29 de março de 2023

Zaoris

۞ ADM Sleipnir

Arte de Rodrigo Viany (Sleipnir)

Zaoris, de acordo com o folclore sulista, são homens nascidos em uma Sexta-Feira da Paixão. Embora aparentem serem pessoas comuns, eles possuem olhos especiais, ditos misteriosos e de um brilho inconfundível. Com esses olhos, os Zaoris são capazes de enxergar através de corpos opacos, podendo assim localizar tesouros escondidos, minas de ouro, jazidas de pedras preciosas, independente de estarem debaixo da terra, dentro de paredes ou em outro local não visível ao olho nu. Apesar de seu dom excepcional, os Zaoris não podem usá-los em benefício próprio. Tudo o que eles encontram deve sempre ser revertido em benefício alheio.

Zaoris são figuras indispensáveis nas lendas do Ciclo do Ouro, na América do Sul, estando presentes nos fabulários plateño, paraguaio e chileno. Encarregam-se especialmente de indicar onde os jesuítas, expulsos das missões, ou os Incas, príncipes nativos perseguidos pelos espanhóis, guardaram seu ouro inacabável. 

Provável origem

Alguns autores defendem que o mito dos Zaoris possui origem árabe, tendo chegado ao Brasil por intermédio dos espanhóis. O termo Zahori, do árabe Zahari, significa geomante, uma pessoa a quem atribui-se o poder de ver o que está escondido, mesmo que seja subterrâneo. De acordo com Câmara Cascudo, em Damasco, Síria, certos Zahoris conversam e veem os espíritos dos mortos, os quais ensinam a eles onde deixaram suas riquezas agora inúteis.

A Crucificação de Cristo e o nascimento dos Zaoris

Uma história, registrada pelo escritor João Simões Lopes Neto, estabelece uma relação entre o surgimento dos Zaoris e a crucificação de Cristo. Cristo foi preso na quarta-feira, sentenciado na quinta e crucificado na sexta, e já na sexta-feira teria ocorrido no Céu o julgamento dos seus carrascos. São Miguel Arcanjo foi designado a vir à Terra e punir os judeus, e o mesmo passou a ordem aos anjos que estavam de guarda à Cruz, onde Jesus estava pregado e morto. Enquanto Miguel esteve na Terra, deixou sobre ela muito brilho da sua couraça de ouro e das suas armas, e muita ventania das suas asas de prata.

Aqueles que já haviam nascido estavam condenados, pelo pecado de terem maltratado e condenado Jesus Cristo à morte. Mas as crianças ainda não nascidas não podiam sofrer castigo, porque não tinham culpa alguma. Porém os anjos da guarda da Cruz não sabiam disso e iam castigá-las da mesma forma, porque o Arcanjo Miguel esquecera-se de avisar sobre as crianças que nascessem daquele dia, que era justamente o da sentença de Deus.

Por isso a Virgem Maria, que sabia do esquecimento de Miguel, em memória do seu filho Jesus não deixou os anjos da guarda da Cruz castigarem as crianças nascidas nessa Sexta-feira, e então, para diferenciá-las das outras, fez um milagre: ela mandou que a ventania das asas de prata do arcanjo ventasse sobre os olhos dos que fossem nascendo nesse dia santo, e ao brilho das armas de ouro, que brilhasse sobre eles. Desse jeito todos ficaram assinalados e puderam ser diferenciados dos nascidos na véspera, e bem diferenciados, porque podiam ver através a água até o seu fundo e através as muralhas e montanhas até o outro lado delas, porque tudo ficou transparente para eles. 

E como a Virgem Maria não disse que subisse outra vez ao céu a ventania das asas de prata do arcanjo nem o brilho das suas armas de ouro, esses dons ficaram na terra, e em todas as sextas-feiras santas procuram os olhos das crianças recém-nascidas, que então obtém o dom de enxergar através de qualquer superfície.

Cultura Popular

Na segunda temporada da série "Cidade Invisível" (Netflix), o personagem Lazo, interpretado pelo ator pernambucano Sebá Alves, é um Zaori que acabou sendo escravizado por garimpeiros.

Lazo (Sebá Alves) em Cidade Invisível

fontes:



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2 comentários:



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