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21 de dezembro de 2022

A Origem da Noite e do Dia Segundo os Nambikwara

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Kanata Wenjausu ("A Origem da Noite") e Alanta Wenjausu ("A Origem do Dia") são mitos oriundos da tribo indígena Nambikwara, localizados no oeste do Mato Grosso e entre as adjacências do estado de Rondônia, entre os afluentes dos rios Juruena e Guaporé até as cabeceiras dos rios Ji-Paraná e Roosevelt. Através desses mitos, os Nambikwara explicam como a noite e o dia surgiram.

Kanata Wenjausu

De acordo com o mito, haviam dois pajés: Waninjalosu, que era mais velho e mais sábio, e Sanerakisu, que era mais novo e um pouco atrapalhado. Waninjalosu tinha em sua posse duas cabaças chamadas waixusu, cujo em seu interior continham o dia e a noite. Ele controlava diariamente a abertura das mesmas, mas a cabaça da noite ele controlava mais, para que o dia fosse mais longo do que a noite.

Certa vez, Waninjalosu foi até a morada de Sanerakisu e disse-lhe que iria passar um tempo no campo, e por isso precisava que ele cuidasse das duas cabaças. Waninjalosu instruiu Sanerakisu a destampar a cabaça do dia e deixá-la aberta, porém a cabaça da noite deveria ser aberta só um pouco, caso contrário a noite poderia escapar. Sanerakisu entendeu as instruções, porém acabou confundindo as cabaças e trocando-as de lugar. Pensando tratar-se da cabaça do dia, ele destampou totalmente a cabaça da noite, e no mesmo instante o mundo escureceu por completo. Imediatamente Sanerakisu tampou a cabaça, porém não surtiu efeito: não havia mais dia, somente a noite.

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Sanerakisu ficou muito triste e sem saber o que fazer para reparar seu erro, subiu numa árvore e começou a gritar para ver se alguém o ouvia. Conforme gritava, sua voz foi mudando, tornando-se semelhante ao canto de um pássaro. Não só sua voz, como ele próprio acabou se transformando em um pássaro por completo, chamado Uhsu (mais conhecido como pássaro chorão). Diz-se que ainda hoje ele fica de bico para cima esperando o sol nascer.

Alanta Wenjausu

Após Sanerakisu ter liberado a escuridão da noite no mundo, Waninjalosu fez nascer do alakisu (a semente do pequi) duas crianças: um menino e uma menina. Então, ele mesmo se transformou em um pé de pequi. E assim foi espalhando a semente do pequi por toda parte. O menino chamava-se Waikutesu, e sua irmã, Waikutalusu. Eles cresceram juntos, mas não podiam se casar, porque eram irmãos.

Um dia, o menino pensou, pensou, e disse para a irmã:

-Nós não temos ninguém no mundo, e precisamos de uma família. E continuou: -Waikutakalãi, ó menina, você aceita? O que nós vamos fazer sozinhos aqui no mundo? Vamos ficar juntos?

A irmã pensou e decidiu que era melhor ficarem juntos. O tempo passou, e nasceu deles um menino, Irakisu, o sol. Essa criança trazia com ela um destino muito importante, mas os dois irmãos não sabiam disso.

Certa noite, quando tinha apenas seis meses de idade, Irakisu acordou e sentou-se perto do fogo, voltado para a direção em que nasce o sol, e ficou sentado, bem quietinho.  Seu pai e sua mãe imaginaram que ele logo voltaria a dormir, mas estavam enganados. Silenciosamente, Irakisu entrou em contato com o dia, e então começou a falar:

-Irakisu, Irakisu, sol, sol. Alihituwa, alihituwa, vai sair, vai sair, vai sair o sol!

Assustados, os pais de Irakisu o levantaram e o pegaram no colo pensando: “Será que vai amanhecer?” Ficaram em silêncio e começaram a ouvir o canto dos pássaros:  o sabiá, a siriema, o mutum, a perdiz, o nambu, o macuco, o jacu, a arara, o papagaio, e alguns gritos de outros animais.

Em seguida, começaram a passar urucum no corpo da criança, pois queriam que o amanhecer e o anoitecer ficassem com uma cor avermelhada, que eles achavam muito bonita.

Alantisu, o dia, começou a clarear, clarear… e  nasceu o sol. Irakisu ficou ali sentado até o sol chegar no meio do céu - era ele que levava o sol até lá. Quando o sol chegou ao meio do céu, os pais de Irakisu viraram o menino para o lado onde o sol se põe. A parte da tarde é kxûyxesu, o algodão que Irakisu acende e solta, como se fosse um balão. Quando o sol chega lá embaixo, ele se apaga e tudo escurece.

No dia seguinte, ele nasce outra vez. Irakisu já nasceu com o poder de separar o dia da noite. Foi assim que o tempo voltou a ser dividido, em partes iguais: metade dia, metade noite.

fonte:

  • IRAKISU, o menino criador, de Renê Kithãulu.



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