Donzelas voaram do sul
através de Myrkviðr*,
Alvitr a jovem,
tentou a sorte;
sobre a praia do mar elas
se sentaram para descansar,
as donzelas do sul
e elas teciam linho.

02-Uma delas,
a bela mulher,
de peitos alvos,
Egill abraçou;
Svanhvít era a segunda,
ela usava uma plumagem de cisne,
mas a terceira,
sua irmã,
de pescoço branco,
Völundr a manteve.

03-Desde então se sentaram
por sete invernos,
mas no oitavo
todos terminaram,
e no nono
precisaram se dividir;
as donzelas se inclinaram
para a floresta sombria,
a jovem Alvitr,
se entregou ao örlög*.

04-Da caçada veio
o arqueiro de olhos finos,
[Völundr, foi
em distantes caminhos],
Slagfiðr e Egill,
encontraram o salão vazio,
foram para fora e para dentro
e ao redor olharam;
Egill deslizou em esqui para leste
atrás de Ölrún
e Slagfiðr foi ao sul
atrás de Svanhvít.

05-Mas apenas Völundr
ficou em Úlfdalir,
ele forjou com ouro vermelho
resistente jóias,
ele amarrou bem todos
os anéis com cordas de tília;
assim ele esperou
sua brilhante
esposa, se para ele
ela retornasse.

06-Nisso ouviu Níðuðr,
o senhor de Níára,
que apenas Völundr
permanecia em Úlfdalir;
à noite foram homens,
com cotas de malha,
seus escudos brilhavam
com a lua crescente.

07-Saindo de suas selas
no frontão do salão,
eles foram ali dentro,
na extremidade do salão;
eles virão sobre as cordas de tília,
anéis pendurados,
ao todo setecentos
que o herói possuía.

08-E eles os pegaram,
e eles os deixaram,
exceto apenas um,
que eles levaram.
Da caçada veio
o arqueiro de olhos finos,
Völundr, passando
sobre um longo caminho.

09-Ele fora ao fogo
para assar a carne de ursa,
logo os arbustos queimaram
o abeto completamente seco,
com o vento árido na madeira,
perante Völundr.

10-Sentado sobre a pele de ursa,
ele contou os anéis,
do senhor dos Álfar*,
apenas um faltava;
ele pensou que a
filha de Hlöðvér o tinha levado,
a jovem Alvitr,
e que ela tivesse retornado* ao lar.

11-Ele estava sentado por tanto tempo,
que ele adormeceu,
e ele acordou
triste;
vendo nas mãos
pesadas necessidades*
e sobre os pés
correntes apertadas.

Völundr disse:
12-"Quem são os guerreiros,
que me colocaram a
corda com anéis
e me acorrentaram?"
13-Depois falou Níðuðr,
o senhor dos Níar:
"Onde tu conseguiste Völundr,
príncipe dos Álfar*,
nosso dinheiro*
em Úlfdalir?"

Völundr disse:
14-"O ouro não estava ali
no caminho de Grani*,
eu acho que nossa terra estava longe
das montanhas do Rínar*;
eu acho que nós mais
tesouros possuímos,
quando a família está segura
em nosso lar."

15-"Hlaðguðr e Hervör
foram nascidas de Hlöðvér
sabe-se que Ölrún
era filha de Kíar."

16-[Lá fora estava à sábia
esposa de Níðuðr*,]
ela veio andando
da extremidade do salão,
ficando sobre o pavimento,
e com voz moderada:
"Agora não parece dócil,
ele que veio da floresta*."

O rei Níðuðr deu para sua filha Böðvildr o anel de ouro que ele havia pegado das
cordas de tília de Völundr, mas ele próprio usava a espada, que pertencia a Völundr. A
rainha disse:
17-"Seus olhos são penetrantes
como os das serpentes brilhantes,
ele mostra os dentes,
quando a espada é exibida a ele
e ele reconhece em Böðvildr
o anel dele;
cortem dele a
sua força*
e depois o coloquem
em Sævarstöðr*."

Assim foi feito, fizeram uma incisão em seus tendões dos pés, e ele foi colocado numa
ilha, que estava próximo a terra, que se chamava Sævarstaðr. Ali ele forjou para o rei
todo tipo de jóias. Nenhum homem ousava ir até ele exceto apenas o rei.

18-"A espada que brilha
no cinto de Níðuðr,
que eu afiei
que eu habilidosamente forjei
e eu temperei
que me parece mais habilidosa;
esta espada brilhante foi tomada de mim
para sempre,
eu nunca verei isso
ser levada de volta para a forja de Völundr."

