9 de março de 2022

Capeta Multiplicador

 ۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)


O Capeta Multiplicador é um mito popular da região norte do Brasil, conhecido nos estados do Amapá e do Pará. Esse mito fala sobre um homem que faz um pacto com um demônio que possui o dom de multiplicar todas as ações feitas por ele, e esse homem usufrui desse dom até acabar se dando mal.

Mito

Seu Ozório era um homem triste. Embora tivesse uma grande área de terra, uma esposa e dois filhos com muito boa saúde e disposição para o trabalho, não vivia contente com a vida. O motivo é que queria ter uma casa bonita, dar o maior conforto possível a família, comprar roupas novas e não deixar faltar nada na despensa. Suas terras não eram boas. O milho que plantava crescia de bom tamanho, mas nas primeiras chuvas apodrecia e só servia para alimentar os porcos. Com isso a miséria terminou batendo à sua porta. Rezava todos os dias: era homem muito católico e não perdia uma missa aos domingos, mas não era feliz.

Um belo dia chegou em sua casa um negro pedindo comida e pousada por uma noite. Homem de bem, Ozório deu-lhe um local para dormir e um naco de carne seca, acompanhado com farinha d’água. Pela manhã, antes de partir, o negro agradeceu a hospitalidade e mostrou-se surpreso com o milharal de Ozório, que definhava a olhos vistos. O visitante então, disse-lhe que voltasse a arar a terra, e quando esta estivesse pronta, plantasse apenas um pé de milho e esperasse o resultado. 

Sem saber que estava falando com o tinhoso, Ozório procedeu conforme lhe foi mandado. Para a sua surpresa, quando fez com as mãos o primeiro sulco para jogar a semente, outros milhares de sulcos apareceram na terra, vindos do nada. O mesmo aconteceu quando semeou. Todos os sulcos foram imediatamente semeados e cobertos de terra. Foi aí que o agricultor descobriu ter conversado com o diabo, que mandava os diabinhos multiplicarem por mil vezes qualquer atividade sua. 

Imagem extraída do livro Lendas e Mitos do Amapá, de Joseli Pereira Dias

Daí em diante, cercar o milharal tornou-se brincadeira de criança. Na primeira estaca fincada ao solo por Ozório, as outras foram surgindo e se multiplicando. Colher a primeira safra de milho foi mais fácil ainda. No primeiro saco de grãos, os outros encheram o celeiro. Seu Ozório ficou rico da noite para o dia. O milharal não mais se acabava com as chuvas e ele podia comprar tudo o que quisesse para a mulher. 

Um belo dia a esposa de Ozório engravidou e ele fez uma grande festa para comemorar. A mulher, prestativa, decidiu que faria canjica para servir aos convidados, e partiu para o milharal. Ainda não era época de colheita e as espigas estavam verdes, assim ela resolveu levar. E quebrou uma das espigas. Imediatamente todo o milharal caiu por terra e a mulher ficou desesperada. A produção estava perdida. Sem saber o que fazer, foi contar o ocorrido ao marido, que tomado pela raiva aplicou-lhe um tapa no rosto. Naquele mesmo momento, milhares de diabinhos também agrediram a mulher, que morreu nos braços do marido. Ozório se amaldiçoou por ter feito um trato com o diabo e, desesperado, olhando o milharal destruído e a esposa morta, tentou se recompor batendo com a cabeça em uma das estacas da plantação. Foi o seu último ato. Imediatamente os diabinhos entraram em  ação, matando-o também com milhares de baques na cabeça. O diabo cumpriu a promessa de multiplicar todos os atos de Ozório.


fonte:
  • Mitos e Lendas do Amapá, de Joseli Pereira Dias.


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4 comentários:

  1. NUNCA TINHA OUVIDA FALAR DESTE MITO.
    MUITO INTERESSANTE.
    PARABENS.
    DEVE SER DIFICIL ACHAR ESSES MITOS MENOS CONHECIDOS

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    Respostas
    1. Muito obrigado! Realmente dá trabalho pesquisar tantas histórias, principalmente as menos famosas, ou ainda aquelas que quase ninguém ouviu falar.

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  2. Aonde q o homem fez? O diabo do Homem nem falou nada

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