19-"Agora Böðvildr usa
o anel vermelho
da minha noiva,
- para isso eu não tenho indenização. -"

20-Ele se sentou, mas não dormia,
e ele batia o martelo;
ele fazia artifícios habilidosamente muito
rápidos para Níðuðr.
Dois jovens foram
olhar a sua porta,
eram filhos de Níðuðr,
em Sævarstaðr.

21-Eles vieram pelo baú,
perguntando pela chave,
o mal estava aberto*
quando eles olharam;
muitos colares estavam ali,
que para esses jovens pareciam
serem feitos de ouro vermelho
e jóias.

Völundr disse:
22-"Venha os dois sozinhos,
venha outro dia;
eu darei a vocês esse ouro
de presente;
não diga as donzelas
nem aos homens do salão,
a nenhum homem,
que me procuraram*."

23-Cedo um homem
chamou o outro,
irmão, irmão:
"Vamos ver os anéis!"
Eles foram até o baú
perguntando pela chave,
o mal estava aberto,
quando eles olharam."

24.Ele cortou fora
a cabeça desses garotos
e debaixo da fuligem das tiras do fole
ele colocou os pés;
os crânios deles,
que estavam debaixo dos cabelos,
ele fixou prata, por fora,
e deu para Níðuðr.

25-E de seus olhos,
ele fabricou gemas preciosas
que ele deu sabiamente
para a esposa de Níðuðr,
mas dos dentes
desses dois
ele fabricou broches
e deu a Böðvildr.
26-Então Böðvildr
se gabou do anel que conseguiu
-- -- --
-- -- --
[para Völundr o trouxe*],
quando ela o quebrou:
"Eu não ouso dizer isso a ninguém
salvo apenas ti."

Völundr disse:
27-"Eu repararei de tal modo
o ouro quebrado
que teu pai
achará mais belo
e tua mãe
achará muito melhor
e tu mesmo
na mesma proporção."

28-Ele trouxe cerveja para ela,
porque ele era mais sábio,
assim que ela se sentou
ela caiu no sono.
"Agora eu terei a vingança
do meu sofrimento
sobre todos, menos uma,
na mulher perversa*."

29-"Eu desejo," disse Völundr,
"que eu fique sobre os meus pés
de quando Níðuðr
me privou."
Völundr rindo
se elevou ao céu*,
Böðvildr chorando
foi embora da ilha,
triste por seu amor partir
e a fúria de seu pai.

30-Lá fora estava à sábia
esposa de Níðuðr,
e ela veio andando
da extremidade do salão,
- mas ele estava no muro do salão
sentado descansando -:
"Tu estás acordado, Níðuðr,
senhor de Níara?"

Níðuðr disse:
31-"Eu sempre estou acordado,
sem vontade
eu durmo
desde a morte de meus filhos;
minha cabeça está gelada,
teus conselhos são frios para mim,
eu desejo isso agora,
que eu fale com Völundr."

32-"Diga-me, Völundr,
príncipe dos Álfar,
o que aconteceu
com meus saudáveis garotos."

Völundr disse:
33-"Tu deves jurar para mim
primeiro de tudo,
pela prancha do navio,
pela borda do escudo,
pelas costas do cavalo,
pela ponta da espada,
que tu não matarás
a esposa de Völundr*
nem da minha noiva
causará a morte,
embora eu tenho uma esposa
que tu conheces
e possui um bebê
lá dentro do salão."

34-"Vá para o forja,
que tu construíste,
ali tu encontrará o fole
coberto de sangue;
eu cortei em pedaços as cabeças
dos teus garotos,
e debaixo da fuligem das tiras do fole
eu coloquei os pés."

35-"Os crânios deles,
que estavam debaixo dos cabelos,
eu fixei prata, por fora,
e dei para Níðuðr;
e de seus olhos,
fabriquei gemas preciosas
que eu dei sabiamente
para a esposa de Níðuðr,"

36-"Mas dos dentes
desses dois
eu fabriquei broches
que eu dei a Böðvildr;
agora Böðvildr andara
com o aumento de uma criança*,
a única filha
que vocês tiveram."

Níðuðr disse:
37-"Tu nunca disseste uma palavra,
que mais me afligiu,
nem eu te desejaria Völundr,
pior injúria;
nenhum homem é tão alto,
que de seu cavalo possa ti pegar,
nem tão forte,
que possa ti atirar para baixo*,
onde tu distanciaste
no alto do céu."

38-Völundr rindo
se elevou ao céu,
mas Níðuðr depressivo
ficou então sentado depois disso.

Níðuðr disse:
39-"Levante-se, Þakkráðr,
o melhor dos meus servos,
peça a Böðvildr,
a donzela de alvas sobrancelhas,
de finas vestes para vir
falar com seu pai."

40-"Isso é verdade, Böðvildr,
o que me foi contado:
que tu e Völundr se sentastes
juntos na ilha?"

Böðvildr disse:
41-"Isso é verdade, Níðuðr,
o que te contaram:
sentei-me junto com Völundr,
na ilha
por um breve momento,
embora nunca devesse;
eu não soube como
me empenhar contra ele,
eu não fui capaz
de me empenhar contra ele."


Notas do Völundarkviða:

* Svíþjóð é a Suécia.
** Finnar são os Finlandeses.
*** Úlfdalir significa "Vale do Lobo".
**** Úlfsjár significa "Mar do Lobo".
***** Embora elas sejam Valquírias, seus nomes não aparecem na lista de Valkyrjur da Edda em Prosa de Snorri.
****** Valland significa "Terra da Morte" e (possivelmente) pode ser outro nome do Valhöll, como "Terra dos Estrangeiros".

  • 01/2* Significa Floresta Negra.
  • 03/10* A Lei Primaria, o Destino.
  • 10/3* Elfo. Völundr é identificado como sendo da raça dos Elfos, que eram habilidosos ferreiros.
  • 10/8* Ele pensou que ela tinha retornado ao lar depois de deixa-lo.
  • 11/6* Ele estava acorrentado.
  • 13/4* Novamente Völundr é associado aos Elfos.
  • 13/5* Níðuðr havia chegado com seus homens para capturar Völundr acusando-o de ter roubado o seu tesouro. É possível que Níðuðr por ser o rei ele pensasse que era o dono das riquezas da terra e que outros deviam pagar-lhe tributo. Porém isso é mera suposição.
  • 14/2* Grani é o nome do cavalo de Sigurðr Fáfnisbani. Völundr parece afirmar que sua riqueza não fazia parte do lendário tesouro dos Niflungar e nem pertencia a Níðuðr.
  • 14/4* O rio Reno. Nota-se que o Reno é visto como um rio abundante em ouro segundo as lendas.
  • 16/2* As duas primeiras linhas foram colocadas aqui, mas não estão no manuscrito. Essas linhas foram recolocadas aqui tiradas das duas primeiras linhas da estrofe 30, mas com certeza se trata da esposa de Níðuðr.
  • 16/8* Völundr. Ao que parece Völundr foi levado para o lar de Níðuðr.
  • 17/8* Os tendões.
  • 17/10 * Significa "Habitação no Mar".
  • 21/3* O baú aberto indica a queda dos irmãos.
  • 22/8* A Þiðrekssaga af Bern relata que Völundr manda os filhos do rei embora com instruções, dizendo para eles voltarem quando a neve estiver caindo e fossem até lá andando de trás para frente. Na verdade Völundr havia planejado isso caso alguém descobrisse que os dois estiveram lá e assim ele poderia dizer que eles saíram em segurança e as pegadas na neve seriam a evidencia disso. Os dois assim fizeram e Völundr os matou.
  • 26/5* O anel. Ao que parece esse anel que Völundr possuía antes de ser-lhe arrancado possuía poderes mágicos (ou ele encantou depois que ele o consertou) porque logo que o recuperou ele pode voar. Ele pretendia dá-lo para sua antiga esposa Alvitr. Isso é até possível já que Völundr era dito ser um Elfo e os Elfos eram hábeis em fabricar artefatos mágicos.
  • 28/8* A rainha esposa de Níðuðr.
  • 29/6* A Þiðrekssaga af Bern relata que Egill, o irmão de Völundr, veio em seu socorro atirando pássaros para que Völundr pudesse fabricar asas para poder fugir de Níðuðr. Porém, acredita-se que Völundr fabricou asas com plumagem de cisnes para poder fugir.
  • 33/8* Böðvildr.
  • 36/6* A Þiðrekssaga af Bern conta que Völundr retornou com um exército, matou Niðuðr e depois se casou com Böðvildr. Eles tiveram um filho chamado Vidia/Viðga/Witege. Conta-se que esse Vidia se tornou um grande herói germânico.
  • 37/8* A Þiðrekssaga af Bern conta que Níðuðr obrigou Egill, a atirar em seu irmão Völundr, mas Völundr havia escondido um saco cheio de sangue debaixo do braço esquerdo e quando Egill atirou nele, ele acertou o saco, assim Níðuðr pensou que Völundr estava morto.

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